09 outubro 2009

Madonna na RTP-2 é bom serviço público?



Na antiga RTP-2, que me lembre (pelo menos desde os anos 90), sempre houve ópera, bailado e teatro. Com a reestruturação do canal mandada fazer por Morais Sarmento e a sua transformação em 2:, em Janeiro de 2004, continuou a haver ópera e bailado, e também concertos de música sinfónica/coral, no espaço "Palcos", tendo sido criada para a música não erudita (pop/rock, jazz e world music) o espaço "Músicas". Decorridos cerca de dois anos, e por decisão do novo director de programas, Jorge Wemans, a ópera, o bailado e a música clássica seriam banidos e o espaço "Palcos" passou a ser reservado exclusivamente à música pop/rock e, por vezes, ao jazz. E é assim que há largos meses, no início da madrugada de sexta-feira para sábado, se vêm sucedendo muitos nomes da música pop/rock anglo-americana, geralmente em concertos ao vivo. Como gosto de ser eu o programador da televisão que desejo ver, habituei-me a gravar os programas do meu interesse para os ver a posteriori, a horas decentes, e o espaço "Palcos" tem sido um deles, embora saiba de antemão que nem tudo é aproveitável nem adequado a um canal de serviço público supostamente cultural. Exemplos disso têm sido as colagens de 'videoclips': assim aconteceu há uns meses com a Tina Turner, há algumas semanas com os U2 e voltou a acontecer na semana passada com a Madonna.
A pergunta que eu formulo a quem de direito é esta: é nestes termos e com este género de arte e de artistas que a RTP-2 presta serviço público cultural? Serão os conteúdos musicais/videográficos da MTV os mais recomendáveis para um canal público de televisão vocacionado para a cultura?
Devo dizer que nem sequer sou avesso à presença de música não erudita na RTP-2, mas terá sempre de existir um critério sério e rigoroso de selecção do que é efectivamente digno de figurar num canal cultural. Nesta ordem de ideias, autores/intérpretes como Astor Piazzolla, Chico Buarque ou Amélia Muge têm todo o cabimento na RTP-2, mas já não me parece aceitável dar a mesma dignidade à mais banal "pop music" que a Tina Turner, a Madonna ou a Christina Aguilera tão bem personificam (e apenas cito três nomes que já marcaram presença no "Palcos"). Ainda assim, nem levantaria muitas ondas se no segundo canal da RTP (que vive dos meus impostos) me fosse dada a oportunidade de ver/ouvir, por exemplo, a "Paixão Segundo São Mateus", de J.S. Bach, o bailado "Giselle", de Adolphe Adam, ou a ópera "Dido e Eneias", de Henry Purcell. Como tal não acontece o que, para todos os efeitos, constitui uma grave lacuna do serviço público de televisão, cumpre-me dizer de minha justiça. Digo mais: o sr. Jorge Wemans tem-se revelado um clamoroso erro de 'casting' na direcção do canal cultural da RTP. E aqui uma pergunta se impõe: tendo tal erro de 'casting' sido da responsabilidade da anterior administração (leia-se de Luís Marques) por
que razão a actual administração não o corrige, tornando possível que a RTP-2 retome o caminho do qual jamais se devia ter desviado?


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