17 junho 2013

Publicidade comercial na rádio pública (III)



Rui Pêgo, um indivíduo "nado e criado" em rádios comerciais, mal foi posto a mandar na Antena 1 não descansou enquanto a não infestou com essa autêntica praga que são os cartuchos de 'spots' promocionais religiosamente disparados duas vezes em cada hora (aos 20 e aos 40 minutos) ou imediatamente antes de programas de autor. Se já é grande a minha aversão a essa e a outras formas de poluição sonora na rádio pública, fico deveras irritado, e com o sentimento de estarem a gozar com a minha cara de pagante de uma taxa obrigatória, quando sou bombardeado com publicidade a marcas comerciais e/ou a empresas com fins lucrativos. Foi o que aconteceu ontem (ou melhor, hoje, pois já tinham soado as badaladas da meia-noite de domingo), antes de começar mais uma emissão de fim-de-semana do programa "Alma Lusa", com um despudorado anúncio à marca Continente a pretexto de um concurso de imitadores do cantador Tony Carreira a ter lugar no programa "Praça da Alegria", da RTP-1, iniciativa essa patrocinada pela referida cadeia de super/hipermercados. Por princípio, não discordo de que a rádio pública promova programas dos canais televisivos do mesmo grupo empresarial, a Rádio e Televisão de Portugal, desde que tal se faça com sensatez e bom gosto (portanto, na observância de escrupulosos e rigorosos critérios de qualidade) e – muito importante – que haja reciprocidade, isto é, que as antenas de rádio e respectivos programas sejam igualmente promovidos nos canais televisivos. Usar a Antena 1 para promover telelixo da RTP-1 e à boleia publicitar uma marca comercial é um procedimento claramente abusivo e falho de ética – por desrespeito pelos ouvintes/contribuintes e por infringir grosseiramente o estatuto que rege as rádios do serviço público (cláusula 10.ª do Contrato de Concessão do Serviço Público de Radiodifusão Sonora). Presumo que o principal responsável por esta obscena promiscuidade seja o director-geral de conteúdos, António Luís Marinho. Eu pergunto: será que o sujeito anda em roda-livre e quem está acima dele se demite do dever de o controlar e de lhe refrear os desmandos?

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