13 maio 2017
Antena 1: uma emissora católica e apostólica? (II)
A exemplo do que se passou em Maio de 2010, aquando da visita de Bento XVI, a programação normal da Antena 1 foi totalmente elidida e substituída pela cobertura, ao milímetro e ao segundo, de todos os acontecimentos (e não acontecimentos) respeitantes à viagem que o papa Francisco acabou de fazer a Fátima. Creio que foi o próprio Jorge Bergoglio quem afirmou que vinha a Fátima como peregrino. Portanto, não se tratou de uma visita oficial do chefe de Estado do Vaticano a outro estado, no caso Portugal. Ora, sendo uma viagem de cariz estritamente apostólico, a rádio pública devia ter mais pudor e recato, em obediência ao seu estatuto de entidade laica, na cobertura do evento, cingindo-se ao que tivesse valor informativo real e objectivo para a generalidade dos cidadãos (nos intercalares noticiosos). Ao cobrir de modo intensivo, exaustivo e obsessivo tudo o que era de índole meramente religiosa, designadamente as cerimónias litúrgicas na Cova da Iria, a Antena 1 comportou-se como se fosse a Rádio Renascença e isso merece o veemente repúdio de quem preza o livre-pensamento e não quer ser catequizado, como é o caso do escrevente destas linhas. E digo isto perfeitamente à vontade pois, apesar de ser agnóstico, até simpatizo com o homem que o colégio cardinalício elegeu (talvez por engano) para suceder a Joseph Ratzinger no trono pontifício.
A circunstância da maioria da população portuguesa ser (culturalmente) católica não valida a opção de quem manda na Antena 1. O Estado Português e todas as entidades da sua esfera não devem envolver-se nos assuntos da fé, porque se o fizerem, colocando-se ao lado de uma determinada confissão, estão inevitavelmente a dar a entender de que aquela é que é a verdadeira e a autêntica. Concomitantemente, os que professam outros credos e os que não têm credo algum recebem o estigma implícito de ímpios e degenerados mentais. A fé religiosa (ou a não-fé assumida em total liberdade de consciência) é do foro íntimo de cada um e jamais se poderá admitir que o Estado (que representa todos) tome partido por alguma.
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