07 dezembro 2006
Programas de autor na Antena 1
Quem acompanha com alguma atenção a emissão da Antena 1, certamente já se deu conta da fraca presença de programas de autor, designadamente de temática musical. E quando falo de programas musicais de autor estou a referir-me a espaços alargados em que os temas / músicas seleccionadas fujam à lógica da 'playlist' e em que haja uma contextualização dos intérpretes, compositores e autores. A Antena 2 faz isso nas áreas da música clássica, do jazz e da música étnica. Esperar-se-ia que na Antena 1 acontecesse algo de semelhante para a música de qualidade de cariz mais popular, mas constata-se um flagrante défice do principal canal generalista da rádio estatal nesse domínio. Actualmente, temos "A Menina Dança?", de José Duarte (jazz e swing), "Ondas Luisianas", de Luís Filipe Barros (pop/rock dos anos 60, 70 e 80), "Vozes da Lusofonia", de Edgar Canelas (apresentação de novos discos), "Viva a Música", de Armando Carvalhêda (música portuguesa ao vivo), e "Lugar ao Sul", de Rafael Correia (cultura tradicional). Todos eles são bons programas, isso está fora de questão. Mas temos de admitir que é muito pouco, ademais tratando-se de programas de periodicidade semanal. Atendendo à prevalência imperial da 'playlist' que o próprio José Nuno Martins reconheceu quando se pronunciou sobre a programação musical da Antena 1, é inquestionável que devia haver mais espaços de autor que contemplassem de forma cabal e razoável os diversos estilos e géneros musicais a que um canal de serviço público deve prestar uma atenção muito particular. E neste âmbito tem de se referir obrigatoriamente a música popular portuguesa (tradicional e de autor), o fado, a música latina e também as músicas do mundo de cariz não estritamente étnico. Volto a lembrar que as pequenas rubricas dedicadas a algumas destas áreas, que existem na actual grelha da Antena 1, em razão da sua diminuta duração, são claramente insuficientes para corresponder às legítimas expectativas dos segmentos do auditório apreciadores dos géneros musicais nelas tratados. Como tal, urge que surjam espaços de outro fôlego que possam constituir pontos de referência para todos os cultores de boa música popular em cada uma das diversas linguagens estéticas. E para tal nem seria necessário recorrer à colaboração externa (como acontece na Antena 2) pois bastaria aproveitar o capital humano da RDP, quer da Antena 1 quer das demais antenas. Sem prejuízo da criação de novos programas, não vejo nenhuma razão plausível para que a Antena 1 não inclua na sua grelha alguns dos melhores programas dos canais internacionais – RDP-Internacional e RDP-África –, aliás como estes fazem com alguns programas originalmente emitidos na Antena 1. Tratando-se de canais financiados com o dinheiro dos contribuintes há todo o interesse em que os recursos sejam potenciados ao máximo e, nessa medida, ao cidadão português que resida em território nacional (continental ou insular) deve ser dada a possibilidade de ouvir por via hertziana os programas das antenas internacionais que são referências de qualidade e de indiscutível interesse geral. "A Guitarra Portuguesa e o Fado" (RDPi) e "A Hora das Cigarras" (RDP-África) são dois bons exemplos de programas desse tipo que enriqueceriam de forma significativa a grelha da Antena 1 e, ainda por cima, a custo zero. E já agora aproveito para fazer referência a outro excelente programa de autor patrocinado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia: o "Agora... Acontece!", da autoria de Carlos Pinto Coelho. Este notável programa cultural é cedido gratuitamente a todas as emissoras de rádio que o solicitem mas mesmo assim ainda há muitas estações locais e regionais que o não transmitem (vá-se lá saber porquê?), pelo que muitos cidadãos deste país ficam impossibilitados de o ouvir. Nessa medida, a inclusão do "Agora... Acontece!" na grelha da Antena 1, além de enriquecer a sua programação, constituiria ainda o relevante serviço público de fazer chegar um bom programa a muitos ouvintes que a ele não tem acesso por via hertziana.
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1 comentário:
Não podia estar mais de acordo.
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