17 novembro 2008

Frei Fado d'El Rei vence Prémio José Afonso



O álbum "Senhor Poeta: Um tributo a José Afonso", do grupo Frei Fado d'El Rei, editado pela Ovação em Abril de 2007, foi o grande vencedor da edição de 2008 do Prémio José Afonso, instituído pela Câmara Municipal da Amadora, e que tem o valor pecuniário de 5 mil euros. O júri foi constituído pelo jornalista Carlos Pinto Coelho, a pianista Olga Prats, a coordenadora do Serviço de Animação Cultural da C.M. Amadora, Natália Cañamero de Matos, e o Vereador da Cultura da edilidade, António Moreira. Instituído em 1988, o Prémio José Afonso tem o objectivo de homenagear o imortal autor/compositor/intérprete, incentivar a criação musical de raiz portuguesa e animar turística e culturalmente a Amadora. O grupo Frei Fado d'El Rei junta-se assim a uma prestigiosa galeria de artistas já distinguidos: Fausto Bordalo Dias, Vitorino, Sérgio Godinho, Júlio Pereira, José Mário Branco, Né ladeiras, Amélia Muge, João Afonso, Vai de Roda, Gaiteiros de Lisboa, Dulce Pontes, Vozes do Sul/Janita Salomé, Jorge Palma, Carlos do Carmo, Filipa Pais, José Medeiros e Brigada Victor Jara.
Em 2007, ano em que se assinalaram os vinte anos da morte de José Afonso, foram sete os álbuns de tributo ao autor de "Cantigas do Maio", pelo que não era fácil ao júri não ter em consideração essa leva de edições, o que não quer dizer que não houvesse outros discos perfeitamente premiáveis, como é o caso de "Parainfernália", do grupo Diabo a Sete (ed. Açor/Emiliano Toste); "Não Sou Daqui", de Amélia Muge (ed. Vachier & Associados); "Vinho dos Amantes", de Janita Salomé (ed. Som Livre); e "À Espera de Armandinho", de Pedro Jóia (ed. HM Música), este último recentemente distinguido com o Prémio Carlos Paredes. Em todo o caso, a escolha de "Senhor Poeta" não deixa de ser justíssima, precisamente por se tratar do melhor de todos os trabalhos de abordagem à obra de José Afonso (como tive o ensejo de referir no texto
Grandes discos da música portuguesa: editados em 2007) e também por vir reconhecer a importância do grupo Frei Fado d'El Rei para a música portuguesa. Embora com uma discografia escassa – além de "Senhor Poeta", apenas dois álbuns de originais ("Danças no Tempo", Sony Music, 1995; e "Encanto da Lua", Sony Music, 1998) e um gravado ao vivo ("Em Concerto", Açor/Emiliano Toste, 2003) – a estética do grupo Frei Fado d'El Rei é indiscutivelmente uma das mais originais, inovadoras e cativantes do nosso panorama musical, mas que ainda não logrou obter o devido reconhecimento. Refira-se a propósito que o grupo foi um dos participantes no álbum colectivo "Filhos da Madrugada Cantam José Afonso" (MG Ariola, 1994), com uma belíssima versão do tema "Que Amor Não me Engana" (também presente em "Senhor Poeta"). Estão pois de parabéns José Flávio Martins, Carla Lopes, Cristina Bacelar e restantes elementos dos Frei Fado d'El Rei e, igualmente, os jurados, pela lúcida e justa decisão.
Agora, e tal como fiz a propósito do
disco de Pedro Jóia, não posso deixar de lamentar e contestar veementemente a atitude indigna e perfeitamente criminosa da pública Antena 1 face ao álbum "Senhor Poeta", a ponto de ter sido completamente ignorado, quer em programas e rubricas dedicados à música portuguesa e lusófona – "Vozes da Lusofonia", "Cantos da Casa" e "Viva a Música" – quer na vergonhosa 'playlist'. No caso concreto do programa "Vozes da Lusofonia", será razoável e sensato que se ignore um álbum que recebe o Prémio José Afonso e se contemplem discos cantados em inglês e, já agora, se dedique duas emissões a uma colectânea do nacional-cançonetista António Calvário? Atenção: eu não estou a dizer que o António Calvário devesse ficar de fora, mas jamais poderei aceitar o tratamento de privilégio que lhe foi dado (porquê?), ao mesmo tempo que se vota ao ostracismo trabalhos discográficos de reconhecida qualidade e valor artístico. Indo agora à famigerada 'playlist', e tendo em conta o peso desmesurado que ocupa na programação, como se explica que o disco agora premiado não esteja representado? Será isto admissível e eticamente aceitável na rádio para a qual nos cobram (coercivamente) 3.42€ + 5% de IVA a cada bimestre? Algo de muito pútrido se está passar no serviço público de rádio! E o responsável máximo pela podridão, ao contrário do que geralmente acontece em matéria putrefacta, não é nenhuma bactéria ou fungo. O agente patogénico é um hominídeo e chama-se Rui Fernandes Pêgo.

Nota: À falta de divulgação radiofónica, quem quiser ouvir algumas músicas do CD "Senhor Poeta" pode fazê-lo na página dos Frei Fado d'El Rei no My Space:
http://www.myspace.com/freifadodelrei
Está também disponível, no blogue Crónicas da Terra, uma entrevista que os músicos José Flávio Martins e Ricardo Costa, concederam ao programa "Terra Pura", precisamente em torno do disco e ilustrada com diversos temas do mesmo.

1 comentário:

Mariana Malta disse...

Podem também ouvir outras músicas dos Frei Fado no site oficial da guitarrista dos Frei Fado d'el Rei, Cristina Bacelar.