21 junho 2022

José Peixoto: "Estio"


© Elias Moreira, Set. 2012
Estátua alegórica do Estio. Faz parte do conjunto de quatro estátuas representativas das estações do ano, concebidas pelo escultor Henrique Moreira (Avintes, 1890 - Porto, 1979), provavelmente em finais dos anos 1930, por encomenda do cirurgião Dr. João de Almeida, para a sua Quinta de S. João, na freguesia de Magueija, concelho de Lamego. Depois de doadas pelo clínico à cidade, as estátuas foram colocadas, em meados de 1976, sobre espelhos de água (tanques) na Avenida Dr. Alfredo de Sousa, no enfiamento do escadório do Santuário de N.S. dos Remédios, passando a integrar a arte pública da urbe lamecense.


Sendo verdade que a estação estival (e hoje começa a de 2022) convida os apreciadores de música a experienciarem ritmos mais acelerados e trepidantes, também não é mentira que a certas horas do dia, sobretudo quando o Sol está a pino, muitos melómanos, a resguardo da torreira, não desejam outra coisa, além de um refresco, que não seja ouvir música serena e sem palavras propiciadora da quietação e da introspecção, como é o caso do inebriante instrumental "Estio", de José Peixoto. Música encantatória em que a maravilhosa guitarra de José Peixoto, assente no fabuloso contrabaixo de Mário Franco, como que sobre um tapete-voador, nos faz viajar até paragens magrebinas, ora de buliçosos bazares, ora de amplas paisagens dunares, ora de paradisíacos oásis. Este "Estio" pertence à selecta categoria de obras musicais que depois de por elas nos deixarmos envolver não queremos, de modo algum, largar. Sublime!

Com quatro décadas de percurso artístico, como compositor e exímio executante de guitarra clássica (sendo que nos primeiros tempos também tocava outros instrumentos como o alaúde, o baixo, a harpa sequenciada e o piano-marimba), José Peixoto alcançou, por mérito próprio, o invejável estatuto de músico de superlativa referência em Portugal. Atestam-no: a sua valiosa discografia, quer em nome próprio – individualmente ou em parceria com outros reputados instrumentistas (o percussionista José Salgueiro, o baixista Fernando Júdice, o violinista Carlos Zíngaro, o contrabaixista António Quintino...) ou com meritórias cantoras (Maria João, Filipa Pais, Sofia Vitória...) –, quer integrando projectos colectivos, quase todos criados por sua iniciativa (SHISH, El Fad, Grupo Cal Viva, TAIFA, Madredeus, Sal, Aduf, LST-Lisboa String Trio, Quinteto Lisboa); os numerosos convites que recebeu para participar, na qualidade de instrumentista, de compositor, de arranjador e/ou de produtor, em discos de múltiplos artistas (João Lóio, Janita Salomé, Maria João, Pedro Cadeira Cabral, Pedra d'Hera, Vitorino, Anamar, José Mário Branco, Rui Veloso, Amélia Muge, Mafalda Veiga, Júlio Pereira, Rui Júnior, Maria João Quadros, María Berasarte, Francisco Ribeiro, Marta Pereira da Costa, Teresa Salgueiro...); as também muito relevantes encomendas de música para espectáculos de dança e para peças de teatro (encenadas, na sua maioria, por Maria João Luís); a aclamação da crítica especializada, sendo de destacar a atribuição do Prémio Carlos Paredes a dois álbuns de projectos seus ["Lunar" (2010), de El Fad, e "Matéria" (2014), de LST-Lisboa String Trio]; e o aplauso de um público exigente.
No que respeita à rádio pública, a divulgação da produção de José Peixoto tem-se restringido essencialmente a um ou outro programa de entrevista, na Antena 1 ou na Antena 2, aquando do lançamento de trabalhos discográficos. É pouquíssimo! Devia haver uma divulgação mais consistente, em todas as três antenas de cobertura nacional, quer em programas temáticos ou de autor, quer nos alinhamentos de continuidade. Na Antena 2, havia o espaço "Ponto PT" [>> RTP-Play], no qual boa parte da discografia de José Peixoto tinha perfeito cabimento, mas foi incompreensivelmente suprimido da grelha, em finais de 2019, com a mácula desonrosa de nem um só disco do artista lá ter sido divulgado. No caso das Antenas 1 e 3, atendendo ao enorme peso que as respectivas 'playlists' têm no cômputo geral da difusão musical, sobretudo de segunda a sexta-feira, não é aceitável que lá não figurem algumas canções com a assinatura de José Peixoto, designadamente dos álbuns "Estrela" (com Filipa Pais), "Pele" (com Maria João) e "Belo Manto" (com Sofia Vitória). Sem prejuízo, obviamente, da presença de peças instrumentais, ainda que de duração mais curta do que a do espécime que ora destacamos.



Estio



Música: José Peixoto
Intérprete: José Peixoto* (in CD "Aceno", Zona Música, 2003)




(instrumental)


* José Peixoto – guitarra de oito cordas
Mário Franco – contrabaixo

Produção – José Peixoto e José Fortes
Assistente de produção – Mário Barreiros
Gravado no estúdio MB (Mário Barreiros), Porto, nos dias 14 e 15 de Dezembro de 2002
Captação e masterização – José Fortes
Edição – Mário Barreiros, Paulo Jorge Ferreira e Paulo Mendes
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Peixoto
https://www.meloteca.com/portfolio-item/jose-peixoto/
https://www.facebook.com/josepeixotomusico
https://www.facebook.com/lisboastringtrio/
https://www.youtube.com/channel/UCDG75nKLcS5ifJgQ0AfliPQ



Capa do CD "Aceno", de José Peixoto (Zona Música, 2003)
Concepção – João Nuno Represas
Fotografia – Alexander Koch

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