30 julho 2023

"Ecos da Ribalta": homenagem a Eunice Muñoz


Eunice Muñoz encarnando Joana d'Arc, na peça homónima (título original: "L'Alouette") de Jean Anouilh, numa tradução de Redondo Júnior, levada à cena pela Empresa Vasco Morgado, com encenação de Virgílio Macieira e figurinos de Pinto de Campos, no Teatro Avenida (Lisboa), em 1955.
© Bourdain de Macedo / Museu Nacional do Teatro (MNT 214805) [MatrizNet]


Eunice Muñoz, se não tivesse sido subtraída ao número dos vivos, o que tristemente ocorreu a 15 Abril do ano passado, completaria hoje 95 anos de idade. Assinalamos a efeméride destacando as edições do programa "Ecos da Ribalta", que o seu autor, João Pereira Bastos, teve a mui louvável iniciativa de dedicar à genial actriz, antes e depois do falecimento. Homenagear um artista deve fazer-se, mais do que com panegíricos, cultivando a obra que nos legaram, que, no caso da de Eunice Muñoz, está repartida pelo teatro radiofónico e televisivo, pela recitação de poesia e leitura de prosa (gravadas para edição discográfica ou para programas de rádio e de televisão), pelo cinema e pela ficção televisiva. A presente celebração incide no teatro feito puramente de som (o radiofónico e um pedaço de uma actuação em palco, pertencente ao espólio de Francisco Igrejas Caeiro) e na poesia dita/recitada – registos que por darem perfeito testemunho da altíssima e singular craveira artística da saudosa actriz têm o bendito condão de incrementar, em quem não for desprovido de sensibilidade (obviamente), o desejo de ouvir mais teatro e poesia com a sua distintiva e qualitativa marca. Parte da poesia e da prosa editada em disco a que a Senhora D. Eunice emprestou a sua inconfundível e tão carismática voz pode hoje ser facilmente ouvida 'online' (nas plataformas de 'streaming'), mas o que gravou para a rádio nesse capítulo permanece ainda inacessível, se exceptuarmos um ou outro programa avulso em que foi convidada a participar. E no caso do teatro radiofónico a situação não é muito melhor uma vez que são escassas as peças presentes na plataforma RTP-Arquivos. Entre as ausentes contam-se algumas que o Sr. João Pereira Bastos em boa hora recuperou do arquivo da RDP para gáudio dos amantes de arte de Talma que escutam o seu programa. Reiteramos, pois, o apelo a quem de direito para que não demorem muito mais a resgatar o inestimável acervo de teatro, poesia e prosa em que intervieram Eunice Muñoz e outros categorizados actores portugueses. Escusado será acrescentar que tal disponibilização 'online' não deve obstar à difusão radiofónica, mormente na Antena 2, em espaços regulares consagrados à literatura (poesia e prosa) e ao teatro do imaginário. A rádio pública de hoje peca por omissão ao não valorizar e tirar partido do fabuloso património cultural que ao longo de décadas foi produzido no seu seio por talentosos artistas (ensaiadores e directores de actores incluídos) e briosos profissionais – tradutores, adaptadores, produtores, realizadores, técnicos (de captação de som, sonorização e montagem) –, quase todos já desaparecidos ou retirados do activo (o actor Ruy de Carvalho, que fez muito e bom teatro radiofónico e, aos 96 anos de idade, continua a pisar as tábuas dos palcos, é um dos últimos sobreviventes dessa época áurea e gloriosa da História da Rádio Portuguesa).


ECOS DA RIBALTA | 19 Set. 2018 [>> RTP-Play]
  1. Peça "O Infante de Sagres" (excerto), drama histórico de Jaime Cortesão
    Adaptação: Patrício Álvares
    Direcção e ensaio: Álvaro Benamor
    Intérpretes (e personagens): Eunice Muñoz (Dona Beatriz), Carmen Dolores (Dona Mécia), Rogério Paulo (Infante D. Henrique), Jaime Santos (Frei Gaspar), Manuel Correia (Mestre Guedelha), Manuel Lereno (João Fernandes) e Álvaro Benamor (D. Fernando, 1.º Duque de Beja)
    Assistência técnica: Fernando Pires
    Sonorização: Jorge Santos [TEATRO DAS COMÉDIAS, 1968].
  2. Peça "O Indiferente" (monólogo), de Jean Cocteau
    Tradução e adaptação: António Carlos, da peça "O Belo Indiferente"
    Direcção e ensaio: Álvaro Benamor
    Intérprete: Eunice Muñoz
    Assistência técnica: Fernando Pires
    Montagem: Jorge Alves [TEATRO DAS COMÉDIAS, 16 Nov. 1969].
  3. Sonetos de Florbela Espanca recitados por Eunice Muñoz (in LP "Florbela Espanca por Eunice Muñoz", Orfeu, 1977, reed. CD "Eunice Muñoz diz Florbela Espanca", col. O Melhor dos Melhores, vol. 61, Movieplay, 1997)
    Música: Rui Guedes
    - "Amiga" (Deixa-me ser a tua amiga, Amor)
    - "De Joelhos" ("Bendita seja a Mãe que te gerou.")
    - "Sem Remédio" (Aqueles que me têm muito amor)
    - "Fanatismo" (Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida)
    - "O Meu Orgulho" (Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera)
    - "Saudades" (Saudades! Sim.. talvez.. e porque não?...)
    - "Ódio?" (Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto)
    - "Versos de Orgulho" (O mundo quer-me mal porque ninguém)
    - "Rústica" (Ser a moça mais linda do povoado)
    - "A Um Moribundo" (Não tenhas medo, não! Tranquilamente)

ECOS DA RIBALTA | 14 Nov. 2018 [>> RTP-Play]
  1. Peça "O Fabricante de Orquídeas", de Marjorie Fry
    Tradução e adaptação: Botelho da Silva
    Direcção e ensaio: Álvaro Benamor
    Intérpretes (e personagens): Eunice Muñoz (Eliei), Carmen Dolores (Nina), Ruy de Carvalho (Joseph), Paiva Raposo (Lorine), Ricardo Alberty (Lim) e Carmen Santos (secretária)
    Assistência técnica: Fernando Pires
    Montagem: Teles Gomes [TEATRO DAS COMÉDIAS, 6 Ago. 1967].
  2. Peça "O Cabelo Branco", de Octave Feuillet
    Tradução e adaptação: Alice Ogando
    Direcção e ensaio: Álvaro Benamor
    Intérpretes (e personagens): Eunice Muñoz (Clotilde) e Jacinto Ramos (Fernando)
    Assistência técnica: Fernando Pires
    Montagem: Teles Gomes [TEATRO DAS COMÉDIAS, 25 Jun. 1967].
  3. Poema "Adeus" (Já gastámos as palavras...), de Eugénio de Andrade, dito pelo autor (in CD "Eugénio de Andrade por Eugénio de Andrade", Numérica, 1997).
  4. Poema "Canção" (Tinha um cravo no meu balcão), de Eugénio de Andrade, recitado por Eunice Muñoz (in documentário televisivo "Eugénio de Andrade: O Poeta", da autoria de Jorge Campos, RTP, 1993).

ECOS DA RIBALTA | 7 Set. 2022 [>> RTP-Play]
  1. Peça "Antígona", de Jean Anouilh
    Tradução: António Mega Ferreira
    Adaptação: Jorge de Filgueiras
    Direcção de actores: Carlos Avilez
    Intérpretes (e personagens): Eunice Muñoz (Antígona), Ruy de Carvalho (Creonte), João Vasco (Prólogo), António Marques (Hémon), Lurdes Norberto (Isménia), Maria Albergaria (ama), Mário Sargedas (guarda), Álvaro Faria (mensageiro), Fernanda Coimbra (Eurídice), Adelaide João (1.ª mulher), Marília Costa (2.ª mulher), Carlos Rosa (um homem)
    Locução: Martins Costa (texto de apresentação escrito por Maria José Mauperrin)
    Assistência técnica: Fernando Pires
    Montagem: Rui Leitão
    Realização: Maria José Mauperrin [TEMPO DE TEATRO, 5 Mai. 1978].

ECOS DA RIBALTA | 5 Out. 2022 [>> RTP-Play]
  1. Peça "Joana d'Arc" (excerto), de Jean Anouilh
    Tradução: Redondo Júnior
    Encenação: Virgílio Macieira
    Intérpretes (e personagens) (da peça integral): Eunice Muñoz (Joana d'Arc), Alves da Cunha (Pierre Cauchon, bispo de Beauvais), Artur Semedo (o inquisidor), Alberto Ghira (o promotor), Fernando Gusmão (frei Martin Ladvenu), Álvaro Benamor (o conde Warwick), José Gamboa (Carlos VII, o delfim), Fernanda de Sousa (a rainha Iolanda), Madalena Sotto (a jovem rainha), Mariana Vilas (Agnès Sorel), Costa Ferreira (o arcebispo), Carlos José Teixeira (La Trémouille), Mário Santos (Robert de Baudricourt), Pisani Burnay (La Hire), Luís de Campos (o pai), Berta Bivar (a mãe), Andrade e Silva (o irmão), Mário Pereira (o carrasco) e Armando Cortez (o soldado inglês)
    Produção: Empresa Vasco Morgado [GRAVAÇÃO DE UM ENSAIO NO TEATRO AVENIDA, LISBOA, EM 1955 – ESPÓLIO DE FRANCISCO IGREJAS CAEIRO].
  2. Peça "A Estátua Mutilada", de Jorge de Filgueiras
    Direcção e ensaio: Álvaro Benamor
    Intérpretes (e personagens): Eunice Muñoz (Afrodite), Assis Pacheco (o edil António), Ruy de Carvalho (o escultor Marco)
    Assistência técnica: Leonel da Silva
    Sonorização: Jorge Santos [TEATRO DAS COMÉDIAS, 1968].

ECOS DA RIBALTA | 21 Dez. 2022 [>> RTP-Play]
  1. "Auto da Virgem Gloriosa", de Gil Vicente
    Adaptação e tradução: Leopoldo de Araújo (compilação de excertos de: "Auto da Fé", "Auto de Sibila Cassandra", "Auto de Mofina Mendes" e "Auto dos Reis Magos")
    Direcção e ensaio: Raul de Carvalho
    Intérpretes: Amélia Rey Colaço, Eunice Muñoz, Mariana Rey Monteiro, Carmen Dolores, Lourdes Norberto, Hortense Luz, Alina Vaz, Maria José, Teresa Mota, José Gamboa, Ruy de Carvalho, Paulo Renato, Pedro Lemos, Alves da Costa, Luís Filipe, Barreto Poeira, Varela Silva, Armando Cortez e Raul de Carvalho
    Locução: D. João da Câmara
    Captação e registo de som: Leonel da Silva
    Realização: Castela Esteves [NOITE DE TEATRO, 25 Dez. 1967].


Capa d' "O Século Ilustrado", de 12 de Novembro de 1955
Eunice Muñoz caracterizada para a peça "Joana d'Arc" acima referenciada
Fotografia – Augusto Bobone / Museu Nacional do Teatro (MNT 177967) [MatrizNet]

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Outros artigos com poesia recitada por Eunice Muñoz:
Ser Poeta
Camões recitado e cantado (II)
Celebrando Sophia de Mello Breyner Andresen
Florbela Espanca: "À Morte", por Eunice Muñoz

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