19 setembro 2011

Pérolas da música portuguesa votadas ao ostracismo

José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Amália Rodrigues, Luiz Goes, Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral, Manuel Freire, Carlos do Carmo, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Luís Cília, Vitorino, Janita Salomé, Teresa Silva Carvalho, Pedro Barroso, Paco Bandeira, Carlos Mendes, Quarteto 1111, Banda do Casaco, Trovante, Né Ladeiras, João Lóio, Afonso Dias, José Medeiros, João Afonso, Amélia Muge, Filipa Pais, Isabel Silvestre (no seio do Grupo de Cantares de Manhouce ou a solo), Teresa Salgueiro (no seio dos Madredeus ou a solo), Rão Kyao, Júlio Pereira, José Peixoto, Pedro Jóia, António Pinho Vargas, João Paulo Esteves da Silva, Brigada Victor Jara, Almanaque, Ronda dos Quatro Caminhos, Vai de Roda, Raízes, Terra a Terra, Pedra d'Hera, José Barros & Navegante, Gaiteiros de Lisboa, Frei Fado d'El Rei, Sebastião Antunes (no seio da Quadrilha ou a solo), Toque de Caixa, Galandum Galundaina, Realejo, Danças Ocultas, Diabo a Sete, Pé na Terra, Roda Pé, Vá-de-Viró, Belaurora, Helena Oliveira (no seio do grupo Orpheu ou a solo), César Prata...
As pessoas minimamente informadas e amantes de boa música sabem que todos os nomes citados são de artistas de primeira água, sendo que a eles se deve uma parte muito significativa do repertório mais valioso e perene da música portuguesa, desde que há registo fonográfico. Pois todos eles (e muitos outros detentores real mérito e valia – a lista completa seria fastidiosa) têm em comum a desdita se serem tratados como "filhos de um deus menor" pela rádio pública do seu próprio país. Uns (a maioria) estão, pura e simplesmente, excluídos na lista de difusão musical (vulgo 'playlist') do canal generalista da rádio estatal, a
Antena 1, e os poucos que nela figuram recebem, sem apelo nem agravo, tratamento de terceira classe. Quero com isto dizer que a sua representação se restringe a um ou dois temas (que geralmente nem sequer correspondem ao melhor dos respectivos repertórios), e com uma aparição em antena tão esparsa e rarefeita que ouvi-los torna-se um exercício quase tão difícil como encontrar uma agulha num palheiro.
Em contrapartida, a chamada "pop de plástico" (a vinda de fora e a produzida cá dentro) recebe tratamento de privilégio, quer em número de temas incluídos na 'playlist', quer na frequência de difusão dos mesmos.
Ora, como facilmente se poderá inferir, se a marginalização da melhor música portuguesa é grave em qualquer rádio generalista de Portugal, ainda mais o é na emissora do próprio Estado, atendendo à obrigação que tem (formalmente assumida no contrato de concessão do serviço público de radiodifusão) de a divulgar e promover de forma cabal e satisfatória. Obrigação essa que decorre da circunstância do financiamento ser público – contribuição do audiovisual (que actualmente se cifra em €27,00 anuais + I.V.A.) e transferências directas do Orçamento de Estado.
O que se disse a respeito da Antena 1 aplica-se igualmente à
Antena 3, outro canal do chamado "serviço público de rádio" que marginaliza, de forma perfeitamente criminosa, o nosso património musical mais valioso e qualificado.
Urge, portanto, que o problema seja resolvido por quem tem nas suas mãos o poder para tal. E para mostrar, com exemplos concretos e audíveis, o quanto é vasto e qualitativamente superior o repertório votado ao ostracismo pelas Antena 1 e 3, dar-se-á hoje início à expedição de uma circular, ao ritmo de uma por semana, com a letra de um espécime poético-musical (ou instrumental) e respectivo link para audição. Felizmente que a internet, nas suas diversas plataformas de armazenamento de som e vídeo, designadamente no YouTube (http://www.youtube.com/playlist?list=FLys6VB6Y_S4sv6_Xbet-9fA
), é já (e sê-lo-á cada vez mais) um importante repositório de boa música portuguesa.Para passar a receber a referida mensagem na sua caixa de e-mail, basta que se inscreva no Grupo de Amigos do LUGAR AO SUL.


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