A Antena 2 acaba de ser objecto de mais uma remodelação na sua grelha de programas, apesar de ainda há poucos meses a actual direcção ter afirmado que a mesma estava estabilizada. Deduz-se, portanto, que esta súbita mudança resulta de algum "puxão de orelhas" do novo conselho de administração aos inquilinos da direcção de programas pelo facto das "reformas" introduzidas no canal com o consequente acréscimo orçamental não terem correspondido a um aumento de audiências, que era o objectivo n.º 1 da anterior administração que mandatou e deu carta branca à actual direcção. Olhando para a nova grelha, fica bem à vista o desinvestimento em programas de autor e a opção por simples alinhamentos musicais alargados, certamente muito mais baratos, mas completamente aleatórios e sem a mínima coerência editorial (ao contrário do que acontecia no espaço "Até Bach", cuja extinção se lamenta), sendo que agora os programas de autor são transmitidos, na sua maioria, ao fim-de-semana e uma única vez. O que, deve dizer-se, é uma decisão perfeitamente errada e falha de razoabilidade: não por passarem ao fim-de-semana mas pela simples e óbvia razão de não serem repetidos noutro horário, de modo a ficarem ao alcance de pessoas com diferentes disponibilidades de escuta. Neste aspecto, mudou-se de cavalo para burro! E, já agora, quanto custou a campanha que anda aí a correr com música de Bach?
Ora, um dos programas de autor que podia ouvir-se ao fim-de-semana, mais concretamente ao sábado, era justamente o aclamado e premiado Lugar ao Sul, da autoria de Rafael Correia que, e inexplicavelmente, foi agora eliminado da grelha. Porquê? Não foi certamente por falta de audiências pois é sabido que o programa tem um auditório vasto e fiel. E também não foi, com certeza, devido às reclamações dos ouvintes mais ortodoxos da rádio clássica que acham que o programa não é adequado ao canal. Porque se fosse este o motivo, por maioria de razão teriam também desaparecido os programas "Império dos Sentidos", "Raízes", "Fuga da Arte" e "Vias de Facto", que foram alvo de uma contestação bem superior e que apesar disso continuam em antena. E diga-se, em abono da verdade, que aqueles programas, em especial os dois últimos, são claramente bem mais aberrantes na Antena 2 do que o "Lugar ao Sul", no qual Rafael Correia incluía por vezes justamente música de compositores eruditos (Vivaldi, Mozart, etc.). E tratando-se de um programa de inegável interesse cultural – do ponto de vista antropológico, etnomusical e de diversas formas da literatura tradicional – a sua exclusão do canal cultural da RDP só se explica à luz da conhecida hostilidade de Rui Pêgo face ao programa, que assim desautoriza o seu adjunto João Almeida que nele apostara em Janeiro de 2006. É bom não esquecer que uma das primeiras medidas de Rui Pêgo, no início do seu mandato como director de programas das antenas nacionais da RDP, em 2005, foi precisamente a amputação do "Lugar ao Sul" em metade do seu tempo de emissão nas manhãs de sábado da Antena 1. Em face dessa infeliz e descabida decisão, a inclusão de meia hora (depois alargada para um hora) de "Lugar ao Sul" na grelha da Antena 2 teve o mérito de vir ao encontro dos desejos do vasto auditório do programa, mitigando, de alguma forma, o corte sofrido na Antena 1. Nesta ordem de ideias, a medida agora tomada por Rui Pêgo não pode deixar de ser encarada como uma atitude desrespeitosa e revanchista face aos inúmeros ouvintes do programa e, igualmente, ao emérito profissional que é Rafael Correia. Ora, a mim enquanto ouvinte que contribui com a taxa do audiovisual e com impostos para o chorudo salário que Rui Pêgo recebe no fim cada mês, cumpre-me lembrar-lhe que não é pago para ter na rádio pública (apenas) os formatos ao jeito do seu umbigo e mandar às urtigas os programas e autores que não aprecia, ainda que tenham o afecto do público. E sendo o "Lugar ao Sul" um programa de grande popularidade e agrado, abrangendo todos os estratos sociais, e sendo, ao mesmo tempo, um exemplo paradigmático de serviço público – duas coisas que nem sempre andam a par – não posso deixar de apresentar o meu veemente protesto por mais este vil ataque. Agora, o mínimo que se deve exigir é que o "Lugar ao Sul" volte a ter duas horas de emissão nas manhãs de sábado da Antena 1. Como aliás sempre teve, antes de Luís Marques, com o aval de Almerindo Marques, ter tomado a desastrosa decisão de colocar um indivíduo como Rui Pêgo na direcção da estação de serviço público.
Nota: Existe um grupo na internet destinado a congregar os ouvintes do "Lugar ao Sul" e, bem assim, os amantes de música portuguesa e de poesia (popular e erudita): o Grupo de Amigos do LUGAR AO SUL.
"Seja bem-vindo quem vier por bem!"
04 março 2008
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2 comentários:
Sou desde muito novo ouvinte do Lugar ao Sul e , bem mais recentemente, ouvinte da Antena 2. Sou um amante da rádio, da palavra na rádio que penso já sermos poucos. Não pude deixar de comentar já que também me sinto lesado pelas cíclicas e cada vez mais abstrusas remodelações na grelha da Antena 2. O Lugar ao Sul é, aparentemente, um cavalo de batalha da direcção da RDP com vista à sua extinção. É pena, digo-o egoisticamente numa altura em que consegui converter um amigo a ouvinte regular de algo que ele não achava ser possível fazer em rádio: mostrar a real natureza das nossas gentes, com cheiro, sons, sabores e ares que trespassam as ondas da rádio. Sinto falta das 2 horas de programa ainda no tempo em que o mesmo se iniciava logo após o noticiário das 07 na Antena 1 e não as podendo recuperar, só faltaria que se dispensasse o grande Rafael Correia.
Aprecio a antena 2 e sempre que posso tenho-a por companhia.
Gostava de saber o compositor da abertura do programa "Até Bach", que infelizmente desapareceu.
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