18 março 2015

Em memória de Fernando Alvim (1934-2015)



«O Carlos Paredes ligou-me um dia, por volta de 1959, para me convidar a fazer com ele umas músicas que iriam acompanhar um documentário sobre filigranas ["Rendas de Metais Preciosos", de Cândido da Costa Pinto]. Lembrou-se de mim porque me tinha ouvido tocar na Emissora Nacional. Eu aceitei e entendemo-nos bem logo desde o início. A partir de então começámos a ensaiar o repertório. Criámos a melhor relação de trabalho possível. Trabalhámos juntos durante 24 anos e isso quer dizer muita coisa. Além disso, viajámos por todo o mundo. Éramos uma dupla muito bem ajustada: o Carlos tinha as suas melodias e eu criava a parte harmónica. Era um intérprete muito temperamental, que se entregava completamente à música. Tinha uma notável capacidade de improviso. As suas interpretações eram sempre novas, sempre diferentes, nunca eram iguais. Por isso, era difícil acompanhá-lo. Tinha de estar sempre muito atento.
Sempre me interessei muito pela bossa nova. Isto na época em que apareceram músicos como o João Gilberto, o Tom Jobim, entre outros. Um dos meus discos inclui um tema original de bossa nova, que foi criado em conjunto com o Pedro Caldeira Cabral e se chama "Simplicidade". Eu comecei a trabalhar com o Pedro Caldeira Cabral em 1966. Formávamos um duo de acompanhamento e gravámos um disco com peças originais para duas violas, com temas meus e do Pedro.
A guitarra portuguesa tem uma grande amplitude de sonoridade, com particular incidência na escala dos agudos. Pode ser tocada a solo, mas se a acompanharmos com uma viola, que lhe dá os graves, ficamos com um conjunto mais completo, do qual se podem tirar todos os sons.» (FERNANDO ALVIM, 1999)


Enquanto acompanhador de Carlos Paredes [cf. Celebrando Carlos Paredes] e de outros guitarristas (designadamente Pedro Caldeira Cabral, António Chainho e Ricardo Parreira), assim como de uma vasta plêiade de cantores (por exemplo, Amália Rodrigues em "Formiga Bossa Nossa", e Manuel Freire nas suas primeiras baladas, entre as quais "Livre", "Eles" e "Pedra Filosofal"), Fernando Alvim [>> resenha biográfica no site do Instituto Camões e artigo de Gonçalo Frota e Vítor Belanciano no "Público"] participou na gravação de dezenas de discos, mas em nome próprio a sua discografia é muito escassa. Resume-se a uns poucos discos de vinil, editados nos inícios da década de 1970, e ao duplo CD "Fados & Canções do Alvim", de 2011:
  1. Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral: Guitarras de Portugal (EP, Tecla TE 1071, 1971)
  2. (Manhã Brilhante / Simplicidade / Andando Só / Estudo a Duas Cores)
  3. Conjunto de Guitarras de Fernando Alvim (EP, Tecla TE 1075, 1971)
  4. (Variações em Si Menor / Rapsódia de Fados / Variações em Ré Menor / Nocturno)
  5. Conjunto de Guitarras de Fernando Alvim (EP, Tecla TE 1078, 1971)
  6. (Canção de Alcipe / Resineiro Engraçado - Natal dos Mendigos / À Roda de uma Valsa / Vira de Frielas)
  7. Manuel Freire, Fernando Alvim, Pedro Caldeira Cabral: Dedicatória (LP, Tecla TES 40 013, 1972)
  8. (Entre os doze temas contam-se quatro instrumentais compostos por Fernando Alvim: Manhã Brilhante / Simplicidade / Andando Só / Improviso Tropical)
  9. Conjunto de Guitarras de Fernando Alvim (EP, Tecla TE 1079, 1973)
  10. (Balada de Saudade / Vira do Minho / Marcha dos Fadistas / Variações em Ré Menor)
  11. Conjunto de Guitarras de Fernando Alvim: Guitarras de Lisboa (LP, Tecla TES 40 019, 1973)
  12. Fados & Canções do Alvim (2CD, Universal, 2011)
  13. Composições de: Fernando Alvim
    Versos de: Mário Rainho, João Monge, Carmo Rebelo de Andrade (Carminho), Manuela de Freitas, Amélia Muge, Hélder Moutinho, Tiago Torres da Silva, Vicente da Câmara, Paulo Abreu de Lima, Rosário Worisch Alvim e Fernando Alvim, Vitorino, Marta Dias e G. Daniel, Miguel Martins e José Fanha
    Cantam: Ana Moura, Camané, Carminho, Ricardo Ribeiro, Cristina Branco, Pedro Moutinho, Ana Sofia Varela, Rodrigo, Hélder Moutinho, Filipa Pais, Gisela João, Vicente da Câmara, Carlos do Carmo, António Zambujo, Vitorino, Marta Dias, Fafá de Belém, Rui Veloso, Marco Rodrigues, Amélia Muge, Manuel Freire, Mafalda Taborda, Micaela Vaz e Vânia Conde
    Tocam: Fernando Alvim (viola), Bernardo Couto (guitarra portuguesa), José Elmiro Nunes (baixo), José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Diogo Clemente (guitarras e baixo), Nelson Canoa (acordeão), Ricardo Parreira (guitarra portuguesa), Paulo Parreira (guitarra portuguesa), João Torre do Valle (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola), Jon Luz (cavaquinho), José Miguel Conde (clarinetes), Ricardo Cruz (contrabaixo), Ricardo Toscano (clarinete, saxofone), Pedro Santos (acordeão), Ruca Rebordão (percussão), Celina da Piedade (acordeão), António Quintino (contrabaixo), Pedro Jóia (guitarras), Yami (baixo), Rui Veloso (guitarra), Rão Kyao (flauta), André Moreira (baixo) e Ricardo Marques (guitarra portuguesa)

Em tributo à memória de Fernando Alvim, o blogue "A Nossa Rádio" evidencia a sua faceta de compositor apresentando uma selecção das mais belas músicas por si concebidas: sete instrumentais e dezoito cantadas.
Na sexta-feira e no sábado subsequentes à data do falecimento de Fernando Alvim, a Antena 1 retransmitiu dois programas realizados em 2011 que contaram com a presença do músico, respectivamente "Viva a Música" e "Alma Lusa (Fim-de-Semana)". Isso é de louvar mas não podemos deixar de apontar o dedo à 'playlist'. Será razoável e normal que a tal lista, que devia ser o mostruário do melhor que se produziu e produz em Portugal em matéria de música popular, não inclua uma única música (cantada ou instrumental) composta por Fernando Alvim?



Manhã Brilhante



Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Fernando Alvim* e Pedro Caldeira Cabral (in EP "Guitarras de Portugal", Tecla, 1971; LP "Dedicatória", Tecla, 1972)


(instrumental)


* Pedro Caldeira Cabral – viola
Fernando Alvim – viola



Simplicidade



Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Fernando Alvim* e Pedro Caldeira Cabral (in EP "Guitarras de Portugal", Tecla, 1971; LP "Dedicatória", Tecla, 1972)


(instrumental)


* Pedro Caldeira Cabral – viola
Fernando Alvim – viola



Andando Só



Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Fernando Alvim* e Pedro Caldeira Cabral (in EP "Guitarras de Portugal", Tecla, 1971; LP "Dedicatória", Tecla, 1972)


(instrumental)


* Pedro Caldeira Cabral – viola e guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola



Improviso Tropical



Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Fernando Alvim* e Pedro Caldeira Cabral (in LP "Dedicatória", Tecla, 1972)


(instrumental)


* Pedro Caldeira Cabral – viola
Fernando Alvim – viola



Pássaro Voz



Letra: Mário Rainho
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Ana Moura* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Solto do meu peito
Gaiola fechada
Esta minha voz, que livre voa e ganha altura
Sem perder o jeito
Ave libertada
Em nuvens de versos tem vertigens de ternura.
Esta minha voz, que livre voa e ganha altura
Em nuvens de versos de ternura.

À noite te entrego
Porque o sol te queima
Pássaro que a lua e as estrelas quer beijar
Se nada lhe nego
Porque tanto esta voz teima,
Depois de ser céu, querer ser mar?

Volta p'la manhã
Ao beiral da alma
Ainda traz na boca um gosto a fado e a poesia
Mas sei que amanhã
Perde à noite a calma
E volta a ser céu, luar de prata e maresia.
Ainda traz na boca um gosto a fado e a poesia
E volta a ser céu, luar, maresia.

À noite te entrego
Porque o sol te queima
Pássaro que a lua e as estrelas quer beijar
Se nada lhe nego
Porque tanto esta voz teima,
Depois de ser céu, querer ser mar? [bis]


* Ana Moura – voz
Bernardo Couto – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado
José Elmiro Nunes – viola baixo

Produção musical – Bernardo Couto
Direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz) – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos
Gravação (instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Tatuagem de Rimas



Letra: Mário Rainho
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Ricardo Ribeiro* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Assim que 'stendo a alma sobre esta cama
E o sono não se deita à minha beira
Há um grito de fado que me chama
D'uns versos sobre a mesa-de-cabeceira.

Dou voltas e mais voltas ao meu poema
Que se crava no linho deste meu leito
E a palavra "fado" é sempre o tema
Das rimas tatuadas no meu peito.

É tão perto a alvorada, e pelos sons da rua
Vai a cidade aos poucos despertando
No espaço vem render o sol a lua
E eu 'inda acordado vou sonhando.

[instrumental]

Dou voltas e mais voltas ao meu poema
Que se crava no linho deste meu leito
E a palavra "fado" é sempre o tema
Das rimas tatuadas no meu peito.


* Ricardo Ribeiro – voz
Ricardo Parreira – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Cedo



Letra: Manuela de Freitas
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Cristina Branco* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Ruas desertas
Águas paradas
Feridas abertas
Portas fechadas

Cidade antiga
Minha cidade
Que queres que diga
Se já é tarde?

Neste degredo
Triste e sombrio
O teu segredo
Quem o ouviu?

Dizes que é cedo
Mas tenho medo
E sinto frio

Rua das Trinas
Ao longe o rio
Escadas e esquinas
Um assobio

Velhas meninas
Com tristes sinas
Num bar vazio

Lixo no cais
O casario
Coisas banais
Um cão vadio

Desço a calçada
Não penso em nada
E sinto frio

Jornais, revistas
Truques e manhas
Vagos turistas
Chuva e castanhas

Ouve-se um canto
Triste e cansado
Parece um pranto
Dizem que é fado

Rua do Ouro
Chego ao Rossio
Não sei se choro
Não sei se rio

Subo a Avenida
Estou tão perdida
Está tanto frio

Cidade antiga
Dizes que é cedo
Que queres que diga
Se não te entendo?

Mas vou ouvindo
E repetindo
Mesmo não crendo

Até que cedo
Minha cidade
Sem frio nem medo
Que Deus te guarde

Com teu segredo
Contigo aprendo
Que nunca é tarde

[instrumental]

Até que cedo
Minha cidade
Sem frio nem medo
Que Deus te guarde

Com teu segredo
Contigo aprendo
Que nunca é tarde


* Cristina Branco – voz
Bernardo Couto – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Fado do Sol Errado



Letra: Hélder Moutinho
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Ana Sofia Varela* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Adeus, ó meu amor, minha aventura
De olhar sereno ao vento e brusco ao mar
Adeus, minha ilusão, que não tem cura
Adeus, amor, que não te posso amar

Adeus, ó rio que nasces à noitinha
E desces de mansinho às madrugadas
Quem dera que essa noite fosse minha
Adeus, ó meu amor, de águas paradas

Mas se algum dia a luz de um sol errado
Brilhar na tua praia adormecida
Eu voltarei ao som deste meu fado
E cantarei "bom dia" à tua vida

Agora vou dormir na calmaria
Desse teu rio sem rumo e sem vontade
Talvez um dia, amor, talvez um dia
Me acordes noutro rio de liberdade

[instrumental]

Agora vou dormir na calmaria
Desse teu rio sem rumo e sem vontade
Talvez um dia, amor, talvez um dia
Me acordes noutro rio de liberdade


* Ana Sofia Varela – voz
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e viola) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Gravação (guitarra portuguesa) – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Há Dias em Que Eu Fico Assim



Letra: João Monge
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Rodrigo* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Há dias em que eu fico comovido
Ao ver a nossa gente ao deus-dará
Em busca de um luar que anda perdido
Nas ruas onde a Lua nunca dá

Há dias em que eu fico assim tão triste
Ao ver aquela janela fechada
Como se algum destino que espreitava, não existe
E a gente não pudesse fazer nada

E fico assim
A cantar para vocês
Sinto-me bem
Só de os ter aqui ao pé
Se não é Fado
Este amparo de mãe
Que vos ampara também
Digam lá o que isto é

Há dias em que eu fico tão feliz
Só de ouvir na rua alguém dizer
Que veio uma cegonha de Paris
E poisou numa janela qualquer

E o verbo volta a ser inicial
E ganha de novo um poder profundo
Vem-me à memória a velha história, que afinal
Uma criança vai mudar o Mundo

E fico assim
A cantar para vocês
Sinto-me bem
Só de os ter aqui ao pé
Se não é Fado
Este amparo de mãe
Que vos ampara também
Digam lá o que isto é

[instrumental]

E o verbo volta a ser inicial
E ganha de novo um poder profundo
Vem-me à memória a velha história, que afinal
Uma criança vai mudar o Mundo


* Rodrigo – voz
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e viola) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Gravação (guitarra portuguesa) – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Tantos Fados, Tanta Vida



Letra: Manuela de Freitas
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Filipa Pais* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Nem sempre fala de penas
De virtudes ou pecados
Pois das coisas mais pequenas
Faz o fado grandes fados

Andorinha, procissão
Um raminho de violetas
Uma ginjinha, um pregão
Rosmaninho, tranças pretas

Vida das coisas pequenas
São rimas, são cenas
De letras de fados

Teia p'lo fado tecida
Com versos tirados
Da vida vivida

Já não são versos apenas
Quando à guitarra cantados
Fazem das coisas pequenas
Tanta vida, tantos fados

Balcão de bar, marinheiro
Varina, colcha com barra
Um altar, um cacilheiro
Uma esquina, uma guitarra

Estendais, uma canoa
Vielas e escadinhas
O cais, a luz de Lisboa
Janelas com tabuinhas

Vida das coisas pequenas
São rimas, são cenas
De letras de fados

Teia p'lo fado tecida
Com versos tirados
Da vida vivida

Já não são versos apenas
Quando à guitarra cantados
Fazem das coisas pequenas
Tanta vida, tantos fados

[instrumental]

Já não são versos apenas
Quando à guitarra cantados
Fazem das coisas pequenas
Tanta vida, tantos fados


* Filipa Pais – voz
Bernardo Couto – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Se Eu Disser Adeus



Letra: Hélder Moutinho
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Pedro Moutinho* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Quando eu disser adeus será verdade
Irei mesmo viver perto de mim
Que eu não pertenço às noites da saudade
Nem sou folha caída no jardim

Quando eu disser adeus não é loucura
É forma de viver, é estar no mundo
Desmantelando a noite negra e pura
P'ra me perder no sonho mais profundo

Partir, só quando a terna madrugada
Trouxer palavras de me entristecer
E eu corro numa estrada desnudada
Das formas que me ensinam a viver

Mas se eu disser adeus será verdade
Irei com a tristeza no olhar
Que eu não pertenço às noites da saudade
Mas vou sentir saudades de te amar

[instrumental]

Mas se eu disser adeus será verdade
Irei com a tristeza no olhar
Que eu não pertenço às noites da saudade
Mas vou sentir saudades de te amar


* Pedro Moutinho – voz
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e guitarra portuguesa) – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos
Gravação (viola) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



No Vão da Minha Janela



Letra: Hélder Moutinho
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Hélder Moutinho* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Tenho uma rosa encarnada
No vão da minha janela
Quando a vida não me agrada
Falo da sorte com ela

Às vezes quando o luar
Se avizinha lentamente
Na ria dos meus amores
À janela transparente
Entender constantemente
A razão das minhas dores

Plantei-a como uma jura
Juro por tudo e por nada
À janela da loucura
Tenho uma rosa encarnada

Falei-lhe de ti uma dia
Da esperança que em mim nasceu
E no meu olhar ficou
Num gesto de fantasia
Primeiro empalideceu
E logo a seguir corou

Como se fosse um enredo
Corou de amor e paixão
Aventura de um segredo
Da cor do meu coração

Tenho uma rosa encarnada
À rua dos meus amores
No vão da minha janela
Não foi nada, não foi nada
Já não quero ter mais flores
Mas tenho saudades dela

[instrumental]

Tenho uma rosa encarnada
À rua dos meus amores
No vão da minha janela
Não foi nada, não foi nada
Já não quero ter mais flores
Mas tenho saudades dela


* Hélder Moutinho – voz
Ricardo Parreira – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – viola de fado

Produção musical – Ricardo Parreira
Direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Fado Alvim



Letra: Tiago Torres da Silva (dedicada a Fernando Alvim)
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Carlos do Carmo* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 1 – "Fados do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Depois do mar
Há um olhar
Que ainda é mais azul
Azul de mim
Azul sem fim
Azul da cor dos mares do sul
Uma canção cujo refrão
Ninguém consegue decifrar
Se quem o canta
Traz na garganta
A voz do mar

Depois de ti
Adormeci
No alto mar, talvez
Num mar gentil
Num mar anil
Num mar que em ondas se desfez
Não naufraguei
Nem acordei
Nem te vi
Pus-me a sonhar
Deitei-me ao mar
Pus-me a sonhar
Adormeci

[instrumental]

Depois da voz
Deixei-te a sós
Com a tua canção
Quando a ouvi
O que senti
Fez-me entender a solidão
E o teu olhar
Quase a chorar
Foi-se fechando em timidez:
"– Não tenho nada
Só tenho a estrada
Que a vida fez"

Depois do "bis"
É por um triz
Que tu voltas p'ra nós
Porque a guitarra
Quase te agarra
P'ra te levar na sua voz
E num tremor
Descubro a cor
Que há no sim
A cor do "bis"
Azul-feliz
A cor do "bis"
Azul-Alvim


* Carlos do Carmo – voz
José Manuel Neto – guitarra portuguesa
Carlos Manuel Proença – viola de fado

Produção musical – Carlos Manuel Proença e José Manuel Neto
Direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Joel Conde, nos Estúdios Tcha Tcha Tcha, Miraflores
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Sabores da Noite



Letra: Paulo Abreu de Lima
Música: Fernando Alvim
Intérprete: António Zambujo* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Portas abertas
Vidas despertas
Sonhos desfeitos na cor
Juras, promessas
Becos, travessas
Falsas premissas d'amor...

Vícios baratos
Em corpos gastos
De tantos copos de gin
Gritos sem voz
Dentro de nós
Nas madrugadas sem fim...

Sou da noite filho predilecto
Condenado à sina do cantor
Trato das palavras com afecto e amor
Como a florista a uma flor...

Chego a casa morto de cansaço
Com saudades muitas de te ter
Mas do teu ciúme que renega o abraço
És mulher que cega ou não quer ver...

Voltei ao bar
Para afogar
Eternas sedes de ti
Na mesa farta
D'outra mulata
Que foi cama onde dormi...

Morde e abusa
Rasga a blusa
E diz-me sempre que sim
Nos desvarios
D'amores vadios
Com princípio, meio e fim...

[instrumental]

Sou da noite filho predilecto
Condenado à sina do cantor
Trato das palavras com afecto e amor
Como a florista a uma flor...

Chego a casa morto de cansaço
Com saudades muitas de te ter
Mas do teu ciúme que renega o abraço
És mulher que cega ou não quer ver...

Voltei ao bar
Para afogar
Eternas sedes de ti
Na mesa farta
D'outra mulata
Que foi cama onde dormi...

Morde e abusa
Rasga a blusa
E diz-me sempre que sim
Nos desvarios
D'amores vadios
Com princípio, meio e fim...


* António Zambujo – voz
Bernardo Couto – guitarra portuguesa
Fernando Alvim – guitarra
Jon Luz – cavaquinho
José Miguel Conde – clarinetes
Ricardo Cruz – contrabaixo

Produção musical – Ricardo Cruz
Direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Joaquim Monte, no Estúdio Namouche, Lisboa
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Fim de Tarde a Sonhar



Letra: Rosário Worisch Alvim e Fernando Alvim
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Cristina Branco* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental / vocalizos]

O Sol
A brilhar
A sorrir
E a brincar
Para nós
Fim de tarde a sonhar

Um búzio
A contar
Uma lenda
Do mar
Um naufrágio
E um barquinho a passar

Deitados na areia
Desenhamos os sons
Com tons de Verão
Que em ondas se vão
E assim, nosso sonho voou...

A noite
Ao chegar
Trás com ela
Uma estrela
Melodia
Que convida a dançar...

Dá cor
Ao luar
A paixão
Que se sente
Ilusão
De um sonho
Ao poente

[instrumental]

Deitados na areia
Desenhamos canções
Com tons de Verão
Que em ondas se vão
E assim, o Universo cantou...

A cor
Do luar
Ao sentir a paixão
Ilusão
De um sonho
(A) acabar


* Cristina Branco – voz
Fernando Alvim – guitarra
Ricardo Toscano – clarinete

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Impossível Adeus



Letra: Vitorino Salomé
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Vitorino* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Está escrito no olhar
Inda que seja longe
Estou sempre por perto
Não há último adeus
Passageira lembrança
De um doce afecto

Partir é não voltar
Fica a dor do esperar
Ausência eterna
Dos teus passos a chegar
Quando a noite hesitava
Cair sobre a terra

Dos amores desencontrados
Não reza a história
São nuvem que passa
Dos sonhos idolatrados
Fica a memória
O prazer, a graça

Por isso não te vás
– Ó laranjeira em flor
Perfuma a triste ausência
Do meu gentil amor

Fica sempre comigo
Branca flor perfumada
Guarda junto ao teu peito
Paixão nunca esquecida

[instrumental]

Dos amores desencontrados
Não reza a história
São nuvem que passa
Dos sonhos idolatrados
Fica a memória
O prazer, a graça

Por isso não te vás
– Ó laranjeira em flor
Perfuma a triste ausência
Do meu gentil amor

Fica sempre comigo
Branca flor perfumada
Guarda junto ao teu peito
Paixão nunca esquecida


Nota: «Dedicada à doce vivência destes dois amigos, Fernando e Rosarinho, inspiradores de paz interior, à sombra duma linda e florida tangerineira.» (Vitorino Salomé)

* Vitorino – voz
Fernando Alvim – guitarra
Pedro Santos – acordeão
Ruca Rebordão – shakers, udu, bongós

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Um Olhar Lisboa



Letra: Mário Rainho
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Filipa Pais* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Abri nossa janela,
O sol entrou por ela;
E como convidado
Tomou café ao nosso lado

O coração se abrasa
À mesa d'alvorada;
Quem tem o sol em casa
Ai, não precisa de mais nada.

Dou bom dia a Lisboa,
Gaivota que voa,
Alegre e ensonada;
E olho o rio Tejo
Que, à míngua dum beijo,
Quer ver-te acordada.

Oiço o burburinho da cidade
E vejo o céu azul;
Na viola dedilho a saudade
Desta canção do sul.

Quem vê Lisboa assim,
Um poema de mim
Luz, cor e aguarela
Não pode respirar sem ela.

Os sons dos bairros são
Pulsar do coração;
Suas ruas são veias,
Telas de fado cheias.
Dou bom dia a Lisboa,
Gaivota que voa,
Alegre e ensonada;
E olho o rio Tejo
Que, à míngua dum beijo,
Quer ver-te acordada.

Oiço o burburinho da cidade
E vejo o céu azul;
Na viola dedilho a saudade
Desta canção do sul.

[instrumental]

Dou bom dia a Lisboa,
Gaivota que voa,
Alegre e ensonada;
E olho o rio Tejo
Que, à míngua dum beijo,
Quer ver-te acordada.

Oiço o burburinho da cidade
E vejo o céu azul;
Na viola dedilho a saudade
Desta canção do sul.


* Filipa Pais – voz
Celina da Piedade – acordeão
Fernando Alvim – guitarra

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz) – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos
Gravação (instrumentos) – Joaquim Monte, no Estúdio Namouche, Lisboa
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Marcha dos Fadistas e Canto do Pastor



Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Fernando Alvim* com Rão Kyao (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




(instrumental)


* Fernando Alvim – guitarra
Rão Kyao – flauta

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



O Tempo a Cantar



Letra: Miguel Martins
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Marco Rodrigues* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Abre-se o sol da manhã, sinto-me capaz
De caminhar p'la cidade até ele abalar
A luz invade-me o peito, sou de novo rapaz
Perdido nas suas ruas, como ondas do mar...

Ontem, chegaste mais leve, qual brisa do sul,
A noite foi breve, sob um céu azul,
Tão longa e tão breve – era o tempo a cantar

E sob um manto de estrelas, o sono chegou
E resgatou o teu corpo ao encanto do amor
Adormeci a teu lado, sabendo quem sou
E quem serei, para sempre, vá eu onde for

Ontem, chegaste mais leve, qual brisa do sul,
A noite foi breve, sob um céu azul,
Tão longa e tão breve – era o tempo a cantar

[instrumental]

E, ao sair para a rua, a cidade sorriu
Pois, sendo a mesma era tua uma rosa que abriu
Porque ontem chegaste mais leve, qual brisa do sul,
A noite foi breve, sob um céu azul,
Tão longa e tão breve – era o tempo a cantar

Porque ontem chegaste mais leve, qual brisa do sul,
A noite foi breve, sob um céu azul,
Tão longa e tão breve – era o tempo a cantar


* Marco Rodrigues – voz
André Moreira – baixo
Carlos Manuel Proença – guitarra
Fernando Alvim – guitarra
José Manuel Neto – guitarra portuguesa

Produção musical – Carlos Manuel Proença e José Manuel Neto
Direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – André Tavares, no Estúdio MDL, Paço d'Arcos
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



De Mim para Mim



Letra: Amélia Muge
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Amélia Muge* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




Bastava-me na noite
Um beijo sobre a testa
Um lençol perfumado
Um sorriso de festa
Um olhar acordado

Bastava-me poder
Colher a alegria
Como um ramo de flores
Quando o tempo é d'amores
Anda a lua de dia

Se saber que me basta
O que deseja o meu querer
Fosse o gesto perfeito
Que se demora
Dentro do peito

Bastava-me sentir
Que a tua mão conhece
O caminho da minha
A tarde amadurece
Como a uva na vinha

Bastava-me que o sonho
Pudesse transformar
Este cravo encarnado
No teu corpo deitado
Quando a noite viesse

[instrumental]

Se saber que me basta
O que deseja o meu querer
Fosse o gesto perfeito
Que se demora
Dentro do peito

Bastava-me sentir
Que a tua mão conhece
O caminho da minha
A tarde amadurece
Como a uva na vinha

Bastava-me que o sonho
Pudesse transformar
Este cravo encarnado
No teu corpo deitado
Quando a noite viesse


* Amélia Muge – voz
Fernando Alvim – guitarra
Pedro Santos – acordeão
Ruca Rebordão – bongós e cajón

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz) – José Martins, no Estúdio de José Martins, Lisboa
Gravação (instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Balada para Inês



Letra: José Fanha
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Manuel Freire* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Rainha imperfeita
De Inês cantarei
A trança desfeita
E a mágoa do rei

A crua vingança
Lavada com sal
Cobrada na dança
De um fio de punhal

À terra descida
Roseira Rosal
Inês é partida
E apenas cristal
Adeus minha vida
Adeus Portugal

Inês castigada
Sem pena nem dó
Amante matada
Rainha ficou

É dela o lamento
Da água que cai
E a fala do vento
Soltando seu ai

À terra descida
Roseira Rosal
Inês é partida
E apenas cristal
Adeus minha vida
Adeus Portugal

Do sangue entornado
Com raiva e furor
Se fez o bordado
Do mais belo amor

Do laço desfeito
De Pedro e de Inês
Nasceu este jeito
De ser português

À terra descida
Roseira Rosal
Inês é partida
E apenas cristal
Adeus minha vida
Ai adeus Portugal


* Manuel Freire – voz
Fernando Alvim – guitarra

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Joaquim Monte, no Estúdio Namouche, Lisboa
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



A Guitarra Portuguesa Encontra o Jazz



Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Fernando Alvim* com Ricardo Marques e Ricardo Toscano (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




(instrumental)


* Fernando Alvim – guitarra
Ricardo Marques – guitarra portuguesa
Ricardo Toscano – saxofone

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Pobre de Quem (não tem uma ilusão)



Letra: João Monge
Música: Fernando Alvim
Intérprete: Filipa Pais* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Meu bem, pobre de quem
Não tem por quem chorar
Nem tem alguém
Por quem pedir, por quem lutar
E perdoar

Meu bem, pobre de quem
Não tem uma ilusão
De alguém que vem
E bate a cem no coração

Olha p'ra mim
Que eu vou mostrar
Essa beleza
Que há na fraqueza
Que a gente tem
De tanto amar.
Pobre de quem...

Meu bem, às vezes dá
Um nó a quem está só
Perdido, sentido
Como se Deus não tenha dó
Tenha saído

Meu bem, pobre de quem
Só tem no coração
O luto por alguém
Que já não tem na sua mão

Olha p'ra mim
Que eu vou mostrar
Essa beleza
Que há na fraqueza
Que a gente tem
De tanto amar.
Pobre de quem...

[instrumental]

Olha p'ra mim
Que eu vou mostrar
Essa beleza
Que há na fraqueza
Que a gente tem
De tanto amar.
Pobre de quem...

Meu bem, pobre de quem
Não tem uma ilusão
De alguém que vem
E bate a cem no coração


* Filipa Pais – voz
Fernando Alvim – guitarra
Rão Kyao – flauta

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Quadrinhas Submarinas



Letra: Amélia Muge
Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Mafalda Taborda, Micaela Vaz e Vânia Conde* (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




[instrumental]

Mas que mal estão as ostras
Por ninguém as querer abrir
Ficam muito esperançadas
Vendo a maré a subir
[bis]

Mas lá nesses baixos fundos
Nada é assim tão mau
Já se safa o peixe-gato
Na terra do carapau
[bis]

Que dizer do mexilhão?
Anda sempre, sempre aos ais
Todos falam que tem culpa
E que se mexe demais
[bis]

Mas lá nesses baixos fundos
Nada é assim tão mau
Já se safa o peixe-gato
Na terra do carapau
[bis]

Ninguém percebe os percebes
Andam todos emproados
Têm cabeça de língua
E nunca têm trocados
[bis]

Mas lá nesses baixos fundos
Nada é assim tão mau
Já se safa o peixe-gato
Na terra do carapau
[bis]

[instrumental]

O caranguejo, porém,
Bate palmas sem parar
Dizem que anda p'ra trás
Mas é só p'ra despistar
[bis]

[instrumental]


* Mafalda Taborda, Micaela Vaz e Vânia Conde – vozes
Fernando Alvim – guitarra
Rão Kyao – flauta
Ricardo Parreira – guitarra portuguesa
Ruca Rebordão – percussão
Yami (Fernando Araújo) – baixo

Produção musical – Ricardo Parreira
Direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação (voz e instrumentos) – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Mistura – Samuel Nascimento, no Estúdio Alvalade, Lisboa
Masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Improviso Tropical



Música: Fernando Alvim
Intérpretes: Fernando Alvim* com Pedro Jóia (in livro/2CD "Fados & Canções do Alvim": CD 2 – "Canções do Alvim", Universal, 2011)




(instrumental)


* Fernando Alvim – guitarra
Pedro Jóia – guitarra clássica

Produção musical e direcção artística – Fernando Alvim
Concepção e idealização – Fernando Alvim
Produção executiva – Rosário Worisch Alvim
Gravação – Joaquim Monte, no Estúdio Namouche, Lisboa
Mistura e masterização – Fernando Nunes, no Estúdio Pé-de-Vento, Salvaterra de Magos



Capa do EP "Guitarras de Portugal", de Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral (Tecla, 1971)



Capa do LP "Dedicatória", de Manuel Freire, Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral (Tecla, 1972)



Capa do livro/2CD "Fados & Canções do Alvim" (Universal, 2011)

07 março 2015

"Quando os Lobos Uivam"

Em peças de teatro e obras de ficção (que não sejam fábulas ou histórias para crianças), os nomes de animais nos títulos surgem, quase sempre, em sentido figurado ou metafórico, isto é, remetendo para pessoas ou para as qualidades e atitudes dos humanos que são consideradas animalescas. Alguns exemplos: "As Vespas", do grego Aristófanes; "O Leopardo", do italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa; "O Lobo das Estepes", do alemão Hermann Hesse; "As Moscas", do francês Jean-Paul Sartre; "A Cotovia", do também francês Jean Anouilh; e "Quando os Lobos Uivam", do português Aquilino Ribeiro. Neste último caso, os lobos são as autoridades do regime salazarista que teimaram em levar por diante a florestação de pinhal nos baldios da Serra de Leomil (também chamada Serra da Nave, e que o autor designou na narrativa por Serra dos Milhafres), mesmo contra a vontade das populações locais.
Helena Matos, na edição da rubrica "O Mundo ao Ouvido" (Antena 1), em que incluiu uma gravação de uivos de lobos, e teceu algumas considerações sobre aqueles animais, menciona o romance "Quando os Lobos Uivam". A simples citação do título é gratuita, já que as personagens da obra aquiliniana são indivíduos da espécie homo sapiens e não os temidos canídeos selvagens. No entanto, podemos admitir a referência como benévola, e por duas ordens de razões: primeira – porque todos os pretextos são bons para sugerir a leitura da suculenta prosa de Aquilino Ribeiro (um escritor actualmente bastante esquecido, mas que é um dos maiores vultos da Literatura Portuguesa do século XX e de sempre); segunda – porque na região da Beira Alta onde se desenrola a acção do romance havia alcateias, pelo menos até ao momento em que foi escrito e originalmente publicado (1958). Terá sido essa a circunstância que inspirou o título ao escritor e que também deu o mote ao jornalista João Paulo Guerra para incluir uivos de lobos no início da reportagem que, em 1995, no âmbito da série "Viagens com Livros" (TSF-Rádio Jornal), realizou na zona dos baldios que foram alvo da prepotência estatal, e cujo registo áudio aproveitamos para resgatar, com a devida vénia ao autor. Uma boa memória da rádio e um notável exemplo de serviço público cultural!
Os lobos, esses foram sendo dizimados, a ponto de desaparecerem das Terras do Demo (como o próprio Aquilino as designou), e se hoje ainda existem em algumas regiões mais setentrionais do território nacional (designadamente no Parque Natural de Montesinho) muito o devemos ao Grupo Lobo, presidido pelo Prof. Francisco Fonseca, que não se tem poupado a esforços em prol do lobo ibérico. A propósito, porque não aproveitou Helena Matos a soberana oportunidade que teve para fazer alusão àquela honorável entidade e ao meritório trabalho que tem desenvolvido no nosso país? Uma omissão absolutamente imperdoável, ademais tratando-se de uma jornalista e suposta investigadora!
O apontamento também deixou muito a desejar na opção que foi feita para a ilustração musical. Em vez de trazer o massificado Michael Jackson e o seu "Thriller", que toda a gente conhece, Helena Matos podia ter subido a fasquia e dado a ouvir a sinfonia de uivos que surge na parte final do tema "Lobos, Raposas e Coiotes", de Maria João e Mário Laginha, ou, ainda melhor, o tema "A Lua e os Lobos", de Rão Kyao, em que o músico imita na flauta precisamente os uivos dos lobos. Isso, sim, era prestar bom serviço público. Da rádio que os contribuintes financiam espera-se algo mais do que banalidades e futilidades que nada acrescentam ao universo de quem a ouve.
Como os leitores do blogue "A Nossa Radio" merecem o melhor, aqui se faculta a audição integral das duas peças musicais atrás referidas.



"Viagens com Livros": "Quando os Lobos Uivam"



Reportagem de João Paulo Guerra* (in CD "Viagens com Livros", Vol. 4 – "Quando os Lobos Uivam / Léah e Outras Histórias", Strauss, 1996)


(reportagem radiofónica)


* Guião e reportagem – João Paulo Guerra
Sonorização – Alexandrina Guerreiro
Transmissão na TSF-Rádio Jornal, de Abril a Setembro de 1995
Masterização digital – Francisco Leal, no Strauss Studio, Lisboa, em Janeiro de 1996



Lobos, Raposas e Coiotes



Música: Mário Laginha
Intérpretes: Maria João e Mário Laginha* com a NDR Radio Philharmonic Orchestra Hannover, dir. Arild Remmereit (in CD "Lobos, Raposas e Coiotes", Verve/Universal, 1999)




(instrumental com vocalizos)


* Maria João – voz
Mário Laginha – piano
Orquestração e arranjos – Mário Laginha
NDR Radio Philharmonic Orchestra Hannover, dirigida por Arild Remmereit
Produção – Reinhard Karwatky & Wolf-Dieter Karwatky
Co-produção – Norddeutscher Rundfunk, Hannover
Supervisão de gravação – Reinhard Karwatky
Gravado por Manfred Kietzke e Wolf-Dieter Karwatky, nos NDR Studios, Hannover (Alemanha), em 1997
Mistura, masterização e edição digital – Karwatky Bros. (Karcos) e Universal Recording Service (Emil Berliner Haus), Hannover



A Lua e os Lobos



Música: Rão Kyao
Intérprete: Rão Kyao* (in CD "Porto Alto", Farol Música, 2004)




(instrumental)


* [Créditos gerais do disco:]
Rão Kyao – flautas de bambu
Renato Júnior – acordeão
António Pinto – guitarras acústicas
Ruca Rebordão – tambor africano, caxixi
André Sousa Machado – bateria
Produção musical – Luís Pedro Fonseca
Produção executiva – António Cunha (Uguru) & Luís Pedro Fonseca
Gravado por Pedro Rego e Jorge Barata, nos Estúdios Xangrilá, Lisboa, em Dezembro de 2003 e Janeiro de 2004
Misturado e masterizado por Jorge Barata, nos Estúdios Xangrilá, Lisboa



Capa do CD "Viagens com Livros", Vol. 4 – "Quando os Lobos Uivam / Léah e Outras Histórias" (Strauss, 1996)
Fotografia – Edite Lourenço
Design gráfico – Rogério Taveira



Capa do CD "Lobos, Raposas e Coiotes", de Maria João e Mário Laginha (Verve/Universal, 1999)



Capa do CD "Porto Alto", de Rão Kyao (Farol Música, 2004)



Capa do romance "Quando os Lobos Uivam" (Bertrand Editora, edição de 2011).

13 fevereiro 2015

Antena 2: uma miséria de rádio (II)

Qualquer dia é bom para se reflectir e opinar sobre o serviço público de rádio e o de hoje afigura-se assaz oportuno para trazer de novo à liça a Antena 2, tão confrangedor é o mísero estado a que chegou às mãos da tríade de malfeitores Marinho/Pêgo/Almeida.
Não há muito a acrescentar ao que foi explanado em textos anteriores (links ao fundo), mas importa frisar dois ou três pontos de capital importância. Persiste a penúria de programas culturais – nas áreas da História, da Sociologia, da Antropologia, das Artes, do Pensamento – e mesmo em matéria de música são escassíssimos os programas de autor. Prevalecem os espaços – longuíssimos! – preenchidos com trechos musicais em jeito de miscelânea: vai-se buscar à prateleira um lote de discos ao acaso e toca de passar uma ou duas faixas de cada um, de tal sorte que durante uma hora (há que não ultrapassar esse tempo porque os 'jingles' e os 'spots' promocionais têm forçosamente de ser disparados, mesmo que já tenham ido para o ar milhentas vezes) podem ser transmitidas as obras mais díspares em género, estilo e época. «Mete-se tudo no mesmo saco e logo se vê o que sai na rifa». Perguntamos: isto é prestar bom serviço público? É com este método desconexo e destruturado que a Antena 2 cumpre a nobre missão para a qual foi criada e que é, por um lado, a de satisfazer os ouvintes mais eruditos e exigentes e, por outro, a de promover o gosto e o conhecimento nos principiantes? Jamais! Não corresponde cabalmente às expectativas dos primeiros e afugenta os segundos, de tão perdidos e desorientados que se sentem no meio de tal babel musical. Vistas bem as coisas, a Antena 2, durante largas horas do dia, não é muito diferente de uma vulgar rádio de 'playlist', se exceptuarmos a atenuante de as peças musicais não estarem sujeitas a padrões de repetição durante o mesmo dia ou nos seguintes (como acontece na Antena 1, por exemplo). No fundo, o que Rui Pêgo fez foi aplicar à Antena 2 a formatação em vigor nas rádios de música pop por onde passou (a começar pela RFM), revelando assim uma evidente incapacidade para perceber as especificidades de um canal vocacionado para a alta cultura. Incapacidade e desinteresse, pois ao mesmo tempo que deixa a Antena 2 na indigência não faz a menor parcimónia em engordar a clientela de colaboradores externos da Antena 1 (como sucedeu já este ano).
No Dia Mundial da Rádio, o escrevente destas linhas e, estou em crer, muitos mais ouvintes insatisfeitos com a actual Antena 2 deixam expresso o desejo de que o novo responsável pelos conteúdos na administração da Rádio e Televisão de Portugal, Nuno Artur Silva, olhe para o canal e lhe restitua a dignidade perdida (depois da saída de João Pereira Bastos foi sempre a descer). E o primeiro passo será, inevitavelmente, voltar a autonomizar a direcção de programas e entregá-la a uma pessoa com a necessária e conveniente sensibilidade cultural. Atrevo-me a sugerir um nome: a pianista e ex-ministra da Cultura Gabriela Canavilhas.


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"A Vida Breve": a poesia na voz dos autores
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Teatro radiofónico: criminosamente ausente do serviço público

Grandes discos da música portuguesa: editados em 2014


[em preparação]

29 janeiro 2015

A infância e a música portuguesa (V)

Quinta parte: Na escola – Prosseguindo o caminho >>> aqui

17 janeiro 2015

23 dezembro 2014

Em memória de Fernando Machado Soares (1930-2014)



Fernando Machado Soares nasceu em São Roque do Pico (distrito da Horta, Açores), em 3 de Setembro de 1930 e licenciou-se nos finais da década de 50, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Este cantor, poeta e compositor, começou a cantar em Coimbra, nos anos 50, integrado num histórico grupo de fados e guitarradas, do qual faziam parte, entre outros, Luiz Goes, José Afonso, Fernando Rolim e Florêncio de Carvalho, e ainda António Brojo, António Portugal (guitarras), Aurélio Reis e Mário de Castro (violas).
Machado Soares colaborou intensamente com os organismos académicos da altura, tendo-se deslocado ao Brasil com o Orfeon em 1954 e feito o périplo de África com a Tuna, em 1956. Em 1961, já licenciado em Direito, acompanhou o Orfeon aos Estados Unidos da América.
Em 1957, com António Portugal e Jorge Godinho (guitarras) e Manuel Pepe e Levy Baptista (violas), Fernando Machado Soares prepara a gravação de um disco que ficará para a História como um dos momentos mais altos do fado de Coimbra e onde toda a sua criatividade renovadora ficou bem patente: o LP do "Coimbra Quintet", gravado para a Philips, em Madrid, num estúdio de excelentes condições técnico-acústicas.
Apesar da sua importante colaboração na concepção dos arranjos e de algumas composições suas figurarem no disco, acabou por ser Luiz Goes, e não Machado Soares, a registar a sua voz no vinil: pura e simplesmente, o cantor decidiu não se deslocar à gravação e, à última hora, foi substituído por Luiz Goes, o qual, rápida e talentosamente, recebeu o testemunho de Machado Soares e realizou uma brilhante performance em estúdio.
Machado Soares é talvez, depois de Menano e Bettencourt, o nome mais importante do fado de Coimbra (mais pela renovação que promoveu e pela qualidade e quantidade das suas composições, do que pela sua forma de interpretar, aliás também excelente).
Na realidade, foi este açoriano quem criou as condições da transição do fado clássico para as baladas e para as trovas, que as vozes de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira vieram a imortalizar: sem o contributo de Machado Soares, seguramente que teria sido outra, diferente e menos rica, a trajectória do Zeca e do Adriano (o qual, aliás, gravou muitas composições de Machado Soares).
Durante os seus tempos de Coimbra não era fácil conseguir ouvir cantar Machado Soares: ele só cantava quando lhe apetecia. E não lhe apetecia muitas vezes...
Curiosamente, foi depois de deixar Coimbra e iniciar a sua carreira de magistrado (em comarcas como Guimarães, Santarém, Almada e outras) que Machado Soares, aos fins-de-semana, rumava à Lusa Atenas para cantar e conviver, acolhendo-se à "sua" República Baco, onde vivera durante os seus tempos de estudante e onde, nessa altura, residiam José Niza (que o acompanhava à guitarra e à viola), Fernando Gomes Alves (outro cantor de fados), Manuel Pepe (já médico, mas ainda residente na República e viola do grupo de António Portugal) e ainda Francisco Bandeira Mateus, que fez versos para alguns dos fados de Machado Soares.
Entretanto, com a transferência para o Tribunal de Almada – já como juiz corregedor – a carreira de Machado Soares conhece imprevistos desenvolvimentos.
Nas noites de Lisboa começa a ser frequentador assíduo de casas de fado, acabando por se "fixar" no "Senhor Vinho", da fadista Maria da Fé [e do poeta José Luís Gordo], onde começou a ser acompanhado pelo grande guitarrista Fontes Rocha, pelos violas da casa e, muitas vezes, por Durval Moreirinhas. No "Senhor Vinho", Machado Soares actuava integrado no elenco dos artistas residentes, cantando sempre canções suas ou do repertório de Coimbra, e deliciando os frequentadores com a expressão da sua voz fortíssima e as "nuances" pianíssimas que imprimia às suas interpretações.
Aliás, o facto de ser juiz de dia e cantor à noite, não caiu bem no Ministério da Justiça, que considerava lesivas da dignidade da magistratura as suas actuações públicas. Machado Soares em nada alterou este seu "desdobramento de personalidade", continua a cantar onde lhe apetece e, entretanto, chegou ao topo da sua carreira de magistrado, sendo actualmente Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça.
De toda a sua riquíssima obra destaca-se um tema que será um dos mais conhecidos e cantados da música popular portuguesa: a Balada do 6.º ano médico "Coimbra tem mais encanto / na hora da despedida". Para Machado Soares – e já lá vão mais de 35 anos passados sobre a despedida – Coimbra continua a ter encantos infinitos e a servir de motivação para uma das obras mais importantes da música portuguesa da segunda metade do século.

JOSÉ NIZA [texto publicado no livro apenso ao duplo CD "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1", Movieplay, 1996]


Fernando Machado Soares faleceu em Almada, a 7 de Dezembro de 2014.
A notícia veio a lume no dia 10 (vide artigo de Gonçalo Fragata no "Público") mas a rádio estatal manteve-se completamente alheada do triste acontecimento. Como se explica que a Antena 1, atendendo às especiais obrigações que tem no domínio da música portuguesa, não tenha feito a devida homenagem ao eminente artista? A explicação encontra-se, evidentemente, no já sobejamente conhecido obscurantismo cultural de quem a dirige...
O blogue "A Nossa Rádio" pauta-se por uma atitude bem diferente e faz o serviço público de apresentar um punhado dos mais belos espécimes do repertório de Fernando Machado Soares, pois a melhor forma de render tributo à sua memória é ouvi-lo. E como se afigura muito a propósito na presente quadra, o rol termina com a canção "Oh Meu Menino Jesus", uma das mais maravilhosas peças do cancioneiro natalício que até hoje se criaram em Portugal (e no mundo). Uma pérola perdida no vinil...



Balada do Entardecer



Letra e música: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in EP "Fados e Guitarradas de Coimbra", Alvorada MEP 60109, 1958; "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1": CD 1, Movieplay, 1996)


[instrumental]

Ó Mondego, ó Mondego,
Diz-me se corres p'ró mar!
Ao meu amor, em segredo,
Saudades quero mandar.

Ó Mondego, ó Mondego,
Diz-me se corres p'ró mar!

[instrumental]

Quero saudades mandar
Em troca das minhas dores.
Diz-me se corres p'ró mar,
Espelho das minhas dores!

Diz-me se corres p'ró mar,
Espelho das minhas dores!


* Fernando Machado Soares – voz
António Portugal e Jorge Godinho – guitarras de Coimbra
Manuel Pepe e Levy Baptista – violas



O Que Mais me Prende ao Mundo



Letra: Popular (1.ª quadra) e Fernando Machado Soares
Música: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in EP "Fados e Guitarradas de Coimbra", Alvorada MEP 60110, 1958; "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1": CD 1, Movieplay, 1996)


[instrumental]

O que mais me prende ao mundo
Não é amor de ninguém;
É que a morte, de esquecida,
Deixa o mal e leva o bem.

[instrumental]

Quando eu um dia morrer,
Não chores, ó minha amada!
Também a morte é viver
Quando a vida não é nada.


* Fernando Machado Soares – voz
António Portugal e Jorge Godinho – guitarras de Coimbra
Manuel Pepe e Levy Baptista – violas



Fado da Noite



Letra: Popular
Música: Jorge de Morais (Xabregas)
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in EP "Fados e Guitarradas de Coimbra", Alvorada MEP 60111, 1958; "Fados e Guitarradas de Coimbra: Vol. 1": CD 2, Movieplay, 1996)


[instrumental]

A vida é negra, tão negra,
Como a noite nos pinhais;
Mas é nas noites mais negras
Que as estrelas brilham mais.

[instrumental]

Dá-me os teus olhos profundos
E pode o mundo acabar!
Que importa o mundo se há mundos
Lá dentro do teu olhar!


* Fernando Machado Soares – voz
António Portugal e Jorge Godinho – guitarras de Coimbra
Manuel Pepe e Levy Baptista – violas



Balada da Despedida (Coimbra Tem Mais Encanto)



Letra: Francisco Bandeira Mateus
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Quem me dera estar contente,
Enganar a minha dor,
Mas a saudade não mente
Se é verdadeiro o amor.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Não me tentes enganar
Com a tua formosura,
Que para além do luar
Há sempre uma noite escura.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[bis]

Que as lágrimas do meu pranto
São a luz que lhe dá vida.

Coimbra tem mais encanto
Na hora da despedida.
[4x]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



O Fado dos Passarinhos (Passarinho da Ribeira)



Letra: Popular
Música: António Menano
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Passarinho da ribeira,
Se não és meu inimigo,
Empresta-me as tuas asas,
Deixa-me ir voar contigo!

Passarinho da ribeira,
Ai... deixa-me ir voar contigo!

Ao longe, cortando o espaço,
Vai um bando de andorinhas...
Que te leva um abraço
E muitas saudades minhas.

Ao longe, cortando o espaço,
Ai... vai um bando de andorinhas...


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Canção das Lágrimas



Letra e música: Armando Goes
Arranjo: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Lágrimas que a gente chora
E sufocam nossos ais,
Deixai-as lá ir embora,
Que elas vão, nem voltem mais.

[instrumental]

Tanta dor, tanta amargura,
A sulcar faces tão belas;
E tanta água que é pura
A lavar sujas vielas.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado da Mentira



Letra: António Menano
Música: António Menano e Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Fiz uma cova na areia
P'ra enterrar minha mágoa;
Entrou por ela o mar todo,
Não encheu a cova d'água.

[instrumental]

Ninguém conhece no rosto
Todo o bem que a alma inspira;
A vida é gosto e desgosto:
Mentira, tudo mentira.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Rosas Brancas



Letra e música: António de Sousa
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Quando eu morrer, nem sequer
Na campa uma cruz erguida!
Para calvário, já basta
A cruz que eu levo da vida.

Quando eu morrer, nem sequer
Na campa uma cruz erguida!

[instrumental]

Quando eu morrer, rosas brancas
Para mim ninguém as corte!
Quem as não teve na vida
Também as não quer na morte.

Quando eu morrer, nem sequer
Na campa uma cruz erguida!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Vira de Coimbra



Letra e música: Popular (anterior ao século XVIII)
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Coimbra, p'ra ser Coimbra,
Três coisas há-de contar:
Guitarras, tricanas lindas
E um estudante a cantar.

Ó Portugal que mais queres
Que mais podes desejar,
Se tem tão lindas mulheres,
O teu fado, o teu luar?

Dizem que amor de estudante
Não dura mais que uma hora;
Só o meu é tão velhinho
E inda se não foi embora.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



O Meu Menino



Letra: Popular (1.ª quadra) e Alexandre Resende
Música: Alexandre Resende
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

O meu Menino é d'oiro,
É d'oiro o meu Menino;
Hei-de levá-lo ao céu
Enquanto for pequenino!

[instrumental]

Enquanto for pequenino,
Tão puro como o luar,
Hei-de levá-lo ao céu,
Hei-de ensiná-lo a cantar!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Santa Clara



Letra e música: Ângelo Araújo
Arranjo: Ângelo Araújo
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Santa Clara, Santa Clara,
A teus pés corre o Mondego,
A namorar-te em segredo,
Minha linda Santa Clara!

[instrumental]

Beija-te os pés, Santa Clara,
O Mondego sonhador;
E nesse beijo de amor
Vão mil preces, Santa Clara!

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado das Andorinhas



Letra e música: António Almeida d'Eça
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Porque os meus olhos se apartam
Dos teus, não lhes queiras mal,
Que as andorinhas que partem
Voltam ao mesmo beiral!

[instrumental]

Eu hei-de voltar um dia,
Eu sou como as andorinhas,
Se as tuas saudades forem
Bater à porta das minhas.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado Corrido



Letra: Augusto Hilário (1.ª quadra) e Popular
Música: Popular
Arranjo: António Portugal
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Coimbra Tem Mais Encanto", Philips/Polygram, 1986; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

A minha capa velhinha
É da cor da noite escura;
Nela quero amortalhar-me
Quando for p'ra a sepultura.

[instrumental]

Coimbra, rio Mondego
Dos roussinóis ao luar,
Em tuas margens de sonho
Ficou minha alma a chorar.

[instrumental]

Hei-de perguntar um dia
Ao vento o que diz às flores,
Para ver se é só uma
Esta linguagem de amores.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Produção – José Luís Gordo



Canto de Amor e de Amar



Letra: Ana Costa Nunes, Luís de Camões e Fernando Machado Soares
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira;
Quem amar segunda vez
Não amou bem da primeira.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira...

De qualquer modo que existas,
És a minha divindade;
Ventura quando te vejo,
Se te não vejo, saudade.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira...
[bis]

E quando já for saudade
Sem que nada nos conforte,
É sinal que ainda vive
Mesmo para além da morte.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira;
Quem amar segunda vez
Não amou bem da primeira.

Um amor p'ra ser amor
Dura sempre a vida inteira...
[bis]

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Serra d'Arga



Letra: Popular
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Abaixa-te, ó Serra d'Arga,
Que eu quero ver São Lourenço!
Quero ver o meu amor,
Acenar-lhe com o lenço.

[instrumental]

Menina do lenço preto,
Diga-me quem lhe morreu:
Se foi pai ou se foi mãe?
Que por ela morro eu!

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Balada do Outono



Letra e música: José Afonso
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Águas passadas do rio,
Meu sono vazio
Não vão acordar!
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

Rios que vão dar ao mar,
Deixem meus olhos secar!
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

[instrumental]

Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

[instrumental]

Águas do rio correndo,
Poentes morrendo
P'rás bandas do mar...
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

Rios que vão dar ao mar,
Deixem meus olhos secar!
Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!

[instrumental]

Águas das fontes calai,
Ó ribeiras chorai,
Que eu não volto a cantar!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Maria



Letra e música: Ângelo Araújo
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Maria, se fores ao baile,
Leva o teu xaile,
Pode chover!
De manhã, de madrugada
Cai a geada,
Podes morrer.

[instrumental]

Maria, se ouvires cantar,
Vem ao luar
Ouvir quem canta!
Que a noite, com seu luar,
Lembra o olhar
De quem me encanta.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Maria Faia



Letra e música: Popular (Beira Baixa)
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Eu não sei como te chamas,
Ó Maria Faia,
Nem que nome te hei-de eu pôr,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

Cravo não, que tu és rosa,
Ó Maria Faia;
Rosa não, que não tem flor,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

[instrumental]

Não te quero chamar cravo,
Ó Maria Faia,
Que te vou engrandecer,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

Chamo-te antes espelho,
Ó Maria Faia,
Onde espero de me ver,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

[instrumental]

Dizem que a saudade espera,
Ó Maria Faia,
A ausência para chegar,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!

Eu tenho saudades tuas,
Ó Maria Faia,
Inda antes de te deixar,
Ó Maria Faia, ó Faia Maria!


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Mário Duarte – adufe



Foi Deus



Letra e música: Alberto Janes
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Não sei...
Não sabe ninguém
Porque canto o fado
Neste tom magoado
De dor e de pranto;
E neste tormento,
Todo sofrimento,
Eu sinto que a alma
Cá dentro se acalma
Nos versos que canto.

Foi Deus
Que deu voz ao vento,
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar;
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que eu vou desfiando e choro a cantar.

Pôs as estrelas no céu,
Fez o espaço sem fim,
Deu o luto às andorinhas
Ai... e deu-me esta voz a mim.

Se canto...
Não sei o que canto:
Misto de ventura,
Saudade, ternura
E talvez amor;
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando
Se tem um desgosto
E o pranto no rosto
Nos deixa melhor.

Foi Deus
Que deu luz aos olhos,
Perfumou as rosas,
Deu oiro ao sol e prata ao luar;
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que eu vou desfiando e choro a cantar.

Fez poeta o rouxinol,
Pôs no campo o alecrim,
Deu as flores à Primavera
Ai... e deu-me esta voz a mim.

[instrumental]

Deu as flores à Primavera
Ai... e deu-me esta voz a mim.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Estrelinha do Norte



Letra: Popular (1.ª quadra) e Ângelo Araújo
Música: João Gonçalves Jardim
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)




[instrumental]

Ó estrelinha do norte,
Espera por mim que eu já vou!
Alumia meu caminho,
Já que o luar me enganou!

[instrumental]

Seguirei sempre a teu lado
No rasto da tua luz;
Não quero mais o luar
Alumiar minha cruz.


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola



Fado Resende



Poema: Manuel Laranjeira
Música: Alexandre Resende
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in LP "Serenata", Philips/Polygram, 1988; CD "Fernando Machado Soares", Philips/Polygram, 1988)


[instrumental]

Ao morrer, os olhos dizem:
– «Pára, Morte, e espera aí!
Vida, não vás tão depressa
Que eu inda te não vivi...»

[instrumental]

A Vida foge e a Morte
É quem responde em vez dela:
– «Mas que culpa tem a Vida
De que não saibam vivê-la?»


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Produção – João Calado
Gravado e misturado no Estúdio Angel 2, Lisboa



A Ilha e o Sonho



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

No meu sonho de menino
Via-te ao longe a vogar,
Como Bela Adormecida
Entre o céu e o azul do mar.

Em noites de tempestade,
Enfrentando a maresia,
Eras um Barco Encantado
No meu sonho e fantasia.

Tantos anos já passaram,
Foi-se a vida, foi-se a esperança,
Mas ficou sempre em minha alma
Esse sonho de criança.

[instrumental]



Senhora d'Aires



Letra e música: Popular (Alentejo)
Arranjo: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

A Senhora d'Aires
De ao pé de Viana
Tem o seu altar
Feito à romana.

Tem o seu altar
Feito à romana
A senhora d'Aires
De ao pé de Viana.

As cobrinhas d'água
São minhas comadres;
Quando lá passares
Dá-lhes saudades.

Dá-lhes saudades,
Saudades minhas,
Quando lá passares
Ao pé das cobrinhas.

As cobrinhas d'água
São minhas comadres;
Quando lá passares
Dá-lhes saudades.

Dá-lhes saudades,
Saudades minhas,
Quando lá passares
Ao pé das cobrinhas.

[instrumental]

A Senhora d'Aires
De ao pé de Viana
Tem o seu altar
Feito à romana.

Tem o seu altar
Feito à romana
A senhora d'Aires
De ao pé de Viana.

[instrumental]

A Senhora d'Aires
De ao pé de Viana
Tem o seu altar
Feito à romana.

[instrumental]





Viana do Alentejo: Santuário de Nossa Senhora de Aires.
O altar em baldaquino faz lembrar o da Basílica de São Pedro, em Roma.



Santa Luzia



Letra: Popular da Beira Baixa (1.ª quadra) e Fernando Machado Soares
Música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Para que quero eu olhos,
Senhora Santa Luzia,
Se eu não vejo meu amor
Nem de noite, nem de dia?

[instrumental]

Senhora Santa Luzia,
Senhora do meu pesar,
Porque não me dais os olhos
P'ra o meu amor encontrar?



Teu Nome



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Teu nome na voz do vento,
Teu nome na voz do mar,
Teu nome encantamento
Da vida só por te amar.

Teu nome na voz do vento,
Teu nome na voz do mar...

[instrumental]

Teu nome traz o luar,
Traz o sonho, traz a esperança
De um dia eu te encontrar
Como um barco, a bonança.



Balada para uma Vida



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Meu amor na primavera,
Flor de sol do meu jardim
Que me enlaça como a hera
No corpo que nasce em mim.

Meu amor na primavera,
Flor de sol do meu jardim...

[instrumental]

Pôr-do-sol, morto, sem cor
Nas sombras do meu outono
Onde agoniza uma flor
E a minha noite, sem sono.

Pôr-do-sol, morto, sem cor
Nas sombras do meu outono...



Noites de Festa



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: José Fontes Rocha
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Todos gostam de Coimbra,
Todos querem lá passar
Mas ninguém sabe o que custa
Ter um dia que a deixar.

[instrumental]

És tão velha, tão antiga,
Ninguém sabe a tua idade,
Mas ainda és tão bela
Que a todos deixas saudades.

[instrumental]

Minha dor já era grande
Ao cantar nas tuas ruas,
Pois ainda em estudante
Já tinha saudades tuas.

[instrumental]



Trova do Vento Que Passa



Poema: Manuel Alegre
Música: António Portugal
Arranjo: António Portugal
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in CD "Le Fado de Coimbra", Ethnic/Auvidis, 1994)


[instrumental]

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz.

[instrumental]

Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.

[instrumental]

Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.

[instrumental]


* Fernando Machado Soares – voz e viola
José Fontes Rocha – 1.ª guitarra portuguesa
Ricardo Rocha – 2.ª uitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Direcção artística – Frédéric Deval
Gravado e misturado em Arles à la Chapelle du Méjan, em Setembro de 1993, por Jean-Claude Chabin, assistido por Gérard Faucilhon



Oh Meu Menino Jesus



Letra e música: Fernando Machado Soares
Arranjo: Fernando Machado Soares
Intérprete: Fernando Machado Soares* (in single "Natal / Oh Meu Menino Jesus", Philips/Polygram, 1986)


[instrumental]

Oh meu Menino Jesus,
Vestido cor de marfim,
Um corpo tão pequenino,
Um coração sem ter fim!

Oh meu Menino Jesus,
Vestido cor de marfim...

[instrumental / vocalizos]

Abrem-se as flores do monte
Para o Menino as pisar;
Rasgam-se as águas da fonte
Para a sede lhe matar.

Abrem-se as flores do monte
Para o Menino as pisar...

[instrumental / vocalizos]

Deixem passar o Menino
Pela mão da Virgem Maria!
Onde põe os seus pezinhos
Há para sempre alegria.

Deixem passar o Menino
Pela mão da Virgem Maria!...

[instrumental / vocalizos]


* Fernando Machado Soares – voz
José Fontes Rocha – guitarra portuguesa
Durval Moreirinhas – viola
Ramon Galarza – teclas
Produção – Ramon Galarza
Gravado no Estúdio Angel 2, Lisboa



Capa do EP "Fados e Guitarradas de Coimbra" (Alvorada MEP 60109, 1958)
Disco colectivo; contém um tema cantado por Fernando Machado Soares: "Balada do Entardecer"



Capa do EP "Fados e Guitarradas de Coimbra" (Alvorada MEP 60110, 1958)
Disco colectivo; contém um tema cantado por Fernando Machado Soares: "O Que Mais me Prende ao Mundo"



Capa do EP "Fados e Guitarradas de Coimbra" (Alvorada MEP 60111, 1958)
Disco colectivo; contém um tema cantado por Fernando Machado Soares: "Fado da Noite"



Capa do LP "Coimbra Tem Mais Encanto" (Philips/Polygram, 1986)
Contém dez temas (todos cantados)



Capa do single "Natal / Oh Meu Menino Jesus" (Philips/Polygram, 1986)



Capa do LP "Serenata" (Philips/Polygram, 1988)
Contém oito temas (todos cantados)



Capa do CD "Fernando Machado Soares" (Philips/Polygram, 1988)
Reúne os temas (dezoito) dos LPs "Coimbra Tem Mais Encanto" e "Serenata"



Capa do CD "Le Fado de Coimbra" (Ocora/Radio France, 1988)
Contém catorze temas (doze cantados e dois instrumentais) gravados ao vivo no Grand Auditoire da Radio France, Paris, a 18 de Março de 1987



Capa do CD "Le Fado de Coimbra" (Ethnic/Auvidis, 1994)
Fotografia de azulejos do Palácio Fronteira, em Lisboa. © Nicolas Sapieha
Contém doze temas (dez cantados e dois instrumentais)

08 dezembro 2014

27 novembro 2014

O canto alentejano é património da Humanidade



O canto alentejano, ou simplesmente cante, foi hoje reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Motivo de regozijo para as pessoas, com o antropólogo Paulo Lima à cabeça, que organizaram o processo de candidatura e o apresentaram àquela agência da ONU, sediada em Paris. Motivo de júbilo e de orgulho também para Portugal ao ver uma das suas expressões musicais mais genuínas receber tão prestigiosa distinção.
E como tem ido a divulgação do canto alentejano na rádio portuguesa? Nas privadas de âmbito nacional nada existe e na estação pública vejo apenas a rubrica "Cantos da Casa", de Armando Carvalhêda, que de vez em quando dá a ouvir cinco modas durante uma semana (uma por dia). É claramente insuficiente e com a agravante de a transmissão ser em horários em que a maioria das pessoas está a dormir (05h:55) ou a trabalhar (14h:55), logo sem a disponibilidade mental e a atenção que o cante requer (não se devendo esquecer as pessoas que exercem funções não compatíveis com a escuta de rádio, que não são poucas). A culpa do miserabilismo da rádio estatal no que ao cante diz respeito não pode, evidentemente, ser assacada a Armando Carvalhêda, pois o seu exíguo apontamento tem de abranger toda a música tradicional portuguesa e os horários de transmissão não são sua responsabilidade. As contas têm de ser pedidas a Rui Pêgo (director de programas) e a António Luís Marinho (director-geral de conteúdos) pelo desprezo e marginalização a que têm votado a música popular portuguesa (a tradicional e a de autor naquela inspirada). A este propósito, convém lembrar que foram eles mesmos que, de forma prepotente e afrontosa, decidiram suprimir da grelha da Antena 1 o programa que, desde que começou no dealbar dos anos 80, sempre acarinhou o cante. E não só o cante – também as outras modalidades da tradição oral alentejana: as modas acompanhadas à viola campaniça, o canto ao despique conhecido como "baldão" e as saias do Alto Alentejo, sem esquecer a poesia dita. Referimo-nos, como era fácil de intuir, ao maravilhoso "Lugar ao Sul", de Mestre Rafael Correia. Veículo de divulgação da cultura tradicional portuguesa, de todo o território continental e insular, se bem que com maior incidência no Algarve e na grande planície transtagana, o programa tornou-se ele mesmo património – porque de todo insubstituível e porque o seu vasto arquivo é um precioso e inestimável repositório da nossa memória popular. Importa pois resgatá-la às teias de aranha e trazê-la para a luz do éter (cf. É preciso resgatar a memória do "Lugar ao Sul").
À laia de ilustração do cante (porque mais importante do que discorrer sobre dele é ouvi-lo), aqui se apresenta a moda "Alentejo, Alentejo", pelo Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa. A letra principia com a célebre quadra da terra («Eu sou devedor à terra, / A terra me está devendo; / A terra paga-me em vida, / Eu pago à terra em morrendo.»), que esteve em destaque em, pelo menos, uma emissão do "Lugar ao Sul". Foi aí, aliás, que o escrevente destas linhas tomou contacto com ela e lhe ficou indelevelmente gravada na mente.
Nesta gravação, a força que emana das vozes em uníssono – um uníssono vibrante e arrebatador – é tal que nos põe em pele de galinha e nos deixa os olhos marejados. Um portento! O cante da margem esquerda no seu máximo esplendor!
Fica, desde já, manifestada a intenção de voltarmos ao canto alentejano para o celebrar mais amplamente e, desse modo, rendermos a devida homenagem a uma boa plêiade de grupos corais (masculinos, femininos e mistos).



Alentejo, Alentejo



Letra e música: Popular (Alentejo)
Intérprete: Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa* (in CD "Serpa de Guadalupe", Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, 2000)


Eu sou devedor à terra,
A terra me está devendo;
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo.

Alentejo, Alentejo,
Terra sagrada do pão!
Hei-de ir ao Alentejo,
Mesmo que seja no Verão,

Ver o doirado do trigo
Na imensa solidão.
Alentejo, Alentejo,
Terra sagrada do pão!


* Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa:
Carlos Carrasco, Carlos Paraíba, Domingos Rijo, Francisco Torrão, João Manuel, João Neca, Luís Ferreira, Luís Neves, Mário Apolinário, Vicente Cachopo, José Gonçalves, Manuel Mamede, António Gato, Carlos Fava, José da Graça, João Martins, António Lourenço, António Evaristo, José António, José Filipe, José Maria, Matias Galego, Domingos Camões, Hélder Ferreira, Leonel Patrício
Direcção – Francisco Torrão

Gravado na Casa do Povo de Serpa, a 27 de Fevereiro de 2000
Técnico de som – Rui Guerreiro (MG Estúdio), assistido por Luís Melgueira
Misturado no MG Estúdio, Beja
URL: http://www.cm-serpa.pt/artigos.asp?id=1146
http://www.luardameianoite.pt/bd/cd/info/info28.html
http://www.joraga.net/gruposcorais/pags00/097SerpaCasaPovo.htm



Capa do CD "Serpa de Guadalupe", do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa (2000)