20 dezembro 2013

Celebrando Luís Pignatelli



«Luís Oliveira de Andrade — ou Luís Pignatelli, o poeta — nasceu em Espinho, concelho de Aveiro, a 1 de Janeiro de 1935 (e não, como consta em todas as antologias onde figura, por mitografia própria, em 1932) e morreu em Lisboa, a 20 de Dezembro de 1993.
Em Espinho fez a instrução primária e frequentou o liceu. E, de habilitações literárias, foi quanto lhe bastou — autodidacta de si e da Vida, o bardo sedutor.
Nas lides da escrita e da letra de forma, aí está ele, aos 18 anos de idade, em Maio de 1953 (ano da extinção da "Árvore" e da 3.ª série dos "Cadernos de Poesia"), a estrear-se, pela mão de Augusto Navarro e António Rebordão Navarro, na revista "Bandarra", com o poema "Aguarela" (assinado por Luís de Andrade e não ainda Pignatelli), poema bem distante, não obstante a linha de lirismo tradicional em que se insere, de uma juvenília que a sua obra não comportará. E nesta revista, publicada no Porto, em 3 séries, entre 1953 e 1964, continuará a colaborar (é sua a capa do n.º 20 da I série, de Agosto de 1954), até à sua ida e fixação de residência em Coimbra, nos meados da década de 50, onde, de passagem, na revista "Vértice", assina alguns poemas de pendor neo-realista, sem que, contudo, se dilua o lirismo que lhe marcará indelével toda a poesia.
Desse tempo de Coimbra data a amizade com José Afonso, que lhe traça o perfil, no livro de José A. Salvador "Livra-te do Medo, Estórias & Andanças do Zeca Afonso" (A Regra do Jogo Edições, 1984), nos termos seguintes:

— Conheceste o Pignatelli em Coimbra?
— Aliás, Luís Andrade; nós chamávamos-lhe Luís Andrade. Ele trabalhava lá nas Águas, numa secção da Câmara Municipal, chateadíssimo. Era um tipo que não se dava com aquela cidade. Tinha problemas vários e foi sempre bastante meu amigo em períodos muito difíceis que vivi em Coimbra. Na altura em que me divorciei, o Luís foi sempre fraternal para mim. Às vezes surripiávamos uns livritos, eu por uma banda, ele por outra, mas creio que o tipo me bateu aos pontos. Eu frequentava umas livrarias, sobretudo a Coimbra Editora, que diziam ser do Salazar, do presidente da Assembleia Nacional e do Cerejeira. Com tais proprietários foram-se-me os últimos escrúpulos.

E é através de José Afonso que o seu leque de amizades se vai alargando a Herberto Helder, Adriano Correia de Oliveira (que, tal como Zeca Afonso, dará voz a dois poemas seus — "Elegia" e "Cantiga de Amigo" – em 1967 e 1971, respectivamente), ao pintor António Quadros (João Pedro Grabato Dias, Frey Ioannes Garabatus e Multimati Barnabé João, como poeta), António Ferreira Guedes, Manuel Alegre, o pintor Mário Silva, António Cunha Pinto (autor de "Pinóquio", com o pseudónimo de Leonel Brim e cuja capa Luís Pignatelli assina), Fernando Gonzalez, Luís e António Faria Lourenço, entre outros.
Em Coimbra, 1958 é o ano da publicação de "A Voz e o Tempo", poemas (um deles, "Conjugação Verbal" dedicado a Luís de Andrade) de Jorge de Sampaio — colaborador e organizador, com Aureliano de Lima, Eduíno de Jesus, José Ferreira Monte e Rui Mendes, do número único do fascículo de poesia "Pan", pouco antes dado à estampa — onde Luís de Andrade colabora como autor da capa e dos desenhos.
Em 1963 passa alguns meses em Moçambique, onde trabalha, como jornalista, na "Tribuna" de Lourenço Marques.
De regresso a Portugal, volta para Coimbra, onde é funcionário na secção de estatística do Município, colaborando na imprensa local como crítico de música e artes plásticas.
No Verão de 1965 muda-se definitivamente para Lisboa, onde frequenta tertúlias e faz amizade com José Sebag, João Rodrigues, Virgílio Martinho, Ricarte-Dácio de Sousa, António José Forte e Aldina, Ernesto Sampaio, Vítor Silva Tavares, José Cardoso Pires, Luiz Pacheco, Mário Cesariny, António Alçada Baptista, Maria Teresa Horta, José Quitério, Maria Velho da Costa, Isabel Barreno, Carlos Veiga Ferreira, Júlio Moreira, os pintores João Vieira, Henrique Manuel e Renato Cruz, Edmundo de Bettencourt, António de Navarro, Alexandre O'Neill, Ruy Cinatti, José Carlos González, Vitorino e Janita Salomé, entre tantos outros.
Em Dezembro de 1965 nasce-lhe o mais velho dos cinco filhos, que celebra em dois poemas — "No ventre de sua mãe" e "A visitação - 1".
Colabora nos suplementos literários dos jornais "Diário de Lisboa", "A Capital", "Jornal de Notícias", "O Diário", "Jornal do Fundão" e nas revistas "Commedia", "O Tempo e o Modo", "Cronos", "Crónica Feminina", "Grial" (da Galiza), "Camões", "Crisol", "Sílex" e "O Eugénio".
Está representado nas seguintes antologias: "Antologia da Poesia Concreta em Portugal", de E.M. de Melo e Castro e José-Alberto Marques, "20 Anos do Círculo de Poesia", de Pedro Tamen, e "Antologia da Poesia Portuguesa (1940-1977)", de Maria Alberta Menéres e E.M. de Melo e Castro.
Em 1973, no Círculo de Poesia, da Moraes Editores, publica o seu único livro, "Galáxias", considerado por Maria Teresa Horta, em 25 de Maio de 1974, no semanário "Expresso", como "um dos mais belos livros de poesia editados durante o ano de 1973".
Em 1979 entra como actor no filme "A Culpa", de António Victorino d'Almeida, onde desempenha o papel de um pide, a quem, ao longo de todo o filme, se não ouve uma única palavra.
Com o pseudónimo de Athayde de Andrade, colabora n' "O Jornal", como crítico gastronómico, trabalho que exercerá mais tarde n' "O Público" e na revista "Casa Cláudia", assinando, nestas duas publicações, as suas crónicas como Luís Pignatelli.
Enquanto tradutor, verteu para português livros de Bruno Zevi, Ana Freud, Juan Carlos Onetti, o volume Tempo das Revoluções da "História Universal Larousse" e "A Casa das Belas Adormecidas", de Kawabata. Mas é na tradução de poesia que o seu nome granjeia particular prestígio. Em volume, traduziu "Odes Elementares" e "Plenos Poderes" de Pablo Neruda, "A Destruição ou o Amor" de Vicente Aleixandre, "Antologia Poética" de Octavio Paz, "Natureza Viva" de Vicente Huidobro, "Vida de um Homem" de Giuseppe Ungaretti e "Os Prazeres Proibidos" de Luis Cernuda.
Deixou ainda inédita uma antologia de poesia japonesa (do "Período Primitivo" aos poemas de "Estilo Moderno") e um vasto número de traduções dispersas, reunidas pelo autor desta nota, de poetas tão diversos como E.E. Cummings, Jorge Luis Borges, Francis Picabia, Philippe Soupault, Eugenio Montale, Ho Tsou, Djelal Edd in Rumi, Wang Wei, Rainer Maria Rilke, Robert Pitney, Kenneth Patchen, etc.
Sendo também autor da música de "Pombas", escrita e cantada por José Afonso, escreveu ainda textos para a música e a voz de Vitorino e Janita Salomé [também para a voz de Teresa Silva Carvalho].
De um memorando escrito provavelmente em 1984, retenham-se estas palavras: "Tem trabalhado nos últimos anos como tradutor e revisor literário, profissão (?) que não deseja ao seu pior inimigo."»

ZETHO CUNHA GONÇALVES (nota biográfica publicada no livro "Luís Pignatelli: Obra Poética (1953-1993)", Lisboa: &etc, 1999)


Luís Pignatelli está hoje bastante esquecido, infelizmente. O blogue "A Nossa Rádio" aproveita a efeméride dos vinte anos do desaparecimento do poeta para homenageá-lo, apresentando uma bela série dos poemas cantados (uma gravação por cada espécime, pois em alguns casos existe mais do que um registo).
Já agora, uma interrogação: qual o motivo de não haver na 'playlist' da Antena 1 uma única das canções com poemas de Luís Pignatelli? Censura premeditada ou pura ignorância de repertório?



Sonetilho para uma Adolescente



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 84)
Música: Vitorino Salomé
Intérprete: Vitorino* (in LP "Flor de la Mar", EMI-VC, 1983, reed. EMI-VC, 1992, Edições Valentim de Carvalho/Som Livre, 2008)




Que vento norte
Na manhã do mar
Sopra teus seios
De flores de morte?

Que nuvem arde
Sobre o teu corpo
Teu corpo aberto
À tempestade?

Que vaga lua
Virá de noite
Doce tanagra

Pôr-te mais nua
Que a nua praia
Doce e amarga?


* Vitorino – voz
João Lucas – piano
Pedro Caldeira Cabral – viola da gamba
Sérgio Mestre – flauta
Peter Meier e Carlos Salomé – violas Ovation
Direcção musical e arranjos – Vitorino, Pedro Caldeira Cabral e Janita Salomé
Produção – Vitorino, Manuel Salomé e Francisco Vasconcelos
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos
Técnicos de som – António Pinheiro da Silva e Pedro Vasconcelos



Elegia



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 79)
Música: Luís de Andrade (Luís Pignatelli)
Intérprete: José Afonso* (in LP "Baladas e Canções", Ofir/Discoteca Santo António, 1964, reed. EMI-VC, 1996)




O vento desfolha a tarde
O vento desfolha a tarde
Como a dor desfolha o peito
Como a dor desfolha o peito

Na roseira do meu peito
Na roseira do meu peito
Senhora, meu bem, fermosa
Senhora, meu bem, fermosa

Vai-se a tarde, ficam penas
Vai-se a tarde, ficam penas
Na roseira do meu peito
Na roseira do meu peito

Senhora por quem eu mouro
Senhora, meu bem, eu mouro
Senhora, meu bem, fermosa
Senhora, meu bem, fermosa


Nota: «O Luís de Andrade toca todas as teclas. A música e a letra afiguram-se-me excepcionalmente consorciadas. Pertencem a um tipo de repertório que inclui também as "Pombas". A interpretação procurou seguir à risca a orientação desejada pelo autor.» (José Afonso, in "Cantares José Afonso", Coord. e textos de Manuel Simões e Rui Mendes, Tomar: Nova Realidade, 1966, 4.ª edição, Coimbra: Fora do Texto, 1995 – p. 100)

* José Afonso – voz
Rui Pato – viola
Gravado nos Estúdios da RTP, Monte da Virgem - Vila Nova de Gaia
Remasterização e restauro digital – Paulo Jorge Ferreira



Não É Fácil o Amor



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 83)
Música: Janita Salomé
Arranjo: José Peixoto
Intérprete: Janita Salomé* (in CD "Tão Pouco e Tanto", Capella/AudioPro, 2003)


Não é fácil o amor, melhor seria
Arrancar um braço, fazê-lo voar...
Dar a volta ao mundo, abraçar
Todo o mundo, fazer da alegria

O pão nosso de cada dia, não copiar
Os males do amor, matar a melancolia
Que há no amor, querer a vontade fria
Ser cego, surdo, mudo, não sujeitar

O amor ao destino de cada um, não ter
Destino nenhum, ser a própria imagem
Do amor: pôr o coração ao largo, não sofrer

Os males do amor, não vacilar, ter a coragem
De enfrentar a razão de ser da própria dor
Porque o amor é triste, não é fácil o amor...


* Janita Salomé – voz
José Peixoto e Mário Delgado – guitarras acústicas
Produção – Paulo Jorge Ferreira
Consultor de produção – Jorge Mourinha
Produção executiva – Janita Salomé, Bárbara Barros Viseu e Nuno Faria
Gravado nos Estúdios Xangrilá e Masterix, Lisboa, de Julho de 2002 a Fevereiro de 2003
Captação de som – Paulo Jorge Ferreira, Carlos Jorge Vales, Pedro Rêgo e Jorge Avilez
Misturas e masterização – Paulo Jorge Ferreira



Como se fosses de linho doce...



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 85)
Música: Janita Salomé
Arranjo: Júlio Pereira
Intérprete: Janita Salomé* (in LP "Lavrar em Teu Peito", EMI-VC, 1985, reed. EMI-VC, 2001)




Como se fosses de linho doce
Com que me cubro e adormeço
Ou pássaro que cantando fosse
Árvore de vento com que estremeço

Como se fosses na manhã silente
Cristal soprado na noite fria
Ou ar de neve luz transparente
Como o que o teu rosto inaugura o dia


* Janita Salomé – voz
Júlio Pereira – violas
Direcção musical – João Gil, António Pinheiro da Silva e Janita Salomé
Produção – João Gil
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos
Engenheiro de som – António Pinheiro da Silva
Técnico assistente – Paulo Jorge Ferreira
Masterizado nos Estúdios Tcha Tcha Tcha, Miraflores



O que ficou no ar parado



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 86)
Música: Janita Salomé
Arranjo: José Peixoto
Intérprete: Janita Salomé* (in LP "Lavrar em Teu Peito", EMI-VC, 1985, reed. EMI-VC, 2001)


O que ficou no ar parado
era um cristal partido
pela tua boca soprado
ou era um pássaro ferido

por uma seta lado a lado?
era uma rosa de frio
na solidão do teu vestido
do teu vestido rasgado

ou era um cavalo espantado
batendo os cascos de vidro
de encontro às grades do medo
o que ficou no ar parado?


* Janita Salomé – voz
José Peixoto – violas
Paulo Curado – flautas
António Ferro – baixo eléctrico
Direcção musical – João Gil, António Pinheiro da Silva e Janita Salomé
Produção – João Gil
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos
Engenheiro de som – António Pinheiro da Silva
Técnico assistente – Paulo Jorge Ferreira
Masterizado nos Estúdios Tcha Tcha Tcha, Miraflores



Os Amantes



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 88)
Música: Janita Salomé
Arranjo: João Lucas, José Peixoto e José Mário Branco
Intérprete: Janita Salomé* (in LP "Olho de Fogo", Schiu!/Transmédia, 1987)




Pela sombra desatado
pela luz desperto
está na cama teu corpo
assim exposto:
se a minha mão o toca
um veio de água aberto
irrompe da tua boca
e morre em meu rosto

Lentamente morre
à flor da carne desejada
para logo renascer
em fresco voo repetido
para logo repousar
ave ferida
na rama bem amada
de meu corpo apetecido

Um ao outro apetecendo
como neve derretida
na cintura
desta liana quebrada
onde a selva mais escura
de teu corpo
vai ardendo
em minha boca
como seda derramada


* Janita Salomé – voz
João Lucas – piano e sintetizadores
José Peixoto – baixo e guitarra-solo
Irene Lima - violoncelo
Produção e direcção musical – José Mário Branco
Gravado e misturado no Angel Studio II, Lisboa, de 29 de Outubro a 11 de Novembro de 1987
Captação de som – José Manuel Fortes, Rui Novais e Jorge Barata, assistidos por Luís Flores
Misturas – Jorge Barata, José Mário Branco e José Peixoto



Cantata



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 87)
Música: Janita Salomé
Arranjo: João Lucas e José Mário Branco
Intérprete: Janita Salomé* (in LP "Olho de Fogo", Schiu!/Transmédia, 1987)




Dos
nocturnos
espelhos
fugimos

corrosivas
bocas
hiantes
as suas

nelas
se acendem
os lumes
da morte
que nos apartam
da vida

em nossos
corpos
arfantes
se enrolam
finos
panos
sombrios
água
de conchas
distantes
cegas
areias
do fundo
dos rios


* Janita Salomé – voz
João Lucas – flautas (sequenciadas) e piano
José Mário Branco – flautas (sequenciadas) e trombone (sintetizador)
José Peixoto – baixo
Adácio Pestana e A. Costa – trompas
Tomás Pimentel e José Carapeto – trompetes
Maria Guinot, Isabel Campelo, Rui Vaz, Gustavo Sequeira e Carlos Salomé – coro
Produção e direcção musical – José Mário Branco
Gravado e misturado no Angel Studio II, Lisboa, de 29 de Outubro a 11 de Novembro de 1987
Captação de som – José Manuel Fortes, Rui Novais e Jorge Barata, assistidos por Luís Flores
Misturas – Jorge Barata, José Mário Branco e José Peixoto



Era de Noite e Levaram



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 80)
Música: José Afonso
Intérprete: José Afonso* (in LP "Contos Velhos, Rumos Novos", Orfeu, 1969, reed. Movieplay, 1987, 1996, Art'Orfeu Media, 2012)




Era de noite e levaram
Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia, nela dormia

Sua boca amordaçaram
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria
De seda fria, de seda fria

Era de noite e roubaram
Era de noite e roubaram
O que nesta casa havia
Na casa havia, na casa havia

Só corvos negros ficaram
Só corvos negros ficaram
Dentro da casa vazia
Casa vazia, casa vazia

Rosa branca, rosa fria
Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada
Da madrugada, da madrugada

Hei-de plantar-te um dia
Hei-de plantar-te um dia
Sobre o meu peito queimada
Na madrugada, na madrugada


* José Afonso – voz
Rui Pato – viola
Luís Filipe Sousa Colaço – 2.ª viola e reco-reco
Gravado nos Estúdios Polysom, Lisboa, em 1969
Técnico de som – Moreno Pinto



Cantiga de Amigo



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 81)
Música: José Niza
Arranjo: Thilo Krassman
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in LP "Gente de Aqui e de Agora", Orfeu, 1971, reed. Movieplay, 1999; "Obra Completa": CD "Gente de Aqui e de Agora e Outras Canções: Adriano Canta José Niza", Movieplay, 1994, 2007; CD "Vinte Anos de Canções", Movieplay, 2001)




Se sabedes novas do meu amigo
é que venho perguntar:

— Que ao que levou meu amigo
há-de a noite encarcerar
dentro de fel e vinagre
sua boca há-de fechar
com sete chaves de treva
e fechaduras de neve
que ao que levou meu amigo
há-de a febre devorar
sobre a parede mais fria
suas tripas há-de o dia
pendurar em argolas de veneno
sua carne há-de queimar
com carvões de acetileno
mai-lo sangue que há-de arder
que ao que levou meu amigo
há-de a noite decepar
há-de o dia ver morrer.

Se sabedes novas do meu amigo
é que venho perguntar.


* Adriano Correia de Oliveira – voz
Orquestra sob a direcção de Thilo Krassman
Produção e supervisão musical – José Niza
Gravado nos Estúdios Polysom, Lisboa
Técnico de som – Moreno Pinto e Jean François Baudet



Litania para um Amor Ausente



Poema: Luís Pignatelli (in "Obra Poética", Lisboa: &etc, 1999 – p. 82)
Música: Vitorino Salomé
Intérprete: Teresa Silva Carvalho* (in LP "Ó Rama, Ó Que Linda Rama", Orfeu, 1977, reed. Movieplay, 1994)




Com a noite me deito
Com o dia me levanto
Canta-me um pássaro no peito
Vai-me a tristeza no canto

Vai-me a tristeza no canto
Como um cavalo no prado
Seca-me a água do pranto
Deste rio desatado

Deste rio desatado
Seca-me a água do pranto
Como um cavalo no prado
Vai-me a tristeza no canto

Vai-me a tristeza no canto
Canta-me um pássaro no peito
Com o dia me levanto
E com a noite me deito


* [Créditos gerais do disco:]
Teresa Silva Carvalho – voz
Júlio Pereira – violas acústica e clássica, bandolim e percussões
Pedro Caldeira Cabral – guitarra portuguesa e rabeca
Catarina Latino – flauta barroca e cornamusa
Zé Luiz Iglésias – viola clássica
Pintinhas – percussões
Hélder Reis – acordeão
Vitorino – voz masculina
Grupo Coral de Cantadores do Redondo
Produção e direcção musical – Vitorino
Gravado nos Estúdios Arnaldo Trindade, Lisboa
Técnicos de som – Manuel Cunha e Moreno Pinto



Capa do livro "Obra Poética", de Luís Pignatelli (&etc, 1999)
Desenho de Henrique Mourato
Organização, prefácio e notas de Zetho Cunha Gonçalves

2 comentários:

clara castilho disse...

Excelente trabalho! Trouxe-me muita informação, revi muitos amigos e conheci um outro Luís, que não o que encontrava na Trave... Claro que os compositores das músicas e cantores também têm aqui importância. Todas de grande beleza e sensibilidade, nesta junção letra/música.
Uma boa contribuição para que a História não fique esquecida.

Fernando Mota disse...

Excelente artigo! É um também excelente contributo para a memória da rádio (e muito mais).
Obrigado!