27 julho 2012

"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (V)

A edição do programa "A Vida dos Sons" relativa ao ano de 1972 teve, também, o triste condão de pecar por defeito em matéria cultural.
Tivemos:

1. Notícia do surgimento de um novo jornal, o semanário "Expresso", que começará a sair para as bancas a 6 de Janeiro de 1973; transmissão de um excerto da entrevista concedida pelo seu fundador e proprietário, Francisco Pinto Balsemão, a Maria Leonor;
2. Transmissão, em jeito de ilustração sonora do ponto anterior, e sem qualquer outra referência, de um excerto do tema "Maré Alta", de Sérgio Godinho [>> YouTube];
3. Transmissão de trechos do tema "Sunday Bloody Sunday" (1983), dos U2 [>>
YouTube] [ao vivo >> YouTube] a pontuar o texto no qual se tratou do massacre de catorze manifestantes irlandeses desarmados, por tropas paraquedistas britânicas, em Derry, no dia 30 de Janeiro de 1972, que ficará conhecido como Domingo Sangrento;
4. Transmissão de um excerto do tema "The End", dos Doors [>> YouTube], antecedendo a menção aos bombardeamentos norte-americanos sobre as cidades de Hanói e Haiphong, no Vietname do Norte;
5. Transmissão, sem identificação, do tema "Watergate Bugs", de e por Les Waldroop [>> YouTube], após a abordagem das operações de espionagem mandadas fazer por Richard Nixon na sede do Partido Democrático, conhecido como edifício Watergate, e que depois de publicamente denunciadas pelo jornal "The Washington Post" levarão à renúncia de Nixon da presidência dos E.U.A., a 8 de Agosto de 1974 [>> YouTube];
6. Transmissão do tema "Lágrima de Preta", por Manuel Freire [>> YouTube], depois de referida a aprovação pela Assembleia-Geral da ONU (com os votos contra, além de Portugal, dos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e África do Sul) de uma resolução incentivando os estados membros a prestarem auxílio aos movimentos de libertação das colónias portuguesas em África;
7. Transmissão de um excerto da entrevista concedida pelo escritor Jorge de Sena ao jornalista e poeta Leite de Vasconcelos, da Rádio Moçambique, que era para ser emitida no programa "A Noite e o Ouvinte", mas que foi proibida de ir para o ar;
8. Referência ao processo movido pelo regime de Marcello Caetano às autoras do livro "Novas Cartas Portuguesas" (1972), Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, por alegadamente ser «insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública» (
http://www.novascartasnovas.com/historia.html); transmissão de um excerto da entrevista concedida por Maria Teresa Horta a João Almeida, em 2007, para o programa "Quinta Essência" (Antena 2); ficou a faltar o depoimento, caso exista, de Natália Correia, na qualidade de directora literária da editora Estúdios Cor, que tendo sido pressionada para censurar o texto insistiu em publicá-lo na íntegra [programa "Ler Mais Ler Melhor", 2011 >> YouTube]; faltou também a leitura de uma passagem do livro; é de todo o interesse que sejam citados os títulos e respectivos autores, mas mais importante ainda é os ouvintes terem a noção dos conteúdos, quanto mais não seja para lhes aguçar o apetite para a leitura integral (http://issuu.com/novas_cartas_novas/docs/novas_cartas_portuguesas); não quero acreditar que as Sras. Ana Aranha e Iolanda Ferreira, quais zeladoras neo-salazaristas da moral pública, achem o texto impróprio para ser ouvido pelo público que em 2012 constitui o auditório da Antena 1 [um excerto lido em voz alta >> YouTube];
9. Referência à publicação em França do livro de Mário Soares "Le Portugal Bailloné" ("Portugal Amordaçado"), sob chancela da editora Calmann-Lévy; ficaram a faltar as palavras do autor e a menção do nome de Alain Oulman, pois foi graças a ele que a obra veio primeiramente a lume em terras gaulesas (
http://www.fmsoares.pt/mario_soares/textos_ms/005/8.pdf);
10. Referência ao falecimento da cantora norte-americana Mahalia Jackson e subsequente passagem de um depoimento da rainha dos espirituais negros; transmissão, a fechar, de um breve trecho do tema "Amazing Grace" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube].

Foram ignorados:

1. Falecimento do poeta, crítico literário e ensaísta Adolfo Casais Monteiro; formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na antiga Faculdade de Letras do Porto, onde teve como mestre Leonardo Coimbra, a quem viria a associar-se, no final dos anos 20, com Sant'Ana Dionísio, na direcção de "A Águia"; o seu nome encontra-se vinculado, porém, à história da revista "Presença", cuja direcção integrou, ao lado de José Régio e João Gaspar Simões, a partir de 1931, e em cujas edições publicou as suas primeiras colectâneas poéticas ("Confusão", 1929; "Poemas do Tempo Incerto", 1934; "Sempre e Sem Fim", 1937); forçado a abandonar o ensino em 1937, por motivos políticos, foi colaborador de inúmeras publicações periódicas; dirigiu, com António Pedro, o "Mundo Literário" (1946-47) e desenvolveu, até 1954, data do seu exílio no Brasil, uma intensa actividade como editor e como tradutor (Baudelaire, Charlotte Brontë, Erskine Caldwell, Alexis Carrel, George Eliot, Hemingway, Philippe Hériat, Kierkegaard, Jules Lachelier, Robert Margerit, Stendhal, Tolstoi, Henri Troyat); no Brasil, como professor universitário, continuou uma importante carreira como ensaísta, de que se destacam: por um lado, a divulgação e atento estudo da estética de Fernando Pessoa, cuja primeira edição da obra poética organizara com José Régio e João Gaspar Simões; e, por outro, a reflexão e teorização sobre o alcance do movimento da "Presença"; segundo Fernando J. B. Martinho, Adolfo Casais Monteiro foi, enquanto poeta, «não só dos mais tocados pela sombra de Pessoa, como também um dos poucos que soube, na sua geração, assimilar e ampliar o vector vanguardista do primeiro modernismo»; dois anos depois do seu falecimento, ocorrido na cidade brasileira de São Paulo, foi instituído, com o patrocínio da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Literário de Poesia Adolfo Casais Monteiro;
2. Falecimento do poeta e ensaísta norte-americano Ezra Pound; formado pela Universidade de Pensilvânia, em 1906, leccionou Românicas durante um breve período em Crawfordsville, Indiana, após o que viajou por Espanha, Itália e França; o seu primeiro livro de poemas, "A Lume Spento", foi publicado em Veneza em 1908; nesse ano fixou-se em Londres, onde travou conhecimento com alguns dos mais importantes poetas e escritores da época: Ford Madox Ford, James Joyce, Wyndham Lewis, W. B. Yeats e T. S. Eliot, entre outros; em 1909 publicou "Personae e Exultations", a que se seguiu um volume de ensaios críticos intitulado "The Spirit of Romance" (1910); conhecedor das literaturas europeia e oriental, Pound associou-se desde muito cedo à escola dos imagistas, que liderou de forma particularmente enérgica, até a abandonar em 1914; nos seus "Cantos", publicados numa longa série, entre 1917 e 1949, Pound procurou elaborar uma versão moderna da "Divina Comédia", de Dante; no ano de 1920, fixa-se em Paris, onde exerce grande influência em escritores compatriotas que aí viviam, como Hemingway, Gertrude Stein e F. Scott Fitzgerald; em 1924, radica-se em Itália, já com Mussolini no poder, de onde só sairá em 1939 para uma breve visita aos Estados Unidos a fim de ser doutorado honoris causa pelo Hamilton College, e depois, em 1945, quando é levado preso para os Estados Unidos a fim de ser julgado por alegada traição; a acusação de traição à pátria, formulada pelo Tribunal de Columbia, em 1943, baseou-se nas emissões que regularmente mantivera na rádio de Roma, em 1941-42, de apoio ao regime de Mussolini; a sua grande luta fora, porém, travada contra o materialismo e aquilo que designou por "usurocracia", que dominava o mundo (designadamente a América rooseveltiana) tendo encontrado no fascismo mussoliniano um antídoto que poderia ser eficaz; declarado louco, é internado no Hospital de Saint-Elizabeth, em Washington, não cessando de crescer ao longo dos anos um vasto movimento mundial a favor da sua libertação, o que vem a acontecer em 1958, com a justificação médica de «louco incurável mas inofensivo»; regressa então a Veneza, trabalhando, até à morte, nos "Cantos", a sua obra maior [>> YouTube]; a influência de Ezra Pound na produção poética de língua inglesa do século XX foi imensa, particularmente em T. S. Eliot, que submeteu o manuscrito da sua obra "The Waste Land" ("A Terra Devastada") à sua apreciação antes de o publicar (1922); as correcções feitas por Pound mereceram-lhe a dedicatória de Eliot: "For Ezra Pound, il miglior fabbro" ("A Ezra Pound, o melhor artífice");
3. Falecimento do poeta e escritor francês Jules Romains; é o criador do unanimismo, com a obra poética "La Vie Unanime", editada em 1908; a sua produção ficcional inclui os romances "Mort de Quelqu'un" (1911), "Les Copains" (1913), a trilogia romanesca "Psyché" ("Lucienne"; "Le Dieu des Corps"; "Quand le Navire...") (1922-1929) e o ciclo em 27 volumes "Hommes de Bonne Volonté" (1932-1946) no qual não há um herói preciso, mas a narração da vida de numerosas pessoas que ora se cruzam ora se afastam; dedicou-se também ao teatro, sendo de destacar a peça "Knock ou le Triomphe de la Médecine" (1923), que o consagrou como autor cómico e satírico;
4. Falecimento do antropólogo e paleoantropólogo britânico Louis Leakey; nascido em Kabete, no Quénia, cresceu entre os Kikuyu, tribo junto da qual os seus pais exerciam a missionação; depois de concluir os estudos em Inglaterra, voltou à África oriental para uma série de expedições arqueológicas, entre 1926 e 1935, com o propósito de estudar a sequência das culturas pré-históricas do Quénia; em 1937, inicia trabalhos de campo com a tribo Kikuyu, de que resulta a obra "Mau-Mau and the Kikuyu" (1952), pela qual obtém grande reconhecimento; as suas mais importantes descobertas arqueológicas e antropológicas viriam a ter lugar na Tanzânia, na garganta do Olduvai, a partir de 1951, onde trabalhou incessantemente, acompanhado de sua mulher, Mary Douglas Leakey, e dos filhos; de entre as suas mais reputadas descobertas, destacam-se os fósseis de um Australopitecus robustus (1,7 ou 1,6 milhões de anos), em 1959, e de um Homo habilis (entre 2 e 1,6 milhões de anos), em 1964, sendo este último considerado como um dos mais antigos ancestrais directos conhecidos do Homem; tais achados permitiram, entre outras ilações, confirmar África como o berço da Humanidade, comprovando a teoria darwiniana e corroborando as descobertas de Raymond Dart;
5. Falecimento do actor e cantor francês Maurice Chevalier; benjamim de nove irmãos, deixou de estudar aos onze anos de idade para trabalhar como operário; o seu primeiro contacto com o meio artístico foi como acrobata num circo, mas um acidente que lhe causou a fractura de um braço levou-o a abandonar as artes circenses; dedicou-se então às canções e rapidamente se tornou famoso no circuito dos cabarés parisienses e, em 1908, chegaria ao cinema, participando na curta-metragem "Trop Crédules"; quando eclodiu a I Guerra Mundial, era uma estrela das Folies-Bergère; é mobilizado, mas a sua recusa em combater acarreta-lhe o aprisionamento durante dois anos num campo militar na Alemanha; em 1917, começa a cantar no Casino de Paris e, em 1929, depois de numerosos convites, ruma a Hollywood, onde encanta os americanos com o seu timbre melodioso; recebe uma nomeação para o Óscar de Melhor Actor pela sua participação nos filmes de Ernest Lubitsch "O Grande Charco" ("The Big Pond", 1930) e "A Parada do Amor" ("The Love Parade", 1930) [>>
YouTube]; ficou célebre o seu dueto com Jeanette MacDonald, "We Will Always Be Sweethearts", no filme "Uma Hora Contigo" ("One Hour With You", 1932, de Ernest Lubitsch) [>> YouTube]; depois da II Guerra Mundial, o seu prestígio ficou algo beliscado devido a alegado colaboracionismo com os ocupantes nazis; continuou a filmar regularmente no país natal e nos E.U.A. sendo de destacar "Gigi" (1958, de Vincente Minnelli) [>> YouTube] [>> YouTube], "Can-Can" (1960, de Walter Lang) [>> YouTube] e "Fanny" (1961, de Joshua Logan) [>> YouTube]; em 1958, foi-lhe atribuído um Óscar Honorário pelo seu meio século de contribuição para o mundo do espectáculo; do seu repertório musical, ficaram famosas as canções "Valentine" (1925) [>> YouTube], "Louise" (1929) [>> YouTube] e "Mimi" (1932) [>> YouTube];
6. Estreia do filme "O Padrinho" ("The Godfather"), de Francis Ford Coppola; é o filme que afirma Francis Ford Coppola como grande realizador de cinema e continua, ainda hoje, a ser o que melhor retrata a Máfia em terras do Tio Sam; o argumento, baseado no romance homónimo de Mario Puzo, publicado em 1969, gira em torno da família Corleone, de origem siciliana, que, entre 1945 e 1955, domina o submundo nova-iorquino: Don Vito Corleone (Marlon Brando) é o patriarca, o "padrinho" que se rege por um código de honra e de conduta muito próprio, em que os interesses da família são colocados ao mais alto nível [>>
YouTube]; com um elenco de luxo compreendendo, além do citado Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall e Diane Keaton, "O Padrinho" foi premiado com três Óscares – Melhor Filme, Melhor Actor (Marlon Brando) e Melhor Argumento Adaptado –, e alcançou um êxito enorme à escala mundial;
7. Estreia do filme "Cabaret", de Bob Fosse; baseado no musical estreado em 1966 na Broadway, por sua vez adaptado da novela "Goodbye to Berlin" (1939, de Christopher Isherwood) e da peça de teatro "I am a Camera" (1951, de John Van Druten), "Cabaret" (em Portugal, "Cabaret – Adeus Berlim") é o filme em que Liza Minnelli teve o melhor desempenho da sua carreira ao encarnar, de forma magistral, a dançarina e cantora Sally Bowles na Berlim do início dos anos 1930 (que lhe valeu o Óscar de Melhor Actriz) [>>
YouTube] [>> YouTube]; o filme arrebatou oito estatuetas douradas na cerimónia de entrega dos Óscares, tendo a curiosa particularidade de ser o filme mais oscarizado que não venceu na categoria de Melhor Filme (a estatueta foi para "O Padrinho", de Francis Ford Coppola);
8. Estreia do filme "Último Tango em Paris" ("Ultimo tango a Parigi" / "Le Dernier Tango à Paris"), de Bernardo Bertolucci; com Marlon Brando e Maria Schneider nos principais papéis, Bertolucci colocou em cena a sexualidade com uma crueza e intimidade inéditas para a época [>>
YouTube] [>> YouTube], o que o transformou "Último Tango em Paris" num filme-escândalo, a ponto de ser proibida a sua exibição em vários países (em Portugal, só seria estreado a 30 de Abril de 1974); destaque para a magnífica fotografia de Vittorio Storaro, na densificação do conteúdo emocional e na beleza de composição dos planos, e para a banda sonora de Gato Barbieri [>> YouTube];
9. Estreia do filme "Uma Abelha na Chuva", de Fernando Lopes; baseado no romance homónimo de Carlos de Oliveira, é um dos títulos de referência do novo cinema português, de que o próprio Fernando Lopes foi um dos iniciadores com "Belarmino" (1964) [>>
YouTube]; focado numa família da região da Gândara, "Uma Abelha na Chuva" retrata de forma assaz impressiva a difícil convivência entre duas classes sociais num mundo em transformação – a fidalguia empobrecida e os comerciantes abastados; digno de realce é o desempenho de Laura Soveral encarnando uma decadente mas orgulhosa fidalga naquele que foi um dos seus primeiros papéis no cinema [>> YouTube];
10. Estreia do filme "O Passado e o Presente", de Manoel de Oliveira; tendo como ponto de partida uma peça de Vicente Sanches (publicada em 1964), é a primeira longa-metragem de Manoel de Oliveira desde "Aniki Bobó" (1942) [>> YouTube] (de permeio apenas conseguira filmar curtas e médias metragens, como "As Pinturas do Meu Irmão Júlio" [>> YouTube] e "Acto da Primavera" [>> YouTube]) e inicia, nas palavras do realizador, a "tetralogia dos amores frustrados", continuada com "Benilde ou a Virgem-Mãe", "Amor de Perdição" e "Francisca"; foi também o primeiro filme produzido pelo Centro Português de Cinema, apoiado e financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, onde, desde 1969 e durante 22 anos, trabalhou João Bénard da Costa, como responsável pelo Sector de Cinema, departamento inserido no Serviço de Belas-Artes; Bénard da Costa, cinéfilo e futuro director da Cinemateca Portuguesa (sucedendo a Luís de Pina), marca a sua primeira presença nos filmes de Oliveira, num pequeno papel (Honório); sinopse: os ridículos, a incoerência, o parasitismo da alta burguesia; tudo gira em torno do desprezo de Vanda, uma jovem mulher, pelos vários maridos em vida, e a mórbida veneração que lhes dedica, uma vez viúva; resultado desta perpetuação do luto é, entre outros, que Vanda não tem vida sexual (a ameaça fálica é assim evitada de cada vez) [>>
YouTube] [>> YouTube] [>> YouTube];
11. Edição do álbum "Os Sobreviventes", de Sérgio Godinho; é o primeiro álbum de Sérgio Godinho (no ano anterior saíra o EP "Romance de um Dia na Estrada") que o afirma desde logo como um dos grandes escritores/intérpretes de canções em português; a gravação do disco fora feita em Abril de 1971 em Chateau d’Hérouville, arredores de Paris, no Stawberry Studio, o mesmo onde também foram gravados "Cantigas do Maio", de José Afonso, e "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", de José Mário Branco; aliás, Sérgio Godinho e José Mário Branco, ambos exilados em França, colaboraram mutuamente na gravação dos respectivos primeiros álbuns: Sérgio Godinho participou como segunda viola e nos coros, além de assinar quatro letras, no de José Branco e este, por sua vez, fez coros e tocou diversos instrumentos (piano, xilofone, órgão e viola) em "Os Sobreviventes"; no alinhamento figuram os seguintes temas: "Que Força é Essa?" [>>
YouTube], " A-A-E-I-O" [>> YouTube], "Descansa a Cabeça (Estalajadeira)", "Paula", "Que Bom Que É" [>> YouTube], "O Charlatão" [ao vivo no Coliseu dos Recreios, 28 Fev. 2004 >> YouTube], "Farto de Voar" [>> YouTube], "Senhor Marquês", "Cantiga da Velha Mãe e dos seus Dois Filhos", "A Linda Joana", "Romance de um Dia na Estrada" [>> YouTube] e "Maré Alta" [>> YouTube];
12. Edição do álbum "Margem de Certa Maneira", de José Mário Branco; é o segundo álbum de José Mário Branco, que sai em Dezembro de 1972, com selo da Guilda da Música/Sassetti; tal como sucedera com "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", o laboratório sonoro foi o Strawberry Studio, de Michel Magne (Chateau d’Hérouville, Paris), por onde tinham passado grupos como The Beatles, The Rolling Stones e Pink Floyd; em "Margem de Certa Maneira" podem ouvir-se de novo o baixo eléctrico de Christian Padovan e as percussões de Michel Delaporte, dois músicos franceses que, em 1971, sob a batuta de José Mário Branco, tinham contribuído para a inesquecível sonoridade do álbum "Cantigas do Maio", de José Afonso; no elenco de participações figuram também Denis Lable (guitarra acústica), Adriano Correia de Oliveira (coros), Mário Jorge (coros e palmas), Manuel Jorge Veloso (órgão, coros e palmas) e Isabel, então mulher do cantor (coros); os arranjos e direcção musical estiveram a cargo do próprio José Mário Branco, igualmente autor de todas as letras e músicas, excepto quando indicado: "Por Terras de França" [>>
YouTube], "Engrenagem" [>> YouTube], "Aqui Dentro de Casa" [>> YouTube], "Margem de Certa Maneira" [>> YouTube], "Cantiga da Velha Mãe e dos Seus Dois Filhos (Mãe Coragem)" (letra de Sérgio Godinho) [>> YouTube], "Sant'Antoninho" (música de Jean Sommer) [>> YouTube], "A Morte Nunca Existiu" (letra de António Joaquim Lança) [>> YouTube] e "Eh! Companheiro" (letra de Sérgio Godinho) [>> YouTube];
13. Edição do álbum "Eu Vou Ser como a Toupeira", de José Afonso; «Continuação lógica de "Cantigas do Maio", este disco surge numa fase de grande empenhamento político de Zeca – que pouco tempo depois o levará novamente à prisão de Caxias. Apresentado como um trabalho de grupo, com colaborações de Benedicto García, Carlos Alberto Moniz, Carlos Medrano, Carlos Villa, Ernesto Duarte, José Dominguez, José Jorge Letria, José Niza, Maite, Maria do Amparo, Pedro Vicedo, Pepe Ébano e Teresa Silva Carvalho. Pratica­mente impedido de cantar em Portugal, Zeca apresenta-se ao vivo em Espanha e em França e tenta dar conta, em disco, do que por cá se passa. Prenúncios da mudança que se avizinhava são temas como "Ó Ti Alves" [>>
YouTube] ou "É para Urga" [>> YouTube]. Mas, enquanto o dia novo não chega, Zeca continua a cantar a cólera e o desespero colectivos, através de momentos musicais inesquecíveis como "A Morte Saiu à Rua" (dedicado a José Dias Coelho, assassinado pela Pide em 1961) [>> YouTube] [videoclip >> YouTube] e "Por Trás Daquela Janela" (escrito para Alfredo Matos, antifascista do Barreiro que se encontrava preso) [>> YouTube], ao mesmo tempo que ironiza com a cadavérica memória salazarista ("O Avô Cavernoso") [>> YouTube], faz novos apelos à luta ("Fui à Beira do Mar" [>> YouTube], "Eu Vou Ser Como a Toupeira" [>> YouTube]) e se diverte com o aparente "non sense" de Fernando Pessoa ("No Comboio Descendente") [>> YouTube], afinal a imagem perfeita de um certo "laissez faire" tão tipicamente lusitano.» (Viriato Teles); para perfazer os 10 temas do alinhamento falta referir "Sete Fadas me Fadaram (com texto do pintor António Quadros) [>> YouTube] e a tradicional "Ó Minha Amora Madura" [>> YouTube], um dos mais extraordinários e cativantes exercícios de minimalismo em círculo melódico da música portuguesa: partindo de apenas quatro versos, José Afonso consegue dar-nos 2 minutos e 18 segundos de música sem que sintamos a mais pequena sensação de cansaço ou aborrecimento;
14. Edição do álbum "Canções de Amor e de Esperança", de Luiz Goes; dando sequência lógica a "Canções do Mar e da Vida" (1969), Luiz Goes publica, no início de 1972, o LP "Canções de Amor e de Esperança"; a gravação decorreu em Dezembro de 1971, nos estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço d'Arcos, pelo conceituado técnico de som Hugo Ribeiro; o disco inclui doze temas: oito com letra de Leonel Neves – "Cantiga Para Quem Sonha" (música de João Figueiredo Gomes) [>>
YouTube], "Chamo-te Niña" (música de Luiz Goes) [>> YouTube], "Trova de Vila da Feira" (música de António Toscano) [>> YouTube], "É Preciso Acreditar" (música de Luiz Goes) [>> YouTube], "Canção Pagã" (música de Luiz Goes) [>> YouTube], "Anda o Mar Dizendo (Mensagem do Mar)" (música de Durval Moreirinhas), "Balada do Rei Vadio" (música de Luiz Goes) [>> YouTube] e "Uma Lenda do Levante" (música de António Andias) [>> YouTube]; e quatro com letra de Luiz Goes – "Poema Para Um Menino" (música de Luiz Goes) [>> YouTube], "Canção Para Quem Vier" (música de António Toscano), "Sangue Novo" (música de Luiz Goes) [>> YouTube] e "Canção Quasi de Embalar" (música de António Andias e Durval Moreirinhas) [>> YouTube]; se há discos que foram tocados pela varinha de condão, "Canções de Amor e de Esperança" é, sem sombra de dúvida, um deles: por um lado, a bela e portentosa voz de Luiz Goes capaz de nos fazer vibrar até ao âmago e, por outro, os primorosos poemas sobretudo os que saíram do punho de Leonel Neves, hoje um ilustre desconhecido para muita gente, mas a quem se devem alguns dos mais belos textos escritos e cantados em português; tudo isso, sem esquecer, obviamente, os autores das composições que são, além do próprio Luiz Goes, os músicos que o acompanharam: António Andias (na guitarra de Coimbra), Durval Moreirinhas, António Toscano e João Figueiredo Gomes (nas violas); dizer que "Canções de Amor e de Esperança" é o mais superlativo trabalho até hoje realizado no campo da balada de Coimbra é de toda a justiça mas soa a pouco – na verdade, estamos em presença de um dos discos mais encantadores e fascinantes de toda a História da Música Portuguesa;
15. Edição do álbum "Fala do Homem Nascido", com poemas de António Gedeão musicados por José Niza e cantados por Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha; tendo como ponto de partida a poesia de António Gedeão, autor que Manuel Freire popularizara com a balada "Pedra Filosofal", estreada no Outono de 1969, no programa "Zip-Zip", José Niza musicou 11 textos que são cantados – ora colectivamente, ora em dueto, ora a solo –, por Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha. São eles: "Estrela da Manhã" (por todos), "Fala do Homem Nascido" (por Samuel) [ao vivo em Montemor-o-Novo, em 2007 >>
YouTube], "Desencontro" (por Samuel e Tonicha) [>> YouTube], "Tempo de Poesia" (por Duarte Mendes), "Vidro Côncavo" (por todos), "Poema da Malta das Naus" (por Samuel) [>> YouTube], "Lágrima de Preta" (por Duarte Mendes) [a partir de 2':00'' >> YouTube], "Poema do Fecho Éclair" (por Carlos Mendes) [>> YouTube], "Calçada de Carriche" (por Carlos Mendes) [>> YouTube], "Poema da Auto-Estrada" (por Tonicha) [>> YouTube]  e "Poema da Pedra Lioz" (por Samuel) [>> YouTube]; os arranjos e direcção de orquestra são da responsabilidade do então jovem maestro José Calvário, que com «o seu bom gosto, inteligência e sensibilidade, deu um excelente tratamento instrumental e orquestral às canções», como o próprio José Niza reconheceu muitos anos depois (1998), aquando da reedição em CD; refira-se, a título de curiosidade, que dois dos temas do disco – "Fala do Homem Nascido" e "Lágrima de Preta" – não são propriamente inéditos na forma cantada com música de José Niza, pois Adriano Correia de Oliveira gravara-os dois anos antes, no álbum "Cantaremos";
16. Edição do álbum "Palavras Ditas", de Mário Viegas; a estreia discográfica do grande recitador (como ele próprio gostava de ser chamado) dera-se em 1969 com o EP "Mário Viegas Diz Poemas" (selo Orfeu); "Palavras Ditas" é o seu primeiro registo de longa duração e a plena afirmação da sua arte de dar voz, com notável eloquência, às palavras saídas do punho de autores portugueses e estrangeiros, e não só eruditos, como a seguir se verá; na maioria dos poemas, a voz de Mário Viegas surge enquadrada numa "encenação musical" especialmente composta para o efeito, o que representa um conceito inovador e pioneiro em Portugal; com produção, direcção musical e concepção sonoplástica de José Niza e captação de som de Moreno Pinto (nos Estúdios Polysom, em Campolide, Lisboa), são doze os espécimes deste "Palavras Ditas": "Anedota" (popular), "Amátia" (Jorge de Sena), "Boletim Meteorológico" (retirado de um jornal), "Epígrafe" (José Carlos Ary dos Santos), "Mãezinha" (António Gedeão), "Hino à Minha Terra" (Amélia Vilar), "O Ladrão do Pão" (Alexandre O'Neill) [>>
YouTube], "Palavras" (Gastão Cruz), "Uma Lisboa Remanchada" (Alexandre O'Neill), "Correio" (Manuel Alegre), "O Viajante Clandestino/X" (Daniel Filipe), "Sob o Trópico de Câncer" (Vinicius de Moraes) [>> YouTube]; a execução instrumental foi assegurada pelos próprios compositores: José Calvário (piano e órgão), José Niza (viola acústica), João Ramos Jorge (Rão Kyao) (saxofone barítono) e Paulo Gil (percussão).

Todos (ou quase todos) estes itens podiam ser devidamente ilustrados, ora com registos do arquivo da RDP (entrevistas, adaptações de peças de teatro e de obras romanescas, recitações de poemas, etc.) ora, no caso de repertório musical, com gravações discográficas.
Não cabia tudo em 50 minutos? Problema nada difícil de resolver: em vez de uma única edição (lacunar, espartilhada e cinzenta), façam duas – mais completas, desafogadas e variegadas.
Renova-se o pedido: deseja-se que "A Vida dos Sons" seja menos cinzenta e mais multicolor.



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