A cidade-estado de Cartago localizava-se no Norte da África, próximo da actual cidade de Túnis (ou Tunes), capital da Tunísia. Foi fundada no século IX a.C. pelos Fenícios, povo oriundo do território que corresponde hoje maioritariamente ao do Líbano e que durante séculos dominou o comércio marítimo de metais preciosos, sobretudo no Mediterrâneo, fundando diversas colónias na Sicília, na Sardenha, na Córsega, nas Ilhas Baleares, na Península Ibérica e no Norte da África. Cartago, inicialmente uma colónia, foi fundada com o objectivo de ser um entreposto comercial na costa africana e possibilitar a exploração das riquezas metalúrgicas da região. Devido à exiguidade do território e à vizinhança de povos belicosos, Cartago voltou-se para o mar. Com a economia centrada no comércio marítimo, os Cartagineses controlavam a exploração e a venda de metais preciosos no Mediterrâneo Ocidental. Com o decorrer do tempo, passaram a exercer domínio político sobre boa parte do Mediterrâneo, controlando as rotas daquele mar interior por mais de seis centúrias. No século IV a.C., Cartago florescia como uma grande e importante cidade, pontuada de templos, palácios e altos edifícios. No entanto, essa prosperidade fez com que entrasse em colisão com outra potência em ascensão no Mediterrâneo, Roma. As confrontações entre Cartagineses e Romanos ficaram conhecidas como as Guerras Púnicas. A primeira Guerra Púnica teve início em 264 a.C. e o seu desfecho mudaria o curso da História e Aníbal Barca, o grande general cartaginês, ficaria nos anais como um dos maiores génios militares de todos os tempos. Aníbal lançaria uma das mais incríveis campanhas de ataque já vistas. Dado que Roma passara a dominar o Mediterrâneo, na sequência da vitória na primeira Guerra Púnica, Aníbal resolveu marchar por terra, partindo da Península Ibérica em direcção aos Alpes chefiando um exército onde iam 37 elefantes, com o objectivo de alcançar Roma e, desta forma, vencer os Romanos no seu próprio território. Na Batalha de Canas, ocorrida a 2 de Agosto de 216 a.C., na Apúlia (sudeste da Península Itálica), infligiu ao exército romano uma pesadíssima derrota. No entanto, Aníbal não chegou a atacar a cidade de Roma, demorando-se no sul da Península Itálica e terminando por regressar a Cartago, por via marítima, a fim de defender a cidade do ataque dos Romanos. Acabaria por ser derrotado na Batalha de Zama, a 19 de Outubro de 202 a.C., por Cipião, que receberia o cognome de 'O Africano'. Chegava assim ao fim a Segunda Guerra Púnica, e Cartago perdia os seus territórios ultramarinos, ficava despida do seu poder militar e obrigada a pagar avultadas indemnizações de guerra. Temendo que a cidade-estado se reerguesse comercial e militarmente, a República Romana, incitada pelo cônsul Catão, o Velho, voltava a atacar Cartago, desta vez para destruir a urbe definitivamente, na que seria a terceira e última Guerra Púnica. Em 146 a.C., Cartago foi incendiada, devastada e o seu chão salgado, para que nele nada germinasse e crescesse futuramente. Com o fim de Cartago, Roma consolidava o seu domínio no Mediterrâneo, vindo a tornar-se o mais poderoso império da Antiguidade no Ocidente. [adaptado do texto publicado no sítio da Fundação Cultural Palmares].
(in https://commons.wikimedia.org/)
Territórios cartagineses ou sob influência de Cartago cerca de 264 a.C., antes da Primeira Guerra Púnica.
«Faz hoje cem anos, o grande repórter Norberto Lopes, terminado um longo périplo pelo continente africano, assina, a quase toda a largura da primeira página do "Diário de Lisboa", uma cuidada prosa sobre "um belo dia de sol nas ruínas de Cartago". Há cem anos, o repórter escrevia Cartago com th, "trazendo ainda nos olhos a visão graciosa de Túnis".
Tudo era mais lento, à época. O texto estava datado de Maio, escrito sob a impressão forte de um lugar tão repetidamente sentenciado pela frase implacável de Catão, o Velho, uma espécie de carimbo final dos discursos do senador romano: "Que Cartago seja destruída". Catão era quase menino quando se alistou para combater os cartagineses, ficou-lhe porventura aquela divisa como distintivo.
Era esse tempo de há um século desprovido da varinha mágica da instantaneidade. Foi preciso esperar um mês até que ele ganhasse as rotativas do número 48 da Luz Soriano.
Na prosa aquecida por um sol entre ruínas, o repórter destaca os afloramentos de um passado glorioso, "o capitel gracioso duma coluna coríntia (...), a inscrição piedosa duma lápide votiva", lá onde "não ficou pedra sobre pedra". A tal ponto que, escreve Norberto Lopes, "o próprio terreno foi salgado – para que nem a haste humilde de uma planta brotasse do seio da terra". Mas o grande repórter parece colher uma inesperada flor da poeira pisada pelos cavalos de Cipião. E isso o leva a concluir que "a destruição poupou os mortos", pois "nada restaria hoje da velha Cartago (ele escreve com th, escrevia-se com th) se os Romanos não tivessem respeitado, talvez por um temor supersticioso, o interior sagrado das sepulturas".
Naquele lugar em redor do qual tantas cidades, tantas pegadas de cavalos, foram sobrepostas, um repórter anota, dois mil anos depois, mas ainda num tempo em que a lentidão marcava, mesmo que ofegante, a sucessão dos dias e o compasso das rotativas, o legado dos arqueólogos, colunas, moedas, frisos de mármore, "a cabeça laureada de um imperador", Diana acariciando "as hastes de um veado".
Assim o repórter futuro, centenas de anos adiante de nós, recolha, possa recolher do arqueólogo ou do robot arqueólogo e mostre ao mundo, possa mostrar ao mundo as cidades agora destruídas e soterradas, lá onde os novos Cipiões alvitraram Rivieras. Ainda que não possa, não queira, ou não saiba, usar palavras tão inebriantes como as de Norberto Lopes, aquelas que ele resgatou do vento há cem anos diante dos minaretes de Túnis. E que, tal como há cem anos, a atmosfera seja "transparente e doce – como na tarde de Pharsalia" e as flores tenham "o mesmo perfume que enfeitiçava Salambô nas noites de luar".
Assim os repórteres futuros não se percam de Flaubert, tal como Norberto Lopes não se perdeu.» [Fernando Alves, "Um belo dia de sol, há cem anos, em Cartago", in "Os Dias que Correm", 26 Jun. 2025]
Tendo em conta que a cidade de Cartago foi incendiada, a crónica que Fernando Alves achou por bem dedicar à primorosa e impressiva prosa com que o repórter Norberto Lopes relatou a visita que fez às ruínas da vetusta urbe, em Maio de 1925 (e aproveitamos para manifestarmos o nosso elevado apreço a ambos os escribas), podia muito adequadamente ser rematada com a composição "A Cidade Queimada", de e por Rodrigo Leão, originalmente publicada no magnífico álbum "Cinema" (2004) e incluída na compilação "O Mundo (1993-2006)" lançada dois anos mais tarde. O tom plangente, quase funéreo, que o distinto compositor/intérprete imprimiu à música tornava ainda mais apropriada e justa a escolha deste tocante registo, que até é curto (1':20"), para funcionar como epílogo a uma crónica consagrada à desditosa cidade de Cartago. O locutor de serviço, Miguel Freitas, seguindo o mau exemplo de Ricardo Soares preferiu, infelizmente, ficar quietinho (não sabemos de por mero comodismo ou se acatando ordens expressas de Nuno Galopim de Carvalho) e mal a crónica chegou ao fim limitou-se a debitar os valores das temperaturas previstos para todas as capitais de distrito de Portugal. É triste!
A Cidade Queimada
Música: Rodrigo Leão
Intérprete: Rodrigo Leão* [in CD "Cinema", Columbia/Sony Music Entertainment (Portugal), 2004; 2CD "O Mundo (1993-2006)": CD 1, Columbia/Sony BMG Music Entertainment (Portugal), 2006]
Capa do CD "Cinema", de Rodrigo Leão [Columbia/Sony Music Entertainment (Portugal), 2004]
Fotografia – Steve Stoer
Design e direcção de arte – Marco Sousa Santos
Capa da compilação em duplo CD "O Mundo (1993-2006)", de Rodrigo Leão [Columbia/Sony BMG Music Entertainment (Portugal), 2006]
«O repórter Frederico Pinheiro recolhe no gravador o som da cana cortada por Mateus Magule, nos campos de Xinavane [A1 Doc: "Moçambique, um sonho por cumprir" >> RTP-Play]. É como se a catana servisse de percussão à voz magoada de Mateus Magule que responde ao repórter em língua xangana. "Auxene", talvez tenha dito o cortador Magule quando o português o saudou nos grandes caniçais abraçados pelo rio Incomáti, a 80 km de Maputo. Talvez o repórter ainda não saiba, tal como eu não sabia, que o nome daquele lugar, Xinavane, dá ao lugar uma espécie de condão, de condição de gente: xinavane é aquele que espalha a notícia. Frederico é um xinavane. Tal como Magule, cortando a cana, espalha o açúcar para lá dos vastos domínios da Açucareira, a entidade tutelar daquela região de Moçambique. A cana que Magule corta (notável registo sonoro no gravador de Frederico Pinheiro) espalha notícia doce de açúcar, porque é plantada de novo, amarga vida a dos cortadores de cana, 50 anos depois das proclamações da Machava. Vida amarga, a dos trabalhadores da Açucareira. E a da mulher que não ganha o bastante para comer todos os dias. Pergunta o repórter: "Quanto consegue fazer por dia?". "Não está fácil para fazer. Não estou a conseguir", diz ela. "Às vezes durmo só com um chá". Ela percebe que aquele microfone e aquele gravador podem espalhar o seu lamento até ao palácio do presidente e diz: "Papai Chapo, abre as portas do dinheiro".
Mostra o esplendor da fruta que não consegue vender, o esplendor dos nomes tão saborosos de pronunciar, tão difíceis de vender. É como se os lamentos dela resgatassem da desmemória os versos de Craveirinha sensibilizando o "camarada Control" para que este deixe passar as "saborosas tanjarinas de Inhambane".
E logo escutamos os catadores de lixo que tratam o repórter por pai, por boss, por molungo (outra designação de branco). O que é que procuram? "Estou a procurar reciclado, pai".
É como se, cinquenta anos depois da independência, eles estivessem reescrevendo o Poema do Futuro Cidadão, aquele poema de Craveirinha, "Vim de qualquer parte de uma nação que ainda não existe".
"Todos nós temos um sonho", proclama o catador de lixo no país onde seis em cada 10 crianças passam fome. "Qual é o seu sonho, Paulo?", pergunta o espalhador da notícia. E Paulo, o que percorre a lixeira procurando plástico e garrafas: "Gostava de ser chamado de pai, um dia". Paulo, como se catasse versos antigos de Craveirinha: "Tenho no coração gritos que não são meus somente/ porque venho de um país que/ ainda não existe". E o miúdo Abdul, apanhador de garrafas, um quinhão de 10 meticais por dia. E os outros que vão falar, numa desesperança cantante.
Crianças de Moçambique apanhando garrafas no lixo. Que mensagem escreveriam elas para enviar no dorso das ondas?» [Fernando Alves, "Uma nação que ainda não existe", in "Os Dias que Correm", 25 Jun. 2025]
O remate mais lógico à crónica de hoje seria, obviamente, uma recitação de um dos dois poemas de José Craveirinha dos quais Fernando Alves citou partes – "As saborosas tangerinas de Inhambane" ou "Poema do Futuro Cidadão" –, idealmente na voz do autor. O primeiro, dito pelo próprio José Craveirinha, é certo que existe no arquivo da rádio pública pois já marcou presença, em Fevereiro de 2021, pela mão de Luís Caetano, na rubrica "A Vida Breve" [Partes I e II >> RTP-Play / Partes III a V >> RTP-Play / Partes VI a X >> RTP-Play].
Em edições discográficas não lográmos referenciar qualquer dos poemas mencionados, mas encontrámos outros da autoria de José Craveirinha. Um deles é aquele que dá pelo título de "Um Céu sem Anjos de África", e que trata de um problema de discriminação racial no tempo em que Moçambique era colónia: o contraste entre a menina filha de mãe negra, que morre por falta de cuidados médicos, e a menina filha de pais arianos, que recebe todo o desvelo e protecção. Cinquenta anos volvidos sobre a independência de Moçambique, a pobreza e a desigualdade prevalecem na população negra, pelo que não é descabido recuperar/revisitar aquele poema do primeiro autor moçambicano galardoado com o Prémio Camões. E fazemo-lo com a gravação da Trupe Barlaventina, de Afonso Dias e companhia, publicada no CD "O Perfume da Palavra" (Concertante, 1999). Os ouvintes da Antena 1 que se sentiram novamente defraudados pela rádio que pagam têm aqui a oportunidade de colmatar, ainda que algum desfasamento temporal, a lacuna com que ficaram de poesia de José Craveirinha. Boa escuta!
UM CÉU SEM ANJOS DE ÁFRICA
Poema de José Craveirinha (in "Xigubo", Col. Autores Moçambicanos, vol. 4, Lisboa: Edições 70, 1980 – p. 55; "Obra Poética I", Lisboa: Editorial Caminho, 1999)
Recitado por Afonso Dias / Trupe Barlaventina* (in CD "O Perfume da Palavra", Concertante, 1999)
À Guilhermina e ao Egídio
Detinha
a menina de cinco anos
tinha pai e tinha mãe
e tinha duas irmãs, Senhor!
Detinha
a menina de cinco anos
tinha uma filha de retalhos de chita
e fazia duas covinhas de ternura na face
quando sorria, Senhor!
Detinha
a menina de cinco anos
tinha uma filha de ágeis pernas de pano
olhos brilhantes de cabeças de alfinete
e fulvos cabelos de maçarocas maduras
que a febre derradeira da Detinha
não contaminou.
Olhos cerrados suavemente
boneca Detinha dos seus pais
adormeceu de tétano para sempre
mãozinhas postas sobre o peito
um vestido de renda branca
mais um anjo nosso partiu
no adeus silencioso de boneca
verdadeira num fúnebre berço branco
nossa Detinha tão pura na Munhuana
que até ainda não sabia que era mulata.
Oh! África!
Quantos anjos já nasceram das tuas Munhuanas de amor
e quantas Detinhas partiram para sempre dos teus braços
e quantos filhos inocentes deixaram o teu colo maternal
geraram rios e rios de lágrimas no teu rosto escravizado
e dormiram sem pesadelos na vasta solidão
de um coval mínimo de criança infelizmente
sem as duas covinhas na face
quando sorriam, Senhor?
E ainda não temos um talhão de céu azul para todos
e novamente uma África para amar à nossa imagem
num anjo verdadeiro anjo também cor da nossa pele
e da mesma carne mártir de feitiços estranhos
e o nosso sangue vermelho vermelho quente
como o sangue vermelho de toda a gente.
Para o tal céu onde existe o tal Deus que não sabe
línguas de África línguas de África línguas de África
e só sorriem anjos brancos de asas impossíveis de arminho
precisamente onde esse arminho só pode ser algodão de sofrimento
ainda não há lugar para meninas puras da cor
das meninas filhas e netas de mães e avós pretas
da nossa Detinha que partiu ainda boneca
e tão pura que ainda não sabia que era mulata.
E brinquedos de trapos não se misturam na Munhuana
com bonecas loiras de sapatos e tudo
porque os pais arianos rezando nas catedrais
não deixam, Senhor!
Se não nos tivesse deixado antes de tempo (não havia ainda completado 42 anos de idade), Bernardo Sassetti comemoraria hoje o seu 55.º aniversário natalício. Paulo Alves Guerra, no programa da manhã da Antena 2, assinalou amplamente a efeméride, com a transmissão de várias composições por ele gravadas (a maioria das quais integrantes do CD "Solo", 2019, constituído por material gravado no Teatro Micaelense, de Ponta delgada, em 2005 >> YouTube Music) e alguns testemunhos de amigos extraídos da edição especial em homenagem ao malogrado artista do programa "Geografia dos Sons", de Luís Tinoco, emitida a 24 de Junho de 2012 [>> RTP-Play]. O blogue "A Nossa Rádio" associa-se à evocação de Bernardo Sassetti dando destaque a outra fascinante composição por ele concebida e executada: "Caminho Até Aqui", que faz parte do álbum "Índigo" (Clean Feed, 2004), o seu primeiro disco a solo e um dos trabalhos fundamentais da sua obra. Boa escuta!
Sem reflectir nem por um instante, abri os olhos às cores em forma de sombras e luz. Índigo é, para mim, a cor de estar a sós com a música.
BERNARDO SASSETTI
Caminho Até Aqui
Música: Bernardo Sassetti
Intérprete: Bernardo Sassetti* (in 2CD "Índigo": CD 1, Clean Feed, 2004)
(instrumental)
* Bernardo Sassetti – piano (Yamaha Concert Grand Piano CF III S)
«David Molina, do jornal "La Vanguardia", fala-nos da ascensão e triunfo dos chefs robots na Coreia do Sul. A praga atingiu até os restaurantes de estrada.
O repórter conta que, ao visitar pela primeira vez um restaurante robotizado na Coreia do Sul, acreditou ter mergulhado "numa distopia da animação japonesa". Uma voz sintética saída de uma pantalha desejou-lhe "bom proveito", enquanto "uma bandeja transportada por um carrinho com olhos LED" lhe trazia a comida. Esta mudança está generalizada.
Por cada dez mil trabalhadores da indústria hoteleira sul-coreana há mil robots, instalados com recurso a uma subvenção governamental que pode chegar aos 70 por cento. Cozinheiros e empregados de mesa, adeus, até ao meu regresso. Escreve o repórter: "A eficiência é irresistível. A solidão também".
Milhares de postos de trabalho ameaçados e adeus hospitalidade, viva senhor Manuel, então que me diz das bombas largadas pelo tipo do boné? Bom dia, dona Rosalina, o que é que recomenda hoje? Essa vitela assada tem muito bom aspecto, só tenho medo que me faça bem.
Reparo que a palavra espanhola 'hosteleria' acolhe simultaneamente a ideia de hotelaria, a de hospedagem e, talvez mais importante, a ideia de hospitalidade. É bom sublinhar o facto antes de pedir ao robot se me arranja um babete, sou uma desgraça à mesa, o oposto do carrinho com luzes e apitos que transporta 30 quilos de comida a várias mesas sem tocar em ninguém e sem se enganar nos pedidos.
O repórter conta o caso de um restaurante de estrada, frequentado por muitos camionistas. O dono do restaurante instalou 3 robots em substituição da cozinheira. Os robots despachavam 150 pratos por hora, o dobro do que conseguia a trabalhadora, talvez deva dizer colaboradora, que saudades de um abraço ao amigo António da Pensão Borges. Os camionistas começaram a procurar outra ementa, fartos de serem atendidos por criaturas de aço e chips.
Outro dado da reportagem de "La Vanguardia": em muitas escolas públicas da Coreia do Sul os robots substituíram 50 % do pessoal dos refeitórios. Alguém comenta, a dado passo: "Não quero que o meu filho cresça pensando que comer é pressionar um botão e receber algo sem alma".
David Molina lembra, entretanto, o caso de um restaurante mexicano onde um robot atende os clientes e memoriza as suas preferências, ao mesmo tempo que conta piadas programadas. O repórter conta que sentiu um calafrio ao tomar conhecimento da inovação. "Um humano rindo sozinho diante de uma máquina treinada para imitar o humor", anota David Molina. Não me ocorre maior pobreza.
Nada paga a alegria da conversa com o senhor Miranda que todos os dias, ao pousar na mesa um pratinho de tremoços, me dá informação nova e preciosa sobre peixes que eu creio só existirem nos seus pensamentos.
Os peixes voadores das conversas nos restaurantes em que nos sentimos em casa são tão apetecíveis como pescadinhas de rabo na boca.
Há boas cerejas hoje, senhor Manuel?» [Fernando Alves, "Há boas cerejas hoje, senhor Manuel?", in "Os Dias que Correm", 23 Jun. 2025]
Os robots cozinheiros e empregados de mesa também envelhecem? Não há a mais pequena dúvida de que sim. Embora não sejam seres viventes (por enquanto – desejavelmente nunca) estas máquinas 'inteligentes' não são imunes ao natural desgaste das peças e dos materiais de que são feitos, nem tampouco são incólumes à obsolescência em que inevitavelmente cairão com o passar do tempo e os avanços tecnológicos. Esta pequena magicação foi-nos suscitada quando, ao ouvirmos esta inquietante crónica de Fernando Alves, nos veio à lembrança o poema "O Robot Que Envelhece", de João Pedro Grabato Dias (pseudónimo poético do pintor/ceramista António Quadros, 1933-1994), que Amélia Muge musicou e gravou, com arranjo de José Mário Branco, para o álbum "Taco a Taco", editado em 1998 pela Polygram Discos sob o selo Mercury.
Os ouvintes que escutaram a crónica aquando da transmissão pela Antena 1, hoje de manhã, teriam, se não todos uma boa parte, certamente gostado que este belo poema musicado/interpretado pela mais categorizada cantautora portuguesa servisse de epílogo ilustrativo às palavras de Fernando Alves. E o eminente cronista não deixaria também de se sentir confortado e sensibilizado por, com tal gesto, quem está aos comandos do canal generalista da rádio pública manifestar publicamente o quanto reconhece e valoriza o seu magistral trabalho.
O Robot Que Envelhece
Poema: João Pedro Grabato Dias
Música: Amélia Muge
Arranjo: José Mário Branco
Intérprete: Amélia Muge* (in CD "Taco a Taco", Mercury/Polygram, 1998)
Sou o robot que envelhece
Contrariando o programa
Vou com prazer para a cama
Com prazer espero a benesse
Duma pausa, duma prece
De novo um regaço de ama
Sou o robot pilha gasta
Com a energia da inércia
Desalinhado da sércia
Pré-registada e infasta
Tive por mãe a madrasta
Dos medos magos da Pérsia
E vou passando a madraço
De outros serviços isento
Pois que riso é siso em tempo
E o siso é o riso no espaço
Deixo aos outros o embaraço
De ficarem para exemplo
[instrumental]
Sinto o metal perder o gume
Destemperando o matiz
Da renda em que era feliz
Sem que me soubesse imune
A acordar sem azedume
E sem mais pais que País
A morte é igual a tudo
Tem seu preparo e amanho
É um espera que eu já venho
Dito em vésperas de Entrudo
No que me morro me estudo
Já nem terei outro empenho
E vou passando a madraço
De outros serviços isento
Pois que riso é siso em tempo
E o siso é o riso no espaço
Deixo aos outros o embaraço
De ficarem para exemplo
[instrumental]
Sou o robot que envelhece
Estou em mudança total
Ai pobre de quem padece
Deste mal do vil metal
Sou o robot pilha gasta
Tão velho e ainda binário
Quero ser octogenário
Deste programa madrasta
* Amélia Muge – voz
Vasco Broco e António José Miranda – violinos
Alexandra Mendes – viola de arco
Catarina Anacleto – violoncelo
António José Martins – percussões várias
O Verão de 2025, na Europa, chegou pela calada da noite. Eram 03h:42 da madrugada, hora de Portugal Continental (02h:42, UTC). E que registo escolher para assinalar a entrada da mais cálida e luminosa das estações do ano, sendo substancial e heterogéneo o acervo fonográfico português no que concerne a canções, peças instrumentais e poemas ditos/recitados alusivos ao Estio e/ou ao solstício respectivo? A recente crónica de Fernando Alves em que pôs o dedo na ferida infecta do ostracismo a que a música instrumental tem sido votada pelas rádios portuguesas (com a excepção da Antena 2 para a música erudita, étnica e jazz) induziu-nos a seleccionar música sem palavras. E a nossa escolha recaiu sobre o instrumental "Solstício", composto e interpretado pelo grupo Madredeus e que faz parte do seu segundo álbum, "Existir", editado em 1990, com chancela EMI-Valentim de Carvalho.
Esta e outras belas composições instrumentais do Madredeus bem podiam figurar na 'playlist' da Antena 1, embora não necessariamente todas em simultâneo. Uma interrogação, a talhe de foice: o grupo de Pedro Ayres Magalhães, seja da fase com Teresa Salgueiro, seja da posterior, com Mariana Abrunheiro e Beatriz Nunes, está porventura representado na referida lista com alguma canção? É que nos últimos anos, durante os períodos em que sintonizámos o canal, nenhuma lográmos apanhar, deixando-nos a impressão de que nada da preciosa discografia do Madredeus lá conste. A confirmar-se, a situação é deveras censurável, porque o Madredeus não é um grupo qualquer: trata-se tão-só do maior embaixador da música portuguesa além-fronteiras, depois de Amália...
Solstício
Música: Madredeus
Intérprete: Madredeus* (in LP/CD "Existir", EMI-VC, 1990)
(instrumental)
* Madredeus:
Pedro Ayres Magalhães – guitarra clássica
Rodrigo Leão – teclados
Gabriel Gomes – acordeão
Francisco Ribeiro – violoncelo
A 7 de Março de 1984, no Cinema Europa, no bairro lisboeta de Campo de Ourique, Maria Guinot deu um grito. Chamava-se "Silêncio e Tanta Gente" e valeu-lhe não só a vitória no Festival RTP da Canção, e respectiva representação nacional no Festival da Eurovisão, como a perpetuidade na memória colectiva.
As canções não se escrevem apenas com letra e música. Têm gente dentro. «Às vezes é no meio de tanta gente/ Que descubro afinal aquilo que sou/ Sou um grito/ Ou sou uma pedra/ De um lugar onde não estou», preconizava na canção vitoriosa.
Nesse tempo em que a tendência maioritária era os letristas e os compositores escreverem e comporem para vozes alheias, Guinot escreveu e compôs a canção que interpretou. Sozinha, sentada ao piano, sem artifícios, directa ao coração. E essa interpretação ficou gravada na memória dos telespectadores portugueses: em solidariedade com os músicos em greve, devido a um diferendo com a RTP, Maria Guinot recusou o sistema 'playback' adoptado nessa edição e apresentou-se ao vivo, quando todos os outros nove concorrentes aceitaram as condições impostas pela estação pública de televisão.
O "Diário de Lisboa" brincava com o seu nome e titulava "Festival guinou para melhor". Era um concurso já na curva descendente, depois de ter contribuído para o país mudar para melhor graças a hinos cantados por Simone de Oliveira, Tonicha, Carlos Mendes, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho e Carlos do Carmo.
A 5 de Maio de 1984, no Luxemburgo, Maria Guinot acabou em 11.º lugar, com 38 pontos – uma classificação modesta, mas à frente de tradicionais candidatos à vitória final, como a Alemanha. Mais do que isso, deu-lhe a eternidade na memória colectiva de uma geração que se habitou a esperar, quer pelo Festival RTP da Canção quer pelo da Eurovisão, como por uma final futebolística. «E troco a minha vida por um dia de ilusão», já dizia a canção que a levou pela vida. «Às vezes sou o tempo que tarda em passar», antevia. Conscientemente ou não, Guinot suspeitava que as luzes se apagariam depressa.
Maria Adelaide Fernandes Guinot nasceu em Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa, a 20 de Junho de 1945, mas cresceu em Almada. Aprendeu piano desde os quatro anos, finalizou o curso no Conservatório Nacional em 1962 e ingressou no Coro Gulbenkian três anos mais tarde. Frequentou em simultâneo o curso liceal na área de Germânicas e iniciou os estudos de francês na Alliance Française, frequentando ainda os Institutos Britânico, Alemão e Italiano aperfeiçoando os seus conhecimentos de línguas estrangeiras. Ganha uma bolsa de estudo concedida pelo governo francês, e parte para Paris. A estadia em França influencia a sua visão da sociedade, e a sua música, reflectindo-se mais tarde nas suas composições e interpretações.
Em 1981, ficara em terceiro lugar no mesmo Festival RTP da Canção com "Um Adeus, Um Recomeço". Essa participação interrompera um primeiro período de silêncio entre a gravação de dois EP – "La Mére Sans Enfant", de 1968, e "Balada do Negro Só", de 1969 –, ambos editados pela Alvorada, que seguiam a linha dos baladeiros da época. O regresso só acontece quando a década de 80 ainda acorda para um país em reforma cultural e musical.
O país escuta-a com atenção a tocar e a cantar "Silêncio e Tanta Gente" mas, entre um sim alegre ou um triste não, Guinot escolhe não viver na ilusão. Não dá sequência ao mediatismo, grava mas discretamente e é próxima de figuras como Carlos Mendes, Manuel Freire e José Mário Branco. Este último produz o álbum homónimo de 1990 (ed. UPAV), que conta com a participação de músicos como a violoncelista Irene Lima, o contrabaixista Carlos Bica e o saxofonista Edgar Caramelo. Dos Trovante chegavam o percussionista João Nuno Represas e o teclista (e também produtor) Manuel Faria. O disco sucedia ao LP "Essa Palavra Mulher", uma edição de autor datada de 1988. A cumplicidade com o autor de "Ser Solidário" havia-se iniciado em 1986 quando Maria Guinot concebeu "Homenagem às Mães da Praça de Maio", nos dez anos do início da concentração das mulheres que, em Buenos Aires, exigiam saber dos filhos desaparecidos durante a ditadura militar argentina (1976-1983). A canção, integrante do duplo LP "100 Anos de Maio", patrocinado pela CGTP, foi uma das bandeiras do programa "Deixem Passar a Música" da RTP, no qual era acompanhada por uma orquestra sob a regência de José Mário Branco.
Esporádicas aparições em programas de televisão durante a década de 90 resgatam-na de um silêncio que nunca lhe foi inóspito. O derradeiro álbum, "Tudo Passa", é editado em 2004, juntamente com o livro "Memórias de um Espermatozóide Irrequieto", o segundo saído da sua pena, depois de "Histórias do Fado" que fora escrito em colaboração com Ruben de Carvalho e José Manuel Osório, sob o tema "Um Século de Fado". Em 2010, sofre três acidentes vasculares cerebrais que a deixam impossibilitada de tocar piano. Acto contínuo, deixa os palcos que ainda frequentava esporadicamente. Já afastada da vida pública, uma infecção respiratória levou-a de vez. «E esta pedra/ E este grito/ São a história d'aquilo que sou» dão agora ainda mais sentido à canção que a acompanhou até ao fim. [ligeiramente adaptado do obituário redigido por Davide Pinheiro para o semanário "Sol", 10 Nov. 2018]
Imaginemos que uma entidade idónea realizasse, hoje, um inquérito de rua, pedindo aos transeuntes de vários escalões etários que indicassem duas canções de Maria Guinot. O escrevente destas linhas era capaz de apostar que não chegaria aos 10 % a percentagem dos que referissem alguma além de "Silêncio e Tanta Gente" [>> YouTube], mesmo admitindo que entre as pessoas interpeladas houvesse muitas com mais de 50 anos de idade. Nesse desconhecimento/olvido da obra da cantautora Maria Guinot, que, apesar de não ser extensa (compreende três álbuns e seis discos de curta duração), contém canções de elevado quilate, a rádio, mormente a pública Antena 1, tem sobejas culpas no cartório. Uma dessas canções dignas de apreço e (re)descoberta tem por título "Cartão-de-Visita" e faz parte do CD "Tudo Passa" (Medilivro, 2004), o último e o melhor, a nosso ouvir, dos seus discos de longa duração. Aqui vo-la deixamos, no dia em que Maria Guinot completaria 80 anos de idade, se a má Fortuna, há quase sete anos, não lhe tivesse usurpado a vida. Boa escuta!
Cartão-de-Visita
Letra e música: Maria Guinot
Intérprete: Maria Guinot* (in CD "Tudo Passa", Medilivro, 2004)
Receosa me sinto,
nas cantigas me empenho:
faço da escrita uma arma
que manejo com engenho.
Finjo que digo o que sei,
esqueço o que finjo saber,
e sei que sempre cantei [bis]
esta maneira de ser.
Escrevi canções de amor e ternura,
mas outras canções foram pão-de-amargura.
[bis]
Sei que me falta o tempo
p'ra dizer tudo o que penso:
se calo chamam-me falsa,
se digo não tenho senso.
Não sou espelho de ninguém
nem engano no parecer,
e sei que sempre cantei [bis]
esta maneira de ser.
Escrevi canções de amor e ternura,
mas outras canções foram pão-de-amargura.
[bis]
[instrumental / vocalizos]
Receosa me sinto,
nas cantigas me empenho:
faço da escrita uma arma
que manejo com engenho.
Finjo que digo o que sei,
esqueço o que finjo saber,
e sei que sempre cantei [bis]
esta maneira de ser.
[vocalizos / instrumental]
Escrevi canções de amor e ternura,
mas outras canções foram pão-de-amargura.
[bis]
* Maria Guinot – voz e coros
Paulo Gaio Lima – violoncelo
Rita Guerra – coros
«Por vezes imagino que não morrerei sem realizar e apresentar na rádio um programa de prosas leves e música exclusivamente instrumental. Mas a música instrumental é um corpo estranho na rádio, ignorada quase sempre, usada como alcatifa para nela palavras tantas vezes de circunstância limparem os pés. Pode ser que, entretanto, morra um instrumentista ou calhe uma data redonda sobre o nascimento de outro, ou que um virtuoso nosso ganhe fora de portas um prémio de gabarito, nesse caso ouviremos todo o santo dia o seu movimento perpétuo, mas isso não nos levará a mudar de vida.
Vem isto a propósito de um novo festival anunciado para o início de Julho na Póvoa de Lanhoso e exclusivamente dedicado à música instrumental. O cartaz tem nomes irrecusáveis? Se tem. Tem Tó Trips, tem Manuel de Oliveira (o formidável guitarrista de Guimarães que, desde os dias longínquos da banda Mediterrâneo, pisou os grandes palcos do mundo e ainda recentemente nos deu "Entre-Lugar", uma pérola em parceria com a violoncelista Sandra Martins e com o acordeonista João Frade), tem Marta Pereira da Costa, grupos locais de percussão, instrumentos da terra, vontade de conversa no palco comunitário. O festival não cobra entradas e afirma-se como um lugar privilegiado para o encontro entre compositores e instrumentistas consagrados e outros acabados de chegar, numa homenagem à música instrumental que se faz entre portas. Haverá concertos nas ruas e nas praças da vila, foi declarada a intenção de envolver a comunidade, eis uma mancheia de razões para daqui fazer vénia ao autarca Frederico Castro, apesar de ele ter usado, a propósito do festival, a palavra "disruptiva" que nestes pobres dias serve de calçadeira a torto e a direito, embora haja quem aprecie.
Diz-se com frequência, a propósito de uma qualquer iniciativa, de uma promessa de campanha, de uma declaração política ambiciosa, que se trata de algo meramente instrumental, visando uma dada estratégia ainda oculta. O que deve ser realçado sobre este festival de música instrumental é o facto de ele não ser instrumental, mas um fim em si mesmo, o da celebração dos instrumentos e dos instrumentistas. Eis uma razão maior para visitar Póvoa de Lanhoso, nos primeiros dias de Julho. Sendo razão maior não é a única. Por um lado, coincide com a instalação, lá na Póvoa de Lanhoso, de um pólo de formação na área da filigrana. E acresce o bacalhau do Victor, na rua do Laranjal, e o mais antigo carvalho alvarinho da Península Ibérica, o formidável carvalho de Calvos, cujo porte talvez inspire Tó Trips, como se reunisse os Fake Latinos na Rua Escura e, brilhasse um sol doido sobre quem estivesse por perto, como se Júlio Pereira voltasse a Escrever o Sol, agora já no tal programa que talvez anteceda a minha morte, ou António Pinho Vargas reiniciasse a Dança dos Pássaros, ou nos sentássemos na Pedra do Sol das Danças Ocultas ou uma luz sublime incidisse sobre as mãos de Bernardo Sassetti compondo e tocando para Alice, o filme de Marco Martins.
Caramba, fiquei mesmo contente.» [Fernando Alves, "Instrumental", in "Os Dias que Correm", 17 Jun. 2025]
Ao indicar os nomes de tantos e categorizados artistas e grupos cujo labor se inscreve no domínio da música instrumental, e ao dar-se, inclusive, ao cuidado de acrescentar os títulos de algumas peças por eles gravadas, Fernando Alves estava, tacitamente, a convidar quem estivesse hoje na condução do programa da manhã da Antena 1, no caso Ricardo Soares, a rematar a crónica com um espécime instrumental das respectivas discografias. Porém, o destinatário desse implícito convite, fiel à sua condenável conduta negligente e preguiçosa, fez de conta que nada era com ele, mas não se coibiu de tecer um comentário espúrio e ridículo ainda antes de Fernando Alves chegar ao fim: «e há muitos mais». Pois é: há mas é como se não houvesse, ignorados ou impiedosamente marginalizados que são pela rádio que tem a obrigação (legal) de acarinhá-los e de dar-lhes confortável guarida!
Focando-nos nos artistas que vão actuar no festival de música instrumental de Póvoa de Lanhoso, que foi o móbil da crónica de hoje, tomamos a liberdade de relevar Marta Pereira da Costa, a segunda mulher a enveredar pela execução profissional de guitarra portuguesa (a primeira foi Luísa Amaro), dando realce à sua peça "Sem Palavras" integrante do álbum homónimo publicado em Maio do ano transacto. Trata-se de um trecho muitíssimo belo em que Marta Pereira da Costa faz dialogar, de modo assaz cativante, a sua guitarra com o piano de Iván Melón Lewis, músico cubano com quem partilhou, aliás, a interpretação de todo o alinhamento do disco. Boa escuta!
Sem Palavras
Música: Marta Pereira da Costa
Intérpretes: Marta Pereira da Costa* com Iván Melón Lewis (in LP/CD "Sem Palavras", Marta Pereira da Costa, 2024)
(instrumental)
* Marta Pereira da Costa – guitarra portuguesa
Iván Melón Lewis – piano