20 junho 2024

Catarina Pinho: "Flor do Verão"


"Dança de roda", meados dos anos 1930, postal da autoria de Piló.

Infatigável viajante, buscando pelo mundo aquilo que o regime ditatorial do seu país não lhe permitiu, Piló (Manuel Piló, Lisboa, 1905-1988) viveu na Argentina, nos Estados Unidos e por duas vezes no Brasil, nas décadas de 40 e 60. A sua obra mais reconhecida são duas séries de postais glosando costumes regionais portugueses e romarias tradicionais, cuja datação imprecisa as situa em meados dos anos 30. A eternidade destas ilustrações, realizadas na técnica de pouchoir (stencil) que Piló trouxera de Paris, radica numa justa síntese gráfica e cromática e materializa-se pelas inúmeras e persistentes imitações piratas, em suportes variados, ou em aplicações legítimas, como copos e jarros dos anos 50 ou chávenas de chá de uma edição de 2006 da empresa Vista Alegre. [Jorge Silva, in blogue "Almanak Silva", 29 Jul. 2011]


O Verão é, como facilmente se percebe, a estação do ano mais propícia e convidativa à dança ao ar livre, que, nas aldeias, se praticava sobretudo no adro da igreja ou capela. Era nesses balhos e bailaricos de terreiro que rapazes e raparigas em idade de casar tentavam encontrar o par ideal, quase sempre sob a vigilância apertada do pai, da mãe ou de um irmão da rapariga, a fim de evitar ou minimizar abusos da parte de rapazes mais afoitos e atrevidos. Entre as danças aí praticadas contava-se a ciranda, dança de roda de ritmo lento, em compasso quaternário, que se bailava, geralmente, ao som de harmónio e de canto. De uma dessas jovens bailadeiras de ciranda trata a bela canção "Flor do Verão", escrita e interpretada por Catarina Pinho, sobre melodia da sua autoria e harmonia de Ricardo Barriga (integrante do álbum "Da Raiz do Coração", publicado em 2016 sob o selo Music in My Soul), que escolhemos para assinalar musicalmente a chegada do Estio de 2024. Pesou na nossa opção, além da notória qualidade, o facto de ser um espécime muito pouco conhecido, e assim proporcionarmos à maioria dos visitantes do blogue "A Nossa Rádio" mais uma excelente descoberta da produção musical autóctone em língua portuguesa. Boa escuta!

A talhe de foice, formulamos uma pergunta dirigida à direcção de programas do primeiro canal da estação pública de rádio: não podia a Antena 1 ter esta cativante "Flor do Verão" na sua 'playlist', ao menos durante os três meses do Estio? Podia e devia! Mas mais grave do que essa inexplicável omissão é a notável intérprete Catarina Pinho nunca ter estado representada na lista de difusão musical da rádio que tem a obrigação (legalmente estipulada) de divulgar a melhor música portuguesa e de nunca descurar o necessário apoio aos mais talentosos artistas nacionais em início de carreira.



Flor do Verão



Letra: Catarina Pinho
Música: Catarina Pinho (melodia) e Ricardo Barriga (harmonia)
Arranjo: Tino Dias
Intérprete: Catarina Pinho* (in CD "Da Raiz do Coração", Music in My Soul, 2016)




Oh flor do verão
Caída no chão,
O teu pai foi ver de ti...
Loiras açucenas,
Trigueiras morenas...
À tardinha adormeci. [bis]

Eu fui ao adro ver passar
A cirandinha a cirandar,
E tantas voltas cirandou
Que o meu coração roubou.

Eu fui ao adro ver passar
As flores no vento a bailar...
Baila de volta do meu par!
Leva-lhe um beijo pra lhe dar!

Oh flor do verão
Caída no chão,
O teu pai foi ver de ti...
Loiras açucenas,
Trigueiras morenas...
À noitinha adormeci. [bis]

Eu fui ao adro ver passar,
De manhã cedo ao acordar...
Alegre a ave cantadeira
Cantava pela terra inteira.

Eu fui ao adro ver passar,
Pela tardinha, o teu olhar...
Olha no céu, já se vai pôr
O Sol que leva o meu amor.

A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.

Eu fui ao adro ver passar,
Por entre a gente, o teu olhar...
Bordado a cor de rosmaninho,
Perdi-me só pelo caminho.

Eu fui ao adro ver passar,
Alta ia a noite e o luar...
Cheguei sem tempo de entregar
Esta promessa de te amar.

Oh flor do verão
Caída no chão,
O teu pai foi ver de ti...
Loiras açucenas,
Trigueiras morenas...
À noitinha adormeci. [bis]
[2x]

A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou.
A ciranda cirandou e o meu coração roubou...


* [Créditos gerais do disco:]
Catarina Pinho – voz
Tino Dias – bateria e percussões
Jonas Cruz – baixo
Lula Moreno – guitarra acústica
Alcides Miranda – guitarra Manouche
Paulo Bispo – guitarra acústica
Rui Travasso – clarinete
Manuel Rocha – guitarra acústica
Carlos Ricardo – baixo
Sérgio Julião – baixo

Produzido por Tino Dias
Gravado por Input Produções
Misturado por Tino Dias & Fred Stone
Masterizado por Geoff Pesche, nos Abbey Road Studios (Londres)
URL: https://catarinapinhomusica.wordpress.com/
https://www.facebook.com/catarinapinhooficial/
https://music.youtube.com/channel/UCcAQoQn9t238z7-AZEzTAIg



Capa do CD "Da Raiz do Coração", de Catarina Pinho (Music in My Soul, 2016)
Fotografia – Paulo Muiños

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