13 outubro 2018

António Fragoso: centenário da morte


© AAF, 2009


António Fragoso tinha a envergadura necessária para se tornar o maior compositor português de todos os tempos. […] morrer aos vinte e um anos é quase não ter vivido.
                PEDRO DE FREITAS BRANCO, maestro


Filho de Viriato de Sá Fragoso e de Maria Isabel de Sá Lima Fragoso, António Fragoso nasceu a 17 de Junho de 1897, na freguesia da Pocariça, concelho de Cantanhede, onde viria a falecer a 13 de Outubro de 1918, vitimado pela gripe pneumónica que nessa época se abateu sobre toda a Europa.
A sua vocação para a música foi evidenciada logo aos seis anos de idade, quando começou a aprender a ler pautas e a tocar piano com António dos Santos Tovim, seu tio e médico em Cantanhede, figura com vasta cultura musical que teve uma influência marcante nesses primeiros anos da sua formação musical. Entre 1907 e 1914, concluiu na cidade do Porto o curso geral dos liceus e os dois primeiros anos do Curso Superior de Comércio, sem nunca ter deixado de aprofundar os seus estudos de piano, agora sob a orientação do Prof. Ernesto Maia. Aos 16 anos, publicou e deu a primeira audição da sua primeira composição – "Toadas da Minha Aldeia" – muito aplaudida pela crítica musical. Algumas notas biográficas referem que teve de vencer uma certa resistência dos pais para se matricular no Conservatório Nacional de Música de Lisboa, que viria a frequentar até 1918, ano em que obteve o diploma do Curso Superior de Piano com 20 valores, a classificação máxima.
Ainda como estudante iniciou um percurso artístico amplamente reconhecido nos círculos culturais do país, não apenas como exímio pianista, mas também como compositor, ao ponto de ser considerado pelos críticos da época como «um dos mais poderosos talentos da sua geração». João de Freitas Branco refere mesmo que entre as suas peças «se encontram páginas surpreendentes num compositor com menos de 21 anos».
Geralmente, os musicólogos destacam do conjunto da sua obra os "Prelúdios" e a "Petite Suite" para piano, os lieder para canto e piano, as partituras de música de câmara e os Nocturnos, sendo o "Nocturno em Ré bemol maior" considerada a peça mais emblemática do seu imenso talento como compositor. [Fonte: site da Associação António Fragoso]

No dia em que se completa um século sobre a morte (muito prematura) do compositor António Fragoso, rendemos homenagem à sua memória apresentado uma bela canção saída do seu punho e que não podia vir mais a propósito na presente estação: "Chanson d'Automne", sobre poema do simbolista francês Paul Verlaine, aqui na interpretação do tenor Carlos Guilherme e do pianista Armando Vidal.
Em complemento, pensando naqueles que desejem conhecer o fugaz mas fulgurante percurso artístico de António Fragoso, deixamos ao fundo os links dos treze episódios da série "António Fragoso – Biografia Musical", da autoria de Margarida Prates, que a Antena 2 emitiu durante o primeiro trimestre de 2018 no espaço "Caleidoscópio". Perdoe-se o tom professoral de quem está a dar aulas a crianças da instrução primária!



Chanson d'Automne



Poema: Paul Verlaine (in "Poèmes Saturniens", Paris: Alphonse Lemerre, 1866) [tradução em português >> abaixo]
Música: António Fragoso (in "Poèmes Saturniens", 1917)
Intérpretes: Carlos Guilherme & Armando Vidal* (in CD "A Canção Portuguesa", Numérica, 1998)




[instrumental]

Les sanglots longs
Des violons
     De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
     Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
     Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
     Et je pleure;

Et je m'en vais
Au vent mauvais
     Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
     Feuille morte.

[instrumental]


* Carlos Guilherme – voz (tenor)
Armando Vidal – piano
Gravado no Aurastudio, Paços de Brandão - Santa Maria da Feira, em Janeiro de 1996
Engenheiros de som – Jorge Fidalgo e Fernando Rocha
Mistura – Jorge Fidalgo
Montagem – Fernando Rocha



CANÇÃO DE OUTONO

(Paul Verlaine, trad. Paulo Mendes Campos)
[outras propostas de tradução em: http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet312.htm]


Os longos trinos
Dos violinos
     Do outono
Ferem minh'alma
Com uma calma
     Que dá sono.

Ao ressoar
A hora, alvar,
     Sufocado,
Choro os errantes
Dias distantes
     Do passado.

E em remoinho,
O ar daninho
     Me transporta
De cá p'ra lá,
De lá p'ra cá,
     Folha morta.



Capa do CD "A Canção Portuguesa", de Carlos Guilherme & Armando Vidal (Numérica, 1998)


ANTÓNIO FRAGOSO – BIOGRAFIA MUSICAL
Autora: Margarida Prates
Ep. 1 | 06 Jan. 2018 [>> RTP-Play]
De 1897 a 1913: nascimento de um artista.

Ep. 2 | 13 Jan. 2018 [>> RTP-Play]
De 1913 a 1914: primeiros rasgos de criação.

Ep. 3 | 20 Jan. 2018 [>> RTP-Play]
1914: O 1.° semestre no Conservatório de Música de Lisboa.

Ep. 4 | 27 Jan. 2018 [>> RTP-Play]
1915: Construindo uma carreira musical (I).

Ep. 5 | 03 Fev. 2018 [>> RTP-Play]
1915: Construindo uma carreira musical (II).

Ep. 6 | 10 Fev. 2018 [>> RTP-Play]
1916: O afirmar de um talento (I).

Ep. 7 | 17 Fev. 2018 [>> RTP-Play]
1916: O afirmar de um talento (II).

Ep. 8 | 24 Fev. 2018 [>> RTP-Play]
1916/1917: Consolidação do nome António Fragoso no meio musical (I).

Ep. 9 | 03 Mar. 2018 [>> RTP-Play]
1916/1917: Consolidação do nome António Fragoso no meio musical (II).

Ep. 10 | 10 Mar. 2018 [>> RTP-Play]
1916/1917: Consolidação do nome António Fragoso no meio musical (III).

Ep. 11 | 17 Mar. 2018 [>> RTP-Play]
1917: A afirmação de António Fragoso como pianista solista e de música de câmara.

Ep. 12 | 24 Mar. 2018 [>> RTP-Play]
1918: O exame final de piano.

Ep. 13 | 31 Mar. 2018 [>> RTP-Play]
1918: Últimas obras compostas.





Casa e busto de António Fragoso na localidade de Pocariça, concelho de Cantanhede.
O busto, concebido pelo escultor Cabral Antunes, foi inaugurado a 13 de Outubro de 1968, assinalando o cinquentenário da morte do compositor.

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