18 junho 2020

José Saramago: "Dia Não"



Publicado em 1966, "Os Poemas Possíveis", de José Saramago, foi um dos livros de que Luís Cília se serviu quando começou a trabalhar na trilogia "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours". E logo no primeiro volume, editado em 1967 com o selo Moshé-Naïm, saíram dois poemas de Saramago musicados e cantados por Luís Cília: "Dia Não" e "Contracanto". O primeiro viria a ser gravado também por Manuel Freire, em duas versões, ambas com música de Luís Cília: uma para o LP "Devolta" (1978), produzido por Luís Cília, e outra para o CD "As Canções Possíveis: Manuel Freire canta José Saramago" (1999), produzido por Carlos Alberto Moniz. São estes três registos do "Dia Não" que aqui apresentamos no dia em que se completaram dez anos sobre a morte do nosso primeiro (e único até agora) Nobel da Literatura.
Nesta efeméride do escritor que, depois de Camões e de Pessoa, mais prestigiou Portugal em todo o mundo, era justo e expectável que a direcção de programas da Antena 1, no mínimo, desse a ouvir ao longo do dia um punhado das canções feitas sobre poemas saramaguianos, cuja cifra total ultrapassa actualmente a trintena enumerada no artigo José Saramago na música portuguesa. Mas não. Nada aconteceu, o que nos dá toda a legitimidade para perguntar: andam a dormir na forma? Ou não querem trabalhar, deixando correr o tempo enquanto estão a olhar para o Mar da Palha ou a explorar o Facebook?



Dia Não



Poema: José Saramago (in "Os Poemas Possíveis", Lisboa: Portugália Editora, 1966 – p. 24-25)
Música: Luís Cília
Intérprete: Luís Cília* (in LP "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 1", Moshé-Naïm, 1967; CD "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours", Moshé-Naïm/EMEN, 1996)


De paisagens mentirosas
De luar e alvoradas
De perfumes e de rosas
De vertigens disfarçadas

Que o poema se desnude
De tais roupas emprestadas
Seja seco, seja rude
Como pedras calcinadas

Que não fale em coração
Nem de coisas delicadas
Que diga não quando não
Que não finja mascaradas

De vergonha se recolha
Se as faces tiver molhadas
Para seus gritos escolha
As orelhas mais tapadas

E quando falar de mim
Em palavras amargadas
Que o poema seja assim
Portas e ruas fechadas

Ah! que saudades do sim
Nestas quadras desoladas!


* Luís Cília – voz e guitarra
Marc Vic – guitarra
François Rabbath – contrabaixo

Produção – Moshé Naïm
Gravado nos Studios Europa-Sonor, Paris
URL: http://www.luiscilia.com/
https://www.youtube.com/user/LeoMOV/videos



Dia Não



Poema: José Saramago (in "Os Poemas Possíveis", Lisboa: Portugália Editora, 1966 – p. 24-25)
Música: Luís Cília
Intérprete: Manuel Freire* (in LP "Devolta", Diapasão/Lamiré, 1978)


De paisagens mentirosas
De luar e alvoradas
De perfumes e de rosas
De vertigens disfarçadas

Que o poema se desnude
De tais roupas emprestadas
Seja seco, seja rude
Como pedras calcinadas

Que não fale em coração
Nem de coisas delicadas
Que diga não quando não
Que não finja mascaradas

De vergonha se recolha
Se as faces tiver molhadas
Para seus gritos escolha
As orelhas mais tapadas

E quando falar de mim
Em palavras amargadas
Que o poema seja assim
Portas e ruas fechadas

Ah! que saudades do sim
Nestas quadras desoladas!


* [Créditos gerais do disco:]
Manuel Freire – voz
Luís Cília – guitarra, coros
Pedro Caldeira Cabral – guitarra portuguesa
Celso de Carvalho – viola baixo
Vasco Pimentel – sintetizador ARP Omni, piano

Arranjos e direcção musical – Luís Cília
Produção – Lamiré
Gravado nos Estúdios Musicorde, Lisboa
Técnicos de som – Rui Remígio e Luís Flor



Dia Não



Poema: José Saramago (in "Os Poemas Possíveis", Lisboa: Portugália Editora, 1966 – p. 24-25)
Música: Luís Cília
Intérprete: Manuel Freire* (in CD "As Canções Possíveis: Manuel Freire canta José Saramago", Editorial Caminho, 1999, reed. Ovação, 2005)




De paisagens mentirosas
De luar e alvoradas
De perfumes e de rosas
De vertigens disfarçadas

Que o poema se desnude
De tais roupas emprestadas
Seja seco, seja rude
Como pedras calcinadas

Que não fale em coração
Nem de coisas delicadas
Que diga não quando não
Que não finja mascaradas

De vergonha se recolha
Se as faces tiver molhadas
Para seus gritos escolha
As orelhas mais tapadas

E quando falar de mim
Em palavras amargadas
Que o poema seja assim
Portas e ruas fechadas

Ah! que saudades do sim
Nestas quadras desoladas!


* Manuel Freire – voz
Aníbal Lima – violino
Nuno Silva – clarinete
Paulo Gaio Lima – violoncelo
João Paulo Esteves da Silva – piano
Bernardo Moreira – contrabaixo

Orquestração e direcção musical – Carlos Alberto Moniz
Assistência musical – Idália Moniz
Produção – Dito e Feito, Lda.
Gravado nos Estúdios Xangrilá, Lisboa, nos dias 8, 9 e 10 de Março de 1999, por Pedro Ferreira, e nos Estúdios Goya, Lisboa, nos dias 23, 24, 25 e 26 de Março de 1999, por Rosário Sena e José Manuel Fortes
Mistura e masterização – José Manuel Fortes
URL: https://www.facebook.com/ManuelFreireOficial/
https://www.youtube.com/channel/UC-z8xqfA49yS1tAXIBTvQig
https://www.youtube.com/user/DoTempoDosSonhos/videos?query=manuel+freire



Capa da 1.ª edição do livro "Os Poemas Possíveis", de José Saramago (Col. Poetas de Hoje, Portugália Editora, 1966)



Capa do LP "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours – 1", de Luís Cília (Moshé-Naïm, 1967)
Fotografia – Ludwik Lewin
Concepção – Henri Matchavariani



Capa da antologia em CD "La Poésie Portugaise de Nos Jours et de Toujours", de Luís Cília (Moshé-Naïm/EMEN, 1996)
Pintura (à esquerda) – Maria Helena Vieira da Silva
Fotografia (à direita) – Alain Appéré



Capa do LP "Devolta", de Manuel Freire (Diapasão/Lamiré, 1978)
Fotografias e arranjo gráfico – Maria Judith Cília



Capa da 1.ª edição do CD "As Canções Possíveis: Manuel Freire canta José Saramago" (Editorial Caminho, 1999)
Design e ilustração – José Serrão

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