20 março 2007

"Grande Entrevista" ou entrevista pimba?



O programa da RTP-1 "Grande Entrevista", da autoria de Judite de Sousa, geralmente emitido às quintas-feiras, logo após o Telejornal, é tido com um espaço sério e de referência na televisão pública. As figuras da política são a presença mais assídua, mas também têm sido contempladas – e muito bem – outras áreas da vida nacional, designadamente da economia, da ciência e da cultura. Manuel Sobrinho Simões, José Saramago e António Lobo Antunes contam-se as personalidades que já passaram pelo programa. Com figuras deste quilate, seria difícil de imaginar que no rol de entrevistados viesse a constar um tal Tony Carreira, um dos representantes da música ‘pimba’. O que é que terá levado a jornalista Judite de Sousa a convidar Tony Carreira? Não acredito que tenha sido por falta de gente digna de ser entrevistada e com interesse para os telespectadores, porque em Portugal (e não apenas em Lisboa e Porto) há muitas pessoas de mérito que teriam todo o cabimento no espaço de Judite de Sousa. Então como se explica a presença de um cantor ‘pimba’ num espaço com a dignidade da "Grande Entrevista"? Terá sido a popularidade do referido cantor junto de uma parte do público português? Se foi efectivamente esse o motivo, cumpre-me contestar a validade do critério e, ainda mais, num canal de serviço público. Isto porque a suposta popularidade ou visibilidade pública de uma determinada figura (e sem mais) jamais poderá ser aceite como um critério jornalístico suficientemente válido. Apesar de popular, será a música de Tony Carreira assim tão significativa para a cultura portuguesa que justifique uma entrevista de grande fôlego no serviço público de televisão, e ainda por cima num espaço da área da informação? Num programa de entretenimento, e embora não seja apreciador do género ‘pimba’, ainda estaria disposto a compreender a presença de Tony Carreira (ou de outros da mesma área musical). Nunca num espaço com o cariz da "Grande Entrevista", em que se que se esperaria que houvesse uma atitude mais rigorosa na ponderação do que possui um real e indiscutível valor informativo. E já agora, por que razão a jornalista Judite de Sousa (ou a direcção de informação) não convida também outros compositores/intérpretes como Luiz Goes, Fausto Bordalo Dias, Amélia Muge, Pedro Barroso ou Janita Salomé? Serão estes nomes menos importantes para o património musical português que o de Tony Carreira? Algo vai mal no serviço público de televisão!