21 junho 2022

José Peixoto: "Estio"


© Elias Moreira, Set. 2012
Estátua alegórica do Estio. Faz parte do conjunto de quatro estátuas representativas das estações do ano, concebidas pelo escultor Henrique Moreira (Avintes, 1890 - Porto, 1979), provavelmente em finais dos anos 1930, por encomenda do cirurgião Dr. João de Almeida, para a sua Quinta de S. João, na freguesia de Magueija, concelho de Lamego. Depois de doadas pelo clínico à cidade, as estátuas foram colocadas, em meados de 1976, sobre espelhos de água (tanques) na Avenida Dr. Alfredo de Sousa, no enfiamento do escadório do Santuário de N.S. dos Remédios, passando a integrar a arte pública da urbe lamecense.


Sendo verdade que a estação estival (e hoje começa a de 2022) convida os apreciadores de música a experienciarem ritmos mais acelerados e trepidantes, também não é mentira que a certas horas do dia, sobretudo quando o Sol está a pino, muitos melómanos, a resguardo da torreira, não desejam outra coisa, além de um refresco, que não seja ouvir música serena e sem palavras propiciadora da quietação e da introspecção, como é o caso do inebriante instrumental "Estio", de José Peixoto. Música encantatória em que a maravilhosa guitarra de José Peixoto, assente no fabuloso contrabaixo de Mário Franco, como que sobre um tapete-voador, nos faz viajar até paragens magrebinas, ora de buliçosos bazares, ora de amplas paisagens dunares, ora de paradisíacos oásis. Este "Estio" pertence à selecta categoria de obras musicais que depois de por elas nos deixarmos envolver não queremos, de modo algum, largar. Sublime!

Com quatro décadas de percurso artístico, como compositor e exímio executante de guitarra clássica (sendo que nos primeiros tempos também tocava outros instrumentos como o alaúde, o baixo, a harpa sequenciada e o piano-marimba), José Peixoto alcançou, por mérito próprio, o invejável estatuto de músico de superlativa referência em Portugal. Atestam-no: a sua valiosa discografia, quer em nome próprio – individualmente ou em parceria com outros reputados instrumentistas (o percussionista José Salgueiro, o baixista Fernando Júdice, o violinista Carlos Zíngaro, o contrabaixista António Quintino...) ou com meritórias cantoras (Maria João, Filipa Pais, Sofia Vitória...) –, quer integrando projectos colectivos, quase todos criados por sua iniciativa (SHISH, El Fad, Grupo Cal Viva, TAIFA, Madredeus, Sal, Aduf, LST-Lisboa String Trio, Quinteto Lisboa); os numerosos convites que recebeu para participar, na qualidade de instrumentista, de compositor, de arranjador e/ou de produtor, em discos de múltiplos artistas (João Lóio, Janita Salomé, Maria João, Pedro Cadeira Cabral, Pedra d'Hera, Vitorino, Anamar, José Mário Branco, Rui Veloso, Amélia Muge, Mafalda Veiga, Júlio Pereira, Rui Júnior, Maria João Quadros, María Berasarte, Francisco Ribeiro, Marta Pereira da Costa, Teresa Salgueiro...); as também muito relevantes encomendas de música para espectáculos de dança e para peças de teatro (encenadas, na sua maioria, por Maria João Luís); a aclamação da crítica especializada, sendo de destacar a atribuição do Prémio Carlos Paredes a dois álbuns de projectos seus ["Lunar" (2010), de El Fad, e "Matéria" (2014), de LST-Lisboa String Trio]; e o aplauso de um público exigente.
No que respeita à rádio pública, a divulgação da produção de José Peixoto tem-se restringido essencialmente a um ou outro programa de entrevista, na Antena 1 ou na Antena 2, aquando do lançamento de trabalhos discográficos. É pouquíssimo! Devia haver uma divulgação mais consistente, em todas as três antenas de cobertura nacional, quer em programas temáticos ou de autor, quer nos alinhamentos de continuidade. Na Antena 2, havia o espaço "Ponto PT" [>> RTP-Play], no qual boa parte da discografia de José Peixoto tinha perfeito cabimento, mas foi incompreensivelmente suprimido da grelha, em finais de 2019, com a mácula desonrosa de nem um só disco do artista lá ter sido divulgado. No caso das Antenas 1 e 3, atendendo ao enorme peso que as respectivas 'playlists' têm no cômputo geral da difusão musical, sobretudo de segunda a sexta-feira, não é aceitável que lá não figurem algumas canções com a assinatura de José Peixoto, designadamente dos álbuns "Estrela" (com Filipa Pais), "Pele" (com Maria João) e "Belo Manto" (com Sofia Vitória). Sem prejuízo, obviamente, da presença de peças instrumentais, ainda que de duração mais curta do que a do espécime que ora destacamos.



Estio



Música: José Peixoto
Intérprete: José Peixoto* (in CD "Aceno", Zona Música, 2003)




(instrumental)


* José Peixoto – guitarra de oito cordas
Mário Franco – contrabaixo

Produção – José Peixoto e José Fortes
Assistente de produção – Mário Barreiros
Gravado no estúdio MB (Mário Barreiros), Porto, nos dias 14 e 15 de Dezembro de 2002
Captação e masterização – José Fortes
Edição – Mário Barreiros, Paulo Jorge Ferreira e Paulo Mendes
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Peixoto
https://www.meloteca.com/portfolio-item/jose-peixoto/
https://www.facebook.com/josepeixotomusico
https://www.facebook.com/lisboastringtrio/
https://www.youtube.com/channel/UCDG75nKLcS5ifJgQ0AfliPQ



Capa do CD "Aceno", de José Peixoto (Zona Música, 2003)
Concepção – João Nuno Represas
Fotografia – Alexander Koch

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Outros artigos com canções alusivas ao Verão:
Janita Salomé: "Reino de Verão"
Grupo Banza: "Verão"
Fernando Pardal: "Estio" (Manuel da Fonseca)
Trovante: "Noite de Verão" (Manuel da Fonseca)
Trio Fado: "À Espera do Verão"

10 junho 2022

Camões recitado e cantado (VIII)


© Felipe Restrepo Acosta, 16 Out. 2018 (Wikimedia Commons)
Estátua de Luís de Camões, em pedra lioz, esculpida por Simões de Almeida, em 1883, integrante da fachada do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro [mais imagens >> ao fundo]


Neste ano do bicentenário da independência do Brasil (o histórico Grito do Ipiranga aconteceu a 7 de Setembro de 1822), que é também o do centenário da primeira viagem aérea entre Lisboa e o Rio de Janeiro protagonizada por Sacadura Cabral e Gago Coutinho, entendemos que faria bastante sentido apresentar no presente 10 de Junho poesia de Camões dita por um brasileiro, no caso pelo embaixador (e também actor) Lauro Moreira. Esses espécimes camonianos são os três sonetos presentes na edição, em duplo CD, "Mãos Dadas: Lauro Moreira interpreta Poemas da Língua Portuguesa" (EMC Digital, 1998). De poesia musicada/cantada escolhemos os "Três Sonetos de Camões", Op. 27, de Fernando Lopes-Graça, interpretados pelo tenor Fernando Serafim acompanhado ao piano por Filipe de Sousa e publicados no CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões" (PortugalSom/Strauss, 1995). Dá-se o caso – feliz coincidência – de dois sonetos ("Sete anos de pastor Jacob servia" e "Alma minha gentil, que te partiste") que Lauro Moreira escolheu terem sido também musicados por Fernando Lopes-Graça, o que nos permite fazer a audição sequencial: a forma recitada seguida da musicada/cantada. Uma celebração camoniana luso-brasileira que nos deu imenso prazer preparar e nos deixará redobradamente gratificados se for do agrado dos leitores/visitantes do blogue "A Nossa Rádio"!

E como tem a rádio pública celebrado Luís de Camões neste dia que lhe é devotado? Apesar do incómodo, desde as 07h:00 até às 20h:00, andámos a fazer 'zapping' entre os três canais nacionais, Antenas 1, 2 e 3. Ouvimos duas pequenas resenhas biográficas: uma no programa da manhã da Antena 3, por Hugo van der Ding, na sua rubrica "Vamos Todos Morrer" [>> RTP-Play] e outra na Antena 2, baseada no livro de José Hermano Saraiva "Vida Ignorada de Camões" (1978), lida por Ana Isabel Gonçalves e Paula Pina, no apontamento "Palavras de Bolso" [>> RTP-Play]. Também escutámos no espaço "Boulevard", da Antena 2, pela mão do seu animador André Pinto, a Sinfonia «À Pátria», de José Vianna da Motta, cujos andamentos são precedidos por epígrafes retiradas d' "Os Lusíadas", interpretada pela Orquestra Filarmónica Real de Liverpool, sob a direcção de Álvaro Cassuto. De poesia camoniana, lográmos ouvir apenas a introdução do soneto apócrifo "Com que voz chorarei meu triste fado", cantado por Amália Rodrigues sobre música de Alain Oulman, que serviu de fundo musical na rubrica de Hugo van der Ding e, citados pelo Prof. Jorge Miranda, no seu discurso das cerimónias oficiais do Dia de Portugal transmitidas pela Antena 1, o verso «Da Lusitana antiga liberdade» (segundo da 6.ª estrofe d' "Os Lusíadas") e os versos 'incipit' de alguns dos sonetos mais conhecidos, entre os quais os dois acima referenciados. Nada mais! Quer dizer: quem chefia os três canais nacionais da rádio pública portuguesa, além de nada fazer no sentido de proporcionar aos seus ouvintes a revisitação ou a audição em primeira mão de registos camonianos de poesia e de teatro existentes no arquivo histórico, limitou-se a ignorar o valioso património discográfico – quer recitado quer musical (popular e erudito) – a que podia deitar mão para celebrar o vulto maior da nossa Língua. No caso das Antenas 1 e 3 nem sequer houve a preocupação de reformular as respectivas 'playlists' ou de dar instruções aos locutores de continuidade para que a oferta musical, fora dos programas de autor (pré-gravados), fosse exclusivamente cantada em português. Absolutamente indecente e vergonhoso!



Sete anos de pastor Jacob servia



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 15)
Recitado por Lauro Moreira (in 2CD "Mãos Dadas: Lauro Moreira interpreta Poemas da Língua Portuguesa": CD 1, EMC Digital, 1998)


Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
que a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la:
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe deu a Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
assi lhe era negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começou a servir outros sete anos,
dizendo: — Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida!


Nota:
Jacob – patriarca bíblico, filho de Isaac e de Rebeca, irmão gémeo de Esaú.
Serviu seu tio Labão durante sete anos com a condição de, findo esse período, casar-se com a mais bela das suas filhas, Raquel. No dia das bodas, Labão trocou Raquel pela filha mais velha, Lia. Como, segundo o rito hebraico de então, a noiva era oferecida ao noivo completamente envolvida num véu, Jacob só deu pelo logro no dia seguinte. O tio justificou-se dizendo que não era costume casarem-se as filhas mais novas primeiro e contratou com Jacob mais sete anos, após o que lhe deu Raquel em casamento.
De Lia, de Raquel e das suas duas escravas, Zilfa e Bila, Jacob teve doze filhos que fundaram as doze tribos de Israel.



Sete anos de pastor Jacob servia



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 15)
Música: Fernando Lopes-Graça (1.ª peça de "Três Sonetos de Camões", Op. 27, LG 168, 1939)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)




Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
que a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la:
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava a Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
assi lhe era negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,
dizendo: — Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida!


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Alma minha gentil, que te partiste



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 9)
Recitado por Lauro Moreira (in 2CD "Mãos Dadas: Lauro Moreira interpreta Poemas da Língua Portuguesa": CD 1, EMC Digital, 1998)


Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida, descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na Terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
alguma coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.


Nota: «Vindo de lá [da China] se foi perder na costa de Sião [Tailândia], onde se salvaram todos despidos e o Camões por dita escapou com as suas "Lusíadas", como ele diz nelas, e ali se afogou ũa moça china muito fermosa com que vinha embarcado e muito obrigado, e em terra fez sonetos à sua morte em que entrou aquele que diz: Alma minha gentil, que te partiste...» (excerto do manuscrito da "Década VIII", atribuído a Diogo do Couto, c.1542-1616)



Alma minha gentil, que te partiste



Poema (soneto): Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 9)
Música: Fernando Lopes-Graça (2.ª peça de "Três Sonetos de Camões", Op. 27, LG 168, 1939)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)




Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida, descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na Terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano



Busque Amor novas artes, novo engenho



Poema (soneto) de Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 7)
Recitado por Lauro Moreira* (in 2CD "Mãos Dadas: Lauro Moreira interpreta Poemas da Língua Portuguesa": CD 1, EMC Digital, 1998)


Busque Amor novas artes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
pois mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Pois não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.


Notas:
Esquivanças – manobras
Perigosas – efémeras
Contrastes – contrariedades
Lenho – barco

* Lauro Moreira – voz
Concepção, selecção de textos e direcção – Lauro Moreira
Produção – Júlio Heilbron
Produção executiva – Gilberta Mendes
Coordenação – Cristina Barros
Gravado e masterizado no EG Studio, em Outubro de 1998
Técnicos de som – Gilberto Suano, Florência Saraiva e Geraldo Brandão
URL: https://www.cepese.pt/portal/pt/publicacoes/autores/lauro-moreira
https://pgl.gal/lauro-moreira-embaixador-do-brasil-na-cplp/



Oh! Como se me alonga de ano em ano



Poema: Luís de Camões (in "Rimas", org. Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Lisboa, 1595; "Obras de Luís de Camões", Porto: Lello & Irmão Editores, 1970 – p. 21)
Música: Fernando Lopes-Graça (3.ª peça de "Três Sonetos de Camões", Op. 27, LG 168, 1939)
Intérpretes: Fernando Serafim* & Filipe de Sousa (in CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", PortugalSom/Strauss, 1995)




Oh! Como se me alonga de ano em ano
a peregrinação cansada minha!
Como se encurta e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!

Minguando a idade vai, crescendo o dano;
perdeu-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;
no meio do caminho me falece;
mil vezes caio e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
se os olhos ergo, a ver se inda aparece,
da vista se me perde e da esperança.


* Fernando Serafim – voz (tenor)
Filipe de Sousa – piano
Supervisão artística – Fernando Lopes-Graça
Direcção musical – Jorge Costa Pinto
Produção – Secretaria de Estado da Cultura (Direcção-Geral de Acção Cultural)
Gravado nos Estúdios Jorsom, Lisboa, nos dias 12, 13 e 15 de Dezembro de 1983
Técnico de som – João Magalhães
Remasterização digital – Fernando Abrantes (Strauss Studio, Lisboa)
URL: https://www.meloteca.com/portfolio-item/fernando-serafim/
https://www.facebook.com/FernandoSerafimMusic
https://www.meloteca.com/portfolio-item/filipe-de-sousa/



Capa da caixa (contendo dois CDs e livrete) de "Mãos Dadas: Lauro Moreira interpreta Poemas da Língua Portuguesa" (EMC Digital, 1998)
Gravura – Patrícia de Oliveira
Fotografia – Mônica Moreira



Capa do CD 1 de "Mãos Dadas: Lauro Moreira interpreta Poemas da Língua Portuguesa" (EMC Digital, 1998)
Gravura – Patrícia de Oliveira
Fotografia – Mônica Moreira



Capa do CD "Fernando Lopes-Graça: Sonetos de Camões", de Fernando Serafim e Filipe de Sousa (PortugalSom/Strauss, 1995)
Pintura de Andrea Mantegna (c.1474) retratando Bárbara Gonzaga, filha de Ludovico III Gonzaga, Marquês de Mântua, e de sua esposa Bárbara de Brandemburgo (pormenor de um fresco existente na Camera degli Sposi, no torreão nordeste do Castelo de S. Jorge, em Mântua)



Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro: fachada em estilo neomanuelino, segundo projecto do arquitecto português Rafael da Silva e Castro. A primeira pedra do edifício foi lançada a 10 de Junho de 1880, pelo imperador D. Pedro II, e a inauguração aconteceu a 22 de Dezembro de 1888.



Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro: mosaico no piso de entrada.



Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro: biblioteca e parte do tecto.
Com um acervo de aproximadamente 350 mil volumes, parte dos quais verdadeiras preciosidades bibliográficas, como um exemplar da edição 'princeps' d' "Os Lusíadas" (1572), esta biblioteca foi considerada pela revista "Time", em 2014, uma das vinte mais belas do mundo.





Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro: biblioteca e respectivo tecto encimado por clarabóia octogonal.



Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro: retrato de Luís de Camões (medalhão) pintado num dos quatro cantos abaixo da clarabóia.

Mais informação sobre o monumento em:
https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/06/rio-de-janeiro-o-real-gabinete.html

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Outros artigos com poesia de Luís de Camões:
Camões recitado e cantado
Camões recitado e cantado (II)
Em memória de Manoel de Oliveira (1908-2015)
Camões recitado e cantado (III)
Camões recitado e cantado (IV)
Camões recitado e cantado (V)
Camões recitado e cantado (VI)
Camões recitado e cantado (VII)

01 junho 2022

Vitorino: "O Capitão dos Tanques"


Retrato de Salgueiro Maia: parte central do mural pintado nos inícios de Abril de 2014 na parede da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, fronteira à Avenida de Berna, em Lisboa, por Frederico Campos ('DRAW'), Gonçalo Ribeiro ('MAR'), Diogo Machado ('ADD FUEL') e Miguel Januário ('CAOS'), da Underdogs Gallery. O retrato do capitão foi concebido por Frederico Campos ('DRAW'), tendo como modelo uma icónica fotografia tirada, no Largo do Carmo, pelo fotojornalista Alfredo Cunha, no dia 25 de Abril de 1974 [cf. artigo do "Público", 12.04.2014].
Fonte da fotografia: Wikimedia Commons


Entre as dezenas de oficiais que integraram o movimento militar que pôs fim ao caquéctico Estado Novo duas figuras sobressaíram: o major Otelo Saraiva de Carvalho, que planeou e coordenou as operações militares, e o capitão Fernando Salgueiro Maia, que as executou no terreno e cuja missão principal era capturar Marcelo Caetano que se refugiara no Quartel do Carmo, sede do comando-geral da Guarda Nacional Republicana. Em termos metafóricos, o primeiro foi o 'cérebro' e o segundo a 'mão' do 25 de Abril de 1974. Tendo sempre recusado os cargos políticos e as honrarias que lhe ofereceram, Salgueiro Maia ficou, por assim dizer, impoluto das manchas que a acção política inevitavelmente acarreta aos seus agentes, tornando-se com o passar do tempo e, sobretudo, após a morte precoce, ocorrida a 3 de Abril de 1992, o herói romântico por excelência da Revolução dos Cravos. À parte a mitificação, é historicamente incontestável o papel determinante que o intrépido capitão da Escola Prática de Cavalaria de Santarém teve no desfecho bem-sucedido das operações militares naquele «dia inicial inteiro e limpo/ onde emergimos da noite e do silêncio» (cit. Sophia de Mello Breyner Andresen). Em sinal de reconhecimento e gratidão a Salgueiro Maia, por ter sido um dos mais proeminentes obreiros da reconquista da liberdade em Portugal, criadores de várias artes têm-no homenageado, entre os quais José Jorge Letria e Vitorino Salomé que conceberam a canção "O Capitão dos Tanques" para o magnífico álbum "Abril, Abrilzinho" (2006), feito a pensar nos mais novos, se bem que não faça mal algum aos menos jovens de idade ouvirem-no também, atendendo à qualidade que apresenta. E, na parte que nos toca, não podíamos deixar de aproveitar este Dia Mundial da Criança, trinta anos volvidos sem a presença física de Salgueiro Maia, para prestarmos (singelo) tributo à sua memória resgatando a bela canção "O Capitão dos Tanques", esplendidamente interpretada por Vitorino sobre um primoroso arranjo de Sérgio Costa.

Não sabemos se este espécime, bem como qualquer um dos outros dez presentes no CD "Abril, Abrilzinho", alguma vez marcou presença na Rádio ZigZag, quanto mais não seja nos dias 25 de Abril desde que existe aquele canal destinado ao público infantil, mas queremos acreditar que sim. E uma vez que entre o auditório das Antenas 1 e 3 também se contam crianças, mormente quando são transportadas pelos pais para a escola e de regresso a casa, não seria despropositado que, ao menos nas horas de ponta, de vez em quando, aparecesse na emissão uma canção do "Abril, Abrilzinho". Sem prejuízo, obviamente, de outro bom repertório – canções, instrumentais, poemas, lengalengas, etc. – criado em língua portuguesa expressamente para os petizes. Fica a sugestão, na esperança de que não caia em saco roto!



O Capitão dos Tanques



Letra: José Jorge Letria
Música: Vitorino Salomé
Intérprete: Vitorino* (in Livro/CD "Abril, Abrilzinho", Praça das Flores e Público, 2006)




[instrumental]

Era uma vez um homem
que andou a fazer a guerra,
mas só quis foi plantar cravos
nos jardins da nossa terra.

Militar de poucas falas
sabia bem o que queria,
cansado de tantas mortes
na guerra que então havia.

Era capitão dos tanques
que o inimigo temia,
mas nos seus canos pôs cravos
com pétalas de poesia.

Um dia de madrugada
bateu forte o coração,
porque era chegada a hora
de destronar o Papão.

[instrumental]

P'ra trás ficou Santarém
na noite fresca de Abril
e os homens que o seguiam
valiam por mais de mil.

E foi no Largo do Carmo
que, valente, ergueu a voz
para dizer ao Papão:
«Agora mandamos nós!».

E nunca pediu em troca
dessa linda valentia
um título ou um posto,
pois lhe bastava a alegria.

Foi-se embora antes de tempo,
quando a doença o levou,
regando só com as lágrimas
os cravos que então plantou.

[instrumental]

Era o Salgueiro Maia,
capitão do nosso Abril,
pondo fim a velhos medos
numa noite primaveril.

Se um menino perguntar
«Este soldado quem foi?»
respondemos-lhe a cantar:
Maia foi o nosso herói.

[instrumental]


* [Créditos gerais do disco:]
Tomás Pimentel – fliscorne e trompete
Daniel Salomé – clarinete e saxofone alto
José Miguel Nogueira – guitarra
Rui Alves – percussões
Edgar Caramelo – saxofone tenor
Sérgio Costa – piano, teclados, acordeão, flautas, baixo e guitarra eléctrica
Coro – Andreia Brás, Carla Picanço, Catarina Melgão, Cátia Roque, Inês Peniche, Inês Soares, Joana Frade, Patrícia Escudeiro, Susana Parreira e Vanda Catarino
Direcção do coro – Maria do Amparo

Direcção musical, arranjos e orquestrações – Sérgio Costa
Produção – Vitorino Salomé
Gravação e masterização – Artur David e Luís Delgado, no Estúdio Praça das Flores, Lisboa
URL: https://guedelhudos.blogspot.com/2009/04/25-abril-abril-abrilzinho.html
http://www.casadaleitura.org/portalbeta/bo/portal.pl/outros_materiais/documentos/files/portal.pl?pag=sol_la_fichaLivro&id=689
https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_ktvzLMi2fFJq8UJz3J6VYtnVn3GAX-Nxs



Capa do livro/CD "Abril, Abrilzinho", de Manuel Freire, Vitorino e José Jorge Letria (Praça das Flores e Público, 2006)
Design gráfico – José Maria Nolasco
Ilustrações (cabeças dos artistas) – André Letria

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