A antologia de Vitorino com o título "Tudo", agora vinda a lume, é um dos discos Antena 1. Até aqui nada a censurar. Aliás, ficaria mal à estação de serviço público se ignorasse o lançamento discográfico que assinala os 30 anos de carreira de um dos nomes maiores da música portuguesa. No entanto, tenho um reparo a fazer: nem todos os artistas de mérito reconhecido têm sido objecto da mesma atenção por parte da rádio pública, aquando dos respectivos lançamentos discográficos. Desconheço quais são os critérios que presidem à escolha dos discos a promover, mas quaisquer que sejam tais critérios não se pode aceitar que a estação que é suportada pelos contribuintes ignore alguns dos nomes mais representativos da música lusa. Apenas um exemplo: no final de 2005 foi também lançada uma "Antologia", de Pedro Barroso, outro nome grado da música portuguesa, sem que Antena 1 tivesse feito qualquer referência ao acontecimento. A escolha da colectânea de Pedro Barroso seria uma escolha óbvia para disco Antena 1, mas mais grave ainda é o cantor de "Água" e de "Longe Daqui" estar a ser objecto de um intolerável boicote pela rádio pública ao ser-lhe recusado um lugar na 'playlist'. Não estou mandatado, nem me compete falar em nome de Pedro Barroso (ou de qualquer outro artista), mas enquanto ouvinte não posso aceitar que a rádio para a qual eu contribuo com uma taxa obrigatória não me dê a oportunidade de o ouvir.
Também não se compreende que alguns CDs que aparecem nas lojas de discos com o rótulo "Disco Antena 1" não tenham nenhum tema incluído na 'playlist'. Por exemplo, o álbum "Transparente", o último da fadista Mariza, aparece com o dito autocolante mas, absurdamente, tem estado totalmente ausente dos alinhamentos de continuidade da Antena 1. Porque é que isto acontece? Por descoordenação entre a direcção de programas e o chefe de 'playlist'? Ou será mesmo verdade que este faz o que muito bem lhe apetece e se está a marimbar para as directivas de Rui Pêgo?
Muitos dos nomes que actualmente passam com frequência na Antena 1 não são do meu especial agrado mas, apesar disso, não vou ao ponto de pedir a sua exclusão porque sou defensor do princípio da igualdade de oportunidades, quer dos artistas quer dos ouvintes. Uma estação pública que se preze deve proporcionar a todos os artistas de qualidade reconhecida a possibilidade divulgarem o seu trabalho porque a rádio é um meio privilegiado dos ouvintes poderem tomar conhecimento das respectivas obras, e assim escolherem em liberdade e sem condicionamentos. Quanto maior for o leque dos artistas contemplados e maior a diversidade da oferta musical maior será a liberdade do ouvinte para escolher. Mas não é isto o que se está a passar na rádio que, por acaso, põe no ar o slogan "Antena 1 - a rádio que liga Portugal". Quando a rádio do Estado (é bom não esquecer este pormenor) preza em ignorar ostensivamente determinados artistas, por critérios outros que não a qualidade, não estará o mesmo Estado que se diz democrático a negar-me a liberdade de ser eu a escolher o que é bom para mim e o que satisfaz os meus desejos? Em última análise, o que está em causa é o princípio constitucional do exercício dos direitos, liberdades e garantias, no caso concreto, de quem ouve a rádio pública e também daqueles que legitimamente querem e merecem ser ouvidos.
10 fevereiro 2006
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