01 outubro 2018

Pedro Barroso: "Música de Mar"


John William Waterhouse, "A Mermaid" ("Uma Sereia"), 1900, óleo sobre tela, 96,5 x 66,6 cm, Royal Academy of Arts, Londres


Para celebrar este Dia Mundial da Música trazemos uma belíssima canção do repertório de Pedro Barroso: "Música de Mar", com poema do cantor sobre música do basco Imanol. Faz parte do LP "Pedro Barroso", publicado em 1988, e que – lamentavelmente – ainda não teve edição em CD. Nessa medida é uma pérola perdida no vinil, se bem que em álbuns do cantautor já reeditados ou originalmente editados em disco compacto abundem pérolas 'perdidas'. Neste caso, porque não são tomadas em consideração pelos indivíduos que gerem as 'playlists', seja por não as conhecerem seja por terem um atávico e pacóvio preconceito contra Pedro Barroso e outros categorizados artistas portugueses. Isto é grave nas rádios privadas mas assume especial gravidade na estação pública, a qual os cidadãos são chamados a financiar, através da chamada contribuição do audiovisual, no pressuposto de nela poderem ouvir o que de melhor se produziu e produz no país em matéria de música. O vazadouro de lixo sonoro em que 'playlist' da Antena 1 foi transformada subverte, como é bom de ver, esse contrato tácito. Perante esta insustentável realidade, de que está à espera quem tem por competência escrutinar e avaliar o serviço (ou a falta dele) que a Antena 1 presta no domínio da música?



Música de Mar



Poema: Pedro Barroso
Música: Imanol (Manuel Eusebio Larzábal Goñi, 1947-2004)
Intérprete: Pedro Barroso* (in LP "Pedro Barroso", Schiu!/Transmédia, 1988)




[instrumental]

Tão bonita és, tão bonita estás,
tão bonita és, como vais?
Paro p'ra te ver para lá do olhar
e param-me as mãos a pensar.

Tão pura, tão simples, tão meiga de ouvir:
canto de embalar e dormir,
eixo ribaldeixo como a cantilena
que tu soletraste em pequena.

Tão bonita és, tão bonita estás,
tão bonita és, como vais?
Quando nos invades, quando nos tormentas,
risos, choros, silêncios inventas.

Música e amante mal te conheci,
três vidas num instante vivi;
música de mar que nas ondas vem
toca-me nos dedos também!

[instrumental]

Tão bonita és, tão bonita estás,
tão bonita és, como vais?
Como hei-de compor, como hei-de cantar
tanto qu'inda tens p'ra me dar?

Como uma criança canta a tabuada
e junta três sons encantada,
assim te encontramos a ti, melodia,
nós que cinzentamos o dia.

Tão bonita és, tão bonita estás,
tão bonita és, como vais?
Viril, feminina, velhota ou senhora,
riso de menina e doutora.

Nua te despi, nua te deixei
e entre sol e lua cantei.
Como poderemos nós falar de ti
se andamos tão longe e tu aqui?!


* Pedro Barroso – voz, 2.ª voz e viola
Carlos Carlos – acordeão
José Carlos Gonçalves – violoncelos
Pedro Fragoso – viola campaniça
Arranjo – Pedro Barroso, com a colaboração colegial de todos os músicos
Produção e direcção musical – Pedro Barroso
Gravado nos Estúdios Musicorde, Lisboa
Engenheiro de som – Rui Remígio



Capa do LP "Pedro Barroso" (Schiu!/Transmédia, 1988)
Concepção – Mestre Martins Correia

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