07 abril 2006

Porque é que mataram o "Magazine"?



O "Magazine", que Anabela Mota Ribeiro vinha apresentando na RTP-2 desde Janeiro de 2004, acaba de ser extinto. Teve a mesma sorte do "Acontece!" só que mais prematuramente. Cumpre-me perguntar: porquê? Pouco me importa o nome do programa: "Magazine", "Acontece!" ou qualquer outro. Agora o que não posso aceitar é que no serviço público de televisão não exista um espaço dedicado à actualidade cultural. Não era o "Magazine" um programa que se enquadrava no conceito de serviço público? Ninguém minimamente sério e responsável se atreve a dizer que não. Admito que houvesse necessidade de ajustar o formato ou redefinir alguns conteúdos (por exemplo, na área da música), mas nunca a extinção pura e simples para passar a reinar o vazio. Com o desaparecimento do "Magazine" o serviço público de televisão ficou em pior situação que as televisões privadas que, embora a horas tardias, ainda apresentam um cartaz cultural semanal.
Estava à espera que com o novo director, Jorge Wemans, a RTP-2 pudesse recuperar alguma da qualidade que perdeu com a reestruturação ocorrida em Janeiro de 2004. Mas agora verifico que estava enganado. E a degradação não se fica pela abolição do "Magazine". Um dos grandes erros da direcção de Manuel Falcão foi preferir as séries americanas ao cinema de qualidade: séries todos os dias e apenas um filme por semana. Agora, em vez de uma, temos duas séries por dia (algumas em reposição) e a penúria de cinema continua a mesma. É pertinente a pergunta: as séries americanas têm mais valor cultural do que o cinema europeu e os grandes clássicos do cinema norte-americano? O que fizeram aos mestres da sétima arte como Bergman, Antonioni, Fellini, Visconti, Buñuel, Jean Renoir, Truffaut, Murnau, Fritz Lang, John Ford, Orson Welles ou Hitchcock? Não digo que não haja uma ou outra série de qualidade como "Roma" ou "Sete Palmos de Terra", mas ocupar o horário nobre do canal cultural da televisão pública todos os dias com infindáveis ruminações de já visto parece-me um flagrante desvio do serviço público e um desperdício do dinheiro dos contribuintes. O que se está a passar é ainda mais bizarro atendendo a que foi o próprio ministro da tutela, Augusto Santos Silva, quando entrevistado por Jorge Rodrigues no programa "Ritornello" da Antena 2, que declarou o seu empenho numa RTP-2 vocacionada para uma programação cultural de excelência.
Quem é que beneficia com tudo isto? O cabo, pois claro! Quem não pode assinar o cabo, fica com as telenovelas, os concursos e os enlatados americanos. E depois venham queixar-se que o povo não tem cultura!

1 comentário:

Francisco disse...

Penso que a procura do aumento das percentagens nas audiências vai lançar a 2: para uma série de séries ...