21 junho 2013

Revisitando "Os Dias da MadreDeus"


© Álvaro Rosendo
Da esquerda para a direita: Pedro Ayres Magalhães, Rodrigo Leão, Gabriel Gomes, Teresa Salgueiro e Francisco Ribeiro (fotografia de Álvaro Rosendo, 1987)
[defronte ao portal da antiga igreja do convento de Xabregas / Teatro Ibérico]


«Há pouco mais de um quarto de século, trabalhava eu na maior editora de música portuguesa [Valentim de Carvalho], participei numa reunião muito acalorada. Tudo, claro, por causa de um disco...»
Assim começa David Ferreira a contar a história do nascimento e primeiros passos dos Madredeus, o nome da música portuguesa que, depois de Amália Rodrigues, maior projecção alcançou além-fronteiras. É uma história repartida por seis capítulos cuja audição se recomenda vivamente, quer aos admiradores do grupo, quer àqueles que, em razão da jovem idade, não conheçam a obra da fase inicial. E com a vantagem de ser contada por alguém que fala com conhecimento de causa.


DAVID FERREIRA A CONTAR | 15 Fev. 2013
I - Nos bastidores do lançamento de um disco estranho
http://www.rtp.pt/play/p955/e108071/david-ferreira-a-contar

DAVID FERREIRA A CONTAR | 18 Fev. 2013
II - O novo grupo de Pedro Ayres e Rodrigo Leão
http://www.rtp.pt/play/p955/e108246/david-ferreira-a-contar

DAVID FERREIRA A CONTAR | 19 Fev. 2013
III - Os Dias da MadreDeus
http://www.rtp.pt/play/p955/e108443/david-ferreira-a-contar

DAVID FERREIRA A CONTAR | 20 Fev. 2013
IV - As primeiras viagens dos Madredeus
http://www.rtp.pt/play/p955/e108527/david-ferreira-a-contar

DAVID FERREIRA A CONTAR | 21 Fev. 2013
V - Madredeus: "Existir"
http://www.rtp.pt/play/p955/e108631/david-ferreira-a-contar

DAVID FERREIRA A CONTAR | 22 Fev. 2013
VI - Madredeus à conquista do mundo
http://www.rtp.pt/play/p955/e108742/david-ferreira-a-contar


Esta justíssima evocação do grupo Madredeus teve o bendito condão de levar-me a revisitar esse fabuloso álbum inaugural, "Os Dias da MadreDeus". O mais genuíno, inspirado e arrebatador de toda a discografia do grupo que revelou a bela e portentosa voz de Teresa Salgueiro e que, nas palavras de Jorge Pires (in "Madredeus: Um Futuro Maior", 1995), «além de ser aquele que lançou a semente à terra, é um disco que ainda hoje mantém alguns dos melhores momentos da sua criação. Totalmente descomprometido ante estratégias que não as que levavam directamente à música, encerra pérolas que estabelecem um equilíbrio irrepetível entre fragilidade e rudeza, entre inocência e solenidade, e que na sua beleza são plenamente capazes de provocar arrepios na espinha a quem as ouça». Lamentavelmente, nem sequer uma dessas pérolas figura na 'playlist' da RDP-Antena 1, apesar da obrigação que tem, legalmente estipulada, de divulgar o nosso património musical mais valioso e perene. Aliás, os Madredeus (com Teresa Salgueiro, bem entendido) têm sido muito mal tratados pela rádio estatal nos últimos anos. Nada mais além de "Alfama" (do álbum "Ainda") e da versão electrónica de "Haja o Que Houver"... Razão bastante para que o blogue "A Nossa Rádio" empreenda o serviço público de "trazer para a luz do dia" as pérolas mais esplendorosas d' "Os Dias da MadreDeus", fazendo justiça a esse auspicioso trabalho e aos músicos que, com muito amor e entrega, o realizaram: Maria Teresa Salgueiro (voz), Pedro Ayres Magalhães (guitarra clássica), Rodrigo Leão Muñoz (teclados), Gabriel Gomes (acordeão) e Francisco Ribeiro (violoncelo).



Capa do duplo LP "Os Dias da MadreDeus" (EMI-VC, Dezembro de 1987)
Concepção – Pedro Ayres Magalhães, sobre uma aguarela de José Alexandre Gonefrey
Fotografia – Luís Ramos.



A Sombra (à memória de António Variações)



Letra e música: Pedro Ayres Magalhães
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 1, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)




[instrumental]

Anda pela noite só
Um capote errante, ai, ai
E uma sombra negra cai, em redor
Do homem no cais

Das ruas antigas vem
Um cantar distante ai, ai
E ninguém das casas sai, por temor
Dos passos no cais

Se eu cair ao mar, quem me salvará?
Lalalala...
Que eu não tenho amigos, quem é que será?
Lalalala...
Ai ó solidão, que não andas só!
Lalalala...
Anda lá à vontade, mas de mim tem dó!...

Lalalala...
Lalalala...

Cantar, sempre cantou
Jamais esteve ausente, ai, ai
E uma vela branca vai, por amor
Largar pela noite

Se eu cair ao mar, quem me salvará?
Lalalala...
Que eu não tenho amigos, quem é que será?
Lalalala...
Ai ó solidão, que não andas só!
Lalalala...
Anda lá à vontade, mas de mim tem dó!...

Lalalala...
Lalalala...

[instrumental]



As Montanhas



Música: Gabriel Gomes
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 1, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)




(instrumental)



A Vaca de Fogo



Letra: Pedro Ayres Magalhães
Música: Gabriel Gomes e Pedro Ayres Magalhães
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 1, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)




[instrumental]

À porta
Daquela igreja
Vai um grande corrupio
À porta
Daquela igreja
Vai um grande corrupio
Às voltas
Duma coisa velha
Reina grande confusão
Às voltas
Duma coisa velha
Reina grande confusão

Os putos
Já fogem dela
Deita o fogo a rebentar
Os putos
Já fogem dela
Deita o fogo a rebentar
Soltaram
Uma vaca em chamas
Com um homem a guiar
Soltaram
Uma vaca em chamas
Com um homem a guiar

São voltas
Ai amor são voltas
São as voltas
São as voltas da maralha
Ai são voltas
Ai amor são voltas
São as voltas da canalha
Ai são voltas
Sete voltas
São as voltas da maralha
Ai são voltas
Sete voltas
São as voltas da canalha

[instrumental]

À porta
Daquela igreja
Vive o ser tradicional
À porta
Daquela igreja
Vive o ser tradicional
Às voltas
Duma coisa velha
E não muda a condição
Às voltas
Duma coisa velha
E não muda a condição

À porta
Daquela igreja
Vai um grande corrupio
À porta
Daquela igreja
Vai um grande corrupio
Às voltas
Duma coisa velha
Reina grande confusão
Às voltas
Duma coisa velha
Reina grande confusão

São voltas
Ai amor são voltas
São as voltas
São as voltas da maralha
Ai são voltas
Ai amor são voltas
São as voltas da canalha
Ai são voltas
Sete voltas
São as voltas da maralha
Ai são voltas
Sete voltas
São as voltas da canalha

[instrumental]



A Estrada do Monte



Letra: Pedro Ayres Magalhães
Música: Rodrigo Leão e Pedro Ayres Magalhães
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 1, EMI-VC, 1987)




Não digas nada a ninguém
Que eu ando no mundo triste
A minha amada, que eu mais gostava,
Dançou, deixou-me da mão
Eu a dizer-lhe que a queria
Ela a dizer-me que não
E a passarada
Não se calava
Cantando esta canção

Sim, foi na estrada do monte
Perdi o teu grande amor
Sim, ali ao pé da fonte
Perdi o teu grande amor

Ai que tristeza que eu sinto
Fiquei no mundo tão só
E aquela fonte ficou manchada
Com tanto que se chorou
Se alguém aqui nunca teve
Uma razão p'ra chorar
Siga essa estrada
Não custa nada
Que eu fico aqui a cantar

Sim, foi na estrada do monte
Perdi o teu grande amor
Sim, ali ao pé da fonte
Perdi o teu grande amor

[vocalizos / instrumental]



A Península



Música: Rodrigo Leão, Pedro Ayres Magalhães e Gabriel Gomes
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 1, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)


(instrumental)



Adeus... e Nem Voltei



Letra e música: Pedro Ayres Magalhães
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 1, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)




[instrumental]

"Adeus" dissemos
E nada mais de então ficou;
De asas quebradas
Foi a ave branca que voou;
Voa lá alto, que eu morro, bem sei, sem voltar;
Cantem as aves do monte que eu fui ver o mar...

Ai, não sei de mim;
Ai, não sinto nada...
Ai, e nem voltei.

[instrumental]

Voa lá alto, que eu morro, bem sei, sem voltar;
Cantem as aves do monte que eu fui ver o mar...

Ai, não sei de mim;
Ai, não sinto nada...
Ai, e nem voltei.



A Cantiga do Campo



Poema: Gomes Leal (excerto) [texto integral >> abaixo]
Música: Rodrigo Leão e Pedro Ayres Magalhães
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 1, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)




[instrumental]

Porque andas tu mal comigo,
Ó minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!

[instrumental]

Quando entre as mais raparigas
Vais cantando entre as searas,
Eu choro, ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noites claras!

Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!

E falam com tristes vozes
Do teu amor singular
Àquela casa onde coses,
Com varanda para o mar.

Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!

Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!

[instrumental]

Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!

[instrumental]



CANTIGA DO CAMPO

(Gomes Leal, in "Claridades do Sul", Lisboa: Braz Pinheiro, 1875; Lisboa: Assírio & Alvim, col. Obras Clássicas da Literatura Portuguesa – Século XIX, edição de José Carlos Seabra Pereira, 1998)


                  Como eu adoro as tuas "simplicidades"!
                                                HEINE

Porque andas tu mal comigo,
Ó minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!

Quando entre as mais raparigas
Vais cantando entre as searas,
Eu choro, ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noites claras!

Os que andam na descamisa
Gabam a viola tua,
Que, às vezes, ouço na brisa
Pelos serenos da lua.

E falam com tristes vozes
Do teu amor singular
Àquela casa onde coses,
Com varanda para o mar.

Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!

E andar contigo, ó meu pomo,
Exposto às chuvas e aos sóis!
E uma noite morrer como
Se morrem os rouxinóis!

Morrer chorando, num choro
Que mais as mágoas consola,
Levando só o tesouro
Da nossa triste viola!

Porque andas tu mal comigo,
Ó minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!



A Marcha da Oriental



Música: Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 2, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)


(instrumental)



Fado do Mindelo



Letra: António Jorge Pacheco e Pedro Ayres Magalhães
Música: Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 2, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)


Mindelo, minh'alma chora
e eu estou triste
o amor demora

Mindelo, já não existe
minh'alma chora
e o mar assiste

Mindelo, o amor é isto
não tem demora
porque eu insisto

Mindelo, mar a bater
e o meu amor
anda a sofrer
Mindelo, conta comigo
que eu vivo e tudo
espera por mim

[instrumental]

Mindelo, mar a bater
e o meu amor
anda a sofrer
Mindelo, conta comigo
que eu vivo e tudo
espera por mim

[instrumental]

Mindelo, mar a bater
e o meu amor
anda a sofrer
Mindelo, conta comigo
que eu vivo e tudo
espera por mim



A Cidade



Letra: Francisco Menezes e Pedro Ayres Magalhães
Música: Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 2, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)


[instrumental]

Esta saudade
Não tem idade
Não tem idade
Esta saudade
Esta saudade

Esta cidade
Não tem idade
Não tem idade
Ai, esta cidade
Ai, esta cidade

[instrumental]

Esta saudade
Não tem idade
Não tem idade
Esta saudade
Esta saudade

Esta cidade
Não tem idade
Não tem idade
Ai, esta cidade
Ai, esta cidade

[instrumental]



A Andorinha



Música: Pedro Ayres Magalhães
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 2, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)




(instrumental)



Amanhã



Letra: Pedro Ayres Magalhães
Música: Pedro Ayres Magalhães, Rodrigo Leão e Gabriel Gomes
Intérprete: Madredeus* (in 2LP "Os Dias da MadreDeus": LP 2, EMI-VC, 1987, reed. EMI-VC, 1988)


[instrumental]

A vida não me larga
O mundo não me foge
A estrada é grande e larga
E eu levo o albornoz
Caminho à luz do dia
Por campos e montanhas
E bebo a água fria
E a sede não me apanha
E o céu ali é lindo
Azul, e eu não resisto
Ao céu, ao céu profundo
Distante
E eu insisto

[instrumental]

Caminho à lua nova
Caminho à lua cheia
Caminho à lua nova
E a sede não me apanha
Caminho à lua nova
Caminho à lua cheia
Caminho à lua nova
E a sede não me apanha
E o céu ali é lindo
Azul, e eu não resisto
Ao céu, ao céu profundo
Distante
E eu insisto

[instrumental]

Amanhã
Amanhã
Amanhã
Amanhã
Amanhã
Amanhã
Amanhã
Amanhã

[instrumental]


* Madredeus:
Maria Teresa Salgueiro – voz
Pedro Ayres Magalhães – guitarra clássica
Rodrigo Leão Muñoz – teclados
Gabriel Gomes – acordeão
Francisco Ribeiro – violoncelo

Concepção de projecto – Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão
Produção artística e direcção dos arranjos – Pedro Ayres Magalhães
Assistência de produção na gravação – Pedro Bidarra de Almeida
Gravado na antiga igreja do Convento de Xabregas / Teatro Ibérico, Lisboa, nos dias 28, 29 e 30 de Julho de 1987
Técnicos de gravação – Pedro Vasconcelos e Miguel Gonçalves
URL: http://anos80.no.sapo.pt/madredeus.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Madredeus
http://www.infopedia.pt/$madredeus
http://www.madredeus.pt/
http://www.facebook.com/MadredeusOfficial
http://myspace.com/madredeuspt
http://www.youtube.com/user/MadredeusVEVO
http://rubicat2.paginas.sapo.pt/index.html
http://palcoprincipal.sapo.pt/bandasMain/madredeus
http://cotonete.iol.pt/artistas/home.aspx?id=1618
http://www.last.fm/pt/music/Madredeus



Capa do livro "Madredeus: Um Futuro Maior", de Jorge Pires (Temas & Debates, 1995)

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