
(in https://hojemacau.com.mo/)
O trabalho intelectual, enquanto é possível,
é a forma mais perfeita de estar ligado à vida.
ANTÓNIO BORGES COELHO (1928-2025)
Mais conhecido e reconhecido como historiador, mister em que produziu significativa obra bibliográfica [>> DGLAB / >> catálogo da exposição "Procurar a luz para ver as sombras", 2010], António Borges Coelho iniciou-se a publicar poesia. Aconteceu com o livro "Roseira Verde", em 1962, pouco depois de ter saído, em regime de liberdade condicional, do Forte-Prisão de Peniche, onde estivera encarcerado, por motivos políticos, durante 4 anos e quase oito meses (de 1 de Outubro de 1957 a 21 de Maio de 1962). Desse volume inaugural, dois poemas tiveram o bendito condão de serem musicados e gravados por Luís Cília, no período do exílio em Paris: "Sou Barco", nos álbuns "Portugal-Angola: Chants de Lutte" (Le Chant du Monde, 1964) e "Meu País" (Le Chant du Monde, 1973); e "Paisagem", no álbum "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 1" (Moshé-Naïm, 1967). Em Outubro do ano passado, dando concretização à sugestão poético-musical feita por Fernando Alves numa das suas admiráveis crónicas, tivemos o ensejo de destacar "Sou Barco", apresentando a gravação original de Luís Cília e a versão de Adriano Correia de Oliveira [cf. António Borges Coelho: "Sou Barco"], pelo que desta vez, em singela homenagem ao autor do poema que partiu no passado dia 17, vitimado por COVID-19, direccionamos o nosso foco para "Paisagem". E, de igual modo, trazemos dois registos: o original por Luís Cília, obviamente, e a versão cantada por Manuel Freire para o álbum "Devolta" (Diapasão/Lamiré, 1978), trabalho em que todas composições são de Luís Cília, que também assegurou os arranjos e a direcção musical. A paisagem descrita por António Borges Coelho no seu soneto é, evidentemente, a que lhe era possível avistar a partir do interior do forte-prisão, "na gávea da velha Fortaleza" onde ficava "a seguir o rumo dos navios / num choro de asas de gaivota presa..." e Luís Cília entendeu perfeitamente o espírito das palavras ao compor, para vesti-las, uma melodia plangente que lhes realça o sentido. Soberbo!
Na rádio pública, mais concretamente na Antena 2, damos boa nota da edição de sábado passado do programa "A Força das Coisas", na qual Luís Caetano repôs a entrevista que fizera ao distinto historiador, em Janeiro de 2012, por ocasião do lançamento do 3.º volume – "Largada das Naus" – da sua obra (em 7 tomos) "História de Portugal", entrevista essa que foi emoldurada por dois temas de Fausto Bordalo Dias extraídos do álbum "Por Este Rio Acima" (1982) – "A Ilha" e "Como Um Sonho Acordado" –, após o que se seguiu a leitura de um excerto do livro "Crónicas e Discursos" (Editorial Caminho, 2024) e a transmissão da gravação original ciliana de "Sou Barco". Abaixo, deixamos os links dessas duas edições, bem como os de outros programas da rádio e da televisão públicas sobre ou com António Borges Coelho. Boa escuta!

Capa da 1.ª edição do livro "Largada das Naus (1385-1500)", Volume III da "História de Portugal", de António Borges Coelho (Alfragide: Editorial Caminho, 2011)
Concepção – P06-Atelier

Capa da 2.ª edição do livro "Largada das Naus (1385-1500)", Volume III da "História de Portugal", de António Borges Coelho (Alfragide: Editorial Caminho, 2017)

Capa do livro "Crónicas e Discursos", de António Borges Coelho (Alfragide: Editorial Caminho, Mai. 2024)
Concepção – Rui Garrido
LUGAR À HISTÓRIA | 11 Jan. 1993 [>> RTP-Arquivos]
António Borges Coelho entrevistado por Eugénio Alves, sobre o seu livro "Tudo É Mercadoria", em que aborda a vida e obra de João de Barros (1496-1570).
POR OUTRO LADO | 25 Set. 2007 [>> RTP-Arquivos]
António Borges Coelho entrevistado por Ana Sousa Dias.
ENTREVISTA ANTENA 1 | 10 Out. 2008 [>> RTP-Arquivos]
António Borges Coelho entrevistado por Maria Flor Pedroso.
GUARDA LIVROS | 6 Dez. 2008 [>> RTP-Arquivos]
António Borges Coelho entrevistado por Francisco José Viegas, sobre os livros da sua biblioteca particular.
QUINTA ESSÊNCIA | 13 Mai. 2010 [>> RTP-Arquivos]
António Borges Coelho entrevistado por João Almeida.
A FORÇA DAS COISAS | 28 Jan. 2012 [>> RTP-Arquivos] | 18 Out. 2025 [>> RTP-Play]
António Borges Coelho entrevistado por Luís Caetano, sobre o livro "A Largada das Naus", Volume III da sua obra "História de Portugal", publicada pela Editorial Caminho.
VIDAS QUE CONTAM | 28 Mai. 2013 [>> RTP-Play]
Documentário sobre a vida e obra de António Borges Coelho, da autoria de Ana Aranha.
Paisagem
Poema: António Borges Coelho (in "Roseira Verde", Lisboa: Edição do autor, 1962; "Poemas", Alfragide: Editorial Caminho, 2025 – p. 19)
Música: Luís Cília
Intérprete: Luís Cília* (in LP "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 1", Moshé-Naïm, 1967; livro/11CD "Luís Cília": CD 2, Tradisom, 2024)
As traineiras abrigam-se na barra,
os mastros em fantástico arvoredo.
São peixes coloridos de brinquedo
e eu o triste rapaz que solta a amarra.
Os telhados reúnem-se no largo,
assembleia de pobres e crianças.
Em falas cantos cobram-se esperanças.
Homens chegam do mar com rosto amargo.
Lá em baixo a vaga escreve na muralha
a história destes muros. Toda em brios
salta adiante o Baleal e falha.
E, na gávea da velha Fortaleza,
fico a seguir o rumo dos navios,
num choro de asas de gaivota presa...
* Luís Cília – voz e guitarra
Marc Vic – guitarra
François Rabbath – contrabaixo
Produção – Moshé Naïm
Gravado nos Studios Europa-Sonor, Paris
URL: http://www.luiscilia.com/
https://www.youtube.com/user/LeoMOV/videos
https://music.youtube.com/channel/UCqL_T8TPQ2ffVAKn-v4kN_A
Paisagem
Poema: António Borges Coelho (in "Roseira Verde", Lisboa: Edição do autor, 1962; "Poemas", Alfragide: Editorial Caminho, 2025 – p. 19)
Música: Luís Cília
Intérprete: Manuel Freire* (in LP "Devolta", Diapasão/Lamiré, 1978; reed. digital: World Music Records, 2021)
As traineiras abrigam-se na barra,
os mastros em fantástico arvoredo.
São peixes coloridos de brinquedo
e eu o triste rapaz que solta a amarra.
Os telhados reúnem-se no largo,
assembleia de pobres e crianças.
Em falas cantos cobram-se esperanças.
Homens chegam do mar com rosto amargo.
Lá em baixo a vaga escreve na muralha
a história destes muros. Toda em brios
salta adiante o Baleal e falha.
E, na gávea da velha Fortaleza,
fico a seguir o rumo dos navios,
num choro de asas de gaivota presa...
* [Créditos gerais do disco:]
Manuel Freire – voz
Luís Cília – guitarra, coros
Pedro Caldeira Cabral – guitarra portuguesa
Celso de Carvalho – viola baixo
Vasco Pimentel – sintetizador ARP Omni, piano
Arranjos e direcção musical – Luís Cília
Produção – Lamiré
Gravado nos Estúdios Musicorde, Lisboa
Técnicos de som – Rui Remígio e Luís Flor
Texto sobre o disco em: Grandes discos da música portuguesa: efemérides em 2008
URL: https://www.facebook.com/ManuelFreireOficial/
https://www.youtube.com/channel/UC-z8xqfA49yS1tAXIBTvQig
https://www.youtube.com/user/DoTempoDosSonhos/videos?query=manuel+freire

Capa do livro "Roseira Verde", de António Borges Coelho (Lisboa: Edição do autor, 1962)

Capa do livro "Poemas", de António Borges Coelho (Alfragide: Editorial Caminho, Set. 2025)
Concepção – Rui Garrido

Capa do LP "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 1", de Luís Cília (Moshé-Naïm, 1967)
Fotografia – Ludwik Lewin
Concepção – Henri Matchavariani

Capa do livro (com 11 CD) "Luís Cília" (Tradisom, 2024)
Concepção – Judite Cília
Texto – Octávio Fonseca

Capa do LP "Devolta", de Manuel Freire (Diapasão/Lamiré, 1978)
Fotografias e arranjo gráfico – Maria Judith Cília.
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Outros artigos com poesia de António Borges Coelho ou por si traduzida:
Al-Mu'tamid: "Evocação de Silves"
António Borges Coelho: "Sou Barco"
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Outros artigos com repertório interpretado por Luís Cília ou da sua autoria:
A infância e a música portuguesa
Em memória de Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013)
Celebrando Eugénio de Andrade
Camões recitado e cantado (V)
José Saramago: "Dia Não"
Adriano Correia de Oliveira: "Exílio" (Manuel Alegre)
Luís Cília: "Tango Poluído"
Luís Cília: "O Cavador" (Guerra Junqueiro)
Poesia trovadoresca adaptada por Natália Correia
Luís Cília: "Se me Levam Águas" (Luís de Camões)
António Borges Coelho: "Sou Barco"
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Outros artigos com canções interpretadas por Manuel Freire:
A infância e a música portuguesa
Em memória de Fernando Alvim (1934-2015)
José Saramago: "Dia Não"
Manuel Freire: "O Zeca"
Manuel Freire: "Livre" (Carlos de Oliveira)
Manuel Freire: "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" (José Saramago)
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