Anteontem, dia 1 de Março, passaram 10 anos sobre da morte de Vergílio Ferreira. A Antena 1 dedicou à efeméride um pequeno apontamento, realizado por Ana Aranha, transmitido no programa da manhã. Pareceu-me muito pouco porque Vergílio Ferreira, indubitavelmente um dos escritores mais importantes do século XX, merecia algo mais do que uma breve e diminuta evocação. Tenho reparado que sob a direcção de Rui Pêgo há um reforço das promoções a determinados espectáculos e eventos culturais – o que se aplaude – mas a rádio, por si mesma, tem também uma função cultural. É muito redutor para o serviço público de rádio limitar-se a fazer referência a actividades extra-muros e menosprezar a componente cultural nas suas emissões. Neste contexto, parece-me muito grave a escassez de programas culturais (não musicais) nas actuais grelhas dos canais da RDP, designadamente na Antena 2. O programa "Um Certo Olhar" dá conta da actividade cultural e aborda algumas temáticas humanísticas e científicas – um pouco ao correr da pena – mas embora não seja avesso à existência de um magazine cultural diário, confesso que preferia continuar a contar com o programa "A Força das Coisas" nas tardes de sábado, pelo momento de calma e reflexão que proporcionava sobre vários aspectos da contemporaneidade. Também se faz sentir a falta de programas específicos em cada uma das várias áreas do saber, que tratem os assuntos com mais profundidade e sem constrangimentos de tempo e num horário adequado. É de lamentar que tenha desaparecido o hábito de fazer ciclos temáticos, mas mais grave ainda é não haver espaços de divulgação cultural, que não se limitem a tratar da actualidade. É importante que haja magazines do tipo "Seara de Sons" e "Escrita em Dia", mas não se pode olvidar programas que dêem ao ouvinte uma perspectiva histórica e abrangente das várias temáticas. Por outro lado, há potencialidades intrínsecas à rádio que ela pode explorar como nenhum outro meio, designadamente no campo da oralidade. Mas por mais absurdo que possa parecer, as artes por excelência da oralidade – poesia e teatro – estão a ser alvo de um vil desprezo pelo serviço público de rádio. A poesia resume-se a uma fugaz rubrica ("Os Sons Férteis") e ainda por cima num horário impróprio. E onde está o teatro radiofónico?
Na área das evocações existiu durante vários anos um programa justamente intitulado "Evocações", de meia hora de duração e que era emitido ao fim-de-semana. Em meados de 2005 foi abruptamente abolido sob o pretexto da entrada em vigor da grelha de Verão e nunca mais voltou à antena. Porquê? Um ano tem 52 semanas e em cada uma delas há sempre um evento (nascimento ou morte de uma personalidade, acontecimento histórico, etc.) digno se ser evocado. Se a actual direcção não quer aproveitar os recursos humanos que tem à disposição para a produção e realização de programas culturais, ao menos que faça uso do rico e extenso arquivo histórico. No caso concreto de Vergílio Ferreira, há certamente material de interesse que seria pertinente pôr no ar. Em alguns países europeus como a França e a Grã-Bretanha, a par de um canal dedicado à música clássica existe um canal cultural. Como isso não acontece em Portugal, cabe à Antena 2 desempenhar esse papel.
03 março 2006
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1 comentário:
O Páginas de Português também foi dedicado a Vergílio Ferreira.
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