Tu não perguntes (é-nos proibido pelos deuses saber) que fim a mim, a ti,
os deuses deram, Leucónoe, nem ensaies cálculos babilónicos.
Como é melhor suportar o que quer que o futuro reserve,
quer Júpiter muitos invernos nos tenha concedido, quer um último,
este que agora o tirreno mar quebranta ante os rochedos que se lhe opõem.
Sê sensata, decanta o vinho, e faz de uma longa esperança
um breve momento. Enquanto falamos, já invejoso terá fugido o tempo:
colhe cada dia, confiando o menos possível no amanhã.
HORÁCIO, ode 11 do Livro I,
Trad. Pedro Braga Falcão
(in "Odes e Epodos", de Horácio,
Lisboa: Edições Tinta-da-China, 2022 – p. 87)
Notas:
1. cálculos babilónicos – horóscopos;
2. colhe cada dia – tradução de carpe diem, a mais conhecida expressão horaciana, também passível de ser vertida como "colhe o dia", "colhe o fruto do dia" ou "colhe cada fruto do dia".
[...]
Como forma de concluirmos esta introdução, poderá ser também interessante colocar em contraste com este poeta renascentista [António Ferreira] outro dos maiores vultos da língua portuguesa, Fernando Pessoa, como forma de exemplificarmos o modo por vezes coincidente, outras irreconciliável como Horácio foi sendo reinterpretado nas diversas vozes da literatura ocidental. Referimo-nos mais concretamente a Ricardo Reis, o heterónimo pessoano «latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria» (tal como Pessoa o define numa carta a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de Janeiro de 1935). Nas suas odes — conscientemente assim apelidadas pelo seu autor —, o poeta simula algo semelhante a uma «estrofe alcaica» e uma «estrofe sáfica» (tal como Álvaro de Campos as descreve), tentando recriar em português a sonoridade de uma ode horaciana, experimentando e variando tanto ou mais quanto o próprio António Ferreira tinha feito, desta vez já sem o espartilho da rima. Este experimentalismo é como que um manifesto artístico em alguém que estudou de forma atenta o latim métrico de Horácio, tal como podemos atestar no rascunho de um tratado que se intitularia Nova Métrica (cf. Fernando Lemos, Fernando Pessoa e a Nova Métrica, Inquérito, 1993): é a procura da tal varietas tão querida ao poeta romano. Mas a aproximação formal é apenas uma das diversas perspectivas com que podemos estudar a lírica ricardiana: ao nível da temática, aquilo que Reis decide ou não imitar diz muito da sua personalidade literária. Ao contrário de Ferreira, como seria de esperar, ao heterónimo pessoano pouco ou nada interessa a face mais política ou social das odes horacianas, nem a sua essência dialógica (quase não há dedicatórias nas odes de Reis, e grande parte não tem destinatário definido). Mesmo o discurso metapoético, ainda que aflorado em odes como «Quero versos que sejam como jóias» (ode 55 na ed. de Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, 2007), poema onde aliás o nome de Horácio é explicitamente referido, não é central em Reis. Para além do formalismo da ode, da sua estrutura rítmica diversa, e daquele tal tom solene e rebuscado, típico da ode latina, são os poemas de Horácio sobre a natureza humana que mais parecem interessar ao heterónimo pessoano: a busca de uma simplicidade que escapa continuamente ao homem, o motivo do carpe diem e da inexorabilidade da morte, a omnipotência da fortuna, a efemeridade da alegria e do prazer, posta no contexto da imagética do banquete e do elogio do vinho, tão caros à estética horaciana. Mesmo na temática amorosa, temos de ter algum cuidado nas eventuais aproximações que possamos fazer. O nome de Lídia, obviamente, é uma vénia ao poeta romano, mas toda a sexualidade e erotismo típicos do autor latino são como que expurgados numa presença feminina que parece habitar nos poemas pessoanos, não no corpo de uma mulher, mas num espírito algo descarnado. De facto, os nomes das amadas de Horácio são interpelados nas odes de Reis apenas como isso: simples nomes, sem nenhuma daquela carga sexual com que o romano as encena nas suas odes, isto para além do facto de o amor homoerótico, comum na lírica de Horácio, estar de todo ausente das odes de Reis.
[...]
PEDRO BRAGA FALCÃO
(Da Introdução a "Odes e Epodos", de Horácio,
Lisboa: Edições Tinta-da-China, 2022 – p. 44-46)
Prosseguindo a celebração de Fernando Pessoa, neste ano do noventenário da sua morte, assinalamos o equinócio do Outono com uma ode do seu heterónimo horaciano, Ricardo Reis: aquela que tem como incipit "Quando, Lídia, vier o nosso outono", na leitura irrepreensível do actor Luís Lucas, que os deuses chamaram a si há menos de um mês. Boa escuta! Carpe diem!
Ainda não nos demos conta, no ano em curso, o qual já só está a pouco mais de dois meses de 30 de Novembro (dia preciso da efeméride da morte de Fernando Pessoa), de qualquer inicitiva nas antenas nacionais da rádio pública visando celebrar o nosso maior poeta do século XX. Vão limitar-se a uma simples evocação naquela data, do tipo "toca-e-foge", e nada mais?
Quando, Lídia, vier o nosso outono
Poema de Ricardo Reis (in "Presença: Folha de Arte e Crítica", N.º 31-32, Coimbra, Mar.-Jun. 1931 – p. 10; "Odes de Ricardo Reis", Col. Poesia, Série 'Obras Completas de Fernando Pessoa', Vol. IV, Lisboa: Edições Ática, 1946, 1987 – p. 120; "Poesia de Ricardo Reis", Org. Manuela Parreira da Silva, Col. Obras de Fernando Pessoa, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, 2007, 2023; "Poemas de Ricardo Reis", Org. Luiz Fagundes Duarte, Col. Pessoana Edições, Vol. I, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2015 – p. 25)
Dito por Luís Lucas* (in livro/2CD "Ao Longe os Barcos de Flores: Poesia Portuguesa do Século XX": CD 1, Col. Sons, Assírio & Alvim, 2004)
Quando, Lídia, vier o nosso outono
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa —
O amarelo actual que as folhas vivem
E as torna diferentes.
Capa do livro "Odes e Epodos", de Horácio; tradução, introdução e notas: Pedro Braga Falcão (Lisboa: Edições Tinta-da-China, Set. 2022)
Concepção – Vera Tavares (Edições Tinta-da-China)
Capa do N.º 31-32 da revista "Presença: Folha de Arte e Crítica" (Coimbra, Mar.-Jun. 1931)
Desenho – Sara Afonso
Página 10 da publicação anterior onde consta a ode "Quando, Lídia, vier o nosso outono", de Ricardo Reis
Capa da 1.ª edição do livro "Odes de Ricardo Reis" (Col. Poesia, Série 'Obras Completas de Fernando Pessoa', Vol. IV, Lisboa: Edições Ática, 1946)
Desenho – José de Almada Negreiros
Capa da 1.ª edição do livro "Poesia de Ricardo Reis", Org. Manuela Parreira da Silva (Col. Obras de Fernando Pessoa, Lisboa: Assírio & Alvim, Out. 2000)
Capa da 2.ª edição do livro "Poesia de Ricardo Reis", Org. Manuela Parreira da Silva (Col. Obras de Fernando Pessoa, Lisboa: Assírio & Alvim, 2007)
Capa da 3.ª edição do livro "Poesia de Ricardo Reis", Org. Manuela Parreira da Silva (Col. Obras de Fernando Pessoa, Porto: Assírio & Alvim, Mai. 2023)
Capa do livro "Poemas de Ricardo Reis", Org. Luiz Fagundes Duarte (Col. Pessoana Edições, Vol. I, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Abr. 2015)
Capa do livro "Fernando Pessoa: Vida e Obras de Ricardo Reis", Org. Teresa Rita Lopes (São Paulo: Global Editora, 2018)
Capa do livro (com 2 CD) "Ao Longe os Barcos de Flores: Poesia Portuguesa do Século XX" (Col. Sons, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004).
Imagem heliográfica – Lourdes Castro ("Mangueiro", in Grand Herbier d'Ombres, 1972)
(in https://almanaquesilva.wordpress.com/)
Ilustração de Julião Machado para o "Epigrama Imitado", incipit "Levando um velho avarento", primeiramente publicada no livro "Fábulas de Bocage" (Lisboa: Imp. de Libanio da Silva, 1905).
Fez hoje 260 anos que nasceu um dos maiores e também um dos mais desventurados poetas portugueses: Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage [https://purl.pt/1276/1/]. Evocamos o grande Elmano Sadino dando destaque a um poema de feição moralista: o "Epigrama Imitado", incipit "Levando um velho avarento". E fazemo-lo com dois registos, um recitado e um cantado: o primeiro por Manuela de Freitas e Mário Viegas, que faz parte do álbum "Poemas de Bibe: Grande Poesia Portuguesa Escolhida para os Mais Pequenos" (UPAV, 1990); e o segundo pelo grupo de rock progressivo Petrus Castrus, integrante do álbum "Mestre" (Guilda da Música/Sassetti, 1973).
O poema é, evidentemente, alegórico e pode, presentemente, aplicar-se com toda a propriedade a uns quantos indivíduos (os multimilionários) que, a cada dia que passa, concentram nas suas mãos mais e mais riqueza à custa do empobrecimento da maioria da população mundial, a do Primeiro Mundo incluída, e acarretando, simultaneamente, a destruição das condições de habitabilidade no planeta para o homo sapiens e para uma imensidade de outras espécies animais e vegetais, o que pode levar à extinção da própria Humanidade dentro de escassos séculos. Tal acontece porque a política que tem sido (cegamente) seguida em muitos países o permite e até incentiva, não sendo de admirar que as chamadas democracias liberais estejam a definhar ao mesmo tempo que medram os movimentos e as forças político-partidárias extremistas, mormente as de pendor fascista/fascizante. Nada que os governantes e os chefes de Estado desses países em crescente crise social não pudessem antever e evitar se fossem menos (voluntariamente) inconscientes da História e lessem (mais) textos de qualidade, como, por exemplo, a seguinte passagem de Almeida Garrett, em "Viagens na Minha Terra": «E eu pergunto aos economistas-políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico.»
Boa escuta!
Quem escutou a emissão de hoje do programa "A Ronda da Noite" teve a oportunidade de ouvir três poemas de Bocage: dois ditos por Luís Caetano e um pelo seu convidado, o Prof. Daniel Pires, reputado estudioso bocageano e autor do livro "Bocage: A Imagem e o Verbo" [>> RTP-Play]. Cumpre-nos enaltecer Luís Caetano pelo cuidado que teve em assinalar a efeméride resgatando esta saborosa conversa originalmente emitida no seu sabatino "A Força das Coisas", de 12 Dez. 2015, no âmbito das comemorações do 250.º aniversário do nascimento do poeta [>> RTP-Play]. Contudo, fora de efemérides ou de outras ocasiões muito esporádicas é virtualmente impossível ouvir-se algo, por mais curto que seja, da abundante e valorosa poesia de Bocage na Antena 2, visto o apontamento "A Vida Breve" ter como objecto a poesia dita pelos próprios autores. E nas outras antenas de cobertura nacional da rádio pública a situação é ainda pior, uma vez que nas respectivas grelhas nada existe no que concerne a poesia dita/recitada...
Importa, pois, que sem prejuízo de manutenção do figurino que Luís Caetano gizou para o espaço que vem mantendo com assinalável diligência (nunca é de mais reconhecê-lo), haja também lugar, e não somente no canal mais cultural da estação pública de rádio, para a poesia de autores que viveram antes da invenção da fonografia ou que tendo já nela vivido não deixaram registos de poemas seus em voz própria, como foi o caso de Fernando Pessoa (apenas para citar o maior poeta português do século XX). E para esse efeito nem é preciso gastar um chavo a contratar actores/dizedores: basta fazer o uso do arquivo histórico da rádio pública, bem como de edições discográficas. No caso concreto de Bocage, não é nada diminuto o acervo de poesia registada em disco por reputados recitadores: além de gravações avulsas, como a de Manuela de Freitas e Mário Viegas ora apresentada, temos conhecimento de quatro discos integralmente bocageanos: um por Andrade e Silva ("Sonetos Eróticos de Bocage", Estúdio/Mundisom, 1974); outro por José Carlos Ary dos Santos ("Bocage: Líricas e Sátiras", Guilda da Música/Sassetti, 1975, reed. CNM, 2004, 2011); outro por Carlos César e Célia David, com música de Rui Serôdio ("Sonetos de Bocage", Som da Cultura/Ruquisom, 1996); e outro ainda por José Luís Nobre, com música de Rui Serôdio ("Perscrutando a Inquietude: 40 Poemas de Bocage", Centro de Estudos Bocageanos/JGC, 2007).
Epigrama
Poema de Bocage ("Epigrama Imitado", in "Rimas de Manoel Maria de Barbosa du Bocage, Dedicadas à Amizade", Tomo II, Lisboa: Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1802 – p. 244; "Fábulas de Bocage", Ilustrações de Julião Machado, Lisboa: Imp. de Libanio da Silva, 1905, 4.ª edição, Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2000 – p. 38; "Obras Completas de Bocage: Sonetos, Sátiras, Odes, Epístolas, Idílios, Apólogos, Cantatas e Elegias", Tomo I, Organização, fixação do texto e notas de Daniel Pires, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2018 – p. 494)
Recitado por Manuela de Freitas e Mário Viegas* (in LP/CD "Poemas de Bibe: Grande Poesia Portuguesa Escolhida para os Mais Pequenos", UPAV, 1990, reed. Público, 2006)
Levando um velho avarento
Uma pedrada n'um olho,
Pôs-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.
Certo doutor, não das dúzias,
Mas sim médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.
«Dez moedas! (Diz o avaro)
Meu sangue não desperdiço:
Dez moedas por um olho!
O outro dou eu por isso.»
Nota: «Baseado no poema de Beaugeard «Un harpagon, en courant par la ville» (Daniel Pires).
Poema: Bocage ("Epigrama Imitado", in "Rimas de Manoel Maria de Barbosa du Bocage, Dedicadas à Amizade", Tomo II, Lisboa: Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1802 – p. 244; "Fábulas de Bocage", Ilustrações de Julião Machado, Lisboa: Imp. de Libanio da Silva, 1905, 4.ª edição, Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2000 – p. 38; "Obras Completas de Bocage: Sonetos, Sátiras, Odes, Epístolas, Idílios, Apólogos, Cantatas e Elegias", Tomo I, Organização, fixação do texto e notas de Daniel Pires, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2018 – p. 494)
Música: José Castro e Pedro Castro
Intérprete: Petrus Castrus* (in LP "Mestre", Guilda da Música/Sassetti, 1973, reed. CNM, 2007)
Levando um velho avarento
Uma pedrada n'um olho,
Pôs-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.
Certo doutor, não das dúzias,
Mas sim médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.
«Dez moedas!
Meu sangue não desperdiço.
Dez moedas por um olho!
O outro dou eu por isso.»
* [Créditos gerais do disco:]
Petrus Castrus:
Pedro Castro – viola baixo, guitarras acústicas, voz, kazoo
José Castro – piano, xilofone, voz
Rui Reis – piano, órgão, cravo
Júlio Pereira – viola solo, baixo
João Seixas – bateria, percussão
Frontispício do livro "Rimas de Manoel Maria de Barbosa du Bocage, Dedicadas à Amizade", Tomo II (Lisboa: Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1802)
Capa da 1.ª edição do livro "Fábulas de Bocage", ilustrações de Julião Machado (Lisboa: Imp. de Libanio da Silva, 1905)
Capa da 4.ª edição do livro "Fábulas de Bocage", ilustrações de Julião Machado, introdução e actualização de texto: Daniel Pires (Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, Mar. 2000)
Capa do livro "Obras Completas de Bocage: Sonetos, Sátiras, Odes, Epístolas, Idílios, Apólogos, Cantatas e Elegias", Tomo I, Organização, fixação do texto e notas de Daniel Pires (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Dez. 2018)
Capa do LP/CD "Poemas de Bibe: Grande Poesia Portuguesa Escolhida para os Mais Pequenos", de Mário Viegas e Manuela de Freitas (UPAV, 1990)
Fotografia – Rui Cunha
Capa do livro (com CD) "Poemas de Bibe", vol. 10 de "Mário Viegas: Discografia Completa" (Público, 2006)
Fotografia – Rui Cunha
Design gráfico – José Santa-Bárbara
Capa do LP "Mestre", do grupo Petrus Castrus (Guilda da Música/Sassetti, 1973)
Fotografia – Armando Vidal (alto-relevo representando um Tritão mitológico sobre a Porta dos Corais, no Palácio da Pena, Sintra) [mais informação em: https://www.parquesdesintra.pt]
Concepção/grafismo – José Soares
Capa do livro "Bocage: A Imagem e o Verbo", de Daniel Pires (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Set. 2015)
Capa do livro "Bocage ou O Elogio da Inquietude", de Daniel Pires (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Dez. 2019)
Capa do livro "O Essencial sobre Manuel Maria de Barbosa du Bocage", de Daniel Pires (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Ago. 2023)