15 fevereiro 2012

"As Idades do Mundo": uma viagem pela História da Arte


Francisco de Holanda, "O primeiro dia da criação do mundo: O caos e a criação da luz", in De Aetatibus Mundi Imagines, 1545-1547, Biblioteca Nacional de Espanha, Madrid

«Tomando como ponto de partida a obra-prima do pintor português Francisco de Holanda De Aetatibus Mundi Imagines, ou Imagens das Idades do Mundo, realizada no triénio 1545-1547, onde, numa linguagem totalmente inovadora e através de mais de centena e meia de ilustrações, se narra a história do mundo a partir do primeiro dia da Criação, concebemos uma série de doze programas que toma como denominação parte daquele título.
As características cíclicas da história da Humanidade, aliadas à permanente influência e contaminação de vários tipos de linguagens e de imagéticas, proporcionaram o eterno retorno às concepções do passado, nem que fosse apenas para as renegar, sendo os mesmos temas, por diversas vezes e ao longo dos tempos, retomados e apreendidos de diferentes formas pelos seus autores.
Tal como afirma o filósofo francês Gilles Deleuze ao caracterizar a cultura universal como "a civilização da imagem", o tema principal destas emissões será o da sua força e a poderosa capacidade de arrebatamento, deleite ou, simplesmente, horror.
Privilegiando a música e a palavra que lhe está associada, abordaremos, ao longo dos próximos domingos, personalidades ímpares do génio artístico universal, as quais contribuíram, de forma indelével, para a renovação da imagem do mundo em diferentes momentos da História.» (Ana Mântua e João Chambers, in boletim de programação da Antena 2, Jan. 2012)


Saúda-se o surgimento na Antena 2 de mais uma série da autoria de Ana Mântua e João Chambers, que tão boa impressão e proveito já me haviam dado com "Divina Proporção" e "A Herança de Atena". Tendo a direcção de Rui Pêgo e João Almeida eliminado da grelha praticamente todos os conteúdos culturais não musicais em que João Pereira Bastos vinha apostando (hoje não há uma rubrica de poesia, não há teatro radiofónico, não há um programa de História, não há um programa de Sociologia/Antropologia, etc., etc.) tudo o que apareça nas vertentes culturais e artísticas fora do estrito domínio da música é de louvar.
O que não se compreende é que um programa que tem uma forte componente de palavra, como "As Idades do Mundo", tenha uma única passagem (domingos, 10:00-11:00). Será que a dupla Rui Pêgo / João Almeida ainda não percebeu que os programas de autor, particularmente os não (estritamente) musicais, devem passar, no mínimo, duas vezes, de preferência em quadrantes horários diferentes, de modo a chegaram ao máximo número de ouvintes possível? Nem todas as pessoas têm a mesma disponibilidade para ouvir rádio numa determinada altura e as que, por qualquer razão, não podem (ou não lhes dá jeito) sintonizar a Antena 2 naquele dia/hora ficam sem alternativa. Refiro-me, obviamente, a uma alternativa hertziana porque se é certo que há um arquivo on-line, não deixa de ser também verdade que um sector nada desprezível do auditório tradicional da Antena 2 não tem internet, ou mesmo que a tenha, prefere o modo de audição via éter. Nesta conformidade, passar programas em que houve um investimento acrescido (como são os realizados por colaboradores externos à estação) uma única vez, significa, em boa medida, atirar o dinheiro dos contribuintes ao ar...

As Idades do Mundo
Antena 2, domingos, às 10:00
Texto: Ana Mântua
Selecção musical: João Chambers


Episódios transmitidos:
Ep. 1 – 8 Janeiro [>> RTP-Play]
"As Idades do Mundo" em Francisco de Holanda (1517-1585): as visões inovadoras da Criação deste eminente teórico e pintor do Renascimento português, ilustradas através de obras de Damião de Góis, Alessandro Striggio, Frei Manuel Cardoso, Diogo Dias Melgás, Felice Anerio, Duarte Lobo, Manuel Rodrigues Coelho, Giovanni Pierluigi da Palestrina, António Carreira e Filipe de Magalhães, todos contemporâneos no Portugal e na Península Itálica do século XVI.

Ep. 2 – 15 Janeiro [>> RTP-Play]
As "Imagens do Mundo" e da Humanidade através das visões de Jheronimus Bosch (?-1516) e da música de Joachimus de Monte, Cristianus Hollander, Jean Richafort, Nicolas Gombert e de autores anónimos, extraída dos "Livros de Coro do Colégio das Sete Horas Litúrgicas" da Igreja de São Pedro, na cidade de Leiden, nos Países Baixos, sobrevivente da fúria iconoclasta e destruidora, dos dias 25 e 26 de Agosto de 1566, que discordava da existência, não particularmente devota, de alguns membros da ordem religiosa local.

Ep. 3 – 22 Janeiro [>> RTP-Play]
"Museus de papel" – a génese de uma História da Arte e das Ciências através das imagens: as recolhas de antiguidades, o nascimento do discurso histórico durante os séculos XVII e XVIII e o repertório de Orazio Benevolo, Claudio Monteverdi, Tarquinio Merula, Giacomo Carissimi, Benedetto Ferrari, Johann Sebastian Bach, Pietro Paolo Bencini, Virgilio Mazzocchi, Marc-Antoine Charpentier, Michel-Richard Delalande, Jacques André François d’Agincour e de um autor anónimo.

Ep. 4 – 29 Janeiro [>> RTP-Play]
Os movimentos pós-impressionistas e o caminho da modernidade: o simbolismo, uma nova apreensão da realidade visível e a música de Maurice Ravel, Claude Debussy, Gabriel Fauré, Camille Saint-Saëns, Hector Berlioz, Gustav Mahler e Jean Delibes.

Ep. 5 – 5 Fevereiro [>> RTP-Play]
A nova orientação de gosto implementada pelos pintores italianos que laboraram em Portugal durante o reinado de D. João V, "O Magnânimo".

Ep. 6 – 12 Fevereiro [>> RTP-Play]
Do traçado no solo ao projecto: a evolução do desenho de arquitectura durante a Idade Média.

Ep. 7 – 19 Fevereiro [>> RTP-Play]
"Grão Vasco", o pintor-herói. A imagem e a obra, ambígua e plural, de Vasco Fernandes e a sua projecção no tempo.

Ep. 8 – 26 Fevereiro [>> RTP-Play]
Jacob Jordaens, um pintor dividido entre o catolicismo e o protestantismo na Antuérpia do século XVII.

Ep. 9 – 4 Março [>> RTP-Play]
A Pintura Naturalista Portuguesa: o reflexo de uma cultura e de uma identidade nacional.

Ep. 10 – 11 Março [>> RTP-Play]
Natureza-morta: a imitação da Natureza e os seus significados.

Ep. 11 – 18 Março [>> RTP-Play]
Clássico e Romântico: relação dialéctica ou antítese entre conceitos?

Ep. 12 – 25 Março [>> RTP-Play]
Vincenzo Foppa e a Capela Portinari: a obra mecenática de um banqueiro de Milão na segunda metade do século XV.

[Actualizado em 27-Mar-2012]



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel esquerdo, 1505-1506, óleo sobre madeira, 131,5x53 cm, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel central, 1505-1506, óleo sobre madeira, 131,5x119 cm, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel central (pormenor), 1505-1506, óleo sobre madeira, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel central (pormenor), 1505-1506, óleo sobre madeira, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel central (pormenor), 1505-1506, óleo sobre madeira, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel central (pormenor), 1505-1506, óleo sobre madeira, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel central (pormenor), 1505-1506, óleo sobre madeira, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel central (pormenor), 1505-1506, óleo sobre madeira, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa



Jheronimus Bosch, "As Tentações de Santo Antão": painel direito, 1505-1506, óleo sobre madeira, 131,5x53 cm, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

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