28 janeiro 2025
Aldina Duarte: "Flor do Cardo" (João Monge)
Cardo-coalheiro em estado selvagem
(in https://flora-on.pt/)
«Conhecido por cardo-coalheiro ou cardo-leiteiro, consoante a zona do país, o cynara cardunculus (nome científico) é um parente da alcachofra, pertencente à extensa família Asteraceae [Asteráceas], que tem raízes profundas nas regiões oeste e central da região mediterrânica, mas também pode ser encontrado em quase toda a costa atlântica da Europa, incluindo a Grã-Bretanha e a Irlanda.
É uma planta herbácea de folha perene e flores roxas que pode atingir 1,5 metros de altura. Pouco exigente em termos de solo, é fácil encontrá-la na forma selvagem em terrenos rochosos e barrentos.
Em Portugal, é considerada uma planta autóctone. Pode ser encontrada nas regiões centro e sul do país, onde é conhecida e usada como coagulante natural na produção de queijo. As flores são colhidas durante os meses de Junho e Julho e armazenadas em locais secos para serem usadas durante o Inverno.
O queijo da serra da Estrela DOP, o queijo amarelo da Beira Baixa DOP, o queijo do Rabaçal DOP, o queijo de Nisa DOP, bem como outros queijos oriundos das regiões da Beira Baixa e do Alentejo são alguns dos queijos que usam o cardo como coagulante do leite que lhes dá origem.
Além da utilização na produção de queijo e na indústria (biomassa), o cardo-coalheiro é também conhecido como uma poderosa planta medicinal. Rico em cinarina, uma enzima que lhe confere um sabor amargo, em taninos, inulina, sais de potássio e provitamina A, é conhecido pelas suas propriedades desintoxicantes e indicado para problemas de fígado, rins, colesterol, gota e arteriosclerose.
Possui também uma acção inibidora do nível de glucose no sangue, o que o torna interessante para diabéticos.
Embora parentes e igualmente usados na medicina tradicional, o cardo santo e o cardo mariano possuem algumas propriedades distintas do primo cardo-coalheiro. A principal é que não têm efeitos coagulantes.
Usados deste a Idade Média, acredita-se que o cardo santo e o cardo mariano são plantas galactagogas – estimulantes da produção de leite materno. Embora existam estudos que atestem esta percepção em relação ao cardo santo, não é recomendável o consumo de ambos por mulheres grávidas ou em período de amamentação.»
(in https://www.inature.pt/)
«Leio no Jornal do Centro que mais de duas mil plantas de cardo cuidadas nos últimos anos por uma equipa académica liderada pelo professor Paulo Barracosa, da Escola Agrária de Viseu, em terrenos do Instituto Politécnico, correm o risco de ser arrancadas e transferidas para lugar incerto. Um conjunto de interesses, a que se associa a Câmara [Municipal] de Viseu, pretende instalar no campo de cardos um parque de estacionamento. A situação inquieta e indigna a comunidade científica e cidadãos mobilizados num abaixo-assinado a que aderiram, a esta hora, mais de duas mil pessoas.
Ouvido pelo Jornal do Centro, o professor Paulo Barracosa lamenta que esta decisão desconsidere um muito inspirador trabalho de investigação de década e meia que fez, aliás, da Escola Agrária de Viseu uma referência internacional no estudo e valorização de uma planta multifuncional que tem tanto ainda para dar. Ainda recentemente o queijo da Soalheira, que utiliza a flor do cardo como agente coagulante, foi considerado o melhor do mundo, num certame internacional realizado justamente em Viseu.
Em Abril do ano passado fui a Viseu conversar, para o programa "Tão Longe, Tão Perto", que realizei aqui na Antena 1 [>> RTP-Play], com o investigador Paulo Barracosa, cujo livro "Cardo Máximo" surpreendeu a comunidade científica e empresarial ao revelar as potencialidades de uma das plantas mais resistentes às alterações climáticas e da qual tanto se pode esperar, em áreas tão diferenciadas como a dos aglomerados ou a fitossanitária. Na ocasião, o cultivo do cardo fazia parte de uma experiência prometedora numa quinta de Santar, revelando resultados muito interessantes no acompanhamento preventivo de todo o ciclo vegetativo da vinha. O cultivo do cardo faz ainda parte de um projecto inclusivo no estabelecimento prisional de Viseu que tem dado bom resultado.
Nunca esquecerei o entusiasmo do professor e dos seus alunos que me deram a provar nesse dia mel de cardo, licor de cardo, cerveja de cardo, alheira e cogumelos de cardo. Nas notas que tomei desse dia em Viseu e em Santar retive a pergunta feita pelo próprio investigador sugerindo o tanto que ainda há a esperar do trabalho realizado pela equipa da Escola Agrária de Viseu: "Que planta é esta que se dá toda?".
Tenho estima pessoal pelo presidente da Câmara de Viseu que considero uma pessoa sensata. Creio que Fernando Ruas deveria conversar com o professor Paulo Barracosa, diante do campo de cardos agora ameaçado. Brindo, com licor de cardo, a que essa conversa possa ocorrer e se possa evitar um tão rude golpe numa experiência da qual a região de Viseu deve orgulhar-se.» [Fernando Alves, "Não deixemos murchar a flor do cardo", in "Os Dias que Correm", 28 Jan. 2025]
Canções e peças instrumentais que aludem a cardos, ainda que metaforicamente, há várias. Cingindo-nos a canções, uma vez que no presente caso as palavras são importantes, aquela que, quase de certeza, acorre imediatamente à mente de mais gente (portuguesa, bem entendido) é "Foram Cardos, Foram Prosas", com letra de Miguel Esteves Cardoso e música do saudoso Ricardo Camacho, gravada por Manuela Moura Guedes, em 1981 [>> YouTube]. Não indicamos qualquer das versões que entretanto foram feitas porque ficam a anos-luz, em qualidade, do original.
De repertório que refere a flor do cardo, fazendo mais jus ao título e ao teor da crónica de Fernando Alves, temos o fado "Flor do Cardo", com belos versos em quintilhas de João Monge sobre a melodia do Fado Tango concebida por Joaquim Campos, cantado por Aldina Duarte (gravação que escolhemos para aqui destacar), "Flor de Cardo", pelo argentino Carlos Gardel [>> YouTube Music], "El Cardo Azul", também por Gardel [>> YouTube], e "La Flor del Cardo" pelo chileno (radicado em Barcelona) Josemaría Moure com a participação da compatriota Florencia Gallardo [>> YouTube Music]. E o rol está longe de ser exaustivo, pelo que não tem desculpa a ausência do desejado remate poético-musical à crónica de Fernando Alves quando foi radiodifundida hoje de manhã. Devido a tal inércia e falta de brio profissional, o canal generalista da rádio do Estado ficou, uma vez mais, aquém dos "mínimos olímpicos" deixando novamente defraudados os ouvintes que teriam apreciado revisitar ou descobrir uma canção alusiva a cardos ou à sua flor.
Nota: A respeito de alcachofras e de cardos, além do programa "Tão Longe, Tão Perto", acima referenciado, recomendamos vivamente o excerto do "Lugar ao Sul" em que Mestre Rafael Correia esteve à conversa com D. Maria Silva, no Monte da Torre Vã, concelho de Ourique, em Junho de 1997 [>> RTP-Arquivos].
Flor do Cardo
Letra: João Monge
Música: Joaquim Campos (Fado Tango)
Intérprete: Aldina Duarte* (in CD "Crua", EMI Music Portugal, 2006)
Dói-me ser a flor do cardo, | bis
Não ter a mão de ninguém; |
Tenho a estranha natureza | bis
De florir com a tristeza |
E com ela me dar bem. |
Dói-me o Tejo e dói-me a Lua,
Dói-me a luz dessa aguarela;
Tudo o que foi criação | bis
Se transforma em solidão |
Visto da minha janela. |
O tempo não me diz nada,
Já nada em mim se consome;
Não sou princípio nem fim, | bis
Já nada chama por mim, |
Até me dói o meu nome. |
Dói-me ser a flor do cardo, | bis
Não ter a mão de ninguém; |
Hei-de ser cravo encarnado | bis
Que vive em pé separado |
E acaba na mão de alguém. |
* Aldina Duarte – voz
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola
Produção – João Monge
Produtor executivo – Paulo Salgado / Vachier & Associados
Gravado por Samuel Henriques, nos Estúdios MDL, Paço d'Arcos
Misturado e masterizado por Fernando Abrantes, nos Estúdios MDL, Paço d'Arcos
URL: https://aldinaduarte.blogspot.com/
https://www.facebook.com/aldinaduarteoficial/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aldina_Duarte
https://www.museudofado.pt/fado/personalidade/aldina-duarte
https://www.infopedia.pt/$aldina-duarte
https://www.portaldofado.net/content/view/392/280/
https://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/125887.html
https://www.youtube.com/channel/UCPp7DENsGVLeUWzGCVF6BXw
https://music.youtube.com/channel/UCuBIOvc8-k_j5D3Q7kSFKxA
Capa do CD "Crua", de Aldina Duarte (EMI Music Portugal, 2006)
Fotografia – Isabel Pinto
Design – Rui Garrido
Capa do livro "Cardo Máximo", de Paulo Barracosa (Edição do autor, 2024).
___________________________________________
Outros artigos relacionados com a crónica de Fernando Alves na Antena 1:
Galandum Galundaina: "Chin Glin Din"
"Sons d'Outrora" em viola da terra, por Miguel Pimentel
Vitorino: "Moças de Bencatel" (Conde de Monsaraz)
Teresa Silva Carvalho: "Barca Bela" (Almeida Garrett)
António Borges Coelho: "Sou Barco"
Celeste Rodrigues: "Chapéu Preto"
Sérgio Godinho: "Tem Ratos"
Ruy Belo: "E Tudo Era Possível", por Nicolau Santos
Jacques Brel: "J'Arrive"
A tristeza lusitana
Segréis de Lisboa: "Ay flores do verde pino" (D. Dinis)
Manuel D'Oliveira: "O Momento Azul"
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário