
(in https://www.terra.com.br/noticias/climatempo/)
Quando pensamos na situação em que se deixa o planeta às gerações futuras, entramos noutra lógica: a do dom gratuito, que recebemos e comunicamos. Se a Terra nos é dada, não podemos pensar apenas a partir dum critério utilitarista de eficiência e produtividade para lucro individual. Não estamos a falar duma atitude opcional, mas duma questão essencial de justiça, pois a terra que recebemos pertence também àqueles que hão-de vir.
[...]
As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida actual — por ser insustentável — só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está a acontecer periodicamente em várias regiões. A atenuação dos efeitos do desequilíbrio actual depende do que fizermos agora, sobretudo se pensarmos na responsabilidade que nos atribuirão aqueles que deverão suportar as piores consequências.
[...]
A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência directa e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias... Tudo isto faz parte duma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano. Voltar – com base em motivações profundas – a utilizar algo em vez de o desperdiçar rapidamente pode ser um acto de amor que exprime a nossa dignidade.
PAPA FRANCISCO
(passagens dos parágrafos 159, 161 e 211
da carta encíclica Laudato si', 24 Mai. 2015)
O blogue "A Nossa Rádio" assinala o presente Dia Internacional da Mãe Terra dando destaque à canção "Terra-Mãe", interpretada por Carlos Mendes com música da sua autoria sobre letra de José Jorge Letria. Faz parte do álbum "Triângulo do Mar", um dos trabalhos fundamentais do artista que teve edição em vinil no ano de 1982, sob o selo Triângulo da editora Sassetti, mas – e incompreensivelmente – nunca reeditado em CD. A boa notícia é que foi entretanto, em Fevereiro de 2021, disponibilizada a versão digital nas plataformas de 'streaming'.
Dedicamos este singelo artigo à memória do bom papa Francisco, que ontem nos deixou. É a dedicatória de alguém que não professa o catolicismo (nem qualquer outra confissão religiosa), mas que não é desprovido de discernimento para reconhecer o humanismo do homem Jorge Mario Bergoglio que, na qualidade de chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, foi um eminente paladino da causa ambiental – causa vital para a sobrevivência da Humanidade à face da Terra.
Está, acaso, Carlos Mendes representado na 'playlist' da Antena 1? Temos seriíssimas dúvidas de que algo do seu meritório repertório lá conste, a avaliar pela enorme quantidade de lixo sonoro (chamá-lo "música" seria ofender a musa) que pulula naquela lista. Sendo Carlos Mendes um das figuras de primeiro plano da Música Portuguesa, a sua aparente ausência na 'playlist' do canal generalista da rádio do Estado configura uma situação de clamorosa injustiça ao artista e, simultaneamente, uma intolerável sonegação cultural aos ouvintes. A canção "Terra-Mãe", aqui em realce, e outras do primoroso álbum "Triângulo do Mar" clamam pela oportunidade de chegarem aos tímpanos dos hodiernos rádio-ouvintes/contribuintes...
Terra-Mãe
Letra: José Jorge Letria
Música: Carlos Mendes
Intérprete: Carlos Mendes* (in LP "Triângulo do Mar", Triângulo/Sassetti, 1982; reed. digital: World Music Records, 2021)
[instrumental]
Terra-mãe! Terra-mãe! Terra-mãe!...
Tens olhos de água,
Tens brincos de trigo
e um filho em cada mão.
Tens lábios de terra,
Tens dedos de mágoa
e um lugar nesta canção.
És sal tão amargo,
És sonho adiado,
És fruto guardado
desta primavera.
Terra-mãe! Terra-mãe! Terra-mãe! Terra-mãe!...
[instrumental]
Tens corpo de vento
e um rosto de mar
e as cores da alvorada.
Tens nome de guerra
em tempo de paz
que te faz ser tão amada.
És sangue, és mudança,
És data marcada,
És cais de chegada
no dia da esperança.
Terra-mãe! Terra-mãe! Terra-mãe! Terra-mãe!...
[instrumental / coros]
* Carlos Mendes – vozes e crumar
Zézé N'Gambi – bateria
Chico Zé – baixo eléctrico
Mário Jorge – guitarra eléctrica
Quim M'Jojo – tumbadoras e percussão
Emílio Robalo – piano Fender, crumar e oberheim
Fernando Girão, Argentina, Madalena – coros
Direcção musical e produtor delegado – Fernando Girão
Produção – Sassetti
Gravado e misturado no Angel Studio, Lisboa, em Fevereiro de 1982
Técnicos de som – José Manuel Fortes e Rui Novais
Texto sobre o disco em: Grandes discos da música portuguesa: efemérides em 2007
URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Mendes
https://www.facebook.com/CarlosMendes.Musica/
https://music.youtube.com/channel/UC9NTrNKsDP8bzcqwNLJLy-g
https://music.youtube.com/channel/UCjYpU_PTbPpPI-sjFJDrUFQ
https://www.youtube.com/@DoTempoDosSonhos/videos?query=carlos+mendes

Capa do LP "Triângulo do Mar", de Carlos Mendes (Triângulo/Sassetti, 1982)
Fotografia – Inácio Ludgero
Concepção – José Brandão.
___________________________________________
Artigos relacionados:
Mário Dionísio: "Solidariedade", por Carmen Dolores
Luís Cília: "Tango Poluído"
___________________________________________
Outro artigo com repertório de Carlos Mendes:
Carlos Mendes: "Calçada de Carriche" (António Gedeão)
___________________________________________
Outros artigos com poesia de José Jorge Letria:
A infância e a música portuguesa
Manuel Freire: "O Zeca"
Vitorino: "O Capitão dos Tanques"
Sem comentários:
Enviar um comentário