
Super-Lua de 23 Jun. 2013 sobre a Igreja de Nossa Senhora do Castelo, em Sesimbra, fotografada por Miguel Claro às 21h:22
(in https://www.miguelclaro.com/).
Havendo dias mundiais ou dias internacionais para tudo e mais alguma coisa, seria de estranhar que a Lua não tivesse também um dia do mesmo jaez. E tem: 20 de Julho, por resolução aprovada pela Assembleia Geral da ONU a 9 de Dezembro de 2021 instituindo o Dia Internacional da Lua. O vigésimo dia do sétimo mês do ano não foi, como é fácil de intuir-se, escolhido arbitrariamente, pois corresponde à efeméride em que pés humanos – no caso, os de Neil Armstrong – pisaram pela primeira vez o solo lunar: 20 de Julho de 1969.
Sendo o património fonográfico português profusamente rico em canções, poemas recitados e peças instrumentais alusivos ao astro mais próximo da Terra (o seu único satélite natural), que a alumia nas noites de céu não nublado ou com poucas nuvens, pensámos destacar uma gravação de temática lunar à guisa de cortesia aos prezados visitantes do blogue "A Nossa Rádio". E qual escolher entre as tantas e boas que existem? Ora, dado que o presente mês de Julho é o do 105.º aniversário do nascimento de Amália Rodrigues – figura maior da cultura portuguesa da contemporaneidade –, achámos por bem deitar mão ao belo poema amaliano "A Lua", publicado no seu livro "Versos" (1997), na versão musicada e cantada por Amélia Muge e que é parte integrante do primoroso álbum "Amélia com Versos de Amália" (2014). Boa escuta!
Poesia escrita e/ou cantada por Amália merece ser cultivada em qualquer altura do ano, e por maioria de razão no mês do seu aniversário natalício, Julho (o averbamento na conservatória do registo civil situa o nascimento a 23, mas sabia-se que a bebé viera ao mundo uns quantos dias antes, o que levou a artista a datar o seu aniversário no primeiro dia do mês). Em tal conformidade, bem podia a Antena 1 tomar aquele pretexto para fazer de Julho, a cada ano que passa, um mês amaliano. O repertório em voz própria teria, obviamente, lugar de primazia na 'playlist' e aproveitava-se para dar a ouvir poesia de Amália que outros gravaram, quer na forma recitada quer na cantada. Na segunda modalidade, o citado álbum de Amélia Muge é, claramente, o supra-sumo.
A Lua
Poema: Amália Rodrigues (ligeiramente adaptado) [texto original >> abaixo]
Música: Amélia Muge
Arranjo: António José Martins e José Mário Branco
Intérprete: Amélia Muge* (in CD "Amélia com Versos de Amália", Amélia Muge/Leve Music, 2014)
Olha a Lua redondinha, [bis]
Tão redonda, coisa rara! [bis]
Nem lhe descubro a covinha
De cada lado da cara...
Anda cá, ó Lua Cheia [bis]
De cantigas p'ra me dar!
Nem o mundo faz ideia [bis]
Das cantigas ao luar...
Na lua já ando eu
Mesmo sem ter ido à Lua:
Meu amor é todo meu;
Meu amor, sou toda tua!
Lua no quarto minguante [bis]
Algum desgosto ela tem: [bis]
Foi cantiga de estudante
Que cantou p'ra mais alguém.
Lua Nova não se vê, [bis]
Anda de cara escondida; [bis]
Não me perguntem porquê
Que é uma pergunta atrevida.
Tantas cantigas de amor
Já terá ouvido a Lua:
Se as sabe todas de cor
Sabe a minha e sabe a tua.
[instrumental]
Será que de amores cresce [bis]
Lua no quarto crescente? [bis]
Ou será que a Lua desce
P'ra estar mais perto da gente?
As luas são separadas: [bis]
Quartos minguante crescente; [bis]
Já tem quatro assoalhadas,
Tem muito mais do que a gente. [bis]
* Amélia Muge – voz e viola braguesa
António Pinto – guitarras acústicas (cordas de nylon e de aço)
António Quintino – contrabaixo
Tatiana Rosa – flautas em Dó
Direcção artística – Amélia Muge, José Mário Branco, António José Martins e Michales Loukovikas
Direcção musical – José Mário Branco
Direcção musical das gravações na Grécia – Michales Loukovikas
Produção – Amélia Muge
Co-produção – António José Martins
Gravado no Estúdio da Ribeira, Sintra, por António José Martins, em Junho de 2014
Gravações adicionais de viola braguesa e percussões por Amélia Muge no estúdio AJM (Sobreda - Almada), em Julho de 2014
Misturado por António Pinheiro da Silva e José Mário Branco com a colaboração de Michales Loukovikas, António José Martins e Amélia Muge
Masterizado por António Pinheiro da Silva
Texto sobre o disco em: Público
URL: https://www.facebook.com/ameliamuge
https://www.facebook.com/Am%C3%A9lia-Muge-Michales-Loukovikas-315928531775833/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9lia_Muge
https://www.uguru.net/artista/amelia-muge/
https://www.youtube.com/channel/UC9pldcsocJWRX6mIP5w2viw
https://www.youtube.com/@macajm51
https://www.youtube.com/@UGURUMusica/videos?query=amelia+muge
https://music.youtube.com/channel/UCEWggHi4NJVs7BYz1VmaOfg
A LUA
(Amália Rodrigues, Da secção "Se me Quiseres Ver Descalça", in "Versos", Lisboa: Edições Cotovia, 1997 – p. 57-58)
Olha a lua redondinha
Tão redonda coisa rara
Nem lhe descubro a covinha
De cada lado da cara
Anda cá ó lua cheia
De cantigas p'ra me dar
Nem o mundo faz ideia
Das cantigas ao luar
Lua no quarto minguante
Algum desgosto ela tem
Foi cantiga de estudante
Que cantou p'ra mais alguém
Lua nova não se vê
Anda de cara escondida
Não me perguntem porquê
Que é uma pergunta atrevida
Será que de amores cresce
Lua no quarto crescente
Ou será que a lua desce
P'ra estar mais perto da gente
Tantas cantigas de amor
Já terá ouvido a lua
Se as sabe todas de cor
Sabe a minha e sabe a tua
Na lua já ando eu
Mesmo sem ter ido à lua
Meu amor é todo meu
Meu amor sou toda tua
As luas são separadas
Quartos minguante crescente
Já tem quatro assoalhadas
Tem muito mais do que a gente

Capa da 1.ª edição do livro "Versos", de Amália Rodrigues; coordenação, nota final e cronologia: Vítor Pavão dos Santos (Lisboa: Edições Cotovia, Out. 1997)

Capa da 7.ª edição do livro "Versos", de Amália Rodrigues; coordenação, nota final e cronologia: Vítor Pavão dos Santos (Lisboa: Livros Cotovia, 2005)

Capa da 9.ª edição do livro "Versos", de Amália Rodrigues; coordenação, nota final e cronologia: Vítor Pavão dos Santos (Lisboa: Livros Cotovia, Mai. 2018)

Capa do livro "Poems", de Amália Rodrigues; ed. e introd.: Rui Vieira Nery; trad.: Jamie Rising (Lisboa: Dilúvio, Out. 2022)
Ilustração – André Carrilho
Edição bilingue em português e inglês

Capa do CD "Amélia com Versos de Amália", de Amélia Muge (Amélia Muge/Leve Music, 2014)
Fotografia – Egle Bazaraite
Ilustrações – Amélia Muge
Design gráfico – Cristiana Serejo
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Outros artigos com repertório alusivo à Lua:
A infância e a música portuguesa
Em memória de Vasco Graça Moura (1942-2014)
"Quando os Lobos Uivam"
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Outros artigos com repertório de Amélia Muge:
A infância e a música portuguesa
Camões recitado e cantado
Celebrando Natália Correia
Em memória de António Ramos Rosa (1924-2013)
Celebrando Sophia de Mello Breyner Andresen
Em memória de Fernando Alvim (1934-2015)
Amélia Muge: "Os Novos Anjos" (ao Zeca Afonso)
Amélia Muge: "Dia em Dia"
Amélia Muge: "Ai, Flores"
Amélia Muge: "O Robot Que Envelhece" (João Pedro Grabato Dias)
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