22 fevereiro 2012

Igrejas Caeiro: "Perfil de um Artista''



Com um percurso profissional repartido entre o cinema [participou, entre outros, nos filmes "Amor de Perdição" (1943), de António Lopes Ribeiro; "Camões" (1946), de José Leitão de Barros; "O Trigo e o Joio" (1965), de Manuel Guimarães], o teatro (contracenou em várias peças com Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho) e a rádio, foi efectivamente na rádio que Francisco Igrejas Caeiro mais se notabilizou, apesar da perseguição de que foi vítima pelo regime salazarista, mesmo depois de ter sido expulso da Emissora Nacional (1948), só porque o seu nome constava nas listas do M.U.D. (Movimento de Unidade Democrática). O folhetim humorístico "A Lelé e o Zéquinha" (de 1947 a 1948, com Vasco Santana e Irene Velez, sua mulher, na Emissora Nacional), o programa itinerante de variedades "Companheiros da Alegria" (de 1951 a 1954, para o Rádio Clube Português), e, sobretudo, a impressionante série de entrevistas "Perfil dum Artista" (de 1954 a 1960, para o Rádio Clube Português), que contemplou 258 personalidades das artes e das letras portuguesas e estrangeiras (num total de 300 edições), garantem-lhe um lugar de destaque nos anais da rádio portuguesa. Pode mesmo dizer-se, em exagero, que o principal legado de Igrejas Caeiro para a posteridade é o conjunto de registos de "Perfil dum Artista", acervo de inestimável valor histórico e documental. É muito provável até que para algumas figuras da cultura portuguesa do século XX o único registo de voz que exista é o desses fonogramas. Aquilino Ribeiro, José Rodrigues Miguéis, António Sérgio, Jaime Cortesão, Alfredo Guisado, Fernanda de Castro, Alves Redol, Manuel da Fonseca, Manuel Mendes, Natália Correia, Júlio Pomar, José Leitão de Barros, João Villaret, Vasco Santana, António Silva, Eugénio Salvador, Maria Lalande, Pedro de Freitas Branco e Fernando Lopes-Graça são alguns dos nomes que integram a extensa galeria de "Perfil dum Artista".
Os registos (desconheço se todos – é bem possível que alguns tenham sido entretanto destruídos) estão soterrados e esquecidos sob o pó, no arquivo histórico da RDP. Ora o melhor tributo que a rádio pública pode prestar à memória de Igrejas Caeiro (e, bem assim, à dos seus eméritos entrevistados) é a transmissão de todas essas entrevistas, as quais muitas pessoas, salvo algumas de mais veterana idade, nunca ouviram. Isto, se exceptuarmos as três ou quatro que Luís Caetano – honra lhe seja feita – resgatou às teias de aranha para presentear ao auditório d' "A Força das Coisas". Fica formalizada a proposta, na esperança de que não seja arrogantemente ignorada, como tem sido timbre da actual direcção de programas da RDP, deixando transparecer a ideia de que a satisfação umbilical do sr. Rui Pêgo é muito mais importante que a prestação de serviço público.

Pelo inegável valor documental que também tem, e por amável deferência da Sr.ª Luísa Barragon, aqui se deixa o registo de uma entrevista que o próprio Igrejas Caeiro concedeu a Carlos Pinto Coelho, em 1998, para o programa de rádio "Agora... Acontece!".


"Agora... Acontece!" N.º 007, de 16-Nov-1998



Igrejas Caeiro entrevistado por Carlos Pinto Coelho [a partir do minuto 20]

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