08 maio 2025

Fernando Pessoa: "Tenho dó das estrelas"


© Akira Fujii / Hubble, ESA
(in https://canaltech.com.br/)
Sirius: estrela-alfa da constelação de Canis Major (Cão Maior) e a mais brilhante do céu nocturno da Terra.


«Ontem, também pendurei longamente o olhar no plano fixo de um telhado de Roma onde uma gaivota enchia o peito ao vento como um guarda suíço, parecendo vigiar a chaminé mais mediática destes dias.
Nos canais que fui sintonizando, repetia-se aquele plano fixo. E a dado momento, os enormes ecrãs montados na praça apinhada onde todos esperavam, daquela chaminé, um fumo que se espalhasse no céu como música tocada por uma revoada de anjos ou de estorninhos, revelavam à multidão apinhada o mesmo plano fixo.
Poderia o fumo sair claro ou escuro e, entretanto, instalava-se o crepúsculo, o dia declinava. Em alguns momentos, o plano fixo parecia ter o dedo de um cineasta desenhador de nuvens. O rebanho voador, o céu a que chamam os metereólogos encarneirado deu lugar, em plena hora de vésperas, a um negrume cumuliforme que, em certos momentos, parecia sair daquela chaminé. Logo um clarão fugaz se intrometia, o sol furava entre nuvens pesadas.
Na véspera eu lera que astrónomos de um observatório do Havai tinham ouvido "música" de uma estrela, até agora considerada silenciosa. Nos vários estúdios de televisão presbíteros sugeriam que "Nosso Senhor faz surpresas" e que os cardeais em sua silenciosa compenetração seriam tocados pelo Espírito Santo e eu pensei em pombas voando muito longe do telhado guardado pela gaivota com porte de guarda suíço.
Um padre chamado João Vila Chã fala, já não sei em que canal, de "igrejas longínquas", quase tão longínquas (sou eu a deixar-me ir com as nuvens, os olhos ainda presos à chaminé do plano fixo) quase tão longínquas como a estrela cujas "oscilações ondulantes" ressoam nos ouvidos dos astrónomos do Havai. E o padre, cuja voz me soa a música, explica agora que o cardeal da Mongólia é visto, até pelos observadores qualificados, como o pároco de uma pequena aldeia. E, todavia, é o cardeal da Mongólia.
Em cima das seis da tarde, nuvens negras, de fumo nada. "Para o bem da Igreja, é bom que não haja pressa", diz outro presbítero comentador. A gaivota imóvel parece estar de acordo. Alguém observa, noutro canal talvez: "Não sei se é a mesma gaivota de 2013".
O telhado, sim, é o mesmo. E a chaminé, também. E lembro-me de Mia Couto, poeta muito atento à ciência: "Se construísse uma chaminé em minha casa, não era para sair o fumo, mas para entrar o céu".
Yaguang Li, o investigador do Instituto de Astronomia da Universidade do Havai, explica entretanto que "as vibrações de uma estrela são como a sua canção única". O Espírito Santo, sentado numa nuvem por detrás da Mongólia, trauteia um nome, um ponto cardeal.
Mesmo diante de um plano fixo, os pensamentos levantam voo.» [Fernando Alves, "O plano fixo", in "Os Dias que Correm", 8 Mai. 2025]


Que poema ou canção podia escolher-se para servir de remate à crónica que Fernando Alves lavrou para o dia de hoje? Um(a) que falasse de chaminés seria o(a) mais óbvio(a), mas é aparentemente difícil encontrar alguma gravação de interesse que não seja de cariz natalício...
Já quanto a registos (quer recitados, quer cantados) versando sobre estrelas a situação é bem diferente, e em face de tal abundância a selecção não se afiguraria fácil e imediata, a menos que se seguisse um determinado critério de incidência, como a efeméride de um autor ou de um intérprete. Ora, dado que em 2025 se completam 90 anos sobre a morte de Fernando Pessoa, podemos com toda a oportunidade e justeza trazer seu poema "Tenho dó das estrelas". De entre as múltiplas gravações existentes, em português de Portugal e do Brasil, damos enfoque a duas feitas do lado de cá do Atlântico: uma recitada (por Varela Silva) e outra cantada (por José Mário Branco & Grupo Coral "Os Escolhidos").
Não teriam os ouvintes que escutaram a crónica em directo, quando foi transmitida hoje de manhã pela Antena 1, apreciado esta prendinha pessoana, mesmo que fosse noutra voz? Fernando Alves, conhecida que é a sua paixão pela poesia, teria certamente também gostado que um destes registos fosse tomado como epílogo ilustrativo das alusões a uma estrela de brilho oscilante que fez na sua crónica...



Tenho dó das estrelas



Poema de Fernando Pessoa (in revista "Mensagem", n.º 1, Abr. 1938; "Poesias de Fernando Pessoa", Col. Obras Completas de Fernando Pessoa, Vol. I, Lisboa: Edições Ática, 1942, 14.ª edição, 1993 – p. 204)
Recitado por Varela Silva* (in LP "Fernando Pessoa", Philips, 1970; reed. digital: Universal Music Portugal, 2021)




Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão —
Qualquer coisa assim
Como um perdão?


* Varela Silva – voz
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Varela_Silva
https://www.infopedia.pt/artigos/$varela-silva
https://music.youtube.com/channel/UCys9lzYjkce5-V0aNfjRCrw



Tenho dó das estrelas



Poema: Fernando Pessoa (in revista "Mensagem", n.º 1, Abr. 1938; "Poesias de Fernando Pessoa", Col. Obras Completas de Fernando Pessoa, Vol. I, Lisboa: Edições Ática, 1942, 14.ª edição, 1993 – p. 204)
Música: José Mário Branco
Intérpretes: José Mário Branco* & Grupo Coral "Os Escolhidos" (in CD "Resistir É Vencer", José Mário Branco/EMI-VC, 2004, reed. Parlophone/Warner Music Portugal, 2017)




Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão —
Qualquer coisa assim
Como um perdão?


* José Mário Branco – voz
Luís Cunha – trombone tenor
Carlos Gonçalves – trombone baixo

Grupo Coral "Os Escolhidos" (Amélia Muge, Fernando Pinheiro, Filipa Pais, Genoveva Faísca, Guilhermino Monteiro, Jorge Palma, José Manuel David, Luísa Rodrigues, Manuela de Brito, Paulo Santos Silva e Rui Vaz) – coro

Orquestra de Gratz (Viena):
Dong Hynk Kim – maestro
Luís Morais, Sergei Bolotny, Andreas Kalfmann, Annette Veiltendorber, Narachi Nima e Kathrin Lenzenweger – 1.os violinos
Ko Wang-Yo, Smaranda Lelutiv, Orsolya Pálfi, Nora Põtter, Stalislava Svirac e Ardian Lahi – 2.os violinos
Michael Trabesinger, Marie Therese Hartet, Laura Jungairth e Margarethe Hlava – violas d'arco
Lee il-Se, Pflegard Wilhelm e Ele Schõfmann – violoncelos
James Rapport e König Franz – contrabaixos

Direcção, produção, arranjos e orquestrações – José Mário Branco
Assistência de produção artística – Manuela de Freitas
Assistência de produção musical – António José Martins
Produção executiva – Paulo Salgado / Vachier & Associados, Lda.
Direcção técnica – António Pinheiro da Silva
Assistência de direcção técnica e anotações – Maria João Castanheira
Gravado e masterizado no Estúdio 'O Circo a Vapor' (Lisboa), por António Pinheiro da Silva, Frederico Pereira e Maria João Castanheira, de Janeiro a Março de 2004
Gravação de cordas na Wiener Konzerthaus (Viena) por António Pinheiro da Silva, Maria João Castanheira, Georg Burdicek e Andreas Melcher, em Fevereiro de 2004
Edição e misturas nos Estúdios Pé-de-Meia (Oeiras), por António Pinheiro da Silva, Frederico Pereira, Maria João Castanheira e José Mário Branco, em Fevereiro e Março de 2004
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_M%C3%A1rio_Branco
https://arquivojosemariobranco.fcsh.unl.pt/
https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/posts/725849500857765/
https://expresso.pt/cultura/2019-11-19-O-momento-antes-de-disparar-a-seta-a-entrevista-de-Jose-Mario-Branco
https://www.buala.org/pt/cara-a-cara/jose-mario-branco-a-eterna-inquietacao
https://www.nit.pt/cultura/musica/morte-lenda-momentos-marcantes-vida-jose-mario-branco
https://www.esquerda.net/topics/dossier-303-jose-mario-branco-voz-da-inquietacao
https://www.publico.pt/jose-mario-branco
https://www.youtube.com/channel/UChQPBSV5W6kL-jw1Tp08g_w
https://www.youtube.com/user/DoTempoDosSonhos/videos?query=jose+mario+branco



Capa da 1.ª edição do livro "Poesias de Fernando Pessoa", Col. Obras Completas de Fernando Pessoa, Vol. I (Lisboa: Edições Ática, 1942)



Capa do LP "Fernando Pessoa", de Varela Silva (Philips, 1970)
Fotografia – Nuno Calvet



Capa do CD "Resistir É Vencer", de José Mário Branco (EMI-VC, 2004)
Reprodução parcial do quadro "Resistência", 1946, de Júlio Pomar [imagem da obra integral e texto explicativo de Ana Anacleto >> aqui]

___________________________________________

Outros artigos com poesia de Fernando Pessoa:
João Villaret: centenário do nascimento
Ser Poeta
Fernando Pessoa por João Villaret
Fernando Pessoa/Álvaro de Campos: "Dois Excertos de Odes", por Mário Viegas
Fernando Pessoa/Álvaro de Campos: "Aniversário", por Luís Lima Barreto
Em memória de Tereza Tarouca (1942-1919)
Cantos de Natal da Galiza e de Portugal
Celebrando Jorge Croner de Vasconcellos

___________________________________________

Outro artigo com poesia dita por Varela Silva:
Camões por Carmen Dolores

___________________________________________

Outros artigos com repertório interpretado por José Mário Branco ou da sua autoria:
A infância e a música portuguesa
Celebrando Natália Correia
Celebrando Sophia de Mello Breyner Andresen
José Mário Branco: "Zeca (Carta a José Afonso)"
Gina Branco: "Cantiga do Leite" (José Mário Branco)
Camões recitado e cantado (VI)
José Mário Branco: "Do Que um Homem É Capaz"
José Mário Branco: "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades"
Camões evocado por Sophia
José Mário Branco com Fausto: "Canto dos Torna-Viagem"
José Mário Branco: "Inquietação"

___________________________________________

Outros artigos relacionados com a crónica de Fernando Alves na Antena 1:
Galandum Galundaina: "Chin Glin Din"
"Sons d'Outrora" em viola da terra, por Miguel Pimentel
Vitorino: "Moças de Bencatel" (Conde de Monsaraz)
Teresa Silva Carvalho: "Barca Bela" (Almeida Garrett)
António Borges Coelho: "Sou Barco"
Celeste Rodrigues: "Chapéu Preto"
Sérgio Godinho: "Tem Ratos"
Ruy Belo: "E Tudo Era Possível", por Nicolau Santos
Jacques Brel: "J'Arrive"
A tristeza lusitana
Segréis de Lisboa: "Ay flores do verde pino" (D. Dinis)
Manuel D'Oliveira: "O Momento Azul"
Aldina Duarte: "Flor do Cardo" (João Monge)
José Mário Branco: "Inquietação"
Chico Buarque: "Bom Conselho"
Teresa Paula Brito: "Meu Aceso Lume - Meu Amor" (Maria Teresa Horta)
Adriano Correia de Oliveira: "Pensamento" (Manuel Alegre)
Fausto Bordalo Dias: "Comboio Malandro" (António Jacinto)
Grupo Coral "Os Ganhões de Castro Verde" com Luiz Avellar: "As Nuvens Que Andam no Ar"
Amélia Muge: "Ai, Flores"
Afonso Dias: "Os Amigos" (Camilo Castelo Branco)
Pedro Barroso: "Barca em Chão de Lama"
António Gedeão: "Poema do Coração"
Reinaldo Ferreira: "Quero um cavalo de várias cores"
Chico Buarque: "Construção"
João Afonso: "Tangerina dos Algarves"
Joan Manuel Serrat: "Cantares" (Antonio Machado e Joan Manuel Serrat)
Belaurora: "Lamento do Camponês" (Popular e Onésimo Teotónio Almeida)
Manuel Freire: "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" (José Saramago)
João Afonso: "O Som dos Sapatos"

07 maio 2025

João Afonso: "O Som dos Sapatos"


José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, na Cúria Romana, um dos 133 cardeais do conclave que vai eleger o sucessor do papa Francisco.
(in https://agencia.ecclesia.pt/)


«Como serão os sapatos daquele por quem sairá fumo branco, talvez hoje, talvez amanhã ou depois de amanhã? Mais do que sotainas e mozetas, barretes ou solidéus, mais do que o modo como os cardeais se protegem do vento de Roma, eu quereria ver os sapatos cardinalícios, o modo como cada um dos 133 cardeais pisa o chão da Sistina. Mais do que o seu olhar estremecendo sob a esplendorosa iconografia da abóbada, eu espero o modo como cada qual, filipino, ganês, italiano, português, firma o passo, o que os seus sapatos dizem de si. Que pó traz dos caminhos.
Percebo as palavras de José Tolentino de Mendonça. "O que te peço, Senhor, é a graça de ser. Não te peço sapatos, peço-te caminhos". Mas quero ver-lhes os sapatos, se os trazem imaculados, reluzentes de graxa, ou dados ao uso das ruas. Mais me ocorre perguntar: quantos dos outros 132 terão lido estas ou outras palavras de Tolentino, terão calçado as suas palavras?
Isso espero, também. Que o tenham lido. Que tenham sido tocados pela ideia de que a poesia nos prepara para a busca de Deus. Desculpai o meu atrevimento agnóstico. Mas interessa-me o modo como o próximo escolhido chegará à varanda, aguardo as primeiras palavras que dirá.
Em 2013, o meu coração agnóstico esperava Maradiaga, o hondurenho que enfrentou os traficantes, mas fiquei rendido a Bergoglio. Pelos sapatos e pelas palavras.
Agora, leio num jornal digital do Vaticano uma breve entrevista com o arcebispo emérito de Tegucigalpa. Maradiaga recorda momentos altos de uma longa amizade com o argentino e toca nesse preciso ponto da austeridade nas roupas e nos sapatos, nos transportes que escolhia. E recorda o Papa que se emocionou em plena praça de São Pedro "para se aproximar de alguém que estava com o rosto cheio de tumores e lhe dar um beijo".
E o hondurenho lembra o momento em que Francisco acabou com a designação Esmolaria Apostólica e introduziu o Dicastério para o qual nomeou o cardeal Krajewski a quem disse: "O seu trabalho não começa às 9 da manhã, começa às 10 da noite debaixo das pontes, com os que dormem na calçada". Krajewski lembra a criação de chuveiros para os mendigos das ruas. E isso me traz de volta o sem-abrigo que há dias recordou a um repórter o dia em que o Papa o abraçou. Quem espera, ele, que saia do conclave? Ele responde: "Um Papa bom". Sábias palavras respondem a seu modo ao desafio de Francisco a jovens que o escutavam, há dez anos, na universidade de Manila: "Converte-te em mendigo, aprende a chorar. Ao mundo de hoje, falta-lhe chorar".
O meu coração agnóstico espera Tacle, ou talvez Zuppi, claro que vibraria com a possibilidade, quem sabe remota, quem sabe não, de um Papa poeta, mas rende-se à ambição maior expressa pelo sem-abrigo de Roma.» [Fernando Alves, "Sapatos e caminhos", in "Os Dias que Correm", 7 Mai. 2025]


Mais uma crónica de antologia que Fernando Alves ofereceu aos seus indefectíveis ouvintes e sem que aparecesse o merecido e desejado remate poético ou poético-musical, ou simplesmente musical tematicamente relacionado com o teor do texto lido aos microfones da Antena 1. Ora para rematar uma crónica que fala de sapatos e caminhos, parafraseando uma passagem de um texto de José Tolentino Mendonça, nada melhor que a bela canção "O Som dos Sapatos", de e por João Afonso, que abre o alinhamento do seu álbum "Zanzibar" (Universal Music Portugal, 2002), e cuja letra tem a dado passo uma estrofe de bom recorte poético que se ajusta primorosamente, se descontada a ausência de "santo-e-senha", ao perfil do viandante que procura caminhos para trilhar esboçado pelo poeta-cardeal: «O homem que passa subiu a montanha,/ caminha sem pressa, sem santo nem senha;/ o som dos sapatos, a linha da vida,/ a cor do tinteiro derrama a saída.». Por outro lado, a alusão que João Afonso faz às "Rosas de Ermera", remetendo para Timor-Leste, onde sua mãe, Maria das Dores Afonso dos Santos, viveu três anos aprisionada num campo de concentração japonês, durante a II Guerra Mundial, evoca um país longínquo arreigadamente católico que, sendo pobre, espera – com inteira legitimidade – que do conclave reunido na Capela Sistina saia um papa amigo dos povos que os "tubarões de mil aparas" do chamado Primeiro Mundo não têm o menor pejo em esmifrar, enquanto mão-de-obra baratíssima, e em deixar à margem da riqueza gerada pela exploração dos mui rendosos recursos naturais desses territórios, mormente o petróleo e o gás natural.



O Som dos Sapatos



Letra: João Afonso Lima
Música: João Afonso Lima, António Afonso
Arranjo: José Moz Carrapa
Intérprete: João Afonso* (in CD "Zanzibar", Mercury/Universal Music Portugal, 2002; CD "João Afonso: A Arte e a Música", Universal Music Portugal, 2004)




[instrumental]

Penso em ti a noite inteira
numa insónia não vencida,
seguir sozinho uma ideia,
os lugares da tua vida.

Na penumbra a luz dum verso
que deixou de ter sentido,
dominó, enciclopédia,
horas de um tempo perdido...

A tua mão a passear
tomba o aparo, gesto de espera,
ventos de guerra, dado a rolar,
ecos dispersos, "Rosas de Ermera".

O homem que passa subiu a montanha,
caminha sem pressa, sem santo nem senha;
o som dos sapatos, a linha da vida,
a cor do tinteiro derrama a saída.

[instrumental]

A noite já desceu à Terra,
no seu ventre se enrolou;
pousou na melancolia
de um dia que já passou...

Já te disse o que não digo
numa verdade mentira:
há um som breve que vive
numa palavra que gira.

Se vejo o mundo a preto e branco,
quero escrever-te em colorido
crime-castigo, sonhos de glória:
será atalho ou estou perdido?

Esculpidos no tronco, desenhos, palavras,
murmúrios videntes, separam-se as águas,
navios, gaivotas, o Tejo e o frio,
as canas trazidas pelas águas do rio.

[instrumental]


* João Afonso – voz
José Salgueiro – percussões
Luís Sá Pessoa – violoncelo
António Afonso – vozes
José Moz Carrapa – guitarras, sampler

Pré-produção – José Moz Carrapa e António Afonso
Produção – José Moz Carrapa
Produção executiva – Paulo Salgado / Vachier & Associados
Gravado por Jorge Avillez, na Verdizela - Seixal (assistido por Nuno Rebocho) e em Sassoeiros - Cascais, de Junho a Agosto de 2001
Misturado por Jorge Avillez e José Moz Carrapa, em Portalegre
Pós-produção – estúdio MDL, Paço d'Arcos
Masterizado por Jorge Avillez
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Afonso
https://www.facebook.com/JoaoAfonso.musico/
https://www.youtube.com/Jo%C3%A3oAfonsoMusico
https://www.youtube.com/@DoTempoDosSonhos/videos?query=joao+afonso
https://music.youtube.com/channel/UCCmbVQRLE6IHLbp_EYXro7w



Capa do CD "Zanzibar", de João Afonso (Mercury/Universal Music Portugal, 2002)
Fotografia – Augusto Brázio
Concepção gráfica – António Nepomuceno



Capa da compilação em CD "João Afonso: A Arte e a Música", Universal Music Portugal, 2004)

___________________________________________

Outros artigos com repertório de João Afonso:
A infância e a música portuguesa
Celebrando Natália Correia
João Afonso: "Tangerina dos Algarves"

___________________________________________

Outros artigos relacionados com a crónica de Fernando Alves na Antena 1:
Galandum Galundaina: "Chin Glin Din"
"Sons d'Outrora" em viola da terra, por Miguel Pimentel
Vitorino: "Moças de Bencatel" (Conde de Monsaraz)
Teresa Silva Carvalho: "Barca Bela" (Almeida Garrett)
António Borges Coelho: "Sou Barco"
Celeste Rodrigues: "Chapéu Preto"
Sérgio Godinho: "Tem Ratos"
Ruy Belo: "E Tudo Era Possível", por Nicolau Santos
Jacques Brel: "J'Arrive"
A tristeza lusitana
Segréis de Lisboa: "Ay flores do verde pino" (D. Dinis)
Manuel D'Oliveira: "O Momento Azul"
Aldina Duarte: "Flor do Cardo" (João Monge)
José Mário Branco: "Inquietação"
Chico Buarque: "Bom Conselho"
Teresa Paula Brito: "Meu Aceso Lume - Meu Amor" (Maria Teresa Horta)
Adriano Correia de Oliveira: "Pensamento" (Manuel Alegre)
Fausto Bordalo Dias: "Comboio Malandro" (António Jacinto)
Grupo Coral "Os Ganhões de Castro Verde" com Luiz Avellar: "As Nuvens Que Andam no Ar"
Amélia Muge: "Ai, Flores"
Afonso Dias: "Os Amigos" (Camilo Castelo Branco)
Pedro Barroso: "Barca em Chão de Lama"
António Gedeão: "Poema do Coração"
Reinaldo Ferreira: "Quero um cavalo de várias cores"
Chico Buarque: "Construção"
João Afonso: "Tangerina dos Algarves"
Joan Manuel Serrat: "Cantares" (Antonio Machado e Joan Manuel Serrat)
Belaurora: "Lamento do Camponês" (Popular e Onésimo Teotónio Almeida)
Manuel Freire: "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" (José Saramago)

06 maio 2025

Manuel Freire: "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" (José Saramago)


© Eyad Baba / Agence France-Presse
(in https://www.facebook.com/jornalnoticias)
[Para ver a fotografia em ecrã inteiro, noutra janela, é favor clicar aqui]


«Faz agora um ano, a SIC Notícias transmitiu uma reportagem da Sky News em Rafah, a cidade que acolhera um milhão de refugiados e onde ainda era possível comprar tomates e pepinos. No mercado, com alguma sorte, os mais afortunados talvez encontrassem meio frango. Enfim, "a um preço astronómico", sublinhava o repórter.
Há um momento da reportagem em que aparece um homem muito alto, de samarra com gola de pele de carneiro, um gorro sobre o cabelo muito curto, barba mais espessa, nariz adunco, olhar muito penetrante. O homem dirige-se ao repórter e explica-lhe que as pessoas não têm dinheiro que lhes permita comprar o que quer que seja, ficam apenas a olhar umas para as outras. Mas a reportagem da Sky News mostrava que as pessoas não ficavam só a olhar umas para as outras. Ali estavam as crianças acotovelando-se, segurando pequenas panelas na fila por uma sopa aguada, um caldo de penúria. Como num formigueiro alvoroçado, atropelavam-se na urgência de uma sopa de batata. A dado momento, a reportagem seguia um rapaz que regressava com a panela vazia, a sopa tinha acabado antes de chegar a sua vez.
Creio ser aquele o mesmo homem que distribui sopa na banca humanitária na foto que serve de capa ao JN esta manhã. É uma foto obtida por Eyad Baba, da France-Presse. Ele é um dos bravos da agência que nos tem revelado os dias do "inferno de Gaza", legenda da exposição montada no Centro de Fotojornalismo de Bruxelas, já no início deste ano.
Chegam de Gaza notícias de uma vaga de pilhagens que bloqueiam a capacidade de resposta das agências humanitárias agravando a situação de fome generalizada, em si mesma uma repugnante arma de guerra.
A Euronews reportava, por estes dias, a situação de quase colapso vivida pelas cozinhas solidárias.
É o que mostra também a foto de Eyad Baba, na capa do JN, esta manhã. Se passares por um quiosque, demora-te diante desta primeira página, no emaranhado de gestos, no desespero mudo destas mulheres esticando os braços para a sua ração de sopa aguada, tenta escutar os gritos suspensos, a fúria destas vozes emudecidas na capa de um jornal. E, todavia, elas gritam.
Estou capturado por esta imagem, o olhar de uma severidade fraterna na distribuição da sopa tão minguada, o olhar que caustica o atropelo dos desesperados para que todos possam partilhar a penúria insultuosa. Hoje vou pedir uma sopa no restaurante, vou pensar nesta imagem de capa do JN e no breve poema de Ruy Belo: "Um prato de sopa um humilde prato de sopa / comovo-me ao vê-lo no dia de festa / e entro dentro da sopa / e sou comido por mim próprio com lágrimas nos olhos".» [Fernando Alves, "A sopa", in "Os Dias que Correm", 6 Mai. 2025]


No arquivo histórico da RDP não existe qualquer registo recitado do poema "Um prato de sopa", de Ruy Belo? A confirmar-se tal hipótese, ela não serve de desculpa para a ausência do desejado remate poético ou poético musical à crónica de Fernando Alves quando foi transmitida pela Antena 1, hoje, no seu programa da manhã. Podia muito bem deitar-se mão a um poema cantado ou canção denunciando a fome ou a fome e a guerra (estes "cavaleiros do Apocalipse" andam frequentemente a par), como é o caso do poema "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta", de José Saramago, cantado por Manuel Freire com música da sua autoria.
O distinto compositor e intérprete gravou-o duas vezes: a primeira para o EP "Dulcineia" (Zip-Zip, 1971) e a segunda para o álbum "As Canções Possíveis: Manuel Freire canta José Saramago" (Editorial Caminho, 1999). Estamos firmemente convictos de que todos os rádio-ouvintes (ou a esmagadora maioria) apreciariam terem sido presenteados com qualquer um daqueles tocantes registos poético-musicais imediatamente a seguir à crónica, e também acreditamos piamente que Fernando Alves teria esboçado um sorriso de agrado e de sentida gratidão por esse gesto da Antena 1. Infelizmente, a inércia e a negligência voltaram a sobrepor-se ao dever de se prestar bom serviço público...
Para aqui destacar, escolhemos a segunda gravação por ter um arranjo mais contido, logo mais favorável à necessária compenetração e meditação a respeito do genocídio do povo palestino perpetrado pelo criminoso estado sionista, com a cumplicidade (declarada ou silenciosa) dos dirigentes das principais potências do Ocidente (o pretenso farol da civilização e do humanismo). A "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" saramaguiana tinha como referente a Guerra do Vietname, promovida pelo poderoso país que então também mandava astronautas para o espaço, em demanda da Lua, quando na Terra grassava a fome. Seis décadas mais tarde, verifica-se que é esse mesmo país que dá respaldo a outra guerra infame e ao extermínio pelas armas e pela fome de um povo indefeso às mãos de outro que se considera o eleito de Deus (uma ideia eminentemente racista que, no fundo, não difere assim tanto do arianismo nazi). Dá calafrios e causa insónias!



Fala do Velho do Restelo ao Astronauta



Poema: José Saramago (Do ciclo "Poema a Boca Fechada", in "Os Poemas Possíveis", Lisboa: Portugália Editora, 1966 – p. 76; "Poesia Completa", Lisboa: Assírio & Alvim, 2022 – p. 82)
Música: Manuel Freire
Intérprete: Manuel Freire* (in CD "As Canções Possíveis: Manuel Freire canta José Saramago", Editorial Caminho, 1999, reed. Ovação, 2005)




Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez,
E pusemos em ti nem eu sei que desejo
De mais alto que nós, e melhor, e mais puro.
No jornal soletramos, de olhos tensos,
Maravilhas de espaço e de vertigem:
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalme são brinquedos),
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome.


* Manuel Freire – voz
Aníbal Lima – violino
Nuno Silva – clarinete
Paulo Gaio Lima – violoncelo
João Paulo Esteves da Silva – piano
Bernardo Moreira – contrabaixo

Orquestração e direcção musical – Carlos Alberto Moniz
Assistência musical – Idália Moniz
Produção – Dito e Feito, Lda.
Gravado nos Estúdios Xangrilá, Lisboa, nos dias 8, 9 e 10 de Março de 1999, por Pedro Ferreira, e nos Estúdios Goya, Lisboa, nos dias 23, 24, 25 e 26 de Março de 1999, por Rosário Sena e José Manuel Fortes
Mistura e masterização – José Manuel Fortes
URL: https://www.facebook.com/ManuelFreireOficial/
https://www.youtube.com/channel/UC-z8xqfA49yS1tAXIBTvQig
https://www.youtube.com/user/DoTempoDosSonhos/videos?query=manuel+freire



Capa da 1.ª edição do livro "Os Poemas Possíveis", de José Saramago (Col. Poetas de Hoje, Portugália Editora, 1966)



Capa do livro "Poesia Completa", de José Saramago (Lisboa: Assírio & Alvim, Out. 2022)



Capa da 1.ª edição do CD "As Canções Possíveis: Manuel Freire canta José Saramago" (Editorial Caminho, 1999)
Design e ilustração – José Serrão

___________________________________________

Outros artigos com canções interpretadas por Manuel Freire:
A infância e a música portuguesa
Em memória de Fernando Alvim (1934-2015)
José Saramago: "Dia Não"
Manuel Freire: "O Zeca"
Manuel Freire: "Livre" (Carlos de Oliveira)

___________________________________________

Outro artigo com poesia de José Saramago:
José Saramago: "Dia Não"

___________________________________________

Outros artigos relacionados com a crónica de Fernando Alves na Antena 1:
Galandum Galundaina: "Chin Glin Din"
"Sons d'Outrora" em viola da terra, por Miguel Pimentel
Vitorino: "Moças de Bencatel" (Conde de Monsaraz)
Teresa Silva Carvalho: "Barca Bela" (Almeida Garrett)
António Borges Coelho: "Sou Barco"
Celeste Rodrigues: "Chapéu Preto"
Sérgio Godinho: "Tem Ratos"
Ruy Belo: "E Tudo Era Possível", por Nicolau Santos
Jacques Brel: "J'Arrive"
A tristeza lusitana
Segréis de Lisboa: "Ay flores do verde pino" (D. Dinis)
Manuel D'Oliveira: "O Momento Azul"
Aldina Duarte: "Flor do Cardo" (João Monge)
José Mário Branco: "Inquietação"
Chico Buarque: "Bom Conselho"
Teresa Paula Brito: "Meu Aceso Lume - Meu Amor" (Maria Teresa Horta)
Adriano Correia de Oliveira: "Pensamento" (Manuel Alegre)
Fausto Bordalo Dias: "Comboio Malandro" (António Jacinto)
Grupo Coral "Os Ganhões de Castro Verde" com Luiz Avellar: "As Nuvens Que Andam no Ar"
Amélia Muge: "Ai, Flores"
Afonso Dias: "Os Amigos" (Camilo Castelo Branco)
Pedro Barroso: "Barca em Chão de Lama"
António Gedeão: "Poema do Coração"
Reinaldo Ferreira: "Quero um cavalo de várias cores"
Chico Buarque: "Construção"
João Afonso: "Tangerina dos Algarves"
Joan Manuel Serrat: "Cantares" (Antonio Machado e Joan Manuel Serrat)
Belaurora: "Lamento do Camponês" (Popular e Onésimo Teotónio Almeida)

05 maio 2025

Belaurora: "Lamento do Camponês" (Popular e Onésimo Teotónio Almeida)


Onésimo Teotónio Almeida
© Rui Sousa / Correntes d'Escritas


«O jornal "El País" faz-nos saber que o arquivo do poeta Vicente Aleixandre, prémio Nobel da Literatura em 1977, "envelhece" numa casa de Madrid, guardado em 55 recipientes de plástico.
Todo esse tesouro, explica uma sobrinha do poeta, não é que esteja degradado, apenas está para ali entregue a uma negligência que impediu até agora a sua digitalização bem como o acesso de quantos pretendam estudar a obra do autor de "Retratos com Nome".
O arquivo adormecido em plástico contém uma quantidade apreciável de manuscritos e a valiosa correspondência do grande poeta nascido em Sevilha em 1898 e que revemos, nas imagens do jornal, ao sol de Velintonia, a casa onde viveu, em Madrid. Ora sozinho, já perto do fim de uma vida marcada por longa doença, cobrindo-se com a capa que sempre usava quando passeava pelo jardim, ora ladeado por outros poetas seus amigos, José Hierro e Carlos Bousoño, a quem Aleixandre (já depois de firmado o testamento em que estabelecia como única herdeira uma sobrinha) quis que fosse doada a sua biblioteca e um quadro que Miró lhe dedicou quando recebeu o Nobel. O contencioso legal segue os seus trâmites enquanto nos 55 recipientes de plástico dormem mais de seis mil documentos, entre eles valiosa correspondência que Aleixandre manteve com outros maiores, Luis Cernuda, Rafael Alberti, Camilo José Cela, Octavio Paz, Rubén Darío, Antonio Machado, García Lorca, ou com a viúva de Miguel Hernández, aquele que o franquismo matou na prisão, em 42.
Esta notícia reconduz-nos com um misto de melancolia e tristeza aos poemas que tantas vezes nos transportaram, na sempre confiável tradução de José Bento, à "cidade do paraíso".
Percorrendo os recantos da casa e do jardim a que esta notícia do "El País" me reconduziu, não pude deixar de me lembrar de uma passagem de uma conferência dada por Onésimo Teotónio Almeida, há quase dez anos, na Universidade da Beira Interior, sobre o cânone literário, agora recuperada no livro "Diálogos Lusitanos", cuja leitura me ocupa por estes dias.
Partilho convosco uma saborosa passagem em que Onésimo subscreve a ideia de que temos necessidade de cânones, ainda que necessariamente abertos e dá como exemplo o caso de um gasolineiro da vila de Povoação, em São Miguel. Conta o professor da Universidade de Brown, ele também micaelense, do Pico da Pedra, que o gasolineiro "interessadíssimo em livros e não tendo ninguém dos seus conhecimentos que o orientasse, pensou que, se um autor é premiado com um Nobel, tem de ser porque é muito bom. Então decidiu ler pelo menos um livro de cada premiado pela Academia Sueca. Através da internet conseguiu obter uma lista, e aos poucos foi adquirindo obras. Tinham de ser em português, a única língua que ele conhece. Só não encontrou tradução de seis". Felizmente, graças a José Bento, Vicente Aleixandre não era um desses seis.» [Fernando Alves, "55 recipientes de plástico", in "Os Dias que Correm", 5 Mai. 2025]


Palpitamos que no arquivo histórico da rádio pública existam várias gravações de poemas de Vicente Aleixandre, na tradução de José Bento, ditos por António Cardoso Pinto ou por Paulo Rato, pelo menos. Um desses poemas seria o perfeito remate à crónica de Fernando Alves quando foi emitida hoje de manhã pela Antena 1. Em alternativa, dada a referência a Onésimo Teotónio Almeida, poderia optar-se por uma canção com versos da lavra daquele autor, por exemplo "Lamento do Camponês", interpretada pelo grupo micaelense Belaurora. Transmitindo este espécime, o canal generalista da rádio do Estado estaria também a fazer justiça, embora diminuta, ao mencionado agrupamento musical, que desde 1985 se tem devotado, com denodo e paixão, à recriação do rico e cativante cancioneiro popular das nove ilhas dos Açores – até por ser-lhe negada presença na 'playlist', nem ser possível ouvir-se algo da sua discografia em espaços de autor desde que o saudoso Sr. Armando Carvalhêda se aposentou (no fim de 2020).
Ficou por fazer, uma vez mais, o serviço público que os ouvintes da Antena 1 merecem e lhes é devido em razão do dinheiro que desembolsam no âmbito da contribuição do audiovisual...



Lamento do Camponês



Letra: Popular (1.ª quadra) e Onésimo Teotónio Almeida (1967)
Música: Popular
Arranjo: Carlos Sousa
Intérprete: Belaurora* / introdução por Folia do Maranhão (in CD "Achados do Tempo", Açor/Emiliano Toste, 2003)


Foge a minha mocidade  | bis
E a tua foge também;    |
E ninguém tem caridade   | bis
Da vida que a gente tem.  |

[instrumental]

Cavo em terra não minha
As ânsias de oiro do meu senhor,
Que desabrocham e crescem
Regadas com o meu suor.

As rugas da minha face
São fundos golpes que eu senti,
Todas as vezes que à vida
Esperançado sorri.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Vê que na maior pobreza
Nunca pode um bom cristão
Esquecer-se que é mais santo
Viver com resignação.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Ouço conselhos que apagam
Todo o sentido do meu viver,
E aos poucos sinto o meu corpo
Sobre a terra pender.

E assim eu vou uma à uma
Nesse chão frio aprofundar
A cova grande que um dia
Há-de então ser o meu lar.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

Vê que na maior pobreza
Nunca pode um bom cristão
Esquecer-se que é mais santo
Viver com resignação.

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!

[instrumental]

Haja paz e alegria,
Pois que a tristeza
Nunca aos homens deu o pão!


* [Créditos gerais do disco:]
Belaurora:
Ana Medeiros – violão, viola de terra, bandolim, cavaquinho, percussão e voz
Carlos Sousa – bandolim, violino, percussão e voz (solo em "Lamento do Camponês")
Carmen Medeiros – cavaquinho, percussão e voz
Eduardo Medeiros – acordeão, percussão e voz
Francisco Nascimento – violão, percussão e voz
Isabel Meireles Sousa – percussão e voz
Laureano Sousa – percussão e voz
Margarida Sousa – percussão e voz
Micaela Sousa – percussão e voz
Pedro Medeiros – flauta transversal, flautim, clarinete, percussão e voz
Rui Lucas – violão e voz
Vera Sousa – percussão e voz

Participações especiais:
José Pracana – guitarra portuguesa
Manuel Augusto – tuba
Ricardo Melo – contrabaixo

Produção – Carlos Sousa
Gravação, masterização e edição – Emiliano Toste
Mistura – Pedro Barreiros
URL: http://www.belaurora.com/iniciop.php
https://www.facebook.com/grupodecantaresbelaurora/
https://www.sinfonias.org/mais/musica-portuguesa-anos-80/directorio/760-belaurora
https://pgl.gal/belaurora-grupo-de-cantares-popular-dos-acores/
https://www.youtube.com/channel/UC2OgEof5SLnYuIxifii24hQ/videos?query=belaurora



Capa do CD "Achados do Tempo", do grupo Belaurora (Açor/Emiliano Toste, 2003)
Desenho – Gilberto Bernardo
Concepção e arranjo gráfico – Carlos Sousa



Capa do livro "Diálogos Lusitanos", de Onésimo Teotónio Almeida (Lisboa: Quetzal Editores, Set. 2024)

___________________________________________

Outro artigo com repertório do grupo Belaurora:
Belaurora: "Saudade" (Camilo Castelo Branco)

___________________________________________

Outros artigos relacionados com a crónica de Fernando Alves na Antena 1:
Galandum Galundaina: "Chin Glin Din"
"Sons d'Outrora" em viola da terra, por Miguel Pimentel
Vitorino: "Moças de Bencatel" (Conde de Monsaraz)
Teresa Silva Carvalho: "Barca Bela" (Almeida Garrett)
António Borges Coelho: "Sou Barco"
Celeste Rodrigues: "Chapéu Preto"
Sérgio Godinho: "Tem Ratos"
Ruy Belo: "E Tudo Era Possível", por Nicolau Santos
Jacques Brel: "J'Arrive"
A tristeza lusitana
Segréis de Lisboa: "Ay flores do verde pino" (D. Dinis)
Manuel D'Oliveira: "O Momento Azul"
Aldina Duarte: "Flor do Cardo" (João Monge)
José Mário Branco: "Inquietação"
Chico Buarque: "Bom Conselho"
Teresa Paula Brito: "Meu Aceso Lume - Meu Amor" (Maria Teresa Horta)
Adriano Correia de Oliveira: "Pensamento" (Manuel Alegre)
Fausto Bordalo Dias: "Comboio Malandro" (António Jacinto)
Grupo Coral "Os Ganhões de Castro Verde" com Luiz Avellar: "As Nuvens Que Andam no Ar"
Amélia Muge: "Ai, Flores"
Afonso Dias: "Os Amigos" (Camilo Castelo Branco)
Pedro Barroso: "Barca em Chão de Lama"
António Gedeão: "Poema do Coração"
Reinaldo Ferreira: "Quero um cavalo de várias cores"
Chico Buarque: "Construção"
João Afonso: "Tangerina dos Algarves"
Joan Manuel Serrat: "Cantares" (Antonio Machado e Joan Manuel Serrat)

01 maio 2025

Carlos Paredes: "Canto de Trabalho"


© Aloysius Patrimonio/Fine Art America, Jan. 2011
(in https://fineartamerica.com/)


Neste Dia do Trabalhador e prosseguindo a celebração do centenário do nascimento de Carlos Paredes, o blogue "A Nossa Rádio" destaca o seu "Canto de Trabalho", composição que tinha um significado particular para o genial guitarrista, pois gravou-a para três discos, a saber: "Concerto em Frankfurt" (1983), integrando a suite "Seis Cantos Improvisados sobre a Cidade" que preenche todo o lado A daquele LP; CD "Espelho de Sons" (1988), onde surge incluída na suite "Lisboa e o Tejo"; e LP/CD "Dialogues" (1990). Escolhemos a gravação presente no álbum (edição em CD) "Espelho de Sons" e republicada no CD/LP "Asas sobre o Mundo" (1989/1990) e em compilações posteriores.
Note-se nas sequências (inicial e final) de acordes bruscos em cadência repetitiva deste curto mas muito eloquente "Canto de Trabalho", sugerindo-nos extenuante trabalho operário – ao qual o músico devotava elevado respeito e consideração, aliás em assinalável coerência com a sua filiação político-partidária (era militante do Partido Comunista Português). Boa escuta!

Fernando Alves, em 14 de Janeiro passado, iniciou sua crónica com as seguintes palavras: «Em vésperas do centenário do nascimento de Carlos Paredes, voltaremos a escutar, na evocação do grande mestre da guitarra (ou, como sustenta o genial Pedro Caldeira Cabral, da cítara portuguesa) os "Verdes Anos" ou o "Movimento Perpétuo". Passada a efeméride, Paredes regressará ao desterro dos instrumentais.»
O seu vaticínio não podia estar mais certo: hoje é virtualmente impossível apanhar-se algo da superlativa obra do maior expoente da guitarra portuguesa nas rádios nacionais, a Antena 1 incluída. Mas será isso aceitável no canal generalista da rádio do Estado que, em razão do financiamento público, tem particulares obrigações no capítulo da divulgação do mais valioso património musical português de recorte não estritamente erudito?



Canto de Trabalho



Música: Carlos Paredes
Intérprete: Carlos Paredes* (in CD "Espelho de Sons", Philips/PolyGram, 1988; CD "Asas sobre o Mundo", Philips/PolyGram, 1989; CD "Uma Guitarra com Gente Dentro: Carlos Paredes", Universal Music Portugal, 2002; livro/8CD "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993": CD 6 – "Asas", EMI-VC, 2003; 2CD "Carlos Paredes: Antologia 62/98": CD 1 e CD 2, Universal Music Portugal, 2007)




(instrumental)


* Carlos Paredes – guitarra portuguesa (construída por João Pedro Grázio Júnior)
Luísa Amaro – guitarra clássica (cordas de nylon)

Produção – Tozé Brito
Gravado no Angel Studio 2, Lisboa, em 1987
Técnico de som – José Manuel Fortes
Texto sobre o disco em: Grandes discos da música portuguesa: efemérides em 2008
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Paredes
https://www.museudofado.pt/fado/personalidade/carlos-paredes
https://viriatoteles.com/dispersos/colaboracoes/153-o-mundo-segundo-carlos-paredes.html
https://www.youtube.com/channel/UCh5tYA07B0Uur5Mo1gbPmYQ/videos?query=carlos+paredes
https://music.youtube.com/channel/UCj1y__qVlbJZwynbWv22eoQ



Capa do CD "Espelho de Sons", de Carlos Paredes (Philips/PolyGram, 1988)
Desenho – Carlos Martins Pereira



Capa do CD "Asas sobre o Mundo", de Carlos Paredes (Philips/PolyGram, 1989)
Concepção – Acácio Campos



Capa da compilação em CD "Uma Guitarra com Gente Dentro: Carlos Paredes" (Universal Music Portugal, 2002)
Fotografia – Eduardo Gageiro (Cais do Sodré, Lisboa, 1988)



Capa da edição (livro com 8 CD) "O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993" (EMI-VC, 2003)
Fotografia – Augusto Cabrita



Capa da compilação em 2 CD "Carlos Paredes: Antologia 62/89" (Universal Music Portugal, 2007)

___________________________________________

Outros artigos celebrativos do Dia do Trabalhador:
Sérgio Godinho: "Que Força É Essa?"
Dialecto: "Instrumentos de Trabalho" (Maria Teresa Horta)
Fausto Bordalo Dias: "Uma Cantiga de Desemprego"
Modas à Margem do Tempo: "Meus Senhores"
Luís Cília: "O Cavador" (Guerra Junqueiro)
Carlos do Carmo: "Fado Varina" (Ary dos Santos)

___________________________________________

Outros artigos com música de Carlos Paredes:
Galeria da Música Portuguesa: Carlos Paredes
Em memória de Vasco Graça Moura (1942-2014)
Celebrando Carlos Paredes
Poesia trovadoresca adaptada por Natália Correia
"Em Memória de uma Camponesa Assassinada"
Carlos Paredes: "Canto da Primavera"

30 abril 2025

Joan Manuel Serrat: "Cantares" (Antonio Machado e Joan Manuel Serrat)


O poeta andaluz Antonio Machado durante a entrevista conduzida pelo jornalista Ángel Lázaro, em Madrid, Junho de 1927.
© EFE/Arquivo Díaz Casariego (in https://efe.com/)


«Ontem, sacudindo a letargia de um outro apagão lento e longo, Joan Manuel Serrat soltou a mediterrânica voz com a qual honrada e garbosamente chegou a velho e com ela encheu o nobre salão da Real Academia Espanhola. Serrat cantou quatro canções de Machado, Antonio Machado, o poeta sevilhano de quem se celebram os 150 anos de nascimento. Serrat tem caminhado longa e fraternalmente com aquele cujos versos não param de caminhar em nós. Foi a voz de Serrat que deu mais vastidão, mais lonjura, aos versos do mais célebre poema de Machado, Cantares, que confrontam o suposto caminhante que levamos às costas. "Caminhante, não há caminho", avisa Machado pela voz do catalão. Há, no álbum Bienaventurados, de 1987, uma canção de Serrat que nos fala do velho que cada um de nós leva às costas e essa é, também, uma canção que fala de caminhos ("se fossem pondo luzes no caminho / à medida que o coração se acobarda / e os anjos da guarda / dessem sinais de vida")...
Ontem, Serrat cantou quatro poemas de Machado, acompanhado pelo pianista Ricardo Millares. E os que o escutaram no salão nobre da Real Academia Espahola ouviram ainda, lido pelo actor José Sacristán, o discurso de Machado, escrito para ser lido na cerimónia de entronização académica, mas até agora nunca proferido. Porque as circunstâncias ditaram que Machado se fizesse a outros caminhos, adiando o momento da honraria e do seu cerimonial.
Machado conheceu dois exílios. Um ditado pela morte de Leonor, sua amada, que o levou a despedir-se dos campos de Sória ("Adeus, campos de Sória / já não posso cantar-vos"). Outro que o levou, coração republicano em alvoroço, seis dias atravessando os Pirenéus, em fuga para França, no auge da Guerra Civil. Serrat haveria de cantar esse fim de caminho em Coulliure, numa canção inesquecível: "sopravam ventos do Sul / e o homem empreendeu viagem. / O seu orgulho, um pouco de fé e um gosto amargo / foram sua bagagem".
A cerimónia de ontem na Real Academia Espanhola revela-nos um discurso que nunca fora lido pelo seu autor, entretanto lançado ao caminho sem regresso.
O discurso de Machado perguntava, perguntava-nos: "O que é a poesia?". Essa é, também, uma pergunta que abre caminhos.
Como numa bela canção portuguesa, uma bela cantiga de um marginal do século XIX, ela mostra-nos, com a solenidade necessária, que "os caminhos nunca acabam".
Eis um formidável exercício para um dia como este, sacudindo a letargia de um apagão lento e longo, resgatando do vento onde nos perdemos deles, poemas e canções que falem de caminhos, porque "qualquer caminho leva a toda a parte".» [Fernando Alves, "Nos 150 anos de Machado", in "Os Dias que Correm", 30 Abr. 2025]


Qualquer uma das canções de Joan Manuel Serrat com versos do poeta Antonio Machado a que Fernando Alves faz alusão teria sido o remate perfeito à crónica de hoje aquando da transmissão pela Antena 1 no programa da manhã. "Teria" se quem manda no canal tivesse real empenho na prestação de bom serviço público...
Alguns ouvintes terão ficado com vontade de ouvir "Cantares" que inclui o verso "se hace camino al andar" ("faz-se caminho ao andar", segundo a tradução de José Bento), o mais conhecido de Antonio Machado, bastíssimas vezes citado, ainda que nem sempre devidamente compreendido no seu significado mais profundo e filosófico. A pensar especialmente nesses ouvintes desconsiderados pela rádio que pagam, aqui deixamos "Cantares", na interpretação de Joan Manuel Serrat com música da sua autoria sobre poema compósito de Antonio Machado (excertos de "Proverbios y Cantares", infra apresentados) e do próprio compositor. Boa escuta!



Cantares



Versos: Antonio Machado (de "Proverbios y Cantares" >> abaixo] e Joan Manuel Serrat
Música: Joan Manuel Serrat
Arranjo: Ricardo Miralles
Intérprete: Joan Manuel Serrat* (in LP "Dedicado a Antonio Machado, Poeta", Novola, 1969, reed. Zafiro, 1987)




Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.

Nunca perseguí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse.

Nunca perseguí la gloria...

Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.

Hace algún tiempo, en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos,
se oyó la voz de un poeta gritar:
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar,
golpe a golpe, verso a verso.

Murió el poeta lejos del hogar,
le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar,
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar,
golpe a golpe, verso a verso.

Cuando el jilguero no puede cantar,
cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar,
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar,
golpe a golpe, verso a verso. [3x]


* Joan Manuel Serrat – voz
Orquestra dirigida por Ricardo Miralles
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Joan_Manuel_Serrat
https://jmserrat.com/
https://music.youtube.com/channel/UCrUiOJEGdgQEh6Ol4tPLJNg



PROVERBIOS Y CANTARES

(Antonio Machado, in "Campos de Castilla", Madrid: Renacimiento - Sociedad Anónima Editorial, 1912)


I

Nunca perseguí la gloria
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse.


XXIX

Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.


XLIV

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.


[Texto integral em: https://poemas.uned.es/]



PROVÉRBIOS E CANTARES

(Antonio Machado / Tradução: José Bento, in "Antonio Machado: Antologia Poética", Lisboa: Edições Cotovia, 1989 – p. 143 e 147)


XXIX

Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.


XLIV

Tudo passa e tudo fica;
mas nossa vida é passar,
passar fazendo caminhos,
caminhos por sobre o mar.



Capa da 1.ª edição do livro "Campos de Castilla", de Antonio Machado (Madrid: Renacimiento - Sociedad Anónima Editorial, 1912)



Capa do LP "Dedicado a Antonio Machado, Poeta", de Joan Manuel Serrat (Novola, 1969).



Capa do livro "Antonio Machado: Antologia Poética", Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento (Lisboa: Edições Cotovia, 1989)
Concepção gráfica – João Botelho

___________________________________________

Outros artigos relacionados com a crónica de Fernando Alves na Antena 1:
Galandum Galundaina: "Chin Glin Din"
"Sons d'Outrora" em viola da terra, por Miguel Pimentel
Vitorino: "Moças de Bencatel" (Conde de Monsaraz)
Teresa Silva Carvalho: "Barca Bela" (Almeida Garrett)
António Borges Coelho: "Sou Barco"
Celeste Rodrigues: "Chapéu Preto"
Sérgio Godinho: "Tem Ratos"
Ruy Belo: "E Tudo Era Possível", por Nicolau Santos
Jacques Brel: "J'Arrive"
A tristeza lusitana
Segréis de Lisboa: "Ay flores do verde pino" (D. Dinis)
Manuel D'Oliveira: "O Momento Azul"
Aldina Duarte: "Flor do Cardo" (João Monge)
José Mário Branco: "Inquietação"
Chico Buarque: "Bom Conselho"
Teresa Paula Brito: "Meu Aceso Lume - Meu Amor" (Maria Teresa Horta)
Adriano Correia de Oliveira: "Pensamento" (Manuel Alegre)
Fausto Bordalo Dias: "Comboio Malandro" (António Jacinto)
Grupo Coral "Os Ganhões de Castro Verde" com Luiz Avellar: "As Nuvens Que Andam no Ar"
Amélia Muge: "Ai, Flores"
Afonso Dias: "Os Amigos" (Camilo Castelo Branco)
Pedro Barroso: "Barca em Chão de Lama"
António Gedeão: "Poema do Coração"
Reinaldo Ferreira: "Quero um cavalo de várias cores"
Chico Buarque: "Construção"
João Afonso: "Tangerina dos Algarves"