30 novembro 2006

Arquivo online / download

Caro Sr. Luís Ramos,

Atendendo a que é responsável pela gestão dos arquivos da RDP e também pela manutenção do site, tomei a liberdade de lhe apresentar algumas questões que julgo pertinentes.
Começando pela rubrica "Os Sons Férteis", de que sou um grande apreciador, gostaria imenso que o
arquivo online integrasse todo o histórico e não apenas desde 15 de Maio de 2006, altura em que foi criado o serviço. A poesia de qualidade não é algo que se desactualize ou que passe de moda e, por isso, a disponibilização online do acervo integral do excelente apontamento de Paulo Rato passaria a constituir uma página de referência e de visita obrigatória a todos os cultores de poesia recitada. Porque se a poesia ficar oculta e silenciosa lá no arquivo sonoro da RDP ninguém dela poderá tirar proveito, seja aqueles que gostariam de voltar a ouvir determinados poetas / poemas, seja os mais jovens que assim teriam a oportunidade de fruir, pela primeira vez, de um importante manancial de poesia dita. Aliás, "Os Sons Férteis" é apenas um exemplo de excelentes rubricas e programas (actuais e do passado) cujos acervos integrais importaria colocar na internet. Dos programas actualmente em antena, e para não ser fastidioso, cito apenas "Questões de Moral", "Lugar ao Sul" ou o seu "Rua do Capelão". No blogue A Nossa Rádio já tive oportunidade de inventariar uma série de programas de indiscutível interesse, quer para a fruição pelo vulgar ouvinte quer como material pedagógico e didáctico para docentes e estudantes do ensino básico e secundário. Numa altura em que a internet e as ferramentas multimédia são um recurso cada vez mais utilizado no ensino, penso que a RDP não se devia alhear desse processo, atendendo à extraordinária riqueza do seu acervo fonográfico. Também seria muito interessante que nesse arquivo online completo de "Os Sons Férteis" houvesse junto de cada fonograma um link para o respectivo poema sob a forma escrita, de modo a que o ouvinte pudesse acompanhar a audição com a leitura (a exemplo do guião do programa "Em Nome do Ouvinte").
Presumo que a grande maioria dos programas não sejam disponibilizados para download avulso ou podcasting devido ao facto de incluírem obras musicais sujeitas a direitos de autor. No entanto, constato que algumas rubricas e programas são disponibilizados para podcasting e não o são para download manual, coisa que não consigo compreender. É o caso, por exemplo, de "Figura de Estilo", de Luís Caetano e Ana Paula Ferreira, "Escrita em Dia", de Francisco José Viegas, e "O Amor é", de Júlio Machado Vaz. Penso que a par do download por assinatura deve ser proporcionada a possibilidade de download avulso, porque, por um lado, vai ao encontro das pessoas que embora tenham computador em casa não têm ligação à internet, podendo assim descarregar manualmente os seus programas preferidos num qualquer posto de internet e, por outro lado, não obriga a assinar o podcasting aos ouvintes que só ocasionalmente estão interessados em descarregar determinado programa.
Também não vejo nenhuma razão para que certas rubricas e programas falados (por exemplo, "Lugar ao Sul", "1001 Escolhas", "À Volta dos Livros", "Vidas Que Contam", "Reportagem Antena 1") ou essencialmente de palavra com pequenos excertos musicais (por exemplo, "Questões de Moral") não sejam facultados para download manual e podcasting. No caso concreto do "Lugar ao Sul", bastaria retirar a música de disco e, desse modo, as gravações de campo já podiam perfeitamente serem disponibilizadas para descarregamento, o que agradaria de sobremaneira aos seus muitos fiéis ouvintes (eu incluído) que gostam de voltar a ouvir emissões mais antigas, sem terem obrigatoriamente de estar ligados à internet. Como os leitores de CD dos auto-rádios mais recentes já são compatíveis com MP3, as conversas de Rafael Correia pontuadas com as músicas e as poesias dos seus interlocutores passariam a ser mais uma excelente opção de escuta enquanto se conduz (ou mesmo em transportes públicos, por meio de um vulgar iPod).
Relativamente à disponibilização de conteúdos da RDP, eu iria até mais longe: independentemente da oferta gratuita de rubricas e programas que não incluem obras musicais protegidas por copyright, nada obstaria que a Rádio e Televisão de Portugal facultasse tudo o resto mediante o pagamento de uma determinada quantia por cada fonograma, tal como acontece no download legal de ficheiros de música.
Mas como a concretização das ideias apresentadas não dependerá inteiramente de si mas de instâncias superiores, achei por bem dar conhecimento desta carta ao Provedor do Ouvinte, na esperança de que ele se digne submeter o seu teor à sua apreciação.
Com os melhores cumprimentos,

Álvaro José Ferreira

28 novembro 2006

As Escolhas do Provedor: "Lugar ao Sul"

[Excerto de LUGAR AO SUL - Rafael Correia / Pastor José Lança]

Alberto Ramos (AR) – O moural do gado observa, devagar, o longe. Como sempre fez... Tudo é sossego: ovelhas e cães e terra. O pastor gosta assim da Natureza, a amanhecer, sem sobressalto. (Já lhe basta a noite, em que a zorra espreita o rebanho e não o deixa dormir a sono solto…)
Mas ele que aprecia a Natureza plena! - O cantar do alcaravão e da perdiz e da raposa. Ah, a inteligência da raposa!...
Então, imita-lhes as vozes, na perfeição.

[Excerto de LUGAR AO SUL - Rafael Correia / Pastor José Lança]

Isabel Bernardo (IB) – Este é um som que faz parte do mágico património dos sons da Radiodifusão Portuguesa. O som de uma simples conversa entre duas pessoas, conversas de que são normalmente feitos alguns dos mais notáveis Programas transmitidos na Antena 1, na Antena 2 e na RDP Internacional.
José Nuno Martins (JNM) – Os Ouvintes do Serviço Público habituaram-se há muito tempo a reconhecer o estilo especial de Rafael Correia. E de cada vez que surgem inovações na Programação, um grupo de fiéis seguidores das caminhadas e das paragens do "andarilho da Rádio" faz chegar sinais de inquietação quanto ao destino do Programa, que – ao longo de 25 anos – em diversas ocasiões, já foi alongado e reduzido na sua dimensão, já por várias vezes deslizou no horário de transmissão...
IB – Agora "Lugar ao Sul" dispõe de uma diversificada grelha de emissão: além de uma hora semanal na Antena 1, aos Sábados às 9 da manhã – que é repetida no mesmo dia na RDP Internacional às 16:07, este mesmo Programa é novamente apresentado na Um, à meia-noite e 12 de Terça-feira.
AR – Uma segunda hora de emissão é também emitida na Antena 2, às 13:07 de Sábado (ou seja, precisamente à mesma hora em que é estreado o Programa do Provedor do Ouvinte na Antena 1), sendo repetida às 17.00 na RDP Internacional.
JNM – Ainda bem que assim é. Um Programa destes não pode terminar nunca e, pelo contrário, deve ser celebrado por quem o transmite e por quem o ouve. Uma Estação que – no século XXI – disponha de um Profissional que apenas gosta de fazer a Rádio "a pé" é certamente, uma Estação privilegiada, escreveu um Ouvinte. E tem razão: "Lugar Ao Sul" é um dos mais evidentes Sinais de Excelência do Serviço Público de Radiodifusão.
AR – Um homem, vestido simplesmente e hoje com um pequeno gravador digital no bolso – um Homem da Rádio – sai da auto-estrada. Toma vias secundárias, apanha estradões municipais e, às vezes deixando o carro debaixo de uma árvore, aventura-se a pé pela serra abaixo ou ao longo de um ribeiro. Por caminhos sem alcatrão nem sinais, sobre lama e debaixo de chuva, ou ao sol abrasador de Alentejos e Algarves, aos ventos do Nordeste, ou à mansidão das Beiras.
IB – Hoje mais concentrado no Sul, em 25 anos o Mestre da Rádio a pé já andou por esses montes e vales do país inteiro. Já meteu conversa nas ilhas dos Açores e da Madeira e até já foi atrás de bordados à moda de Viana em terras do Magreb.
AR – Sabe sempre quem procura, este Homem do Gravador: procura gente simples, isolada no seu mundo isolado. Um pastor. Uma bordadeira. Um salineiro...
IB – Nunca os viu antes. Nem os conhece. Mas alguém lhe terá dito que eram gente especial. E, sempre alheio a dificuldades e lonjuras, sempre arisco a honrarias ou protagonismos mediáticos, o Homem do Gravador avança persistentemente no seu próprio caminho.
JNM – Mais nenhum Programa é como este, na Rádio em Portugal. É um Programa único, em que há 25 anos ficamos presos ao Homem do Gravador a conversar com pessoas que não conhece.

[Excerto de LUGAR AO SUL - Rafael Correia / Dona Inês, bordadeira de Peroguarda, concelho de Ferreira do Alentejo]

«Um dia te visitou
sem rodeios sem enganos
amou os alentejanos
e foi aqui que ficou
depois de ter percorrido
tanta beleza que existe
foi aqui que se prendeu
amou até que morreu
e quem ama não desiste
escondeu-se na terra fria
deste chão alentejano
sepultado muito a sós
mas permanece entre nós
o seu nome soberano
por isso, no teu cantar
Peroguarda, sim, promete
recordar com saudade
e honrar com dignidade
Michel Giacometti»

(Dona Inês, bordadeira de Peroguarda, onde está sepultado Michel Giacometti)

JNM – Rafael Correia tem a arte de ouvir porque sabe falar com quem fala. Ajusta-se a cada registo. Compreende cada silêncio. Respeita cada diferença. E sobretudo, ajuda-nos a imaginar onde estamos, com quem estamos e como estamos ali,... em cada um daqueles cenários de Rádio, feitos de sons da natureza ou da família,... em qualquer conversa nas quais nos transporta – com a fartura de simples advérbios de tempo, de lugar, de modo e de quantidade (tão significativos como os silêncios), como se todos os que o ouvem à conversa, estivessem também a ver aquele filme de Rádio…

[Excerto de LUGAR AO SUL - Rafael Correia / Salineiro, Castro Marim]

JNM – Se ele quisesse, se ele deixasse, a sua vida dava um filme. Mas hoje não é ainda o momento de contar a sua incrível história. Quero apenas reflectir como Provedor, a intensa admiração que os Ouvintes sentem por este devotado Homem da Rádio e, sobretudo pelos exemplos que resultam dessa sua devoção.
Repito por isso, o que já disse: "Lugar Ao Sul" de Rafael Correia é um Sinal de Excelência do Serviço Público de Radiodifusão. [José Nuno Martins, in "Em Nome do Ouvinte", 25-11-2006]


Aplaudo efusivamente José Nuno Martins pelo destaque alargado que achou por bem dedicar ao programa "Lugar ao Sul" e ao seu autor, o carismático Rafael Correia, passados que já são 25 anos de emissões. Em rádio, um programa durar um quarto de século é uma raridade e neste caso a proeza deve-se inteiramente ao cunho magistral e inimitável de Rafael Correia, e que os seus ouvintes apreciam, admiram – e não dispensam. Na verdade, para muitos ouvintes (eu incluído) tornou-se um ritual litúrgico, aos sábados de manhã, ficar com o ouvido colado ao rádio a sorver as histórias, as músicas, as poesias, os adágios, os romances, os cantos e cantilenas, as lengalengas... com que Rafael Correia constrói retratos sonoros de uma beleza inaudita do Portugal profundo na sua vertente mais genuína mas esquecida e menosprezada pelos media e pelos poderes instituídos. Citando Manuel Pinto, professor do Departamento de Comunicação da Universidade do Minho, «Rafael Correia é daqueles que, de forma discreta e persistente, acham que mais vale acender uma luz do que maldizer a escuridão.»
Lamentavelmente, nem todas as pessoas que têm passado pela direcção de programas da RDP-Antena 1 têm tido a clarividência de reconhecer isso mesmo e de tratar o programa como ele efectivamente merece. Desde a colocação em horários esconsos a amputações no tempo de emissão, vários têm sido os atropelos de que o "Lugar ao Sul" foi alvo durante o seu percurso na Antena 1, isto para já não falar numa real ameaça do cutelo que há uma série de anos pendeu sobre o programa e que só não se concretizou devido à forte contestação dos ouvintes. Por tudo isto, o enaltecimento que, em boa hora, o Provedor do Ouvinte faz do "Lugar ao Sul" e de Rafael Correia (aliás, já distinguido com um Prémio Gazeta de Mérito) vem completamente ao encontro do sentir do seu vasto e fiel auditório, auditório esse que desde meados de 2004 se tem dirigido insistentemente aos responsáveis da RDP (direcção e administração), mas que tem recebido como resposta a indiferença e o autismo. Embora a situação actual não seja a ideal, há que reconhecer que ultimamente o programa tem merecido uma maior consideração. Agora espero que o actual director de programas, Rui Pêgo, e os que se seguirem não voltem a cometer os erros e arbitrariedades usuais e que deixem o "Lugar ao Sul" prosseguir o seu caminho sem obstáculos porque é isso, afinal de contas, o que os seus ouvintes desejam.
À parte os horários e os tempos de emissão, existem outros aspectos aos quais é importante prestar atenção, e de que, aliás, já tive o cuidado de repetida e enfaticamente dar conta às cúpulas da RDP em diversas cartas e exposições. Refiro-me à área geográfica em que Rafael Correia incide as suas recolhas e à importante questão do espólio sonoro e da sua acessibilidade e fruição. Quanto ao primeiro ponto, constata-se que nos últimos anos, Rafael Correia se tem confinado ao Algarve e ao Baixo Alentejo, ao contrário do que era habitual pois o Alto Alentejo, o Ribatejo e a Península de Setúbal eram regularmente visitados pelo andarilho da rádio. E, como muito bem referiu José Nuno Martins, as regiões a norte do Tejo e, inclusive, os arquipélagos atlânticos já foram calcorreados por Rafael Correia, creio que com o maior prazer e agrado da sua parte e não apenas em cumprimento de ordens vindas de cima. Assim sendo, presumo que não foi por sua vontade que deixou de fazer incursões fora do extremo sul de país, mas muito provavelmente por falta de meios financeiros postos à sua disposição (designadamente para combustível e outras despesas inerentes à deslocação). Sei que muitos ouvintes aceitariam de bom grado o alargamento da incidência geográfica das recolhas e, nessa medida, volto a formular este pedido à direcção e à administração da RDP no sentido de podermos voltar a contar com emissões de um Lugar ao Sul (do rio Minho). Acresce ainda que se reveste de relevante importância que o espólio do "Lugar ao Sul" fique com uma melhor representatividade de outras áreas geográficas, além do Algarve e do Baixo Alentejo, porque dentro de poucas décadas todo esse material vai revelar-se precioso para se conhecer boa parte da cultura popular portuguesa que irremediavelmente irá desaparecer. Portugal, ainda tem uma tradição oral muito rica e diversa que importa divulgar para que seja conhecida. Porque só se ama o que se conhece! E o património que assenta na transmissão oral só sobreviverá se as novas gerações lhe prestarem atenção e o valorizarem. A rádio pode dar um importante contributo nesse sentido. Quem melhor que Rafael Correia para o fazer? Além do mais, o "Lugar ao Sul" é, de entre os programas com apontamentos captados no exterior, um dos mais baratos porque feito do início ao fim por uma única pessoa, quer dizer, bem diferente dos programas feitos com uma equipa de produção e com um certo aparato de meios técnicos e logísticos. E como a rádio é por natureza efémera, o orçamento disponível para a produção de programas deve ser preferencialmente direccionado para aqueles que sendo formativos e agradáveis de ouvir no momento em que são emitidos também tenham a peculiaridade de serem documentos com interesse cultural e histórico, para memória futura. Ora o "Lugar ao Sul" insere-se indiscutivelmente nessa categoria de programas e embora seja feito propositadamente para a rádio, e sem as preocupações científicas da recolha etnomusicológica, nem por isso deixa de ter um importante valor cultural e científico.
E isto remete imediatamente para a relevante questão do acervo fonográfico, pelo que se torna imperioso proceder à sua adequada preservação e – não menos importante – torná-lo acessível a todos os interessados, seja para trabalhos académicos nas áreas da etnologia e antropologia, seja para a pura e simples fruição auditiva. Segundo informações que me foram facultadas informalmente por fonte segura obtive a confirmação de um facto verdadeiramente inconcebível e imperdoável: o acervo do "Lugar ao Sul", no arquivo histórico da RDP, está desfalcado de boa parte dos registos dos anos 80, porque alguém teve a insana ideia de utilizar as bobinas dos programas já emitidos para efectuar outras gravações por cima, como se as recolhas de Rafael Correia não tivessem qualquer interesse para a posteridade. Sem prejuízo de se apurar e responsabilizar quem mandou executar tamanho crime de vandalismo cultural, importa agora salvaguardar o que existe e, se possível, colmatar as falhas. Sei que Rafael Correia tem o especial cuidado de guardar as gravações originais das suas recolhas, mas desconheço se ele já fez a cópia dos perecíveis registos em fita magnética para os novos suportes mais duradoiros. Em qualquer dos casos, urge que todo esse material seja digitalizado e colocado numa página da internet, e não como acontece actualmente em que, no arquivo online da RDP, apenas são disponibilizados os programas desde 28 de Abril de 2006. Se a Rádio e Televisão de Portugal não quiser alojar no seu site todo o histórico do "Lugar ao Sul", seria importante que, pelo menos, concedesse a necessária autorização a instituições científicas e académicas especialmente interessadas na matéria como, por exemplo, o IELT - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional (Universidade Nova de Lisboa). Adicionalmente, também seria muito importante que se fizesse o lançamento de uma colecção de CDs com as recolhas mais interessantes mormente de música, poesia e romances tradicionais. Tal iniciativa teria toda a vantagem em ser levada a cabo em parceria com um jornal de circulação nacional pois assim as tiragens poderiam ser maiores, logo o preço de venda ao público mais reduzido e, consequentemente, maior o número de adquirentes.
Estou certo de que as propostas que acabo de apresentar são partilhadas por muitas pessoas desde conhecidas a anónimas. Como tal, fico na expectativa de que as mesmas sejam tomadas em consideração e não caiam, uma vez mais, em saco roto.

LUGAR AO SUL: as nossas coisas, a nossa gente... e o melhor da música e da poesia de Portugal!
RDP-Antena 1 – sábados, às 09 horas e segundas-feiras à meia-noite (reposição). Também no arquivo online.
RDP-Antena 2 – sábados, às 13 horas. Também no arquivo online.
RDP-Internacional – sábados, horário variável (reposição das emissões das Antenas 1 e 2).

Notas:
- Faço referência a um texto eloquente sobre o "Lugar ao Sul", da autoria do Prof. Manuel Pinto (Universidade do Minho), que se pode ler na página Carnet de Route d'Un Voyageur Solitaire en Algarve et Alentejo.
- A música e a poesia que marcam presença no "Lugar ao Sul" cultivam-se no Grupo de Amigos do LUGAR AO SUL. Quem desejar aderir ao grupo, e tiver dificuldade em fazê-lo por si mesmo, basta escrever para ajferreira74@gmail.com.

14 novembro 2006

Notas do Provedor: escolhas musicais da Antena 1 (II)

«Chega hoje ao fim o primeiro grande dossier publicamente aberto pelo Provedor do Ouvinte acerca das ESCOLHAS MUSICAIS da principal Estação do Serviço Público de Radiodifusão, em face de generalizadas críticas dos Ouvintes que, a este respeito, nos chegam.
Ao longo dos derradeiros seis Programas dei a conhecer o essencial das reclamações dos Ouvintes, divulguei a completa defesa escrita do Senhor Director de Programas à minha Indagação, pedi os pareceres de Peritos [Nuno Galopim, Pedro Pyrrait, David Ferreira, Alain Vachier] e Músicos [Pedro Osório, Manuel Freire, Vitorino Salomé], ouvi o testemunho de um Pensador e Professor Universitário [Eduardo Prado Coelho] e, por intermédio dos Provedores das Rádios Públicas do Brasil e de Espanha, conhecemos as estratégias seguidas pelos Profissionais dos Serviços Públicos naqueles países.
Hoje o Provedor apresenta as suas próprias reflexões sobre a matéria.
As mensagens que se relacionam com o tema das ESCOLHAS MUSICAIS representam mais de 11% de todas as que o Provedor recebeu nos últimos 102 dias e constituem mais do que um terço das que se referem expressamente à Programação da Antena 1.
A questão das escolhas musicais propostas pela principal Estação de Rádio do Serviço Público nos espaços entre Programas, não é um assunto que possa ser menorizado.
E os Ouvintes queixam-se quanto ao uso do sistema da Play List; quanto a critérios alegadamente redutores e excludentes que a Estação estará a utilizar no estabelecimento dessa Lista de Difusão; quanto à reduzida quantidade de Música de Autores portugueses; e quanto a uma invocada predominância de Música anglo-americana.

O Provedor vai analisar primeiro o uso do dispositivo da Lista.
Até agora a Direcção de Programas da Antena 1 não dispunha de nenhum estudo sobre as percentagens realmente ocupadas pelas diferentes naturezas de conteúdos da sua Programação.
Ou seja, não se conhece de modo seguro, qual é exactamente o grau de relevância atingido pelo conjunto das Canções da 'playlist' da Estação, no contexto global da Programação da Antena 1.
Na verdade, é completamente diferente programar 13 ou 14 Canções para um espaço de uma hora e depois verificar que, dependendo dos tempos ocupados com Noticiário, pequenos Programas e Continuidade (horas, trânsito, meteorologia, jogos de antena, promoções e anúncios de discos, etc.), apenas se emitem 6, 7 ou 8 das Canções previstas.
Era pois importante avaliar qual é realmente, do ponto de vista do Programador, o papel desempenhado pela Lista de Difusão, através da análise do peso percentual das Canções, relativamente aos restantes conteúdos da Antena 1. E, para a completa observação da matéria em causa, esta não é, seguramente, uma questão de somenos.
Também por isso solicitei recentemente ao Senhor Director de Programas que procedesse a um cuidadoso levantamento destes tempos de emissão.
Uma coisa seria estarmos a falar de um tempo residual (com meia dúzia de minutos por hora) no qual Canções dispersas constituem meros elementos de acerto horário entre as nuvens de pequenas unidades de Programação; e outra coisa será olhar para a Música como uma matéria de natureza intrinsecamente cultural, ocupando possivelmente, pelo menos 40% do tempo de transmissão de uma Emissora Pública.
Julgo consensual que, para respeitar e servir o gosto dos Públicos, a escolha das Canções que são apresentadas na Rádio Pública deva reflectir equilibradamente, todas as tendências de gosto, todos os períodos, todas as paisagens, todas as intensidades e perfumes, enfim, se possível todos os modelos musicais de que se compõe o vasto mosaico virtual do imaginário dos Ouvintes, no que respeita à Música.
Pensam os Ouvintes que me escrevem que – além das Canções que entram na Lista – a própria selecção de Autores e Intérpretes não possa ser negligenciada, neste processo, como parecia defender no seu texto o Senhor Director de Programas.
A Música que uma Rádio passa – o exercício dos Autores e Cantores consagrados e dos novos Intérpretes – define o espírito com que ou a Estação se entrega universalmente, ou se preserva, em modelos próprios.
Pode reflectir como um espelho, todo o País que a ouve. Como pode permanecer alheia às volições de quem a escuta.
É sobre isso que alguns Ouvintes da Rádio de Serviço Público questionam o seu Provedor.
Acerca da matéria, pedi opinião a gente também muito qualificada.
A maioria dos Especialistas que ouvimos não recusa a utilização do dispositivo da Play List como ferramenta adequada, reconhecendo nele as virtualidades da racionalização de custos e da coerência que pode introduzir como elemento identitário da Estação e da Audiência.
E sem qualquer dúvida, essa é também a minha opinião: a Lista de Difusão previamente estabelecida é – no Séc. XXI – um modelo apropriado para ajudar a definir a identidade musical de uma Estação de Rádio.
Mas, nas abalizadas opiniões que recolhi, houve quem defendesse também o dispositivo complementar dos Programas de Autor, nos quais, segundo áreas de especialidade bem definidas, cabe ao Realizador assumir as suas próprias escolhas musicais, com modelos de apresentação personalizados, contextualizando informação adequada em torno da Música.
É verdade que Direcção de Programas da Antena 1 também está a usar este procedimento.
Usá-lo-á porventura, de modo demasiadamente mitigado, na forma e nos conteúdos. E talvez numa proporção reduzida, em relação à prevalência imperial da Lista de Difusão, previamente determinada por um órgão central de decisão. Mas, sem conhecer os dados quantitativos que estão a ser levantados nesta altura, não quero desenvolver este raciocínio.
O que, sim, me cumpre acentuar é que, tanto nas reclamações dos Ouvintes, como na apreciação dos Expertos, se detecta algum desconforto relativamente à linearidade, digamos assim, com que a Música é tratada no sistema da Lista Difusão.
Fora dos raros e breves Programas nos quais determinados géneros musicais são "autonomizados" e tratados com alguns cuidados, com o dispositivo da Play List é muito raro encontrar, nas 24 horas de emissão da Antena 1, algum texto de enquadramento acerca das condições de criação e de produção das Canções, que ajude desvendar aos Ouvintes as novas tendências ou os velhos standards.
A uma canção de um estilo, sucede outra de género diferente, a que se justapõe outra, de outra época e uma outra ainda que nada tem a ver com a anterior.
E uma Lista, é, afinal, não mais do que uma enfiada pouco coerente de Canções não contextualizadas e muitas vezes contraditórias, até. Onde, por exemplo, espantosamente se juntam For Me Formidable de Aznavour, com Para Sempre dos Xutos, e Father & Son dos Boyzone...
Prevalece o sentido do mix, do mosaico... Perde-se a unidade e esvai-se, afinal, a identidade pretendida.
Estes são alguns dos riscos do uso de uma Lista de Difusão, aos quais é sensato contrapor a economia de escala, a economia de processos e a economia do custo por minuto de emissão que o dispositivo assegura.
Não admira assim que possa ser interpretada como redutora a utilização que a Estação Pública está a fazer da Música que apresenta, com o método dominante da Play List.
Manifestação de Cultura viva, os Especialistas consideram que a Música deve ser entendida numa Rádio nacional como um corpo maleável e expressivo que religa, mais do que justapõe, as significativas manifestações do presente aos perduráveis actos da memória.
Um agregado construído sem complexos, correspondendo menos, aos sinais das modas e, menos ainda, à imagem dos Músicos da moda.
Depois de ouvir esses testemunhos concluo ainda que a Música mais adequada para uma Rádio nacional, será prioritariamente toda a Música desse país e não apenas primordialmente, a sua Música mais recente ou, sequer apenas, a sua Música mais tradicional.
A Música que uma Rádio Pública transmite constitui uma matéria heterogénea.
Mas a sua essência plástica será de tal maneira forte e significativa que, se for entendida no seu conjunto, só pode assumir a carga simbólica de "reflectir, como um espelho, o País que a ouve".
A verdade é que é possível (como em Espanha) realizar uma emissão de Rádio Publica e generalista, dispensando-se o uso da Play List e não determinando sequer, quotas de Música nacional ou estrangeira. Lá, os Ouvintes não se queixam.
Da mesma forma que, como no Brasil, se recorre ao dispositivo de uma Lista Musical pré-estabelecida por 5 Especialistas, com a esmagadora e descomplexada utilização de Música nacional. E também lá, os Ouvintes não
reclamam, nem consideram a exclusividade brasileira, como um posicionamento chauvinista da Rádio.
E para intervir quanto à questão (levantada pelo Ouvinte Álvaro José Ferreira) de nomes alegadamente banidos, sinceramente, creio não haver qualquer pré-disposição da Estação nesse sentido. E muito menos, desde que aqui comecei a tratar desta matéria, "Em Nome do Ouvinte"...
O que haverá talvez, é uma certa ligeireza, no modo de escolher adequadamente o material esteticamente relevante. Critérios de arquitectura da Lista, ficou para mim claro que existem. Mas preencher as diversas áreas consagradas na Grelha arquitectural da Lista de Difusão, é um verdadeiro exercício de minúcia que exige muita sensatez, capacidade intelectual, vasta preparação cultural, específica e genérica, além de um sentido estético muitíssimo apurado.
Não será – seguramente – uma tarefa de um homem só, nem mesmo é – certamente – um desafio simples para quatro excelentes Profissionais a meio tempo.

A terceira e mais generalizada questão trazida pelos Ouvintes refere-se à alegada rarefacção de Música Portuguesa nas emissões da Antena 1.
Quanto a este assunto duas teses.
Podemos considerar que a Antena 1 deva apresentar Músicas de todas as origens, ou (ligando-se com a quarta questão levantada por muitos Ouvintes, que reclamam do excesso de Música anglófona), no limite, consideramos que a Antena 1 apenas deva apresentar Música Portuguesa.
No primeiro contexto, que é a prática actual, com 60% da Música que a Estação transmite, constituídos por "novidades, sucessos quentes e recentes ou memórias" de Música "produzida por Músicos portugueses ou residentes em Portugal", julgo que não haverá razão de queixa.
O limite mínimo de 25% estabelecido na Lei está largamente ultrapassado e nenhuma outra Estação de dimensão nacional – com dispositivos muito idênticos – dedica tanto tempo aos Autores e Intérpretes portugueses.
Mas vejamos o que se pode aduzir quanto à 2ª tese:
Ponto 1: A Antena 1 é apenas a primeira de diversas Estações nacionais do Serviço Público de Rádio, com a missão de se dirigir às mais vastas camadas da população portuguesa, nos seus diversos estratos culturais;
Ponto 2: As outras Estações de dimensão nacional, de natureza privada e comercial, acentuam cada vez mais o carácter de "mix de géneros" praticado na Play List da Antena 1. Sobrepõem-se as estéticas propostas, confundem-se as estratégias, repartem-se os Públicos indecisos e dificilmente se distingue o auditório da Rádio Pública;
Ponto 3: para além da Antena 2, a RDP dispõe ainda de uma terceira Estação – a Antena 3 – com Programação destinada aos Públicos mais jovens e com grau de literacia mais apetente para o consumo intensivo das Músicas modernas, dominadas pelos padrões de expressão em língua inglesa;
Ponto 4: no plano musical, a Antena 1 tem historicamente promovido a divulgação de paisagens musicais de diversas origens, também através de Produções específicas, nas quais podem ser devidamente contextualizadas as expressões musicais estrangeiras, com recurso aos chamados Programas de Autor destinados a Públicos dedicados.
A não ser por razões de natureza económica, nada obstaria a que se pudesse acentuar na Estação Pública esta complementaridade em Programas fechados. No plano da Continuidade de emissão, razões de coerência estética recomendá-lo-iam; e razões de unidade conceptual justificá-lo-iam, ao nível das grandes unidades de Programação.
Ponto 5: Deste modo, poderia expandir-se a disponibilidade de entradas na Lista de Difusão, senão para a Programação exclusiva de Música Portuguesa, pelo menos para a Programação exclusiva de Música em Língua Portuguesa.
O caso brasileiro que foi aqui apresentado é absolutamente paradigmático: ao gostarem de ouvir a sua formidável Música popular em exclusivo, os Ouvintes da Rádio Nacional de Brasília não se consideram extremistas ou chauvinistas – celebram apenas a vitalidade criativa dos seus Autores e dos seus Músicos, beneficiando dela na sua Rádio Pública.

Em conclusão:
Considero que, caso decidisse assumir a exclusividade da Música Portuguesa no quadro da sua Play List – criando complementarmente, alguns sólidos formatos de Autor dedicados a outras Músicas – a Antena 1 asseguraria, no campo musical, um modelo original, eficaz e identitário, mais consensual junto dos seus Públicos e completamente diferenciado no contexto das Estações nacionais de Rádio, como Rádio portuguesa e sobretudo, como Rádio de Serviço Público.» (José Nuno Martins, in "
Em Nome do Ouvinte", 11-11-2006)


Concordo genericamente com as ideias expressas pelo Provedor do Ouvinte, José Nuno Martins, mas gostaria de comentar dois ou três pontos abordados. Antes de mais, a coerência de oferta musical, que é um dos argumentos (para além da economia de custos) para o uso de 'playlists', é coisa que não existe na Antena 1. Veja-se a sequência: Jorge Palma – Robin Williams – Chico Buarque – Santos e Pecadores – Rodrigo Leão – Ricky Martin – Rio Grande – Céline Dion – Sérgio Godinho – George Michael – Dulce Pontes – Xutos e Pontapés – Adriana Calcanhotto – Lenny Kravitz. Sem pôr em causa a qualidade de alguns destes nomes, onde está a coerência estética e a unidade conceptual num alinhamento desta natureza? Pois é! É que na 'playlist' da Antena 1 este tipo de sequências é a regra e não a excepção. Nessa medida, concordo totalmente com a ideia exposta pelo Provedor do Ouvinte para uma 'playlist' exclusivamente portuguesa (ou em língua portuguesa) pois atenuaria de forma significativa as aberrantes disparidades estéticas no encadeamento de canções e daria uma maior harmonia aos alinhamentos. Não obstante, há três requisitos que se deve ter em conta na adopção desse modelo para não suceder que o André Sardet e o Paulo Gonzo, por exemplo, em vez de aparecerem duas vezes por dia passem a aparecer quatro vezes ou mais. Primeiro ponto: integração na 'playlist' de todos os intérpretes portugueses de qualidade reconhecida (e de todos os géneros, com ênfase nas obras esteticamente mais relevantes), havendo a preocupação de os ordenar por afinidades estilísticas, e sem esquecer a renovação periódica dos respectivos temas. Segundo ponto: tratamento mais equilibrado dos diferentes artistas, evitando o favorecimento de uns e a marginalização de outros. Terceiro ponto: abolição da 'playlist' aos fins-de-semana (com excepção da madrugada) e também no intervalo 19-24 horas (de segunda a sexta-feira), períodos que devem ser preenchidos com programas de autor e com espaços musicais temáticos reservados aos géneros não contemplados (ou deficientemente representados) na 'playlist', tais como as músicas latinas (não lusófonas) e mesmo a música de outras espaços culturais e linguísticos, nem que nesse caso se tivesse de privilegiar a música instrumental.
Embora José Nuno Martins não queira admitir, eu continuo a pensar que há exclusão/marginalização deliberada e ostensiva de alguns nomes de referência da música portuguesa (não acredito que um Adriano Correia de Oliveira, uma Amélia Muge, um Manuel Freire, um Pedro Barroso, um Janita Salomé, um Luiz Goes ou um Rão Kyao estejam fora da 'playlist' por esquecimento fortuito e involuntário). Aliás, tanto o director de programas, Rui Pêgo, como o editor da 'playlist', Rui Santos, têm conhecimento da lista de banidos/excluídos há mais de um ano (fui eu que tive o cuidado de a enviar a cada um deles) e, como nada fizeram, é legítimo que se infira da existência de um propósito pré-definido nesse sentido. Acresce ainda que foi o próprio Rui Pêgo que assumiu a exclusão do fado e da música tradicional da 'playlist', coisa para mim completamente absurda e bizarra na rádio estatal portuguesa por se tratar precisamente dos géneros musicais mais idiossincraticamente nacionais. Será que a rádio pública espanhola não passa flamenco e coplas? A rádio cabo-verdiana não passa morna e funaná? A rádio angolana não passa quizomba? A rádio brasileira não passa samba e choro? A rádio argentina não passa tango e música gaúcha? A rádio cubana não passa rumba e mambo? E a National Public Radio, dos Estados Unidos da América, também não passa música country e blues? Em suma: se não for a rádio pública portuguesa a passar a música de que melhor define a nossa identidade quem é que o vai fazer? Jamais poderei aceitar que uma cantora como Amália Rodrigues não tenha lugar na emissão de continuidade da Antena 1 e, ao invés, se prefira passar alguns dos seus temas cantados por outros (Dulce Pontes, Adriana Calcanhotto, etc.) em versões que nem se comparam às originais. Além disso, Amália Rodrigues não tem apenas fado no seu vastíssimo repertório, pelo que é ainda mais inconcebível a sua exclusão da 'playlist'. Em contraponto ao "esquecimento" de Amália (e de outras figuras de referência), regista-se um favorecimento descarado de uma plêiade de nomes mais mainstream, não só quanto a padrões de repetição como também no número de canções presentes na 'playlist'. Exemplos: André Sardet, Paulo Gonzo, GNR, Mesa, Clã, Pedro Abrunhosa, Delfins, Pólo Norte, Xutos e Pontapés, Heróis do Mar, António Variações, Humanos, Luís Represas, Paulo de Carvalho, Sérgio Godinho, Rui Veloso, Jorge Palma. Deste modo, e com o prejuízo de tantos outros artistas (e dos ouvintes que gostariam de os ouvir), se cumpre na Antena 1 a taxa de difusão de música portuguesa (alegadamente 60%) mesmo que, em boa verdade, tal não signifique uma cabal e razoável representação do universo de música de qualidade produzida em Portugal. Dado que, segundo Rui Pêgo, o que conta são as canções e não os intérpretes, torna-se fácil elaborar uma 'playlist' tendo como base o repertório de duas dezenas de favoritos, e sem que se vislumbre um critério claro e plausível para tais preferências. Então, se um cantor/grupo mediano passar duas ou três vezes por dia e outro de qualidade superior não passar nenhuma, isso não é motivo de preocupação para a direcção da Antena 1? Pode não ser para Rui Pêgo (que talvez nem ouça habitualmente a Antena 1) mas é sobejamente para mim e creio que também para muitos outros ouvintes. E cumpre-me dizer que, além de preocupante, será sempre inaceitável – insisto – que na rádio estatal portuguesa, a nossa música mais autêntica (passada e actual) não tenha uma presença digna na grelha e seja enfiada em guetos de cinco minutos de duração diária. Sem prejuízo da necessária reformulação da 'playlist', não me calarei enquanto não existir, pelo menos, um programa de autor reservado ao fado e à música popular portuguesa (tradicional e de autor), tal como acontece para o pop/rock dos anos 60, 70 e 80 (em "Ondas Luisianas").