10 junho 2024

Camões recitado e cantado (X)


Camões retratado a corpo inteiro por José Malhoa, 1906, óleo sobre tela, 197 x 110 cm, Sala Camões do Museu Militar de Lisboa.

«Embora o pintor tenha utilizado um modelo, na minha opinião há no rosto uma evidente auto-representação diferida, valorizando, no vate, o destino de jovem fidalgo ousado que provocou a vida com a mesma energia com que soltou a imaginação e o génio artístico para celebrar a pátria.»

                  RAQUEL HENRIQUES DA SILVA
                  (excerto do artigo "Retratos de Camões:
                  da vera efígie às recriações românticas
",
                  in jornal "Público", 09 Jun. 2024)


                              CAMÕES


          Nem tenho versos, cedro desmedido
          Da pequena floresta portuguesa!
          Nem tenho versos, de tão comovido
          Que fico a olhar de longe tal grandeza.

          Quem te pode cantar, depois do Canto
          Que deste à pátria, que to não merece?
          O sol da inspiração que acendo e que levanto
          Chega aos teus pés e como que arrefece.

          Chamar-te génio é justo, mas é pouco.
          Chamar-te herói, é dar-te um só poder.
          Poeta dum império que era louco,
          Foste louco a cantar e louco a combater.

          Sirva, pois, de poema este respeito
          Que te devo e professo,
          Única nau do sonho insatisfeito
          Que não teve regresso!

                      MIGUEL TORGA
                      (in "Alguns Poemas Ibéricos", Coimbra
                      Editora, 1952 – p. 37-38;
                      "Poemas Ibéricos", Coimbra Editora,
                      1965 – p. 54)
                      "Poesia Completa", Lisboa: Publicações
                      Dom Quixote, 2000 – p. 720-721)


CAMÕES, LUÍS Vaz DE (c.1524, Lisboa? – 10/6/1580, id.). 1. O Homem – Ainda não se sabe nem onde nem quando nasceu Luís de Camões – seu nome, Luís Vaz de Camões, consta num documento da chancelaria de D. João III, «carta de perdão», de 10 de Março de 1553, revelada pelo visconde de Juromenha. Contudo, Lisboa e 1524 são correntemente aceites como mais prováveis local e ano de nascimento do Poeta. Quanto ao primeiro, há apenas testemunhos objectivos, próprios e alheios, que parecem militar em defesa de Lisboa, mas ao certo ainda nada se sabe. Já se escreveu até que Camões, tendo tido oportunidade de declarar abertamente o nome da terra que lhe foi berço, não o fez de propósito, nisso se comparando com Homero, disputado, segundo uma tradição multimilenária, por sete cidades gregas. O ano de 1524 é aceite pela maioria, como data do nascimento, desde que [Manuel de] Faria e Sousa (1590-1649) afirmou ter visto, nos arquivos da Casa da Índia, um documento em que tal se declarava. [...] Sabe-se hoje, de fonte certa, que os avós de Luís de Camões (apelido de origem galega, usado pela primeira vez em Portugal por seu trisavô Vasco Perez de Camões), Antão Vaz de Camões e Guiomar Vaz da Gama, viveram em Vilar de Nantes, pequena povoação nas vizinhanças de Chaves, e que lá nasceu seu pai. Também se conhece o nome dos pais do Poeta: Simão Vaz de Camões ou Simão Vaz (confirmado na «carta de perdão» de 1553) e Ana de Sá (em documento da chancelaria de Filipe II). Os pais viviam em Lisboa ou, pelo menos, a mãe, «à Mouraria» (segundo o documento alegado por Faria e Sousa, que também descreveria a fisionomia do nosso poeta desta forma singular: «fue nobilíssimo Cavallero, unico Poeta, valiente soldado, de costumbres correspondientes a sus calidades, de mediana estatura, y bien formado, rubio de pelo.»), em 1552, data do incidente com Gonçalo Borges, no Largo de São Domingos, que levou Luís de Camões à prisão no «Tronco» – ali a dois passos. Qual o percurso de Simão Vaz desde que saiu de Vilar de Nantes até fixar residência em Lisboa? Estudou em Braga, onde se encontraram os registos de matrícula. Como e onde conheceu sua mulher Ana de Sá, ou Ana de Macedo, dos Macedos de Santarém, segundo biógrafos antigos? É verdade que exerceu funções no Oriente, onde morreu, tendo deixado no Reino, em Lisboa, mulher e filho? E Luís Vaz: onde foi criado e se educou? Perguntas sem resposta, ainda hoje, definitiva. Dizem alguns que estudou em Coimbra, mas ainda não se conhece documento abonatório. Ao certo sabe-se que nessa cidade residiram membros da família Camões; um deles, D. Bento de Camões, tio de Luís, foi o primeiro prior-geral e primeiro cancelário da Universidade. A tudo alia o Poeta um carinho pela cidade e paisagem circundante, manifestado com frequência nas Rimas e na Epopeia, como a comprovar o conhecimento directo, diríamos, a sua vivência ali. Enquanto em Lisboa, como cavaleiro fidalgo («carta de perdão» citada) de ascendência nobre — conhece-se a pedra-de-armas dos Camões –, tinha acesso à Corte. Comprova-no-lo uma carta sua dirigida a D. Francisca de Aragão, primeira dama da rainha D. Catarina, viúva de D. João III, que ficou célebre pela sua beleza rara. A vida lisbonense de Camões, de um Luís Vaz de carne e de sentidos, é-nos dada pelo próprio em duas cartas, de cuja autoria não se duvida hoje, escritas a «amigos». De posterior passagem («desterro», escrevem alguns) ao Ribatejo (Santarém, Punhete), o que há são notícias infundadas de biógrafos, antigos e modernos, consubstanciadas por uma enraizada tradição popular, ou alicerçadas em subjectivas deduções da leitura de passos das Rimas. De exacto, sabe-se que, por 1549-1551, participou em expedição militar ao Norte de África, com muito provável desembarque em Ceuta. Ali, em acidente de guerra, ficou a «manquejar» do olho direito. Em 1552 está de novo em Lisboa, e a 16 de Junho desse ano, envolvido num incidente no Largo de São Domingos, é preso e levado para o «Tronco», onde permanece até Março de 1553 («carta de perdão» cit.). Destinado a servir na Índia nesse ano, a 26 do mesmo mês embarca na nau S. Bento da armada do comando de Fernão de Álvares Cabral. No Oriente, há notícia, por si mesmo dada, de ter participado em expedições militares, uma delas contra o rei da Pimenta (eleg. 1.ª). Em Goa, não levou vida abonada, pelo contrário, apesar da amizade e protecção que lhe votou o vizo-rei D. Francisco Coutinho, conde do Redondo (1561-1564), das relações que mantinha com personalidades de relevo na vida social, seus convidados num «banquete de trovas», e de ter redigido, para o governador Francisco Barreto (1555-1558), o Auto de Filodemo. Conheceu mesmo a prisão, por dívidas a Miguel Roiz, «Fios Secos» de alcunha. Desde o biógrafo Manuel Correia, seu amigo pessoal, que se criou a tradição de que Luís de Camões desempenhou em Macau o cargo de provedor-mor dos defuntos, ausentes e órfãos, que abandonou por incúria, tendo mesmo vindo, sob prisão, para Goa; a este facto se refere o Poeta no Canto X d ' Os Lusíadas (est. 128), classificando-o de «injusto mando», ao narrar o naufrágio que sofreu no rio Mecom (Camboja/Vietname), do qual se salvou com os «cantos molhados»; ainda, segundo uma versão atribuída ao cronista Diogo do Couto, na Década VIII da Índia, ali se afogou uma moça china, chamada Dinamene, com quem andava de amores e vinha «muito obrigado». A existência real de Dinamene, personagem alegada em sonetos camonianos, contestada por alguns (Costa Pimpão), é defendida, e com algumas razões, por outros (Afrânio Peixoto, Roger Bismut, sobretudo). Outra notícia há em defesa da provável estada de Camões em Macau: num manuscrito da Biblioteca da Ajuda, cópia setecentista de outro mais antigo, «Titulo dos bens de raiz deste Coll.° de Macau», fala de uns «penedos do Camões» no Campo dos Patanes; estes penedos deram origem à designação corrente de «Gruta de Camões» e, entendendo-se como referidos ao Poeta (entendimento crível, mas ainda não suficientemente provado), estão na base da tradição de que boa parte do Poema teria sido escrita em Macau. Tradição que ninguém tem o direito de destruir in limine. De Goa, conhece-se ainda uma carta de Camões que é belo documento da vida local e uma sátira escaldante às sociedades portuguesa e goesa da época. Em Setembro de 1569 estava em Moçambique, levado pelo capitão de Sofala, Pedro Barreto, sem dúvida já no propósito de regressar à Pátria; ali o foi encontrar Diogo do Couto, «tão pobre que comia dos amigos». «E, para se embarcar para o Reino», continua o cronista, «lhe ajuntámos os amigos toda a roupa que houve mister, e não faltou quem lhe desse de comer. Em aquele Inverno, que esteve em Moçambique, acabou de aperfeiçoar as suas Lusíadas, para as imprimir...» Regressa ao Reino na armada que partiu para Lisboa em Novembro de 1569 e chega em frente de Cascais, na nau Santa Clara, em Abril de 1570. Traz o propósito firme de publicar Os Lusíadas, que, por alvará de 24 de Setembro de 1571, obtêm rápida autorização para impressão, crê-se que por intercessão de D. Manuel de Portugal. Os Lusíadas foram impressos na tipografia de António Gonçalves, entre Outubro de 1571 e Julho de 1572, data em que D. Sebastião concedeu a Luís de Camões uma tença anual de 15 000 reais brancos, mesquinha segundo uns, suficiente segundo outros, e com mais razão, desde que lhe fosse paga com regularidade – o que não aconteceu. A partir daquela data, apenas se tem notícia de que Luís de Camões redigiu uns tercetos e uns sonetos, dirigidos a D. Leonis Pereira, vencedor do rei do Achém, em Malaca, para apresentação, em 1576, da primeira descrição etnogeográfica do Brasil impressa, a História da Província Santa Cruz, de Pêro de Magalhães de Gândavo. Este gramático sustentara em 1574, no Diálogo em louvor da Língua Portuguesa, a superioridade de Camões sobre o verso heróico castelhano. Por um documento da chancelaria de Filipe II, de 13 de Novembro de 1582, sabe-se que o Poeta morreu em 10 de Junho de 1580, e não em 1579, como se pensava até ao conhecimento daquele documento. Em que circunstâncias? Sabe-se apenas que foi enterrado na igreja do Convento de Sant'Ana, onde, mais tarde, D. Gonçalo Coutinho mandou reservar-lhe sepultura própria, assinalada por inscrição. O terramoto de 1755 tudo abalou e, quando em 1880 – terceiro centenário da sua morte – quiseram transladá-lo para os Jerónimos, tiveram a maior dificuldade, se não impossibilidade, na identificação dos ossos. Se quisermos dar algum crédito ao testemunho de Fr. José Índio, teria morrido num hospital, ao abandono, sem um lençol para o cobrir; a tradição popular, alimentada pelo romantismo, fá-lo viver os últimos tempos das esmolas recolhidas por um escravo jau [javanês]. Mas a prudência recomenda-nos não ir além destas palavras de Diogo do Couto: «E em Portugal morreu este excelente Poeta, de pura pobreza.» 2. A ObraA. Rimas: É indubitável que a obra lírica de Camões é anterior à obra épica. O próprio Poeta o declara na invocação às Tágides nas estâncias 4.ª e 5.ª do Canto I d' Os Lusíadas. Contudo, até hoje só se conhecem três poemas líricos publicados em vida do autor: uma ode ao conde do Redondo (1563), D. Francisco Coutinho, vizo-rei da Índia, uns tercetos e um soneto (1576) a D. Leonis Pereira, capitão de Malaca. Quanto a um quarto poema, um soneto que acompanha a obra Exemplares de Diversas Sortes de Letras, está hoje posta de parte a autoria camoniana e, ipso facto, a sua publicação em vida de Camões. A 1.ª edição das Rimas, dedicada a D. Gonçalo Coutinho, foi publicada em 1595, com dedicatória do mercador de livros Estêvão Lopes e prólogo, não assinado, de Fernão Rodrigues Lobo, o Soropita. Compõem-na 5 partes: primeira parte dos sonetos (65 sonetos, e não 66, como se numera por lapso); segunda parte, das canções (10); sextinas (1); odes (5); terceira parte, das elegias (4, uma delas encimada pela palavra CAPITVLO) e algumas oitavas (3, as duas últimas com a designação de OITAVA RHIMA); quarta parte, das éclogas (8); quinta parte, das redondilhas, motes, esparsas, e «grosas» (78). Um total de 174 composições, seguidas de oito páginas de «taboada». Eis o espólio poético, marcado pelo estigma iniludível de edição póstuma, ponto de partida para as sucessivas edições das Rimas, ampliadas ou depuradas, e que afanosamente têm procurado, ao longo dos séculos, fixar o cânone da lírica camoniana, com entusiasmo, com serenidade, com inteligência, com sensacionalismo, sem que até hoje se tenha conseguido superar a edição das Rimas por Álvaro Júlio da Costa Pimpão, na edição de Coimbra, 1973, e reedição de 1994. Mas, se na recolha, selecção e fixação do texto das Rimas não há consenso entre camonólogos, todos convergem, sim, para o reconhecimento da riqueza poética incomparável da lírica camoniana, na sua diversidade temática, nível de inspiração, ductilidade de composição, enfim, na excelência cultural, que a transportam para lugar cimeiro nas literaturas peninsulares. – B. Autos ou Comédias: são apenas três os autos ou comédias de Luís de Camões até hoje conhecidos: Auto dos Enfatriões, Auto de Filodemo e Auto de El-Rei Seleuco. Indicamo-los por ordem de edição: os dois primeiros saíram na Primeira Parte dos Autos e Comédias Portuguesas (Andrés Lobato, Lisboa, 1587), «agora novamente juntas nesta primeira impressão», o que pressupõe tivessem circulado já em folhas volantes; o terceiro, El-Rei Seleuco, encontrado em manuscrito que foi do Conde de Penaguião, apareceu incluído no tomo segundo (Lisboa, 1645) de uma edição das Rimas de Camões devida a Paulo Craesbeeck, mas também já teria circulado avulso, como era habitual. No entanto, dos autos de Camões ainda se não conhecem exemplares de folhas volantes quinhentistas. Aspectos particulares do teatro camoniano são as intervenções das personagens secundárias, criados e gente rústica, com uma graça típica do povo que atinge o cómico e provoca o riso, e é sobretudo a beleza do lirismo dos autos, em paralelo com o de Gil Vicente, sem deixar de apresentar, como é óbvio, caracteres inovadores renascentistas. – C. Cartas: o visconde de Juromenha [João António de Lemos Pereira de Lacerda, 1807-1887] atribuiu a Camões cartas (de algumas delas apenas fragmentos) que publicou. Começou aqui uma polémica que ainda não terminou acerca da autoria camoniana destas cartas. Hoje, na sua maioria, a crítica inclina-se para considerar de Camões quatro cartas: as duas chamadas «de Ceuta» e «da Índia», já publicadas na edição das Rimas de 1598, e as duas «de Lisboa», ms. da Biblioteca Nacional, publicadas e suficientemente estudadas por Xavier da Cunha (1904) e por José Maria Rodrigues (1925), respectivamente. Há um problema recentemente levantado por Fernando Portugal: ao tratar de outra versão de uma das cartas chamadas «de Lisboa», recorda que, no códice 9492 da BN, há outra carta anónima que apresenta afinidades tais com as duas de «Lisboa» atribuídas a Camões que aquele investigador não hesita em afirmar que também esta é do Poeta (Rev. da Bibl. Nac., 3, 1988, pp. 7-20). A ser assim, seriam 5, e não 4, as cartas camonianas até hoje conhecidas. A tal proposta já respondera, alguns anos antes, o Prof. Costa Pimpão (Escritos Vários, Coimbra, 1972, p. 460), esclarecendo que essa carta, «apesar de se ocupar das mesmas folias, não foi, por várias razões, de que apenas se publicou uma, considerada autêntica: é que ela é datada (segundo a cópia) de 20 de Maio de 1553, e, nesta altura, já lá ia o Poeta a caminho da Índia... Não fora a data, e teríamos porventura mais uma epístola a engrossar o magro espólio camoniano...» – D. Os Lusíadas: concluídos em 1571, a obra capital do estro camoniano, a Epopeia Nacional, saem impressos em 1572, na oficina de António Gonçalves, na Costa do Castelo. Datadas do mesmo ano, 1572, há, porém, duas edições, ainda assim cada uma delas com variantes. A verdadeira 1.ª edição, ou princeps, é a que apresenta na portada, ao alto, a cabeça do pelicano voltada para a esquerda do observador, também chamada edição S e Ee, por oferecer no v. 7 da estância 1.ª a seguinte lição:

      E entre gente remota edificaram.

Lusíadas é palavra que Luís de Camões recolhe de André de Resende, numa anotação ao poema Vincentius levita et martyr. Resende formara-a à semelhança de Virgílio que de Aeneas deduzira Aeneades: assim Lusíadas, descendentes de Luso, progenitor mitológico da Raça, ou seja, os Portugueses. Usada uma única vez por Camões, e só no título do Poema – ao longo dos cantos lemos formas sinónimas, como Lusitanos, Portugueses, filhos de Luso, mais adaptáveis ao esquema métrico exigido –, a palavra Lusíadas, eivada de carga clássica singular, eternizaria para sempre um Povo que é o herói principal da epopeia a que deu o nome. Ainda que a primeira ligação oficial por mar de Portugal à Índia, comummente designada por «descobrimento do caminho marítimo para a Índia», seja o tema central do Poema, e Vasco da Gama seu protagonista, a personagem principal d' Os Lusíadas é, repetimos, o Povo Português, com toda a sua história de feitos e nomes ilustres «libertos da lei da Morte». N' Os Lusíadas se concentra toda a ciência, cultura e sabedoria da época. Pergunta-se, e com razão, o que é que Camões desconhecia, tal é o saber revelado, para mais enriquecido com os frutos da experiência vivida. Ao longo de dez cantos – note-se que no alvará régio para impressão fica o Poeta autorizado a acrescentar mais cantos, se o desejar – perpassa toda uma Nação, numa sucessão de acções heróicas, toda uma evocação susceptível de motivar e interessar não apenas os Portugueses, mas a Europa inteira, como se verificou com a série interminável de edições e traduções que vêm até aos nossos dias. Sem exagero se poderá afirmar que Os Lusíadas, sendo o verdadeiro e mais precioso tesouro algum dia legado aos Portugueses, são também a verdadeira «Bíblia da Pátria», e foi neles que sempre encontrámos estímulos anímicos bastantes para enfrentar dificuldades nas horas de crise. Foi assim em 1640! E não se esqueça que com a publicação d' Os Lusíadas se fixou definitivamente a Língua Portuguesa como idioma independente, em riscos como esteve de passar a língua segunda, face ao imperialismo do castelhano. Construção poética de inspiração sublime, modelo de dignificação do Homem, Os Lusíadas estão a par, se as não sobrelevam, das epopeias mundialmente consagradas.

              JUSTINO MENDES DE ALMEIDA
              (in "Dicionário de Literatura Portuguesa",
              Org. e dir. Álvaro Manuel Machado,
              Lisboa: Editorial Presença, 1996 – p. 96-99)


Neste Dia de Camões (o 500.º 10 de Junho – supõe-se – sobre o nascimento do Poeta-Maior da Língua Portuguesa), damos por concluída a divulgação do CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões" (PortugalSom/Strauss, 1995), na interpretação de Fernando Serafim (canto) e Filipe de Sousa (piano), com a apresentação do Op. 231, "Dez Novos Sonetos de Camões". Para com eles serem intercalados, fazendo jus ao conceito "Camões recitado e cantado", escolhemos outros tantos registos falados, igualmente de sonetos, na voz de reputados actores/recitadores: dois por Morais e Castro, sete por Carlos Wallenstein e um por João Grosso. Dado que cinco sonetos são comuns aos dois conjuntos, temos quinze sonetos diferentes, alguns deles muito pouco conhecidos, o que se deve, em boa parte, ao facto da rádio – o meio privilegiado para a divulgação de poesia dita e cantada – ser, há largos anos, assaz negligente relativamente à obra camoniana. Tão desoladora realidade dá-nos assim a gratificante oportunidade de prestar autêntico serviço público cultural, propiciando a uns quantos que aqui vierem dar a fruição e o cultivo de alguns dos mais admiráveis espécimes poéticos que o génio de Camões legou à posteridade. Votos de boa celebração camoniana!

Quem sintonizou a Antena 2, ontem, entre as 16h:00 e as 18h:00, teve a ocasião de ouvir, no programa "Musica Aeterna", nove das dez canções (faltou a quinta) de Camões, primorosamente ditas por Luís Miguel Cintra, que em 1995 saíram num CD (precioso) editado pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, então presidida por Vasco Graça Moura [>> RTP-Play]. Uma nota de apreço para João Chambers pela iniciativa que, por sinal, não é a primeira no que àqueles admiráveis poemas camonianos diz respeito.
E hoje? De que modo a estação pública de rádio celebrou Camões?
Começando pela Antena 2, tivemos a oportunidade de ouvir, no programa da manhã (07h:00-10h:00), pela mão de Paulo Alves Guerra: alguns poemas camonianos, uns ditos (por Luís Miguel Cintra) e outros cantados (por Segréis de Lisboa, Coro ZAVE, Ana Quintans, Marina Pacheco); o primeiro e o segundo andamentos da Sinfonia "À Pátria", Op. 13 (andamentos aqueles que, na partitura, têm como epígrafe versos d' "Os Lusíadas" e do soneto "Eu cantarei de amor tão docemente", respectivamente) tocados pela Royal Liverpool Philharmonic Orchestra sob a direcção de Álvaro Cassuto; um texto de Vasco de Graça Moura referente a Camões e à sua epopeia, destinado às crianças, lido por Ana Isabel Gonçalves e Paula Pina no apontamento "Palavras de Bolso" [>> RTP-Play]; uma entrevista com César Viana, a respeito da sua ópera "O Último Canto: Camões e o Destino", baseada na tradução portuguesa, feita por Larissa Shotropa e João Lourenço (para a editora E-Primatur), do poema dramático "Camões", do russo Vassili Jukovski (1783-1852), por sua vez inspirado na curta peça "Camoens" que o dramaturgo austríaco Friedrich Halm publicou em 1837; e, a finalizar, a canção "Camões e a Tença", de José Mário Branco, sobre o poema homónimo de Sophia de Mello Breyner Andresen. Ainda no turno da manhã, fomos presenteados, na rubrica "A Vida Breve", de Luís Caetano, com o poema "Última Meditação de Camões", de Ana Luísa Amaral, dito pela autora [>> RTP-Play]. Já depois do meio-dia, no apontamento "Há 100 Anos" também se falou de Camões e foi dado a ouvir, por Cristina do Carmo, o quarto andamento da Sinfonia "À Pátria", Op. 13, de Vianna da Motta, pela Orquestra do Estado Húngaro, dirigida por Mátyás Antal. Ao longo da manhã e da tarde, foram também transmitidos alguns sonetos de Camões ditos por Raquel Marinho, iniciativa que mereceu o nosso elevado apreço [>> RTP-Play]. Ao fim da tarde, damos nota do espaço "Baile de Máscaras", de João Rodrigues Pedro, que foi devotado a Camões, com a transmissão de canções baseadas em poemas seus, interpretadas por Susana Gaspar com Nuno Vieira de Almeida e pelo agrupamento Sete Lágrimas, e a reposição da adaptação radiofónica do "Auto dos Anfitriões" originalmente emitida a 6 de Junho 1971, no âmbito do Teatro das Comédias, de Álvaro Benamor, que contou no elenco, além dele próprio, com Carmen Dolores, Ruy de Carvalho, Canto e Castro, entre outros [>> RTP-Arquivos]. E, a fechar o dia, "A Ronda da Noite", de Luís Caetano, também se fez em torno de Camões, com a presença de Helder Macedo, a pretexto da nova edição (revista e aumentada) do seu livro "Camões e Outros Contemporâneos" (ed. Presença) – entrevista essa que foi antecedida pela transmissão do Sanctus e do Benedictus do Requiem em dó menor, Op. 23, "À Memória de Camões", de João Domingos Bomtempo, pelo Coro e Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim, e os cantores solistas Ana Pusar Jerič, Heidi Riess, Christian Vogel e Hermann Christian Polster, sob a direcção de Heinz Rögner [>> RTP-Play]. A Antena 2 esteve bem, mas podia ter estado ainda melhor se a música transmitida ao longo do dia fosse exclusivamente de compositores portugueses, intercalando peças instrumentais compostas nos últimos 500 anos com canções eruditas concebidas sobre poemas camonianos.
Na Antena 3, assinalamos a reposição da edição de 10 de Junho de 2022 da rubrica "Vamos Todos Morrer", de Hugo Van Der Ding, dedicada a Luís de Camões [>> RTP-Play]. Nada mais nos constou relacionado com o Poeta ao longo do dia nas incursões que fizemos à respectiva emissão, o que nos leva a deduzir que o indivíduo que manda no canal, Nuno Reis, se esteve a marimbar para a importante efeméride. Vergonhoso!
Quanto à Antena 1, a melhor nota que nos cumpre dar diz respeito ao programa do serão, "Uma Noite em Forma de Assim", no qual Jorge Afonso esteve à conversa com duas académicas camonistas, Maria Vitalina Leal de Matos e Isabel Rio Novo, esta a propósito da biografia "Fortuna, Caso, Tempo e Sorte" (ed. Contraponto), tendo também passado algumas canções com versos de Camões (ou a ele atribuídos), nas vozes de Cuca Roseta, JP Simões, Lina, Camané e Amália [1.ª parte >> RTP-Play / 2.ª parte >> RTP-Play]. Depois do noticiário das 23h:00, a emissão foi preenchida com a transmissão de uma versão condensada do espectáculo "O Mar de Camões", realizado na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, no passado dia 29 de Abril. Apesar de aquele espectáculo ser notoriamente desequilibrado em qualidade, não criticamos a direcção de programas por proporcionar aos ouvintes da Antena 1 uma amostra, tendo em consideração a figura sob cuja evocação tal concerto foi realizado. O que suscita a nossa veemente reprovação prende-se com a programação ao longo do dia que quase ignorou Camões. Daria assim tanto trabalho reformular a 'playlist' de modo a que a oferta musical fosse somente cantada em português, pontuda com alguns poemas camonianos, uns cantados e outros recitados?


«Aquela matéria poética, que, extraída do ideal amoroso e literário de Petrarca, vimos vir sendo elaborada desde Sá de Miranda, em sucessivos ensaios como à busca da perfeita expressão nunca atingida, encontrou no temperamento poético de Camões cabal realização, e dentro da forma para que nascera: o soneto. [...].
Postos de lado, alguns de intuito laudatório ou comemorativos de públicos acontecimentos, que repugnam à essência íntima do soneto e outros religiosos que não são os mais adequados à índole artística do poeta, os sonetos de Camões organizam-se numa verdadeira enciclopédia poética do amor, formando um poema com unidade, com sua proposição, sua acção intensa, o drama duma alma que intensamente amou e sofreu, e deliciosamente encontrou na poetização do seu sofrimento a sua própria felicidade, com suas conclusões e seus propósitos de edificação moral.»

          FIDELINO DE FIGUEIREDO
          (in "História da Literatura Clássica", 1.ª Época:
          1502-1580, Lisboa: Livraria Clássica Editora,
          2.ª ed., 1922 – p. 257 e 260)



Transforma-se o amador na cousa amada



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 5)
Recitado por Morais e Castro* (in CD "O Ritmo da Poesia", Universal Music Portugal, 2003)
Música: João Ferreira




Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim co a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia;
e o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.


Notas:
amador – apaixonado;
imaginar – recordar a imagem da "cousa amada";
liada – ligada, unida;
semideia – semideusa, mulher divinizada;
se conforma – se confunde, se funde, se identifica.

* Morais e Castro – voz
João Ferreira – kriket e caxixi



Transforma-se o amador na cousa amada



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 5)
Música: Fernando Lopes-Graça (1.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim co a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia;
e o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Enquanto quis Fortuna que tivesse



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 3)
Recitado por Carlos Wallenstein (in LP "Camões: Antologia", Série 'Disco Falado', Guilda da Música/Sassetti, 1973; CD "Camões: Antologia", Série 'Palavras', Strauss, 2002)




Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho c'o tormento,
para que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades: quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,

(verdades puras são e não defeitos),
entendei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos.


Notas:
Fortuna – divindade que presidia aos acasos da vida;
juízo isento – coração livre de cuidados amorosos;
engenho – talento, inspiração;
tormento – sofrimento;
sujeitos a diversas vontades – inconstantes nos amores;
defeitos – deformações da verdade, mentiras;
amor tiverdes – experiências amorosas tiverdes.



Em prisões baixas fui um tempo atado



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Estêvão Lopes, Lisboa, 1598; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 37)
Música: Fernando Lopes-Graça (2.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Em prisões baixas fui um tempo atado,
vergonhoso castigo de meus erros;
inda agora arrojando levo os ferros
que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.

Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
que Amor não quer cordeiros, nem bezerros;
vi mágoas, vi misérias, vi desterros.
Parece-me que estava assi ordenado.

Contentei-me com pouco, conhecendo
que era o contentamento vergonhoso,
só por ver que cousa era viver ledo.

Mas minha estrela, que eu já agora entendo,
a Morte cega, e o Caso duvidoso
me fizeram de gostos haver medo.


Notas:
prisões baixas – prisões amorosas;
ferros – cadeias, grilhões;
Amor – Cupido;
estrela – sorte, destino;
Caso – acaso, acontecimento fortuito.

* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Busque Amor novas artes, novo engenho



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 7)
Recitado por Carlos Wallenstein (in LP "Camões: Antologia", Série 'Disco Falado', Guilda da Música/Sassetti, 1973; CD "Camões: Antologia", Série 'Palavras', Strauss, 2002)




Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
pois mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Pois não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;

que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.


Notas:
esquivanças – manobras;
perigosas – efémeras;
contrastes – contrariedades;
lenho – barco.


Aqueles claros olhos que chorando



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. João António de Lemos Pereira de Lacerda, 2.º visconde de Juromenha, Lisboa, 1861; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 181)
Música: Fernando Lopes-Graça (3.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Aqueles claros olhos que chorando
ficavam, quando deles me partia,
agora que farão? Quem mo diria?
Se porventura estarão em mim cuidando?

Se terão na memória, como ou quando
deles me vi tão longe de alegria?
Ou se estarão aquele alegre dia,
que torne a vê-los, n'alma figurando?

Se contarão as horas e os momentos?
Se acharão num momento muitos anos?
Se falarão co'as aves e co'os ventos?

Oh! bem-aventurados fingimentos
que, nesta ausência, tão doces enganos
sabeis fazer aos tristes pensamentos!


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Tanto de meu estado me acho incerto



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 4)
Recitado por João Grosso* (in CD "Amor É Fogo: Poemas de Luís de Camões", Série "Festa da Língua Portuguesa", Vol. III, Câmara Municipal de Sintra/Instituto Camões, 2001)
Música de fundo: Johann Sebastian Bach, Tocata (de Tocata & Fuga em ré menor, BWV 565) - Transcrição para orquestra: Leopold Stokowski, por Boston Symphony Orchestra, dir. Seiji Ozawa (Universal International Music, 1992)


Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio;
agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
e numa hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.


Notas:
ardor – fogo amoroso;
numa hora acho mil anos – uma hora (sem ver a minha amada) equivale a mil anos de martírio;
de jeito – de tal modo, de tal maneira, de tal sorte.

* João Grosso – voz
Gravado nos Estúdios da RDP, Lisboa, em Fevereiro de 2001
Produção digital – José Silva
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Grosso
https://gulbenkian.pt/musica/biography/joao-grosso/
https://expresso.pt/podcasts/a-beleza-das-pequenas-coisas/2022-04-29-Joao-Grosso-Formei-me-no-combate-ao-medo.-Os-outros-que-me-queriam-negar-exaltaram-me-fizeram-me-lutar-por-aquilo-que-me-pertencia-95f43632
https://www.youtube.com/watch?v=_RfHhCdBQK4&ab_channel=TeatroNacionalD.MariaII



Tanto de meu estado me acho incerto



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 4)
Música: Fernando Lopes-Graça (4.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio;
agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
numa hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 29)
Recitado por Morais e Castro* (in CD "O Ritmo da Poesia", Universal Music Portugal, 2003)
Música: João Ferreira




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.


Notas:
qualidades – aspectos;
soía – costumava.

* Morais e Castro – voz
João Ferreira – spring drum, blocks, bird's, water fall, máquina de escrever, caxixis e drum set

Selecção de poemas – Morais e Castro
Produção e composição – João Ferreira
Gravado no estúdio 3.T
Técnico de som – Vasco Lopes
Misturado por João Ferreira e Jorge Cervantes, no estúdio Cervantes (Paço d'Arcos)
Masterizado por Jorge Cervantes, no estúdio Cervantes (Paço d'Arcos)
URL: https://www.rtp.pt/noticias/cultura/morreu-o-actor-e-advogado-morais-e-castro_n273206
https://music.youtube.com/channel/UCtrn48RmNUApICb7bmRoAVA



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 29)
Música: Fernando Lopes-Graça (5.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Como quando do mar tempestuoso



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Estêvão Lopes, Lisboa, 1598; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 45)
Recitado por Carlos Wallenstein (in LP "Camões: Antologia", Série 'Disco Falado', Guilda da Música/Sassetti, 1973; CD "Camões: Antologia", Série 'Palavras', Strauss, 2002)




Como quando do mar tempestuoso
o marinheiro, todo trabalhado,
de um naufrágio cruel saindo a nado,
só de ouvir falar nele está medroso;

firme jura que o vê-lo bonançoso
do seu lar o não tira, sossegado;
mas esquecido já do horror passado,
dele a fiar se torna, cobiçoso:

assim, Senhora, eu, que da tormenta
de vossa vista fujo, por salvar-me,
jurando de não mais em outra ver-me;

co'a alma, que de vós nunca se ausenta,
me torno, por cobiça de ganhar-me,
onde estive tão perto de perder-me.



Quem vê, Senhora, claro e manifesto



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 8)
Música: Fernando Lopes-Graça (6.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Quem vê, Senhora, claro e manifesto
o lindo ser de vossos olhos belos,
se não perder a vista só em vê-los,
já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
mas eu, por de vantagem merecê-los,
dei mais a vida e alma por querê-los,
donde já me não fica mais de resto.

Assi que a vida e alma e esperança,
e tudo quanto tenho, tudo é vosso,
e o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
o dar-vos quanto tenho e quanto posso,
que quanto mais vos pago mais vos devo.


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Erros meus, má fortuna, amor ardente



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Domingos Fernandes, Lisboa, 1616; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 62)
Recitado por Carlos Wallenstein (in LP "Camões: Antologia", Série 'Disco Falado', Guilda da Música/Sassetti, 1973; CD "Camões: Antologia", Série 'Palavras', Strauss, 2002)




Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que já as frequências suas me ensinaram
a desejos deixar de ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa a que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
este meu duro Génio de vinganças!


Notas:
Fortuna – destino, sorte;
passaram – sucederam, decorreram;
discurso – decurso.



Erros meus, má fortuna, amor ardente



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Domingos Fernandes, Lisboa, 1616; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 62)
Música: Fernando Lopes-Graça (7.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa a que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
este meu duro Génio de vinganças!


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Quando de minhas mágoas a comprida



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Estêvão Lopes, Lisboa, 1598; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 41)
Recitado por Carlos Wallenstein (in LP "Camões: Antologia", Série 'Disco Falado', Guilda da Música/Sassetti, 1973; CD "Camões: Antologia", Série 'Palavras', Strauss, 2002)




Quando de minhas mágoas a comprida
maginação os olhos me adormece,
em sonhos aquela alma me aparece,
que para mim foi sonho nesta vida.

Lá numa soidade, onde estendida
a vista por o campo desfalece,
corro após ela; e ela então parece
que mais de mim se alonga, compelida.

Brado: — Não me fujais, sombra benina! —
Ela (os olhos em mim c'um brando pejo,
como quem diz que já não pode ser),

torna a fugir-me; torno a bradar: — Dina... —
e antes que diga: — ...mene —, acordo, e vejo
que nem um breve engano posso ter.


Notas:
maginação – imaginação;
soidade – lugar solitário, descampado, sítio deserto;
alonga – afasta, distancia;
compelida – obrigada, forçada;
sombra – fantasma;
benina – benigna;
pejo – pudor, vergonha, acanhamento;
engano – ilusão, quimera.



Com grandes esperanças já cantei



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Estêvão Lopes, Lisboa, 1598; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 36)
Música: Fernando Lopes-Graça (8.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Com grandes esperanças já cantei
com que os deuses no Olimpo conquistara;
depois vim a chorar, porque cantara;
e agora choro já, porque chorei.

Se cuido nas passadas que já dei,
custa-me esta lembrança só tão cara,
que a dor de ver as mágoas que passara,
tenho pela mor mágoa que passei.

Pois logo, se está claro que um tormento
dá causa que outro n'alma se acrescente,
já nunca posso ter contentamento.

Mas esta fantasia se me mente?
Oh! ocioso e cego pensamento!
Ainda eu imagino em ser contente?


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Amor é fogo que arde sem se ver



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Estêvão Lopes, Lisboa, 1598; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 45)
Recitado por Carlos Wallenstein (in LP "Camões: Antologia", Série 'Disco Falado', Guilda da Música/Sassetti, 1973; CD "Camões: Antologia", Série 'Palavras', Strauss, 2002)




Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é solitário andar por entre a gente;
é um não contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode o seu favor
nos mortais corações conformidade,
sendo a si tão contrário o mesmo Amor?



Amor é um fogo que arde sem se ver



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Estêvão Lopes, Lisboa, 1598; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 45)
Música: Fernando Lopes-Graça (9.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário por entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



A formosura desta fresca serra



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Dom António Álvares da Cunha, Lisboa, 1668; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 99)
Recitado por Carlos Wallenstein* (in LP "Camões: Antologia", Série 'Disco Falado', Guilda da Música/Sassetti, 1973; CD "Camões: Antologia", Série 'Palavras', Strauss, 2002)




A formosura desta fresca serra
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do Sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara Natureza
com tanta variedade nos of'rece,
me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mor tristeza.


Notas:
rara – extraordinária, invulgar;
enoja – entristece;
mores/mor – maiores/maior.

* Carlos Wallenstein – voz
Selecção de textos/poemas – Carlos Wallenstein

Direcção literária – Alberto Ferreira
Assistente de produção – Carmen Santos
Produção – Sassetti
Gravado nos Estúdios Polysom, Lisboa
Captação de som e montagem – Moreno Pinto
Remasterização – Jorge d'Avillez (Strauss Studio, Lisboa)
URL: http://www.cinept.ubi.pt/pt/pessoa/2143690279/Carlos+Wallenstein
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/perfil-carlos-wallenstein/
https://music.youtube.com/channel/UCAB5mYWk4Z9tVkwp-RrXdgQ



De vós me aparto, ó Vida! Em tal mudança



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 11)
Música: Fernando Lopes-Graça (10.º soneto de "Dez Novos Sonetos de Camões", Op. 231, LG 240, 1984)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)


De vós me aparto, ó Vida! Em tal mudança
sinto vivo da morte o sentimento;
Não sei para que é ter contentamento,
se mais há-de perder quem mais alcança.

Mas dou-vos esta firme segurança:
que, posto que me mate meu tormento,
pelas águas do eterno esquecimento
segura passará minha lembrança.

Antes sem vós meus olhos se entristeçam,
que com qualquer cous'outra se contentem;
antes os esqueçais, que vos esqueçam;

antes nesta lembrança se atormentem,
que com esquecimento desmereçam
a glória que em sofrer tal pena sentem.


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano

Supervisão artística – Fernando Lopes-Graça
Direcção musical – Jorge Costa Pinto
Produção – Secretaria de Estado da Cultura (Direcção-Geral de Acção Cultural)
Gravado nos Estúdios Jorsom, Lisboa, nos dias 9, 11 e 12 de Junho de 1989
Técnico de som – João Magalhães
Remasterização digital – Fernando Abrantes (Strauss Studio, Lisboa)
URL: https://www.meloteca.com/portfolio-item/fernando-serafim/
https://www.facebook.com/FernandoSerafimMusic
https://www.meloteca.com/portfolio-item/filipe-de-sousa/



Frontispício da 1.ª edição das "Rimas", de Luís de Camões, org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita (Lisboa, 1595)



Capa do CD "O Ritmo da Poesia", de Morais e Castro e João Ferreira (Universal Music Portugal, 2003)
Fotografia – Roberto Giostra (máquina de escrever gentilmente cedida pela Livraria Alcalá)
Design gráfico – Transglobal



Capa do LP "Camões: Antologia", de Carlos Wallenstein (Série "Disco Falado", Guilda da Música/Sassetti, 1973)
Concepção – Soares Rocha



Capa da reedição em CD do álbum "Camões: Antologia", de Carlos Wallenstein (Série 'Palavras', Strauss, 2002)
Retrato de Camões – Soares Rocha
Grafismo – João P. Cachenha



Capa do CD "Amor É Fogo: Poemas de Luís de Camões", de Carmen Dolores, João Grosso, José Manuel Mondes, Maria Barroso e Vítor Nobre (Série "Festa da Língua Portuguesa", Vol. III, Câmara Municipal de Sintra/Instituto Camões, 2001)



Capa do CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", de Fernando Serafim e Filipe de Sousa (PortugalSom/Strauss, 1995)
Pintura de Andrea Mantegna (c.1474) retratando Bárbara Gonzaga, filha de Ludovico III Gonzaga, Marquês de Mântua, e de sua esposa Bárbara de Brandemburgo (pormenor de um fresco existente na Camera degli Sposi, no torreão nordeste do Castelo de S. Jorge, em Mântua)

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