10 março 2009

Queremos o "1001 Escolhas" de volta!



A exemplo do "Lugar ao Sul", à beira de completar trinta anos de emissões, sempre considerei o "1001 Escolhas", desde que apareceu em 2004, uma marca de excelência na rádio portuguesa. Digo mais: numa emissora cada vez mais descaracterizada e igual às rádios comerciais como é a actual Antena 1, o "1001 Escolhas" era um dos escassos oásis que ainda existiam na respectiva grelha. E digo "era" porque alguém teve a infeliz ideia de acabar com ele. E esse alguém, até prova em contrário, não terá sido a autora, Madalena Balça, mas um indivíduo chamado Rui Pêgo que depois de ter sido (levianamente) colocado na direcção da rádio pública, em meados de 2005, não descansa enquanto não destrói todos os bons programas que representavam uma mais-valia do serviço público, com a finalidade de arranjar tachos para uma trupe de amigos (os seus e os dos outros elementos da direcção), boa parte dos quais perfeitamente medíocres.
Sem querer dizer mal do "História Devida", recentemente recuperado (nada contra), é inquestionável que o "1001 Escolhas" está a milhas de distância (à frente) e, como tal, não posso aceitar o seu abrupto e inesperado fim, quando ainda tinha um longo caminho para andar. Porque a matéria-prima nem por sombras ficou esgotada e o que não falta em Portugal é gente interessante para se ouvir, não necessariamente com visibilidade mediática. E também porque não quero deixar de me deliciar com as saborosas conversas que a Madalena Balça entabulava com os seus convidados, ilustradas com interessantíssimos apontamentos sobre os mais diversos temas: livros/escritores, músicas/compositores/intérpretes, filmes/realizadores/actores, pinturas/esculturas/artistas, descobertas científicas e invenções/cientistas, monumentos/arquitectos, viagens/exploradores, lugares históricos e naturais, especialidades gastronómicas, modalidades desportivas/atletas... Em suma, uma vasta panorâmica sobre as múltiplas artes, saberes e afectos de que se alimenta a nossa alma e, simultaneamente, um tributo à memória de grandes homens e mulheres que viveram antes de nós, e sem os quais hoje seríamos muito mais pobres. Em que outro programa de rádio, de permeio a uma conversa coloquial e despretensiosa, se evoca, em primorosas peças jornalísticas, o romance "O Coração das Trevas" (de Joseph Conrad), a fadista Lucília do Carmo, o cineasta Terence Mallick, e se convive com as gentes do planalto mirandês, apenas para citar as escolhas de Paula Moura Pinheiro, na última edição? Mais que um programa de entrevista/conversa, o "1001 Escolhas" era um agradabilíssimo momento de divulgação cultural, uma janela que nos era aberta para as coisas que vale a pena vivenciar e que enriquecem a nossa existência. Um programa como o "1001 Escolhas" nunca devia acabar. Exige-se, por isso, a sua rápida reposição pois essa é não só a minha mas a vontade de muitos ouvintes. Madalena Balça – assim quero acreditar – não será indiferente a esse desejo. Cumpre pois à direcção de programas da rádio estatal agir em conformidade.
Queremos o "1001 Escolhas" de volta!

Nota: Recomenda-se também a leitura do 'post' de Francisco Mateus no blogue "
Rádio Crítica".