03 julho 2007

Notas do Provedor: programa da manhã da Antena 2 ("Império dos Sentidos")

«Alberto Ramos – A "pressão informativa" do "Império dos Sentidos" (como lhe chamou um Ouvinte) não constituirá, portanto, a única razão para os lamentos dos Ouvintes, quanto ao afirmado desequilíbrio entre Voz falada e Música.
José Nuno Martins – O conteúdo e a natureza dos textos e dos improvisos – de acordo com o que o Director-adjunto da Estação considerou aqui, na semana passada, estar "em linha com os parâmetros duma rádio cosmopolita que, pelo facto de ser erudita, não tem que se alhear do mundo", também são contestados por Ouvintes.
Isabel Bernardo – O processo utilizado nas "manhãs" de uma Rádio generalista pode ser precisamente, o de tecer um poliedro temático, que vise abranger todas as matérias, todos os Públicos, todas as idades, todos os estratos e todos os patamares de literacia, todos os padrões de gosto.
José Nuno Martins – Só que, na perspectiva dos Ouvintes queixosos, a ANTENA 2, não deve aproximar-se do modelo proposto pelas Rádios generalistas.
Isabel Bernardo – João Almeida, porventura também falando por Paulo Alves Guerra questionado pelas suas escolhas e processos no Programa, sugeria que os reclamantes não têm direito a refugiar-se numa ANTENA 2 menos permissiva ao registo dominante em toda a Comunicação social.
Alberto Ramos – Serão Ouvintes inapelavelmente classificados pelo Director, como "desiludidos da vida real", que não merecem estar entre os que, agora, segundo o mais recente estudo da Marktest, fortalecem a performance audimétrica da ANTENA 2, no período da manhã.
José Nuno Martins – Mas, deste modo, aproximando-se do modelo dominante, outra coisa não seria de esperar. Aliás, até prova em contrário, essa parece ser a única estratégia definida para os três canais nacionais do Serviço Público – conquistar audiências a todo o custo.
Nem que seja à custa do Serviço Público. Ou nem que seja à custa do respeito pela identidade própria e tradicional de cada Estação, ou da sensibilidade específica e das expectativas de cada uma das faixas de Públicos que, ao longo do dia, escolhem ouvir cada uma delas...
Alberto Ramos – Hoje o Provedor do Ouvinte pediu a opinião de João David Nunes, com 59 anos, depois de muitos de carreira profissional notável, é considerado como autoridade inquestionável no campo da Programação e da Gestão de Comunicação.

[João David Nunes - "Falar ... erro de casting" 02:42]

José Nuno Martins – Segundo a opinião de João David Nunes, o projecto de propor ao Público matinal da ANTENA 2 a actuação de um Jornalista pode, portanto, ter sido uma escolha pouco feliz.
O alinhamento de "Império dos Sentidos" configurava, na altura da análise efectuada, um conjunto de elementos mais adequados a uma Programação generalista, com muita Palavra improvisada, Encontros pessoais, Notícias repetidas e deslocadas do alvo, revistas de Imprensa nacional e internacional, generalista ou desportiva, promoções e autopromoções. E isso sim me parece ser um erro de interpretação, talvez decorrente da formação dos seus autores.
Ainda voltarei a este assunto porque a configuração de "Império dos Sentidos" – pouco alterada desde Abril – não está acordo com a expectativa manifestada pela muito expressiva maioria dos Ouvintes que se me dirigem.
A RDP aliás, parece querer padronizar as suas três ofertas nacionais – ANTENA 1, ANTENA 2 e ANTENA 3 – através de bitolas processuais e estéticas, de naturezas demasiado semelhantes entre si. Globalizando, em vez de acentuar as diferenças de estilos e de Públicos-alvo. E generalizando, ao invés de especializar, destrinçar e distinguir as suas propostas.
Contudo, a ANTENA 2 está definida nos textos legais como uma Rádio (vou citar) "de índole cultural, respeitando padrões exigentes de qualidade em termos de estética, de conteúdo e tecnológicos, vocacionada para a transmissão de programas de música erudita, atenta às suas manifestações (...), interessada em fomentar o conhecimento e o gosto pela música (...)". Além disso, segundo o texto do seu Contrato, a ANTENA 2 tem ainda como pressuposto para a sua actividade, a função de responder "aos interesses minoritários das diferentes categorias do Público".» (José Nuno Martins, in "
Em Nome do Ouvinte", 29-06-2007)


Não podia estar mais de acordo com estas palavras do Provedor do Ouvinte, José Nuno Martins. Agora espero que quem tem poder de decisão saiba tirar as devidas ilações e aja em conformidade. Por exemplo, urge que seja feita a monitorização do serviço prestado pelos diversos canais da RDP – em especial pelas Antenas 1, 2 e 3 –, e averiguado com objectividade o grau de infracção – quantitativo e qualitativo – das disposições constantes no contrato de concessão de serviço público celebrado entre o Governo e a Rádio e Televisão de Portugal. E para que essa avaliação não passe de uma mera formalidade sem consequências – como é usual entre nós –, é necessário que haja a efectiva responsabilização dos autores pelo incumprimento das obrigações contratualmente assumidas.

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