18 novembro 2009

Discos Antena 1 (II)



"Assobio" (de Assobio), "Kronos" (de Cristina Branco), "Tarab" (de Danças Ocultas), "Fado Que Te Amo" (de Dâna), "Hemisférios" (de Dazkarieh), "Fado Nosso" (de João Braga), "Contarolando" (de João Filipe), "Meditherranios" (de Luísa Amaro), "Pássaro Cego" (de Manuel Paulo & Nancy Vieira), "Ruas" (de Mísia), "Em’Cantado" (de Rão Kyao) e "A Mãe" (de Rodrigo Leão & Cinema Ensemble). O que é que todos estes álbuns, estilisticamente tão diferentes, têm em comum? Três coisas. Primeira: todos foram publicados no corrente ano de 2009; segunda: todos eles são excelentes trabalhos de música portuguesa; terceira: todos eles não foram Discos Antena 1. E aqui terá de se perguntar: por que motivo não o foram? Não é suposto que o distintivo "Disco Antena 1" seja outorgado às melhores obras discográficas de música portuguesa, não erudita, que vão sendo editadas no país?
Pois é! A realidade, no entanto, é bem diferente e são muitos os discos de qualidade (aquela lista inicial serve apenas como amostra pois está longe de ser exaustiva) que não têm merecido a dignidade de "Disco Antena 1". E como explicar tal anormalidade? Será que Rui Pêgo e os seus adjuntos andam a dormir na forma? Ou estamos em presença de simples discricionaridade e arbitrariedade na escolha dos discos, sem que a qualidade seja tida em conta? Ou teremos de encontrar a resposta numa coisa ainda mais prosaica, mas perfeitamente aberrante num serviço público de rádio: as avenças de promoção?
Houve um período em que o distintivo "Disco Antena 1" era à partida uma garantia de qualidade e muitas vezes cheguei a comprar CDs levado por essa sugestão. Lamentavelmente, depois de Rui Pêgo ter sido colocado na direcção de programas da rádio do Estado tal capital de confiança foi completamente destruído a ponto daquela vinheta com um círculo vermelho e o algarismo 1 no meio hoje já nada significar. Embora se tenha de reconhecer que alguns discos que aparecem com a referida vinheta têm qualidade, a triste verdade é que muitos outros são medianos e mesmo medíocres. E sei que não sou o único a ter esta opinião. Quando uma colectânea de Paulo Gonzo é considerada "Disco Antena 1" e se ignora um disco distinguido com o Prémio José Afonso (como foi o caso de "Senhor Poeta: Um Tributo a José Afonso", do grupo Frei Fado d’El Rei) isso mostra bem o descrédito a que a actual direcção conduziu a distinção. Se o álbum "Por Este Rio Acima", de Fausto Bordalo Dias, fosse editado hoje e não tivesse o selo de uma editora poderosa que se propusesse negociar com a RDP, é certo que não seria "Disco Antena 1". Isto apesar da posteridade vir a considerá-lo uma obra-prima absoluta da música portuguesa de sempre!
Já agora, outra questão pertinente: a par de tantos discos de música portuguesa de qualidade que são votados ao ostracismo, será aceitável que álbuns brasileiros sejam considerados "Discos Antena 1". Martinho da Vila, Daniela Mercury, Simone e Adriana Calcanhoto contam-se entre os intérpretes de Terras de Vera Cruz contemplados nos últimos tempos. E nem sequer estou a pôr em causa a suposta qualidade daqueles nomes (embora não se deva colocá-los todos no mesmo patamar), mas tão-somente a chamar a atenção
para a tremenda falta de razoabilidade de tal opção por parte dos actuais decisores da Antena 1. Será que a estação pública brasileira, a Rádio Nacional de Brasília, procede do mesmo modo? Lá, os melhores discos de música brasileira também são preteridos a favor de álbuns portugueses?


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