31 dezembro 2012
21 dezembro 2012
"Viva a Música": lugar à música portuguesa (II)
«Desde 1996, a Antena 1 tem no ar o programa "Viva Música", único espaço regular no panorama audiovisual nacional que apresenta semanalmente, durante quase uma hora, música cantada na nossa língua, ao vivo e em directo». Assim se apresenta, na respectiva página do arquivo online, este já histórico e paradigmático programa da rádio pública. Em rigor, já não se trata do único programa radiofónico português de música ao vivo, pois há que ter em conta o "Estrela da Tarde", da Rádio Amália, reservado ao fado. Não deixa, contudo, de ser o único em rádios de cobertura nacional. E único também pelo amplo leque de géneros e estilos musicais que abarca, desde os mais arreigados à matriz portuguesa até aos mais vanguardistas, sem descurar a produção instrumental que tão marginalizada tem sido por tudo quanto é rádio hertziana (exceptuando a Antena 2 para a clássica, o jazz e a étnica).
São escassos os programas de rádio que atingem os dezasseis anos de idade, e se o "Viva a Música" ainda existe foi porque o amor e a paixão de um homem pela música (de expressão) portuguesa e pelos seus criadores e intérpretes foram suficientemente fortes para resistir às vicissitudes e contornar os obstáculos que foi encontrando pelo caminho. Esse homem chama-se Armando Carvalhêda e não será exagero dizer que é hoje credor de um imenso capital de gratidão, quer dos artistas aos quais tem dado acolhimento e divulgação, quer do público amante de boa música portuguesa e lusófona. Diversos músicos e cantores têm feito questão de reconhecer publicamente, no próprio programa, esse persistente e empenhado labor de Armando Carvalhêda, e também muitos ouvintes têm tido o ensejo de o fazer, quer em correio dirigido ao eminente realizador ou à Provedoria do Ouvinte, quer em textos colocados na blogosfera (como foi o caso de um publicado pelo autor destas linhas em Fevereiro de 2006).
O "Viva Música" é, sem sombra de dúvida, um programa modelar e uma grande referência na cena mediática nacional, muito (ou tudo) graças ao saber, experiência e carisma comunicacional do seu autor e realizador. Merecia, por isso, maior projecção e visibilidade junto do grande público e, concomitantemente, maior capacidade de integrar os artistas mais descentrados, por assim dizer, da região metropolitana de Lisboa. Para o efeito, duas medidas importaria tomar:
1. Transmissão televisiva
Estando a Antena 1 e a RTP integradas na mesma empresa, a Rádio e Televisão de Portugal, não se percebe qual a razão do "Viva a Música" não ser filmado na íntegra e transmitido pela RTP-1, em horário nobre, ademais não havendo na televisão pública um programa exclusivo de música ao vivo. Actualmente, o único espaço da RTP onde é possível ouvir (alguma) música portuguesa tocada ao vivo é o "Herman 2012", mas que por ser um programa essencialmente de conversa e de humor, e não durar mais do que uma hora, não pode contemplar muito mais do que uma ou duas canções em cada emissão. Mesmo assim, muitos artistas da nossa praça agradecem o convite do afamado humorista para lá marcarem presença, o que diz bem da falta clamorosa que se faz sentir no serviço público de televisão de um programa regular no qual os diversos artistas de reconhecida qualidade (nomes consagrados e novos valores) pudessem apresentar o trabalho que vão produzindo. A esse respeito se pronunciaram dois dos recentes convidados de Herman José, Rui Veloso e Teresa Salgueiro, a que eu, na qualidade de contribuinte e apreciador de boa música, junto a minha voz. Quem dirige a RTP-1 até pode alegar que existem na grelha vários programas com actuações de artistas, como é o caso da "Praça da Alegria", do "Portugal no Coração" e do "Portugal sem Fronteiras", mas tal argumento peca por falta de razoabilidade. Na verdade, não são espaços de entretenimento fácil e pobre, como aqueles, em que a música (invariavelmente em "playback" e geralmente pouco qualificada) surge a título meramente decorativo entremeando conversas geralmente de uma insuportável banalidade (para não dizer indigência mental), que podem ser tomados pelos verdadeiros artistas como uma opção válida e digna para mostrarem o seu trabalho. Tal basta aos "pimbas", que até podem preferir o "playback" (que serve para esconder as respectivas limitações), mas não aos artistas dignos desse nome, que pelo respeito que o público lhes merece, se recusam a alinhar em tal intrujice. Artista que se preze não abdica de tocar ao vivo, nem enjeitará – presumo eu – a possibilidade de alargar o seu auditório (para os rádio-ouvintes e os telespectadores), desde que a sua música não saia amesquinhada e seja devidamente valorizada. É o que faz Armando Carvalhêda no seu "Viva a Música", que tendo sido originalmente concebido para a rádio, possui todos os predicados para ser igualmente objecto de transmissão televisiva. O que teria a vantagem acrescida, em tempo de contenção de custos, de ficar mais económico do que criar um programa televisivo de raiz, pois a produção já está feita. E ainda com a mais-valia de ser conduzido por um profissional carismático que conhece profundamente o nosso meio musical – muito diferente, portanto, de uma qualquer vedeta fútil da pantalha que se limita a ler, mais ou menos mecanicamente, os textos do teleponto escritos por outrem, como é usual acontecer na cobertura televisiva de determinados eventos com música ao vivo.
2. Descentralização das actuações
É bastante extenso o rol de artistas que já actuaram no "Viva a Música", e com um nível médio de qualidade elevado, o que só abona a favor do Sr. Armando Carvalhêda. Há, no entanto, ainda muitos artistas de mérito que nunca pisaram o chamado palco da rádio (vide lista ao fundo). Quero acreditar que uma boa parte já terá sido convidada e que a não comparência se deveu, nalguns casos, a incompatibilização de agendas e, noutros (certamente a maioria), a questões logísticas e/ou financeiras ligadas às deslocações (de pessoas e de material). Refiro-me evidentemente a artistas, mormente grupos, radicados nos extremos (norte ou sul) de Portugal continental ou nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Em face desta realidade, e dado que a geografia não pode ser uma condicionante de acesso dos artistas à estação pública que tem forçosamente de ter abrangência nacional, eu proponho a realização de edições do "Viva a Música" descentralizadas, isto é, nas diversas capitais de distrito de Portugal Continental e Insular (talvez com excepção de Setúbal e de Santarém dada a relativa proximidade à capital). Suponho que actualmente não haja uma capital de distrito que não tenha uma sala (teatro, cineteatro ou auditório) com condições tão boas ou melhores do que as oferecidas pelo decrépito e acanhado Teatro Dom Luiz Filipe, mais conhecido por Teatro da Luz. Assim sendo, afigura-se pertinente a descentralização do "Viva a Música" por forma a dar visibilidade/audibilidade nacional a uma multiplicidade de bons artistas (individuais ou grupos) que existem por esse país fora, mas que são praticamente ignorados pelo público português fora das respectivas regiões. Por exemplo, quantos artistas dos Açores e da Madeira são conhecidos no continente? Não andarei longe da verdade se disser que não serão mais que os dedos de uma mão. O que é flagrantemente pouco, atendendo à muita e boa produção musical daquelas regiões de Portugal.
Artistas que ainda não actuaram no "Viva a Música":
(incluem-se os cantores/músicos que podendo já ter pisado o palco da rádio, nunca o fizeram em nome próprio)
Açores:
- Alexandra Boga (https://myspace.com/alexandraboga)
- Bandarra (https://myspace.com/sitiobandarra)
- Belaurora (http://www.belaurora.com/)
- Bruno Walter Ferreira (http://www.reverbnation.com/brunowalterferreira)
- Carlos Medeiros (http://carlosmedeiros.bandcamp.com/)
- Grupo de Baile da Canção Regional Terceirense (https://myspace.com/gbcrt)
- Grupo de Cantares do Nordeste (https://myspace.com/grupodecantaresdonordeste)
- Luís Alberto Bettencourt (https://myspace.com/labett)
- Manuel Ermelindo "Canarinho" (https://myspace.com/manuelcanarinho)
- Miguel Pimentel http://www.emilianotoste.pt/editora/ver.php?id=146)
- Musica Nostra (http://musicanostra.no.sapo.pt/repert.htm)
- Pedro Lucas / O Experimentar Na M'Incomoda (http://oexperimentar.bandcamp.com/)
- Raquel Dutra (http://www.reverbnation.com/raqueldutra)
- Ronda da Madrugada (http://www.reverbnation.com/rondadamadrugada)
- Sons Íntimos (http://www.facebook.com/sonsintimos)
- Susana Coelho (http://www.susanacoelho.com/muacutesica.html)
Madeira:
- Banda d'Além (https://myspace.com/bandadalem)
- C'azoada (https://myspace.com/cazoada)
- OPM - Orquestra de Ponteado da Madeira (http://xarabanda.pt/?page_id=137)
- Rajame (http://www1.raizesdoatlantico.com/index.php?option=com_content&view=article&id=19&Itemid=30)
- Vítor Sardinha (https://myspace.com/vitorsardinha)
Portugal continental:
- A Barca dos Castiços (https://myspace.com/abarcadoscasticos)
- A Presença das Formigas (https://myspace.com/apresencadasformigas)
- Adducantur (http://www.youtube.com/user/Adducantur)
- Adriana Marques (https://myspace.com/adrianamarques)
- Adufeiras de Monsanto (http://www.radiomonsanto.pt/historial-das-adufeiras.php)
- Al-Mouraria (https://myspace.com/almouraria)
- Alencante (http://www.youtube.com/user/Alencante)
- Alma de Coimbra (http://www.almadecoimbra.com/)
- Almaplana (https://myspace.com/almaplana)
- António Crespo (http://campeaoprovincias.com/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=10552:album-de-antonio-crespo-couto-e-apresentado-hoje-em-coimbra)
- António Eustáquio & Quarteto Ibero-Americano (http://cantosevariacoes.blogspot.com/2011/03/concerto-de-guitolao-antonio-eustaquio.html)
- António Pinho Vargas (http://www.antoniopinhovargas.com/)
- Arrefole (http://palcoprincipal.sapo.pt/arrefoleoficial)
- Artesãos da Música (https://myspace.com/grupoartesaosdamusica)
- Assembly Point (https://myspace.com/assemblytrio)
- Azeituna (https://myspace.com/azeituna25paus)
- B Fachada (http://bfachada.bandcamp.com/)
- Caminhos da Romaria ( https://myspace.com/caminhosdaromaria)
- Cantares da Terra (https://myspace.com/cantaresdaterra)
- Cantigas do Baú (https://myspace.com/cantigasdobau)
- Canto d'Alma (http://palcoprincipal.sapo.pt/canto_dalma)
- Canto Livre (http://palcoprincipal.sapo.pt/canto_livre)
- Cantorias (http://grupo-cantorias.blogspot.com/)
- Capagrilos (https://myspace.com/capagrilos)
- Carlos Macedo (https://myspace.com/carlosmacedofado)
- Comvinha Tradicional (http://palcoprincipal.sapo.pt/comvinha_tradicional)
- Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra (http://www.uc.pt/antorf/)
- Cristina Navarro (https://myspace.com/cristina.navarro.fado)
- Dança dos Homens (https://myspace.com/dancadoshomens)
- Deolinda Bernardo (https://myspace.com/deolindabernardo)
- Eduardo Ramos (https://myspace.com/eduardoramosmocarabe)
- Entr'o Cante (http://palcoprincipal.sapo.pt/entro_cante)
- Estudantina Universitária de Coimbra (https://myspace.com/estudantinacoimbra)
- Fado ao Centro (http://www.fadoaocentro.com/)
- Fado Violado (http://www.facebook.com/pages/Fado-Violado/102319689811130)
- Fadvocal (http://www.advocal.pt/)
- Fausto Bordalo Dias (http://marius709.com.sapo.pt/index.html)
- Filipe Lucas (https://myspace.com/filipelucas14cordas)
- Ginga (https://myspace.com/gingafolk)
- Grupo de Cantares Tradicionais Mulheres do Minho (http://mulheresdominho.com/)
- Grupo Vocal Canto Décimo (http://cantodecimo.blogspot.com/)
- Guitarras de Coimbra - Grupo de Fados e Guitarradas (http://www.accmm.pt/grupofados.html)
- Haja Saúde (https://myspace.com/bandahajasaude)
- Helena Sarmento (https://myspace.com/ahelenasarmento)
- Joana Machado (https://myspace.com/joanamachado)
- João Filipe Silva / Contarolando (https://myspace.com/contarolando)
- João Paulo Esteves da Silva (https://myspace.com/joaopauloestevesdasilva)
- João Vasco / Alémfado (http://vimeo.com/user2467188/videos)
- Joel Xavier (https://myspace.com/joelxaviersite)
- Jorge Cravo (http://numerica-pt.blogspot.com/2011/04/quarteto-de-antonio-jose-moreira.html)
- José Campos e Sousa (http://www.josecamposesousa.com.pt/?page_id=5)
- José Peixoto (https://myspace.com/josepeixoto)
- Karrossel (https://myspace.com/karrossel)
- Lenga Lenga - Gaiteiros de Sendim (https://myspace.com/lengalengagaiteirodesendim)
- La Çaramontaina (https://myspace.com/laaramontaina)
- Lara Li & Miguel Braga (http://www.facebook.com/events/159463690748273/)
- Lula Pena (https://myspace.com/lulapena)
- Macacos das Ruas de Évora (http://metoscano.blogspot.com/2007/09/macacos-das-ruas-de-vora_20.html)
- Manuel d'Oliveira (https://myspace.com/manueldoliveira)
- Marco Figueiredo (http://www.gproducoes.com/index.php/artistas/mfigueiredo)
- Mickael Salgado (http://musica.sapo.pt/album/4647526)
- Miguel Calhaz (http://palcoprincipal.sapo.pt/miguel_calhaz)
- MU (https://myspace.com/muuuuuu)
- NMB - No Mazurka Band (https://myspace.com/nomazurkaband)
- Nem Truz Nem Muz (http://palcoprincipal.sapo.pt/nem_truz_nem_muz_musica_portuguesa_tradicional_)
- Norberto Lobo (http://norbertolobo.bandcamp.com/)
- Notas & Voltas (http://notasevoltas.no.sapo.pt/discografia.htm)
- O Baú (https://myspace.com/obaumusicaportuguesa)
- Óai d'Ir (https://myspace.com/oai_dir)
- Origem (https://myspace.com/origem)
- Orquestra Típica de Águeda (http://www.otagueda.pt.vu/)
- Os Quais (http://osquais.bandcamp.com/)
- Os Tocadores (https://myspace.com/ostocadores)
- Outorga (http://palcoprincipal.sapo.pt/outorga)
- Paulo Soares (http://www.paulosoares.com/)
- Pinhal d'El-Rei (https://myspace.com/570148406)
- Quatro Ventos (https://myspace.com/grupoquatroventos)
- Quiné (https://myspace.com/quineteles)
- Quintarolas (https://myspace.com/quintarolas)
- Raquel Peters (https://myspace.com/musica_raquel_peters)
- Revisitar, Descobrir Guerra Junqueiro (http://www.artes.ucp.pt/guerrajunqueiro/)
- Ricardo Gordo (http://palcoprincipal.sapo.pt/ricardogordo)
- Roda Pé (http://palcoprincipal.sapo.pt/grupo_de_musica_portuguesa_roda_pe)
- Roncos do Diabo (https://myspace.com/roncosdodiabo)
- Samuel (http://soundcloud.com/samuel-quedas)
- Sanfonices (http://www.facebook.com/pages/Centro-de-M%C3%BAsica-Tradicional-Sons-da-Terra/270043473031098)
- Seara Jovem (http://www.ovacao.pt/compra/seara-jovem-a-descoberta-51284)
- Segue-me à Capela (https://myspace.com/seguemecapela)
- Sons do Vagar (http://www.doimaginario.org/crbst_1.html)
- Strella do Dia (https://myspace.com/strelladodia)
- Toada Coimbrã (http://toadacoimbra.blogspot.com/)
- Tó Trips (https://myspace.com/totripsguitar)
- Tramadix (http://www.facebook.com/tramadix)
- Trasga (http://grupo-trasga.blogspot.com/)
- Trilhos - Novos Caminhos da Guitarra (https://myspace.com/trilhosdaguitarra)
- Trovas à Tôa (http://palcoprincipal.sapo.pt/trovas_a_toa)
- Trovas ao Vento (http://palcoprincipal.sapo.pt/trovasaovento)
- Tuna Popular Lousense (http://torredemoncorvoinblog.blogspot.com/2009/07/tuna-popular-lousense.html)
- Urze de Lume (https://myspace.com/urzedelume)
- Ventos da Líria (https://myspace.com/ventosdaliria)
- Vozes do Imaginário (http://www.doimaginario.org/crbst_2.html)
- Xícara (https://myspace.com/xicaramusic)
- Zé Manel Martins (https://myspace.com/zemanelmartins)
Nota: Procurei ser zeloso e diligente na constituição desta lista. Ainda assim, é bem possível que se verifique a ausência de alguns artistas de mérito, no activo, que nunca actuaram no "Viva a Música". A esses solicito a amabilidade de me darem notícia, a fim de que eu tenha o ensejo de colmatar as lacunas.
Contacto: ajferreira74@gmail.com
12 dezembro 2012
"Ainda Sou do Tempo" / "Tradição XXI"
"Ainda Sou do Tempo"
Programa em quatro edições, produzido no âmbito da Academia RTP para a Antena 1, que procura trazer para o presente tradições que caíram em desuso e das quais poucos se recordam. A repórter Cátia Fernandes parte à descoberta de regiões marcadas por costumes antigos, ouvindo as pessoas que ainda os guardam na memória.
Operadoras de som: Helena Nunes e Filipa Gomes
Guionista: Cátia Fernandes
Edição de som: Helena Nunes
Pós-edição de som: Filipa Gomes
Produção: Flavie Paula
Repórter: Cátia Fernandes
Operadoras de câmara: Flavie Paula, Filipa Gomes e Helena Nunes
Emissão na Antena 1: 02, 09, 16 e 23 de Dezembro de 2012, às 07h:10.
Arquivo online: http://www.rtp.pt/play/p1008/ainda-sou-do-tempo
Edições já disponíveis:
02 Dez: Arte da Filigrana
09 Dez: Vinho dos Mortos
Filigrana em prata (Norte de Portugal)
"Tradição XXI"
Programa em quatro capítulos, produzido no âmbito da Academia RTP para a Antena 1, que pretende mostrar a reinvenção actual da música tradicional portuguesa. Dos vestígios do mundo rural até aos novos projectos urbanos, de Norte a Sul do país, a voz da tradição, sem preconceitos ou purismos e aberta ao grande público.
Autoria e realização: João Torgal e Manuel Feijão
Emissão na Antena 1: 02, 09, 16 e 23 de Dezembro de 2012, às 07h:27.
Arquivo online: http://www.rtp.pt/play/p1007/tradicao-xxi
Edições já disponíveis:
02 Dez: Alentejo
09 Dez: Beira Baixa
Viola campaniça: a maior das violas portuguesas, típica do Baixo Alentejo (concelhos de Castro Verde, Ourique e Odemira)
Bonecos de Santo Aleixo: Adão e Eva (CENDREV - Centro Dramático de Évora)
Saúda-se o aparecimento destes programas consagrados à cultura e música tradicional portuguesa. O que não pode deixar de se lamentar é o horário absolutamente indecente em que foram colocados: entre as 07h:10 e as 08h:00 de domingo quando a generalidade dos ouvintes está a dormir (só os caçadores é que devem já estar acordados – nem sequer os padeiros e os camionistas, como acontece durante a semana!). Será que Rui Pêgo não tinha à sua disposição um horário menos esconso na grelha da Antena 1? Com certeza que tinha: depois do noticiário das 19h:00 de sábado, por exemplo. Que haja pois o bom senso de os repor num horário audível pela generalidade do auditório, em especial pelo que não tem internet. Como é bom de ver, constitui um perfeito absurdo que os melhores exemplos de serviço público fiquem fora do alcance dos ouvintes/contribuintes. Além de um incompreensível desperdício de recursos, acaba por estar em causa o reconhecimento do trabalho de quem, com amor e diligência, se empenhou na realização dos programas na expectativa de que pudessem ser ouvidos (com proveito cultural) pelo maior número possível de pessoas.
Programa em quatro edições, produzido no âmbito da Academia RTP para a Antena 1, que procura trazer para o presente tradições que caíram em desuso e das quais poucos se recordam. A repórter Cátia Fernandes parte à descoberta de regiões marcadas por costumes antigos, ouvindo as pessoas que ainda os guardam na memória.
Operadoras de som: Helena Nunes e Filipa Gomes
Guionista: Cátia Fernandes
Edição de som: Helena Nunes
Pós-edição de som: Filipa Gomes
Produção: Flavie Paula
Repórter: Cátia Fernandes
Operadoras de câmara: Flavie Paula, Filipa Gomes e Helena Nunes
Emissão na Antena 1: 02, 09, 16 e 23 de Dezembro de 2012, às 07h:10.
Arquivo online: http://www.rtp.pt/play/p1008/ainda-sou-do-tempo
Edições já disponíveis:
02 Dez: Arte da Filigrana
09 Dez: Vinho dos Mortos
Filigrana em prata (Norte de Portugal)
"Tradição XXI"
Programa em quatro capítulos, produzido no âmbito da Academia RTP para a Antena 1, que pretende mostrar a reinvenção actual da música tradicional portuguesa. Dos vestígios do mundo rural até aos novos projectos urbanos, de Norte a Sul do país, a voz da tradição, sem preconceitos ou purismos e aberta ao grande público.
Autoria e realização: João Torgal e Manuel Feijão
Emissão na Antena 1: 02, 09, 16 e 23 de Dezembro de 2012, às 07h:27.
Arquivo online: http://www.rtp.pt/play/p1007/tradicao-xxi
Edições já disponíveis:
02 Dez: Alentejo
09 Dez: Beira Baixa
Viola campaniça: a maior das violas portuguesas, típica do Baixo Alentejo (concelhos de Castro Verde, Ourique e Odemira)
Bonecos de Santo Aleixo: Adão e Eva (CENDREV - Centro Dramático de Évora)
Saúda-se o aparecimento destes programas consagrados à cultura e música tradicional portuguesa. O que não pode deixar de se lamentar é o horário absolutamente indecente em que foram colocados: entre as 07h:10 e as 08h:00 de domingo quando a generalidade dos ouvintes está a dormir (só os caçadores é que devem já estar acordados – nem sequer os padeiros e os camionistas, como acontece durante a semana!). Será que Rui Pêgo não tinha à sua disposição um horário menos esconso na grelha da Antena 1? Com certeza que tinha: depois do noticiário das 19h:00 de sábado, por exemplo. Que haja pois o bom senso de os repor num horário audível pela generalidade do auditório, em especial pelo que não tem internet. Como é bom de ver, constitui um perfeito absurdo que os melhores exemplos de serviço público fiquem fora do alcance dos ouvintes/contribuintes. Além de um incompreensível desperdício de recursos, acaba por estar em causa o reconhecimento do trabalho de quem, com amor e diligência, se empenhou na realização dos programas na expectativa de que pudessem ser ouvidos (com proveito cultural) pelo maior número possível de pessoas.
05 dezembro 2012
"Câmara Clara": um bom programa vilmente condenado à morte
«Caros amigos, o Câmara Clara e o Diário Câmara Clara terminam no fim de 2012. Esta decisão foi comunicada a Jorge Wemans, em Junho deste ano, quando era ainda director da RTP2.
Foi, para mim, um enorme privilégio trabalhar sobre as obras das muitas centenas de criadores, artistas e investigadores de que o Câmara Clara se ocupou ao longo dos últimos seis anos e meio. Um enorme privilégio trabalhar com os excelentes profissionais que integram a equipa do Câmara Clara, externa à RTP. Um enorme privilégio trabalhar com os profissionais da RTP que exemplarmente cumpriram a sua parte na produção e na realização do programa.
Orgulho-me do serviço que prestámos. Um serviço que é uma das faces, em meu entender inegociável, do serviço público de televisão.
É com naturalidade que aceitamos a ideia de que haja quem pode cumprir melhor a missão que nos estava atribuída. O futuro o dirá. A questão que se coloca agora não é, portanto, a do fim do Câmara Clara nas suas versões semanal e diária. A questão, premente, é a de saber que meios, que espaço e que visibilidade reserva o serviço público de televisão à cobertura de uma das áreas nevrálgicas do desenvolvimento do país: a inovação nas artes e nas ideias e a conservação do nosso extenso e precioso património cultural – da literatura à arquitectura.
A si, que nos acompanhou durante todos estes anos, agradecemos a atenção e a confiança. Foi sempre a pensar em si que cultivámos, com exigência e rigor, a clareza na comunicação daquilo que, acreditamos, deve ser acessível a todos. Até sempre» [Paula Moura Pinheiro, em comunicado à imprensa: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=604413].
"Um programa excelente, que é uma pena que acabe", disse ao PÚBLICO António Mega Ferreira, escritor e gestor cultural. "A Paula fazia aquilo bem e tinha bastante qualidade. Já era um programa com seis anos, era uma coisa, como se diz em francês, 'honorable'. O mínimo que espero é que apareça uma alternativa, que cubra o mesmo espectro, bastante amplo, de debate de ideias mais 'mainstream' até à revelação de novas tendências e novos criadores. O Câmara Clara não era um programa confinado." Mega Ferreira duvida, no entanto, que num momento em que está anunciada a privatização da RTP, este tipo de programas venha a ser contemplado nas grelhas de um operador privado. [in "Público", 30.11.2012]
Sou espectador assíduo do programa "Câmara Clara", desde que começou em Maio de 2006, tendo então lhe dedicado um pequeno texto, e não quero deixar de apresentar a Paula Moura Pinheiro e à sua qualificada equipa, designadamente aos jornalistas Luís Caetano e Inês Fonseca Santos, os meus reconhecidos agradecimentos por muitos e bons momentos de fruição cultural que me proporcionaram. Sinto-me, por isso, tremendamente defraudado com a decisão (alheia à autora) de acabar com o programa. Qual a razão? Elevados custos de produção, como alguns por aí andam a propalar? Eu pergunto: o "Preço Certo", o "Estado de Graça", o "Anti-Crise", o "Cinco para a Meia-Noite" e as touradas são mais baratos? Tenho seriíssimas dúvidas de que o sejam, mas se, por hipótese, tiverem um custo inferior, em termos meramente contabilísticos, representam sempre um prejuízo maior para os contribuintes. E porquê? Porque são LIXO. Tudo o que se gaste em lixo, um cêntimo que seja, é desperdício. O "Câmara Clara" está nos antípodas do lixo – é um programa de superior qualidade e em perfeita consonância com o conceito de serviço público. Nessa medida, o valor pecuniário envolvido na sua produção/realização (que está longe de ser uma extravagância, quando comparado com o de "produtos" televisivos de muito mais baixo quilate) jamais se poderá considerar, se quisermos ser honestos, um inútil dispêndio de recursos. As verbas aplicadas na cultura e na valorização intelectual dos cidadãos não são despesa – são investimento! Despesa são os rios de dinheiro gastos em coisas que nada dignificam a estação pública e que, em vez de promoverem a elevação cultural/espiritual dos telespectadores, os rebaixam ao nível da sarjeta. Aí, nessas trampas é que se podia (e devia) cortar. Isto para já não falar nos salários obscenamente desproporcionados que determinadas pessoas recebem da RTP. Não, nisso ninguém quer mexer! Por conseguinte, tenho de inferir que a machadada desferida ao "Câmara Clara" não radica propriamente em incontornáveis questões financeiras, antes se insere numa estratégia premeditada de entorpecimento mental das massas. «A gente obriga-vos a pagar a contribuição do audiovisual, mas depois quem escolhe o "serviço público" que vão ter somos nós. Um serviço que será sempre na medida dos nossos interesses de condicionamento cultural, como é óbvio» (não dito, mas pensado). O "Câmara Clara" acabou por ter o mesmo trágico destino do memorável "Acontece!", de Carlos Pinto Coelho, nove anos antes, também eliminado por motivos alegadamente económicos. Repete-se a história – só mudaram as personagens.
Portugal, portugalinho, que triste fado o teu!
19 novembro 2012
Em defesa do programa "Questões de Moral"
«E para terminar, e a talhe de foice ou não, registe-se que foi Pio XII que fundou o Instituto para as Obras Religiosas, a tal designação que vem a ser a do Banco do Vaticano, de que tão abundantemente falei nestes últimos programas. Últimos, disse bem, últimos programas originais de "Questões de Moral". E se eu soubesse que eram estes os últimos não me despediria assim com estes assuntos, mas enfim...
Ana Almeida Dias e Cristina do Carmo, obrigado por tudo. Adeus, minhas amigas, até ao meu improvável regresso!»
Foi com estas palavras, proferidas na edição consagrada ao tópico "Pio XII – O pós-guerra" transmitida a 29 de Outubro passado, que Joel Costa se despediu das suas assistentes de realização e dos ouvintes, entre os quais tenho a honra e o proveito de me contar. Devo confessar que foi com um misto de surpresa e de consternação que ouvi aquelas palavras finais. Disse para os meus botões: «será que a direcção da Antena 2 aproveitou a maré de cortes orçamentais para se desenvencilhar de Joel Costa?» A haver cortes, e fosse a Antena 2 dirigida por pessoas íntegras e dotadas de sentido de serviço público, o "Questões de Moral" [>> RTP-Play] seria sempre o último programa a sofrer o golpe do cutelo, justamente por ser o melhor da grelha e por não haver mais ninguém que consiga fazer um congénere que seja tão cativante. Muita coisa se poderia cortar na rádio do Estado sem que daí adviesse prejuízo para a qualidade geral do serviço prestado. Em alguns casos, até com benefício, diga-se a propósito. O desaparecimento do "Questões de Moral", pelo contrário, constitui uma perda pesadíssima e irreparável.
Tratei de averiguar se aquela minha conjectura se confirmava... E foi então que vim a saber que o Sr. Joel Costa se havia entretanto reformado pela Segurança Social, circunstância que por si só não obstaria à continuação da sua colaboração com a rádio pública, como se tem verificado com outros profissionais que atingiram a idade da aposentação. Entretanto, uma mosca que se costuma passear pelos corredores da RDP veio zumbir-me ao ouvido o motivo preponderante que terá levado os mandantes da Antena 2 (João Almeida, Rui Pêgo e António Luís Marinho) a prescindirem dos serviços de Joel Costa. Alguém que tempos antes se propusera realizar um programa para a Antena 2, mas que vira esse intento adiado por não haver margem de manobra no orçamento que a administração definira para o canal, logo se teria apressado a atazanar os locatários da direcção de programas: «Agora que o Joel Costa se reformou deixa de haver justificação para eu esperar mais...». Perante tal argumento, aqueles que riscam e derriscam no canal (supostamente) cultural da RDP, nem terão pensado duas vezes: «É melhor deixar cair o Joel Costa, a pretexto da lei das incompatibilidades, e darmos oportunidade a este comparsa de também comer do bolo proveniente da contribuição do audiovisual...».
Os muitos e indefectíveis ouvintes do "Questões de Moral", ao contrário dos sujeitos que se encontram aos comandos da Antena 2, não são desprovidos da capacidade e da sensibilidade de reconhecerem ao programa o valor e o indiscutível interesse cultural que efectivamente tem. Na verdade, trata-se de um programa singular, de altíssimo carisma e de todo insubstituível. Um programa sempre em busca da "nudez forte da verdade escondida sob o manto pouco diáfano da fantasia", feito de maneira desempoeirada e descomplexada, sem recurso ao jargão doutoral/académico próprio de muitos "bem-pensantes" da nossa praça, o que lhe granjeou a admiração incondicional de uma legião de ouvintes. E alguns há que ligavam expressamente para a Antena 2 por causa dele. Este é um capital precioso e sem preço que rádio alguma que se preze pode desbaratar. "Questões de Moral" é um activo dourado (usando a gíria empresarial) do serviço público de radiodifusão e, nessa conformidade, não pode acabar, pelo menos enquanto o Sr. Joel Costa tiver forças e saúde para o realizar, pois são muitos os assuntos ainda por tratar. Cabe pois à direcção de programas e à administração da Rádio e Televisão de Portugal darem-lhe essa oportunidade, a exemplo da que foi dada – e bem – a António Cartaxo, a Jorge Costa Pinto e a José Duarte, todos uns bons anos mais velhos do que Joel Costa. Se necessário for, que seja apresentado um requerimento ao Governo, ao abrigo do previsto nos números 2 e 3 do artigo 78.º do Decreto-Lei n.º 498/72, de 9 de Dezembro, na redacção que lhe dada pelo Decreto-Lei n.º 179/2005, de 2 de Novembro. Entre as centenas de trabalhadores da Administração Pública e de empresas de capitais maioritariamente públicos a cujos requerimentos o Governo já deu deferimento incluem-se, com toda a certeza, pessoas não tão insubstituíveis nos respectivos serviços quanto Joel Costa é na Antena 2. Recomenda a sensatez e a boa defesa do interesse público que quem superiormente decide torne possível a continuação do "Questões de Moral". Assim o solicitam os milhares de ouvintes/contribuintes que há muito fizeram dele um programa de culto.
A título subsidiário a este apelo, não resisto a transcrever parte do texto que Francisco Mateus em boa hora publicou no blogue "Rádio Crítica":
Caído em cheio na era do progresso tecnológico, da política-espectáculo, da informação, do economicismo, do consumismo, da compulsiva formatação dos espíritos e da degradação da ideia ancestral de cultura, o cidadão comum continua a interrogar-se quanto à circunstância histórica e moral que lhe cabe viver.
Joel Costa, agent provocateur. Ele corta a direito e não tem papas na língua. Questões tão diferentes e tão igualmente importantes da Humanidade foram e são tratadas por ele com o acre da crueza de quem nada teme. Religião, trabalho, direitos, patronato, sociedade, exploração, personagens (Cristo), polémicas várias (Código Da Vinci). O lançador das farpas no fio da navalha que “sofre” de lucidez aguda e que tem força no movimento da denúncia, argúcia no discurso e coragem para chamar «os bois pelos nomes». É assim “Questões de Moral”. É assim Joel Costa, um provocador no que isso tem de melhor. Ou se gosta muito ou se detesta bastante. Se a justiça é cega, então não é justa. “Questões de Moral” não pretende ser moralista ou Joel Costa um qualquer arauto da pureza que ninguém tem. Apenas desmascarar ou desmistificar algumas das inúmeras ilusões negativas que nos poluem a cada momento. Arredam-se cortinas. Faz-se um pouco de luz onde predomina a escuridão. E já não é tarefa pouca.
Quem gosta, sente-se compreendido e aprecia devidamente. Quem não gosta, coma menos! Neste programa não há meias tintas.
Como sou adepto da verdade, sou declaradamente fã deste homem. E você?
Adenda (em 22 Nov. 2012):
A versão que os inquilinos da direcção da Antena 2 puseram entretanto a correr de que foi Joel Costa a pedir para deixar de fazer o programa é redondamente falsa. Fonte fidedigna assegurou-me que, não podendo acumular a pensão de reforma da Segurança Social com a remuneração pela realização do "Questões de Moral", o Sr. Joel Costa disponibilizou-se, tal como a lei prevê, a abdicar desta última já que o valor da pensão é superior, e eles recusaram.
Se o sr. Aníbal Cavaco Silva pôde ficar com as pensões da Caixa Geral de Aposentações e do Banco de Portugal (que totalizam quase 12 mil euros mensais), em detrimento do vencimento de Presidente da República (ainda assim continuando a usufruir das demais regalias inerentes ao cargo) por que motivo é negado ao cidadão Joel Costa o exercício do mesmo direito?
12 novembro 2012
"Vozes da Lusofonia" em inglês?! (II)
O que significa o vocábulo "lusofonia"? Tratando-se de uma palavra composta, nada mais simples que analisarmos os dois elementos lexicais que a formam: "luso" (português) e "fonia" (som). Portanto, "lusofonia" é a expressão fonética dos que falam (e escrevem e lêem – quando alfabetizados), como primeira língua, o português ou o mirandês (que são as duas línguas oficiais de Portugal), independentemente do território onde tenham nascido. Por conseguinte, o espaço da lusofonia abarca, além de Portugal (a matriz), os países/territórios do mundo onde residam pessoas cuja língua materna é o português ou o mirandês. Numa concepção mais ampla de lusofonia, podemos também considerar os idiomas dialectais derivados (ou com marcada influência) do português, como é o caso do crioulo de Cabo Verde, do papiá kristáng de Malaca e do patuá de Macau. No âmbito da lusofonia não cabem, evidentemente, línguas de raiz não portuguesa, ainda que latinas e ainda menos as germânicas, como a inglesa.
Nesta ordem de ideias, constitui uma tremenda aberração editorial contemplar num programa chamado "Vozes da Lusofonia" artistas que usam a língua inglesa, ainda que de nacionalidade portuguesa. O autor do programa, Edgar Canelas, parece não ligar qualquer importância à semântica das palavras e teima em divulgar nesse seu espaço discos cantados em inglês, como aconteceu ontem (dia 11 de Novembro) com o álbum "Change", do grupo Pitt Broken (liderado pelo bracarense Diogo Lima). Não sei se o faz por simples gosto pessoal, se por eventuais laços de amizade que mantém com tais artistas, se em cumprimento de ordens da direcção de programas ou se por qualquer outra razão que nada tem a ver com a música em si mesma. Isso pouco me importa. O que não posso aceitar é que, enquanto ouvinte de um programa onde espero ouvir repertório lusófono, me seja impingida produção não lusófona. Digo isto perfeitamente à vontade pois até entendo que a rádio pública não deve excluir os bons artistas nacionais (o que não é, flagrantemente, o caso dos Pitt Broken) que optaram por cantar em inglês ou noutro qualquer idioma, desde que isso seja feito em espaços específicos ou mesmo na 'playlist', mas sempre fora da quota de música portuguesa (porque "música portuguesa" não quer dizer o mesmo que "música produzida em Portugal"). Não ostracizando os nacionais que preferem não cantar na língua materna, a rádio do Estado tem a obrigação (legalmente instituída) de dar primazia à canção de matriz portuguesa que pressupõe, como não podia deixar de ser, o uso de uma das línguas autóctones.
Sei de antemão que o Sr. Edgar Canelas não vai tomar em consideração a minha reclamação, mas mesmo assim não quero deixar de dizer de minha justiça, ademais estando ciente de que muitos outros ouvintes subscrevem estas palavras.
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Artigo relacionado:
"Vozes da Lusofonia" em inglês?!
23 outubro 2012
Teresa Salgueiro marginalizada pelas rádios nacionais
«Olá a todos!
Venho fazer-vos um pedido.
Tenho sido confrontada com uma grande dificuldade, para não dizer verdadeira barreira, por parte das principais rádios nacionais, no que concerne à passagem da música do meu último disco "O Mistério".
Ou seja, em muitos casos, existe uma recusa categórica em passar a música, baseada em justificações como, e passo a citar:
- "Esta música não é para o target da rádio";
- "Não é música para o nosso airplay";
- "Temos que dar às pessoas aquilo que elas querem ouvir".
Dada a variedade da música que é possível ouvir nas diferentes estações, parecem-me bastante subjectivas estas observações. Por outro lado, como se pode esperar que o público queira ouvir aquilo que não conhece?
Segundo entendo, a passagem de um tema na rádio pode constituir uma grande ajuda para que este se torne num sucesso.
Assim, deixo-vos aqui os contactos directos de cada uma das principais rádios nacionais na esperança de que possam dispensar 5 minutos do vosso tempo e pedir que passem os vossos temas favoritos.
É claro que estes pedidos se estendem a outras músicas de outros artistas dos quais possam sentir a falta.
Estou certa de que são muitos!
Este tremendo domínio da cultura anglo-saxónica só termina se lutarmos por isso.
Muito obrigada, um abraço, Teresa
Antena 1
adosinda.nunes@rtp.pt
Antena 3
jorge.botas@rtp.pt
Rádio Comercial
programas@radiocomercial.clix.pt
RFM
mail@rfm.pt
Renascença
mail@rr.pt
TSF
tsf@tsf.pt» [Teresa Salgueiro, in http://www.facebook.com/teresa.salgueiro]
Este apelo da cantora Teresa Salgueiro aos seus fãs, via Facebook, é bem sintomático do péssimo serviço que as principais rádios portuguesas (de cobertura nacional) estão a prestar à música portuguesa. De facto, e como muito bem presume Teresa Salgueiro, são muitos (mesmo muitos) os artistas de mérito aos quais é negada a merecida visibilidade (audibilidade) no éter nacional. O problema não é de agora: começou quando, por razões economicistas, os autores de programas musicais (pessoas cultas e de apurado bom gosto) foram afastados e substituídos por listas de canções debitadas por um computador, as chamadas 'playlists' (cf. "O autor, a música e a rádio"). Perguntar-se-á: não podiam as "playlists" incluir repertório (antigo e novo) do mesmo nível de qualidade que os tais realizadores passavam? Podiam! Efectivamente, até podiam, se não estivessem nas mãos de indivíduos com a sensibilidade embotada para a boa música portuguesa (e não só), formatados que foram pelo que viram na MTV ou no programa "Top +" da RTP-1, e se eles (ou quem lhes confiou tais funções) não fossem permeáveis à pressão/aliciamento dos agentes de 'management' mais influentes nem fossem subservientes aos interesses comerciais dos tubarões da indústria discográfica (as multinacionais e a Farol, sobretudo). Alguma boa gente julgou que com a imposição de quotas obrigatórias (art.º 2 da Lei n.º 7/2006, de 3 de Março, que introduziu os artigos 44.º-A a 44.º-G na Lei n.º 4/2001, de 23 de Fevereiro) tão lastimável e deprimente estado de coisas se alteraria. Eu não alimentei essa ilusão, conforme expus num texto que então publiquei ("Sobre as quotas de música portuguesa na rádio"), e o tempo veio dar-me razão. Tal como foi formulada, aquela lei seria facilmente contornada e subvertida. E, se calhar, a subversão não deixaria de existir mesmo com uma lei mais perfeita, pois é virtualmente impossível garantir a necessária e almejada abrangência de artistas e diversidade de repertório (de qualidade, entenda-se) numa rádio generalista quando toda a selecção musical está concentrada nas mãos de apenas uma ou duas pessoas (o director de programação e/ou o editor de 'playlist'). Portanto, e vistas bem as coisas, a resolução do problema tem a ver menos com leis e mais com a formação e sensibilidade cultural/musical das pessoas que nas rádios, fazendo uso do seu livre-arbítrio, decidem e escolhem. Esse é o cerne da questão. Enquanto as principais rádios estiverem nas mãos de quem estão, é escusado esperar uma assinalável melhoria da situação vigente. Eles vão continuar a passar as suas musiquinhas predilectas e também as que as editoras mais poderosas, ao abrigo das avenças de promoção, escolhem para eles passarem (as mesmas que, como é bom de ver, são massivamente divulgadas na MTV e canais congéneres e se pretende à viva força tornar apetecíveis e desejadas – as tais que depois "as pessoas querem ouvir" e assim se fecha o ciclo). Como Teresa Salgueiro não faz música que se enquadre nos estreitos cânones (in)estéticos desses directores e fazedores de 'playlists' (que, quais pequenos ditadores, muito se comprazem em impingir aos 'targets'), nem tem atrás de si uma poderosa editora, fica de fora. Tal como ficariam os Madredeus, quase de certeza, se surgissem agora.
Seria expectável que tudo fosse bem diferente na rádio do Estado, atendendo ao financiamento público e à obrigação a que está legalmente vinculada de divulgar a melhor música portuguesa, e que Teresa Salgueiro fosse dada a ouvir com alguma regularidade. Mas não! É verdade que o álbum "O Mistério" até foi Disco Antena 1, em finais de Abril, mas depois dessa semana, em que passaram alguns temas, desapareceu. Porquê? Estava a estorvar às enxúndias cacofónicas (vindas de fora ou produzidas cá dentro) que pululam na 'playlist'? É realmente vergonhoso que Teresa Salgueiro e tantos outros artistas portugueses de primeira categoria sejam tão desconsiderados e marginalizados pela estação oficial do seu próprio país!
Nota: Alguns temas de "O Mistério" podem ser ouvidos nestas páginas:
http://www.teresasalgueiro.pt/
http://www.youtube.com/user/teresasalgueiro
http://soundcloud.com/teresa-salgueiro
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Adriano Correia de Oliveira: "Cantar de Emigração"
16 outubro 2012
Adriano Correia de Oliveira: "Cantar de Emigração"
Foi a 16 de Outubro de 1982, perfaz hoje exactamente 30 anos, que Adriano Correia de Oliveira partiu deste mundo, com apenas quarenta anos de idade. Para a posteridade ficou uma obra discográfica recheada de pérolas. Uma delas foi gravada em 1970 e versa um problema contundente, então como agora: a emigração. Que futuro pode ter um país que desperdiça a maior das suas riquezas, o capital humano?
Já agora, outra questão: como se explica que um artista desta envergadura esteja ausente da 'playlist' da Antena 1, a rádio cujo financiamento os cidadãos e empresas de Portugal são obrigados a assegurar com o pretexto da prestação de serviço público? Não se trata, com certeza, de distracção, antes de uma atitude deliberada de ocultação. O que é, a todos os títulos, inadmissível estando em causa o nosso património musical mais valioso e perene.
Cantar de Emigração
Poema: Rosalía de Castro (Galiza); trad. José Niza
Música: José Niza
Arranjo: Rui Pato
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira* (in LP "Cantaremos", Orfeu, 1970, reed. Movieplay, 1999; LP "Memória de Adriano", Orfeu, 1983, reed. Movieplay, 1992; "Obra Completa": CD "Gente de Aqui e de Agora e Outras Canções: Adriano Canta José Niza", Movieplay, 1994, 2007; CD "Vinte Anos de Canções", Movieplay, 2001)
[instrumental]
Este parte,
Aquele parte
E todos, todos se vão...
Galiza, ficas sem homens
Que possam cortar teu pão.
Tens em troca
Órfãos e órfãs,
Tens campos de solidão,
Tens mães que não têm filhos,
Filhos que não têm pais.
Coração
Que tens e sofre
Longas ausências mortais;
Viúvas de vivos mortos
Que ninguém consolará.
Este parte,
Aquele parte
E todos, todos se vão...
Galiza, ficas sem homens
Que possam cortar teu pão.
[instrumental]
* Rui Pato – viola
Tiago Velez – flauta
Biografia e discografia em: A Nossa Rádio
URL: http://adriano.esenviseu.net/index.asp
http://myspace.com/adrianocorreiadeoliveira
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adriano_Correia_de_Oliveira
http://www.infopedia.pt/$adriano-correia-de-oliveira
http://www.avintes.net/adriano.htm
http://www.oocities.org/vilardemouros1971/adriano.htm
http://www.artistas-espectaculos.com/bio/pt/adriano+correia+de+oliveira.htm
http://guedelhudos.blogspot.com/search/label/Adriano%20Correia%20de%20Oliveira
http://www.portaldofado.net/content/view/279/280/
http://fado.com/index.php?option=com_content&task=view&id=59&Itemid=67
http://deltagata.no.sapo.pt/adriano.html
http://adrianocorreiadeoliveira.blog.simplesnet.pt/
http://palcoprincipal.sapo.pt/bandasMain/adriano_correia_de_oliveira
http://cotonete.iol.pt/artistas/home.aspx?id=44
http://www.last.fm/pt/music/Adriano+Correia+de+Oliveira
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Outros artigos sobre Adriano Correia de Oliveira:
Adriano Correia de Oliveira: um grande cantor silenciado na rádio pública
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Grandes discos da música portuguesa: efemérides em 2007
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"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (II)
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (III)
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (IV)
25 setembro 2012
Em memória de Luiz Goes (1933-2012) (II)
Registo com muito agrado que o realizador Edgar Canelas tenha
consagrado as duas horas da anterior edição (dia 24 de Setembro) do programa
"Alma Lusa (Fim-de-Semana)"
a Luiz Goes, resgatando do arquivo histórico da RDP duas entrevistas do cantor,
uma concedida ao próprio Edgar Canelas em 2006 (se bem me lembro, transmitida
no programa "Vozes da Lusofonia") e outra concedida a Judite Lima, da
Antena 2. Nunca tinha ouvido esta última e, por isso, o meu redobrado
reconhecimento a Edgar Canelas pela sua louvável iniciativa. Digo-o com o maior
à vontade, pois já tive o ensejo de criticar o realizador por algumas opções
editoriais, designadamente no programa "Vozes da Lusofonia".
O que se lamenta (e nisso o Sr. Edgar não tem – obviamente – qualquer
responsabilidade) é que devido ao horário algo esconso a que o programa vai
para o ar (é bom não esquecer que termina às 02:00 da madrugada em véspera de
um dia de trabalho) muitos dos potenciais apreciadores/descobridores da obra de
Luiz Goes o não tenham ouvido. Mantém-se, portanto, pertinente a observação
crítica que fiz no anterior texto
ao incompreensível e insustentável autismo da direcção de programas da Antena 1
perante o desaparecimento do grande artista. Refira-se, a talhe de foice, que
se passou algo de muito semelhante aquando da morte da cantora Maria Clara, em
Setembro de 2009. Pessoalmente, nem sou um especial apreciador do estilo
musical em que Maria Clara se enquadra (vulgarmente e depreciativamente
apelidado de "nacional-cançonetismo"), mas não me custa nada reconhecer
a qualidade da voz e, escusado será dizer, a importância que teve no panorama
musical português durante três décadas antes do 25 de Abril. Nessa medida, a
rádio pública tinha a obrigação moral e cívica de assinalar condignamente o seu
desaparecimento. É caso para dizer: «Antena 1: uma rádio com má memória».
19 setembro 2012
Em memória de Luiz Goes (1933-2012)
«O melhor cantor que terá passado por Coimbra, in illo tempore (em todos os tempos).» [João Conde Veiga]
«O que um leigo em música, mas com alguma sensibilidade, pode dizer é que se trata de uma voz portentosa: cheia, poderosa, de forte acento abaritonado mas de enorme amplitude, com plasticidade e timbre raros, que permite ao Goes alcançar com a maior naturalidade, interpretações de qualidade e brilho inimitáveis, a que também não são estranhas a inteligência dos poemas e das circunstâncias e a emotividade que lhe é própria.» [António Toscano]
«A sua obra é um monumento humano. É obra moça. Não exibe velhices precoces, é fruto de uma personalidade riquíssima, de uma sensibilidade invulgar e de uma visão plural da vida.
– É através de ti, da tua voz, das tuas interpretações, dos teus poemas, que Coimbra ultrapassa os limites da cidade, vai mais longe. Vai ao encontro de quem sonha, do homem só, adquire sangue novo.
Os labirintos da nossa alma profunda percorrem as suas canções. São pedaços de nós, de Portugal, de uma paisagem física e humana que visceralmente somos.» [Carlos Carranca]
«Com Amália e Carlos Paredes, Luiz Goes está na galeria dos grandes intérpretes do século XX, expressões maiores do ser português.» [José Henriques Dias]
Tão rasgados panegíricos não chegaram – infelizmente – para poupar a produção de Luiz Goes ao criminoso boicote pelos sucessivos editores da 'playlist' da Antena 1, desde que foi implantada em 2003, presumivelmente em consonância com as orientações de António Luís Marinho e de Rui Pêgo. Pergunta-se: será mesmo razoável que um artista de tal dimensão apenas surgisse (ainda assim, de tempos a tempos) nos espaços musicais da responsabilidade de Edgar Canelas ("Vozes da Lusofonia" e "Alma Lusa") e no programa "Lugar ao Sul"?
E como se explica que a Antena 1, ontem e hoje, tenha ficado quase alheada do seu falecimento? Digo "quase" porque só lhe fizeram referência, segundo me apercebi, João Paulo Guerra (na revista de imprensa – hoje, às 08:20) e Edgar Canelas (na rubrica "Alma Lusa" – hoje, às 12:50 e às 15:50). Muito pouco, quando seria expectável e de elementar justiça que a rádio estatal lhe rendesse ampla e conveniente homenagem pelo muito que deu à música portuguesa. O que poderia ser feito, sem prejuízo da realização de um programa evocativo, com a transmissão no início de cada hora da emissão de continuidade de um dos espécimes do seu repertório. Enfim!... mais uma clamorosa falha do "serviço público de rádio" que deixo à consideração de quem tem por competência monitorizá-lo e avaliá-lo.
Em jeito de tributo à memória de Luiz Goes, o blogue "A Nossa Rádio" destaca quatro das suas mais sublimes criações: "Homem Só, Meu Irmão", "Poema para um Menino", "Cantiga para Quem Sonha" e "É Preciso Acreditar".
Homem Só, Meu Irmão
Letra e música: Luiz Goes
Intérprete: Luiz Goes* (in LP "Canções do Mar e da Vida", Columbia/VC, 1969, reed. EMI-VC, 1995; CD "O Melhor de Luiz Goes", EMI-VC, 1989; livro/4CD "Canções para Quem Vier: Integral 1952-2002": CD 3, EMI-VC, 2002; CD "O Melhor de Luiz Goes", Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2008)
[instrumental]
Tu, a quem a vida pouco deu,
que deste o nada que foi teu
em gestos desmedidos...
Tu, a quem ninguém estendeu a mão
e mendigas o pão dos teus sentidos,
homem só, meu irmão!
[instrumental]
Tu, que andas em busca da verdade
e só encontras falsidade
em cada sentimento,
inventa, inventa, amigo, uma canção
que dure para além deste momento,
homem só, meu irmão!
[instrumental]
Tu, que nesta vida te perdeste
e nunca a mitos te vendeste
– dura solidão –,
faz dessa solidão teu chão sagrado,
agarra bem teu leme ou teu arado,
homem só, meu irmão!
* Luiz Goes – voz
João Figueiredo Gomes – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Julho de 1969
Técnico de som – Hugo Ribeiro
Poema para um Menino
Letra e música: Luiz Goes
Intérprete: Luiz Goes* (in LP "Canções de Amor e de Esperança", Columbia/VC, 1972, reed. EMI-VC, 1995; CD "O Melhor de Luiz Goes", EMI-VC, 1989; livro/4CD "Canções para Quem Vier: Integral 1952-2002": CD 3, EMI-VC, 2002; CD "O Melhor de Luiz Goes", Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2008)
[instrumental]
Menino sem amor nascido,
menino sem amor gerado,
tão puro como um chão de trigo
crescido sem ser semeado...
Quando à noite houver luar,
mesmo que seja de frio,
desce o rio, faz-te ao mar
– cabe lá sempre um navio!
[instrumental]
Menino que de mim chegaste,
menino que de mim partiste,
chorei-me quando tu choraste,
sorri-me quando tu sorriste...
Quando à noite houver luar,
mesmo que seja de frio,
sem navio p'ra embarcar
– seja eu o teu navio!
[instrumental]
* Luiz Goes – voz
António Toscano e João Figueiredo Gomes – violas
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Dezembro de 1971
Técnico de som – Hugo Ribeiro
Cantiga para Quem Sonha
Letra: Leonel Neves
Música: João Figueiredo Gomes
Intérprete: Luiz Goes* (in LP "Canções de Amor e de Esperança", Columbia/VC, 1972, reed. EMI-VC, 1995; CD "O Melhor de Luiz Goes", EMI-VC, 1989; livro/4CD "Canções para Quem Vier: Integral 1952-2002": CD 3, EMI-VC, 2002)
[instrumental]
Tu, que tens dez réis de esperança e de amor,
grita bem alto que queres viver!
Compra pão e vinho, mas rouba uma flor!
Tudo o que é belo não é de vender.
Não vendem ondas do mar,
nem brisa ou estrelas,
Sol ou lua cheia.
Não vendem moças de amar,
nem certas janelas
em dunas de areia.
Canta, canta como uma ave ou um rio!
Dá o teu braço aos que querem sonhar!
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.
[instrumental]
Tu, que crês num mundo maior e melhor,
grita bem alto que o céu 'stá aqui!
Tu, que vês irmãos, só irmãos, em redor,
crê que esse mundo começa por ti!
Traz uma viola, um poema,
um passo de dança,
um sonho maduro.
Canta glosando este tema:
em cada criança
há um homem puro.
Canta, canta como uma ave ou um rio!
Dá o teu braço aos que querem sonhar!
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.
[instrumental]
Canta, canta como uma ave ou um rio!
Dá o teu braço aos que querem sonhar!
Quem trouxer mãos livres ou um assobio,
nem é preciso que saiba cantar.
[instrumental]
* Luiz Goes – voz
António Toscano e João Figueiredo Gomes – violas
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Dezembro de 1971
Técnico de som – Hugo Ribeiro
É Preciso Acreditar
Poema: Leonel Neves
Música: Luiz Goes
Intérprete: Luiz Goes* (in LP "Canções de Amor e de Esperança", Columbia/VC, 1972, reed. EMI-VC, 1995; CD "O Melhor de Luiz Goes", EMI-VC, 1989; livro/4CD "Canções para Quem Vier: Integral 1952-2002": CD 3, EMI-VC, 2002; CD "O Melhor de Luiz Goes", Edições Valentim de Carvalho/Iplay, 2008)
[instrumental]
É preciso acreditar!
É preciso acreditar
que o sorriso de quem passa
é um bem p'ra se guardar;
que é luar ou sol de graça
que nos vem alumiar,
com amor, alumiar!
É preciso acreditar!
É preciso acreditar
que a canção de quem trabalha
é um bem p'ra se guardar;
que não há nada que valha
a vontade de cantar,
a qualquer hora cantar!
[instrumental]
É preciso acreditar!
É preciso acreditar
que uma vela ao longe solta
é um bem p'ra se guardar;
que se um barco parte ou volta,
passará no alto mar
e que é livre o alto mar!
É preciso acreditar!
É preciso acreditar
que esta chuva que nos molha
é um bem p'ra se guardar;
que sempre há terra que colha
um ribeiro a despertar
para um pão por despertar!
[instrumental]
* Luiz Goes – voz
António Andias – guitarra
Durval Moreirinhas – viola
Gravado nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço d'Arcos, em Dezembro de 1971
Técnico de som – Hugo Ribeiro
Texto sobre o disco em: Grandes discos da música portuguesa: efemérides em 2007
Biografia e discografia em: A Nossa Rádio
URL: http://www.macua.org/biografias/luisgoes.html
http://www.infopedia.pt/$luiz-goes
http://www.portaldofado.net/content/view/442/280/
http://fado.com/index.php?option=com_content&task=view&id=109&Itemid=0
http://palcoprincipal.sapo.pt/bandasMain/luiz_goes
http://cotonete.iol.pt/artistas/musicas.aspx?id=1595
http://www.last.fm/pt/music/Luiz+Goes
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Outros textos sobre Luiz Goes:
Galeria da Música Portuguesa: Luiz Goes
Grandes discos da música portuguesa: efemérides em 2007
Luiz Goes: "É Preciso Acreditar"
Grandes discos da música portuguesa: efemérides em 2008
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20 agosto 2012
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (VII)
A edição do programa "A Vida dos Sons"
relativa ao ano de 1974 teve, também, o triste condão de pecar por defeito em
matéria cultural.
3. Transmissão da gravação (aparentemente da emissão em onda média do programa "Limite", da Rádio Renascença) com o jornalista e poeta Leite de Vasconcelos a dizer a primeira quadra de "Grândola, Vila Morena", de José Afonso, seguida de um breve trecho da canção propriamente dita, que funcionou como senha (a segunda) para o arranque das operações militares ["Grândola, Vila Morena" >> YouTube] [>> YouTube] [>> YouTube];
4. Transmissão dos primeiros compassos da marcha militar inglesa "Life on the Ocean Wave", composta por Henry Russell (1838) e interpretada pela H.M. Royal Marines Bands [>> YouTube], que foi adoptada como hino do MFA (Movimento das Forças Armadas) [>> YouTube], em introdução à transmissão do comunicado lido por Joaquim Furtado aos microfones do Rádio Clube Português, na madrugada de 25 de Abril [>> YouTube]; tal como no ponto anterior, não foi identificada a voz do locutor, o que representa, no mínimo, uma aviltante desconsideração pelas pessoas que, corajosamente, deram voz ao movimento, mesmo não sabendo qual viria a ser o seu desfecho;
5. Transmissão do quadro "Zé Povinho", da revista "Até Parece Mentira", levada à cena no Teatro Maria Vitória, em 1974, com Henrique Santana entoando uma canção satírica à PIDE, com música de fados bem conhecidos: "Fado Marialva" (Jaime Mendes), "Biografia do Fado" (Frederico de Brito) e "Canoas do Tejo" (Frederico de Brito);
6. Transmissão de um excerto da canção "É o que me interessa", pelo cantor Lenine [>> YouTube] [ao vivo no programa "Radiola", da TV Cultura >> YouTube], antes de se falar da ditadura militar brasileira e do ataque impiedoso e sangrento do exército a um grupo de cerca de 70 estudantes, ligados ao Partido Comunista brasileiro, radicados junto do rio Araguaia, na Amazónia [>> YouTube]; transmissão de um depoimento de Romualdo Campos, professor da Universidade de Goiás, falando da guerrilha de Araguaia;
7. Transmissão de um excerto do "Himno a la Unidad Sandinista", de Carlos Mejía Godoy [>> YouTube], antes de ser abordado o ataque desencadeado por treze guerrilheiros da Frente Sandinista de Libertação Nacional à residência do ministro nicaraguense da Agricultura, do governo do ditador Anastasio Somoza; este último será apeado do poder em 1979, vindo a ser assassinado, a 17 de Setembro de 1980, na capital do Paraguai, Assunção [>> YouTube];
8. Transmissão de um excerto de um depoimento do astrofísico norte-americano Frank Drake, a respeito de sinais de rádio recebidos do Espaço, supostamente provenientes de criaturas inteligentes que pululam no Universo [conferência da Universidade de Postdam, Alemanha >> YouTube];
9. Referência à descoberta, a 24 de Novembro de 1974, de parte do esqueleto de um Australopithecus afarensis, com aproximadamente 3,2 milhões de anos, pelo antropólogo norte-americano Donald Johanson, em Hadar, no deserto de Afar, na Etiópia, ao qual seria dado o nome de Lucy; transmissão de um excerto de uma entrevista concedida pelo cientista, seguida de um breve trecho do tema dos Beatles "Lucy in the Sky with Diamonds" [>> YouTube], integrante do álbum "Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967) [completo >> YouTube];
10. Transmissão de duas pequenas passagens do tema "Liberdade", de Sérgio Godinho [>> YouTube] [>> YouTube], funcionando como ilustração sonora da alusão ao surgimento, após o 25 de Abril de 1974, de uma catadupa de livros, filmes, peças de teatro e canções que haviam sido proibidos pela Censura;
11. Transmissão, à laia de remate final ao programa, de um fragmento do programa "Sangue Latino", do Canal Brasil, gravado em 2009, com o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano reflectindo sobre as injustiças do século XX e a esperança (não definitivamente perdida) de que o sonho de paz e justiça ainda se possa concretizar no presente século [>> YouTube] ["El Derecho al Delirio" ("O Direito ao Delírio") >> YouTube].
3. Falecimento do arquitecto Raul Lino; nascido a 21 de Novembro de 1879, estudou em Windsor, Inglaterra (1890) e no Instituto de Hanôver, na Alemanha (a partir de 1893); trabalhou no atelier do arquitecto alemão Karl Albrecht Haupt, um especialista em arquitectura medieval e renascentista de Itália e da Península Ibérica; foi um prolífico autor, responsável por mais de 700 projectos, tendo também deixado obra escrita em que teoriza sobre a arquitectura portuguesa, por vezes alvo de controvérsia; dessas obras destacam-se "A Casa Portuguesa" (1929) e "Casas Portuguesas" (1933), nas quais procura sistematizar as características específicas da arquitectura portuguesa, propondo modelos de moradias a serem adoptados por outros arquitectos; as obras terão grande influência nas décadas de 30 e 40, sendo mesmo inspiradoras da tentativa de criação de uma arquitectura oficial do Estado Novo e, nessa medida, suscitando forte antagonismo da geração modernista mais virada para modelos euro-americanos; viajou muito por Portugal e pelas colónias tomando apontamentos sobre elementos e aspectos da arquitectura tradicional que viria a integrar nos seus projectos; desempenhou também os cargos de Director-Geral dos Monumentos Nacionais (1949) e de presidente da Academia Nacional de Belas-Artes (a partir de 1967); o seu espólio foi entregue à Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian; entre as suas obras arquitectónicas contam-se a Casa Rey Colaço, no Monte Estoril (1901), a Casa O'Neill, em Cascais (1902), a Casa da Quinta da Comenda, em Setúbal (1903), a Casa José Relvas ou Casa dos Patudos, em Alpiarça (1904), a Casa do Cipreste, em Sintra (1912), e o Cinema Tivoli, em Lisboa (1924);
4. Falecimento do pintor Lino António; nascido em Leria, em 1898, estudou Pintura nas Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto, onde foi discípulo de João Marques de Oliveira; tendo feito a primeira exposição individual na cidade natal, no ano de 1918, e exposto na Sociedade Nacional de Belas-Artes (1924), em Lisboa, o seu nome impôs-se definitivamente com a decoração da Sala do Comércio, no Palácio de Portugal, na Exposição Colonial de Paris (1932); foi professor metodológico de Desenho e Pintura do ensino técnico e director da Escola de Artes Decorativas António Arroio (Lisboa), onde se manteve até à aposentação; desde muito novo empenhou-se na renovação da arte em Portugal, tradicionalmente enfeudada ao academismo; entre as muitas obras que realizou para edifícios públicos, constam: o friso da sala do Presidente da Assembleia da República (1938), os frescos do arco triunfal e da varanda do coro da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa (1938), os vitrais da Casa do Douro, em Peso da Régua (1945), os frescos e vitrais do Salão Nobre da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira (1949), o painel cerâmico do átrio principal do LNEC (1952), os painéis cerâmicos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1957), os frescos e vitrais do Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã (1957), a tapeçaria Olisipo, do Hotel Ritz, em Lisboa (1959), os vitrais do grande pórtico da Aula Magna, em Lisboa (1961) e os frescos do átrio principal da Biblioteca Nacional (1966) (http://linoantonio.no.sapo.pt/);
5. Falecimento do professor e compositor Jorge Croner de Vasconcelos; fez os estudos de música no Conservatório Nacional, onde foi aluno de Alexandre Rey Colaço, de António Eduardo da Costa Ferreira e de Luís de Freitas Branco; em 1934 rumou a Paris, para frequentar a École Normale de Musique onde recebeu lições de Paul Dukas, Nadia Boulanger, Igor Stravinsky e Alfred Cortot; regressado a Portugal, em 1938, ingressou como professor de História da Música na Academia de Amadores de Música, em Lisboa, e a partir de 1939 passou a exercer as funções de professor de Composição, de Canto e de História da Música no Conservatório Nacional, deixando a sua marca em gerações sucessivas de músicos e compositores portugueses; a sua intensa actividade pedagógica impediu que fosse abundante a sua produção como compositor; nas suas obras – de música dramática, coral, sinfónica, coral-sinfónica, de câmara, de piano e canções – a mistura do modalismo e do cromatismo não oculta as raízes nacionalistas, na linha da música setecentista de Carlos Seixas e de João de Sousa Carvalho ["Três Redondilhas de Camões", por Ana Madalena Moreira (soprano) e Lucjan Luc, (piano) >> YouTube];
6. Falecimento do compositor francês Darius Milhaud; nascido em Marselha, no seio de uma família judaica, frequentou o Conservatório de Paris, onde teve como professores Charles Vidor (composição) e Paul Dukas (orquestração), recebendo também lições particulares de Vincent d'Indy; ainda jovem, trava amizade com o poeta Paul Claudel e será este que, depois de nomeado embaixador no Rio de Janeiro, o virá a convidar para seu secretário, lugar que ocupa de 1917 a 1919; esta sua permanência no Brasil foi muito marcante, vindo a reflectir-se em diversas das suas obras, como os bailados "O Boi no Telhado" (Le Bœuf sur le Toit", 1919) [I Musici de Montréal, dir. Yuli Turovsky, parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube] e "O Homem e o seu Desejo" ("L'Homme et son Désir", 1921) [Orchestre de Radio Luxembourg, dir. Darius Milhaud, parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube] e as suites "Saudades do Brasil" (1921) [por Mark Bartlett (piano) >> YouTube] e "Scaramouche" (1939) [III. Brazileira, por Moritz Reinisch (saxofone alto) e Shusan Huhanyan (piano) >> YouTube]; de regresso a Paris, em 1919, integra o chamado Grupo dos Seis, com Georges Auric, Louis Durey, Arthur Honegger, Francis Poulenc e Germaine Tailleferre; dessa associação, resulta uma obra colectiva, o bailado "Mariés de la Tour Eiffel" (1921) [Philharmonia Orchestra, dir. Geoffrey Simon >> YouTube], com argumento de Jean Cocteau; em 1922, em viagem aos Estados Unidos da América, Milhaud toma contacto, no bairro nova-iorquino de Harlem, com o jazz "autêntico", que vem a influenciá-lo na composição do bailado "A Criação do Mundo" ("La Création du Monde", 1923) [Orquestra Nacional de França, dir. Leonard Bernstein >> YouTube]; em 1940, com a invasão da França pelas hordas nazis, e recaindo sobre si o duplo estigma de ser judeu e um autor de "arte degenerada", refugia-se nos Estados Unidos da América, leccionando no Mills College de Oakland (Califórnia), tendo tido entre os seus alunos o pianista de jazz Dave Brubeck, o compositor de variedades Burt Bacharach e os fundadores do minimalismo norte-americano Steve Reich e Philip Glass; regressa a França em 1947, sendo-lhe oferecida uma das cadeiras de composição no Conservatório de Paris que passa a ocupar, não deixando contudo de continuar a ensinar no Mills College de Oakland, até 1971, assim como noutras instituições de ensino americanas;
7. Falecimento do violinista russo David Oistrakh; filho de uma cantora de ópera, de ascendência judaica, nasceu na cidade de Odessa, em 1908; David Oistrakh manifestou desde muito tenra idade vocação para a música, fascinado pelo violino que considerava o seu brinquedo; estudou com o reputado professor Piotr Solomonovich Stoliarsky, vindo a apresentar-se pela primeira vez em público aos quinze anos de idade (1923), com o Concerto em lá menor, BWV 1041, de Bach [em 1961, com a English Chamber Orchestra, dir. Colin Davis >> YouTube]; esta obra, a sonata "O Trilo do Diabo", de Giuseppe Tartini [com Vladimir Yampolsky, 1950 >> YouTube], e as "Árias Ciganas", de Pablo Sarasate, constituem o seu repertório de afirmação, nessa fase inicial da carreira; no ano de 1926, em Kiev, tocou o concerto de Glazunov, sob a direcção do compositor; em 1937 vence o Concurso Internacional de Bruxelas, que lhe abre as portas de uma gloriosa carreia internacional; durante a Segunda Guerra Mundial, permanece na União Soviética e, a par da actividade lectiva no conservatório de Moscovo, toca na frente de combate para as tropas do Exército Vermelho, serviço que lhe valerá ser condecorado, em 1947, com a Ordem Lenine; David Oistrakh travou amizade com grandes compositores que escreveram obras expressamente para ele estrear: Nikolai Miaskovski (concerto para violino [parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube, parte 3 >> YouTube, parte 4 >> YouTube]), Sergei Prokofiev (sonata para violino e piano n.º 1, op. 80 [com Sviatoslav Richter, em Moscovo, 1972 – I. Andante assai >> YouTube, II. Allegro brusco >> YouTube, III. Andante >> YouTube, IV. Allegrissimo >> YouTube]), Aram Khatchatourian (concerto para violino [>> YouTube]) e Dmitri Chostakovitch (concerto para violino n.º 1, op. 77 / op. 99 [com a New York Philharmonic Orchestra, dir. Dimitri Mitropoulos – I. Nocturne >> YouTube, II Scherzo >> YouTube, III Passacaglia >> YouTube, IV Burlesca >> YouTube], concerto para violino n.º 2, op. 129 [com a Moscow Philharmonic Orchestra, dir. Kirill Kondrashin, 1967 – I. Moderato >> YouTube, II. Adagio >> YouTube, III. Adagio - Allegro >> YouTube] e sonata para violino e piano, op. 134 [com Sviatoslav Richter (piano) – I. Andante >> YouTube, II. Allegretto >> YouTube, III. Largo – parte 1 >> YouTube, III. Largo – parte 2 >> YouTube]); a partir de 1959, dedicou-se também à direcção de orquestra, vindo a falecer em Amesterdão de ataque cardíaco, no decurso de um ciclo de Brahms com a Orquestra do Concertgebouw; a imensa discografia que deixou contém muitas gravações de referência do repertório violinístico, sendo de destacar, além das anteriormente citadas, o concerto para violino e orquestra, de Tchaikovski [com a Staatskapelle Berlin, dir. Gennady Roshdestvensky >> YouTube]; o seu filho, Igor Oistrakh foi também um exímio violinista;
8. Falecimento do pianista e compositor norte-americano Duke Ellington; de nome verdadeiro Edward Kennedy Ellington, nasceu a 29 de Abril de 1899 e deu uma enorme contribuição ao jazz e à música americana em geral, combinando o blues, o jazz e o som das grandes "big bands" de swing; a sua orquestra manteve-se no topo da popularidade de 1926 a 1974 e a edição de discos continuou para além da sua morte, pois deixou um numeroso rol de canções por gravar ou novas versões de temas antigos; com mais de 200 discos gravados, é impressionante como conseguiu manter tão abundante produção num elevado nível de qualidade; filho de um mordomo da Casa Branca, começou a ter lições de piano aos sete anos de idade, compondo os primeiros temas na adolescência; abandonou o liceu em 1917 para se dedicar inteiramente à música, fundando uma banda, os Washingtonians, que se mudaram para Nova Iorque em 1923; nos anos imediatamente seguintes, o grupo gravou diverso material, sob vários pseudónimos, para editoras diferentes pelo que, ainda hoje, a sua obra surge com diversas chancelas; o grupo foi aumentando gradualmente de dimensão, sob a liderança de Duke Ellington; tocavam no chamado estilo "jungle", com arranjos minimalistas e uma presença forte da trompete: um bom exemplo disto é a primeira canção assinada por Duke, "East St. Louis Toodle-oo" [>> YouTube], gravada inicialmente para a Vocalion Records em Novembro de 1926; no ano seguinte, a canção seria reeditada pela Columbia, tornando-se no primeiro single do grupo a figurar nas tabelas de vendas; a banda de Ellington mudou-se então para o Cotton Club, em Harlem, no ano de 1927: a sua permanência nesse clube de renome, durante três anos, granjeou-lhe ampla notoriedade e popularidade, graças à transmissão radiofónica das actuações da banda; no ano de 1928, sob a designação de Harlem Footwarmers, são editados dois singles de grande êxito: "Black and Tan Fantasy" [>> YouTube] / "Creole Love Call" [>> YouTube] e "Doin' the New Low Down" [>> YouTube] / "Diga Diga Doo" [>> YouTube]; no ano seguinte, a banda toca no musical da Broadway "Show Girl", com música de George Gershwin; em Fevereiro de 1931, o grupo deixou o Cotton Club, para iniciar uma digressão que, em boa verdade, só terminaria com a morte do líder, 43 anos depois; durante as décadas de 30 e 40, a Duke Elligton Orchestra tocou em teatros, clubes de jazz, na rádio e fez diversas digressões pelo estrangeiro, sendo conhecida pelo grande número de solistas talentosos que a compunham: em 1943, Ellington conduziu a sua banda no primeiro de nove concertos anuais no Carnegie Hall, em Nova Iorque e, em Julho de 1956, teve uma performance histórica no Festival de Jazz de Newport, com "Diminuendo and Crescendo in Blue", muito graças à soberba prestação do saxofonista tenor Paul Gonsalves [>> YouTube] [no Concertgebouw, Amsterdão, 1958 >> YouTube]; entre os temas mais famosos do seu vastíssimo repertório contam-se "Black Beauty" [>> YouTube], "The Mooche" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Rockin' in Rhythm" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Mood Indigo" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "It Don't Mean a Thing (If It Ain't Got that Swing)" [>> YouTube] [com Louis Armstrong >> YouTube], "Sophisticated Lady" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Solitude" [>> YouTube], "In a Sentimental Mood" [com John Coltrane (saxofone) >> YouTube], "Echoes of Harlem" [>> YouTube], "Caravan" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Drop Me off at Harlem" [>> YouTube] [com Louis Armstrong >> YouTube], "I Let a Song Go Out of My Heart" [>> YouTube], "Prelude to a Kiss" [>> YouTube], "Boy Meets Horn" [>> YouTube], "Satin Doll" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube] e "Take the a Train" [>> YouTube] [>> YouTube]; Duke Ellington compôs também obras conceptuais, algumas de grande envergadura: de grande envergadura: "Black, Brown and Beige" (1943) [parte 1 >> YouTube] [parte 3 >> YouTube], ["Blues in Orbit" >> YouTube], ["Come Sunday", com Mahalia Jackson >> YouTube], "Liberian Suite" (1948) [I. Like the Sunrise >> YouTube, Dance No. 1 >> YouTube, Dance No. 2 >> YouTube, Dance No. 3 >> YouTube, Dance No. 4 >> YouTube, Dance No. 5 >> YouTube], "Such Sweet Thunder" (1957) [1. "Such Sweet Thunder" >> YouTube] [10. "Madness in Great Ones" >> YouTube] [16. "A-Flat Minor" >> YouTube] [19. "Suburban Beauty" >> YouTube], "A Concert of Sacred Music" (1965) [>> YouTube], "Concert in the Virgin Islands" (1965) [1. "Island Virgin" >> YouTube], "Far East Suite" (1967) [1. "Tourist Point of View" >> YouTube] [2. "Bluebird of Delhi (Mynah)" >> YouTube] [3. "Isfahan" >> YouTube] [5. "Mount Harissa" >> YouTube] [6. "Blue Pepper (Far East of the Blues)" >> YouTube] [7. "Agra" >> YouTube] [8. "Amad" >> YouTube] e "New Orleans Suite" (1971) [1. "Blues for New Orleans" >> YouTube] [2. "Bourbon Street Jingling Jollies" >> YouTube] [3. "Portrait of Louis Armstrong" >> YouTube] [4. "Thanks for the Beautiful Land on the Delta" >> YouTube] [5. "Portrait of Wellman Braud" >> >> YouTube] [6. "Second Line" >> YouTube]; a Duke Ellington se devem igualmente as bandas sonoras dos filmes "Anatomia de um Crime" ("Anatomy of a Murder", 1959, de Otto Preminger) [>> YouTube] [>> YouTube] e "Paris Blues" (1961, de Martin Ritt) [>> YouTube]; a grandiosidade das comemorações do centenário do seu nascimento, em 1999, mostrou que Duke Ellington continua a ser visto como o maior compositor de jazz: apesar de se tratar de um género conhecido por privilegiar a improvisação em detrimento da composição, Duke Ellington foi talentoso o suficiente para impor a sua lógica criativa, sempre sem deixar de dar espaço aos membros da sua banda para desempenhos solistas, dotando assim o jazz de um sentido académico e institucional;
9. Falecimento do psiquiatra e psicossociólogo norte-americano Jacob Moreno; filho de judeus romenos, Jacob Levy Moreno nasceu em circunstâncias curiosas: a bordo de um barco, durante uma viagem entre Bucareste e Espanha, em 1889; não tendo sido registado pelos pais, só em 1925, ano em que emigrou para os Estados Unidos da América, obteve uma data oficial de nascimento (18 de Maio de 1889) e um estado civil; passou a infância e adolescência em Viena, vindo a formar-se em Medicina na universidade local; em 1910, propõe a grupos de crianças situações de improvisação teatral, o que já indicia o seu interesse pelos problemas de grupo e sua dinâmica, uma espécie de premonição do futuro psicodrama; a sua primeira intervenção verdadeiramente estruturada data de 1913, quando ajuda prostitutas a organizarem-se enquanto grupo: juntou oito mulheres e três homens falando-lhes de coisas banais mas acabando por ir dar aos problemas da profissão; nestas "reuniões" o objectivo principal para Moreno era «encorajar as mulheres a serem aquilo que na realidade eram: prostitutas»; Moreno considerava muito importante que no grupo ocorresse «uma psicoterapia de grupo em que não só o médico assistente, como também cada "paciente", poderia agir diante de outro "paciente" como agente terapêutico»; a esta entreajuda mútua deu Moreno o nome de encontro, uma espécie de empatia total entre os membros do grupo: «[...] aproximar-me-ei de ti e tomarei os teus olhos para os pôr no lugar dos meus, e tu tomarás os meus olhos para os pôr no lugar dos teus, e eu ver-te-ei pelos teus olhos e tu ver-me-ás pelos meus»; para Moreno, o psicodrama é «um método que confere, através da acção, autenticidade à alma possibilitando a sua catarse»; a Jacob Moreno se deve também a criação da sociometria e do teste sociométrico, que consiste em pedir a todos os membros de um grupo que designem, entre os companheiros, aqueles com quem desejariam encontrar-se, ou que prefeririam evitar, numa determinada situação; criou ainda um instrumento de análise – o sociograma – método simples mas eficaz de obter esclarecimentos bastante precisos sobre a estrutura dos grupos; Jacob Levy Moreno faleceu em Beacon, no estado de Nova Iorque, a 14 de Maio de 1974, deixando um importante contributo no campo da psicoterapia de grupo e da psicologia social; entre as suas obras mais importantes contam-se "Who Shall Survive?: A New Approach to the Problem of Human Interrelations" (1934), que teve uma edição revista, em 1953, sob o título de "Foundations of Sociometry, Group Psychotherapy and Sociodram", e "Psychodram", em 3 volumes (1946, 1959 e 1969);
10. Falecimento do escritor guatemalteco Miguel Ángel Asturias; nascido a 19 de Outubro de 1899, na cidade da Guatemala; concluídos os seus estudos secundários, ingressou no curso de Medicina, que trocou em 1917 pelo de Direito, na Universidade de San Carlos da Guatemala; ainda estudante tomou parte activa numa insurreição contra o ditador Manuel Estrada Cabrera, que havia complicado a vida a seus pais; em 1922, funda com outros estudantes a Universidade Popular, destinada a formar estudantes mais desfavorecidos, sendo ele próprio um dos docentes; forma-se em 1923 com a tese "El problema social del indio", após o que ruma à Europa com o intuito de prosseguir os estudos, matriculando-se na Sorbonne, onde concluirá o curso de Antropologia, em 1928; descobrindo as traduções francesas de manuscritos maias, desenvolve particular interesse por aquela cultura pré-colombiana, que o induz à tradução para o castelhano do livro sagrado "Popol Vuh", projecto iniciado em 1925 e a que se dedicará ao longo de quarenta anos; por essa altura, Miguel Ángel Asturias começa a colaborar como correspondente com vários órgãos da imprensa sul-americana, e nessa qualidade tem a oportunidade de viajar por toda a Europa, o Egipto e o Próximo Oriente; publica "Lendas da Guatemala" ("Leyendas de Guatemala", 1930), obra sobre os mitos e as lendas nativas, que lhe granjeia uma certa reputação literária, sobretudo depois da tradução francesa ter sido galardoada com o prémio Sylla Monségur; em 1933 regressa à Guatemala, onde trabalha como jornalista, mas não deixando de se dedicar à escrita: publica então o livro "Sonetos" (1936); a partir de 1945, ocupa o cargo de adido cultural, primeiro no México e depois na Argentina, Paris e San Salvador; na década de 50, um novo ocupante da cadeira da presidência da Guatemala retira-lhe a nacionalidade, circunstância que o força ao exílio, primeiro na Argentina e no Chile e depois na Europa; encontra-se em Génova quando publica o romance "Mulata de Tal" (1963), com o qual obtém uma acrescida reputação literária; em 1966, o novo presidente eleito da Guatemala, Julio César Méndez Montenegro, reabilita-o e nomeia-o embaixador em França; galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1967 [>> YouTube], Miguel Ángel Asturias viria a falecer em Madrid, a 9 de Junho de 1974, sendo sepultado no cemitério de Père Lachaise, em Paris; a sua bibliografia inclui, entre outras e além das já citadas, as seguintes obras: "O Senhor Presidente" ("El Señor Presidente", 1946), romance que recria as perseguições do ditador Estrada Cabrera à sua família; "Homens de Milho" ("Hombres de Maíz", 1949), romance tido como a sua melhor obra, e que descreve a rebelião de um grupo de índios que, tentando defender a sacralidade de uma montanha, é dizimado pelo exército; e a chamada "Trilogia da Banana", composta pelos volumes "Viento Fuerte" (1950), "El Papa Verde" (1954) e "Los Ojos de los Enterrados" (1960), que relata os dissabores dos trabalhadores de uma plantação bananeira; influenciada pelo surrealismo de André Breton e incindindo sobre a realidade profunda da cultura guatemalteca, a produção romanesca de Miguel Ángel Asturias será precursora do chamado realismo mágico hispano-americano, que tem no colombiano Gabriel García Márquez um dos seus maiores expoentes;
11. Falecimento do dramaturgo e realizador francês Marcel Pagnol; nascido em 1895, em Aubagne, na Provença, Marcel Pagnol começa a sua vida profissional como professor de inglês em diversos estabelecimentos de ensino, tais como o Liceu Condorcet, em Paris; enquanto autor, notabiliza-se inicialmente como dramaturgo, assinando diversas peças cómico-satíricas que obtêm grande êxito no palco, posteriormente transpostas para cinema, primeiro por outros realizadores – Alexander Korda ("Marius", 1931) [>> YouTube], Marc Allégret ("Fanny", 1932) [>> YouTube] e Louis Gasnier ("Topaze", 1933) –, e depois por ele próprio; na sua filmografia constam, entre outros, os seguintes títulos: "Jofroi" (1933), "Angèle" (1934), "Merlusse" (1935) [>> YouTube], "Cigalon" [>> YouTube], "Topaze" (1936, com Arnaudy), "César" (1936) [>> YouTube], "Regain" (1937) [>> YouTube], "La Femme du Boulanger" (1938) [>> YouTube], "La Fille du Puisatier" (1940) [>> YouTube], "Naïs" (1945) [>> YouTube], "La Belle Meunière" (1948) [>> YouTube], "Topaze" (1951, com Fernandel) [>> YouTube], "Manon das Nascentes" ("Manon des Sources", 1953) [>> YouTube] e "Cartas do Meu Moinho" ("Les Lettres de Mon Moulin", 1954) [>> YouTube] [>> YouTube] [>> YouTube], este último a partir de três contos do livro de Alphonse Daudet;
12. Falecimento do actor e realizador italiano Vittorio de Sica; nascido a 7 de Julho de 1902, em Sora (Lázio), cresceu em Nápoles, começando a trabalhar desde cedo, como empregado de escritório, para ajudar ao sustento da família; tinha apenas 15 anos quando se estreou como actor de cinema em "Il Processo Clémenceau" (1917), um filme de aventuras de Alfredo de Antoni; em 1923, juntou-se a uma companhia de teatro onde fez imenso sucesso, após o que voltou ao cinema para participar no filme "La Bellezza del Mondo" (1926); nos anos seguintes, continuou a participar em muitos filmes, maioritariamente comédias ligeiras; em 1940, actuou e experimentou o outro lado da câmara ao co-realizar com Giuseppe Amato, o filme "Rosas de Sangue" ("Rose Scarlatte"), baseado na peça de Aldo de Benedetti; seguiram as comédias "Maddalena, Zero in Condotta" (1940) [>> YouTube] e "Uma Rapariga às Direitas" ("Teresa Venerdi", 1941) [>> YouTube], onde desempenhou o principal papel masculino, contracenando com Anna Magnani; em 1943, mudou para um registo mais sério ao realizar o drama "I Bambini ci Guardano" [>> YouTube], no qual revelou uma grande sensibilidade e profundidade no contacto com os actores, especialmente com as crianças; nos anos seguintes, realizou "A Porta do Céu" ("La Porta del Cielo", 1945) e o aclamado "Sciuscià" [>> YouTube], um drama que lhe valeu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro; em 1948, dirigiu um dos seus filmes mais conhecidos e um dos marcos do neo-realismo italiano: "Ladrões de Bicicletas" ("Ladri di Biciclette") [>> YouTube], a partir do romance de Luigi Bartolini, um drama passado no pós-guerra sobre um homem e o seu filho que procuram a bicicleta roubada, imprescindível para o seu trabalho; o filme seria amplamente distinguido, recebendo o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, o Globo de Ouro da mesma categoria, entre outros prémios; posteriormente realizou "Milagre de Milão" ("Miracolo a Milano", 1951) [>> YouTube], distinguido com o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes; "Umberto D" (1952) [>> YouTube], sobre a solidão e a velhice, aclamado internacionalmente, o drama "Estação Términus" ("Stazione Termini", 1953) [>> YouTube], sobre uma mulher americana casada (Jennifer Jones) que se envolve sentimentalmente com um homem (Montgomery Cliff) que conhece em Roma, e "O Ouro de Nápoles" (L'Oro di Napoli", 1954) [>> YouTube]; em 1957, Vittorio de Sica encarna o Major Alessandro Rinaldi, no filme "O Adeus às Armas" ("A Farewell to Arms", de Charles Vidor) [>> YouTube], adaptado do romance homónimo de Ernest Hemingway, que lhe vale a nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário; das suas realizações posteriores são de destacar: "O Tecto" ("Il Tetto", 1956), que recebeu o Prémio da Crítica do Festival de Cannes; "Duas Mulheres" ("La Ciociara", 1960) [>> YouTube], baseado no romance de Alberto Moravia, passado durante a Segunda Guerra Mundial, e protagonizado por Jean-Paul Belmondo e por Sophia Loren, que vem a vencer o Óscar de Melhor Actriz [>> YouTube]; a comédia, em que também entrou como actor, "O Último Julgamento" ("Il Giudizio Universale", 1961) [>> YouTube]; o episódio "La Riffa" [>> YouTube], do filme colectivo "Boccacio'70" (1962); "Ontem, Hoje e Amanhã" ("Ieri, Oggi, Domani", 1963) [>> YouTube], uma comédia sobre três mulheres de distintas personalidades e as suas conquistas amorosas, com Sophia Loren e Marcello Mastroianni no topo do elenco, que venceria o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro; "Casamento à Italiana" ("Matrimonio all'italiana", 1964) [>> YouTube]; "O Jardim Onde Vivemos" ("Il Giardino dei Finzi-Contini", 1970) [>> YouTube], uma adaptação do romance de Giorgio Bassani acerca do anti-semitismo numa Itália sob o regime fascista, com a qual Vittorio de Sica arrecadou o seu quarto Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e o Urso de Ouro do Festival de Berlim; e o drama "Pausa Breve" ("Una Breve Vacanza", 1973) [parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube], sobre a vida infeliz de uma mulher que conhece o amor por breves instantes; o último filme que dirigiu foi o drama "A Viagem" ("Il Viaggio", 1974) [>> YouTube], com Richard Burton e Sophia Loren nos principais papéis;
13. Estreia do filme "Falamos de Rio de Onor", de António Campos; rodado entre Outubro de 1972 e Agosto de 1973, é um dos documentários mais importantes de António Campos, depois de "Almadraba Atuneira" (1961) e de "Vilarinho das Furnas" (1971); sinopse: a aldeia raiana de Rio de Onor, no extremo norte do concelho de Bragança, manteve até há pouco tempo, graças ao seu isolamento, velhos costumes comunitários nas práticas agrícolas e pastoris, que faziam dela um núcleo populacional inconfundível e de grande interesse etnológico/antropológico; alguns habitantes defendem que ainda subsiste algo desse modus vivendi, mas o pároco afirma que tudo isso pertence ao passado;
14. Estreia do filme "A Promessa", de António de Macedo; ante-estreado no Festival de Cinema de Santarém, em Novembro de 1972, o filme fez parte da selecção oficial do Festival de Cinema de Cannes, em Maio de 1973, mas devido a várias vicissitudes só teria estreia comercial no dia 21 de Janeiro de 1974, no cinema Condes; realizado por António de Macedo, a partir da peça homónima de Bernardo Santareno (pela primeira vez levada à cena em 1957), "A Promessa" é uma das obras mais significativas do cinema novo português; sinopse: numa aldeia de pescadores, Maria do Mar (Guida Maria) e José (João Mota), jovens prometidos, fazem, num momento de aflição, o voto de permanecerem castos (como a Virgem Maria e São José) se o pai do noivo, Salvador, cujo barco fora apanhado por uma tempestade, se salvar (o que vem acontecer, ainda que aleijado das pernas); entretanto, é oficializado o casamento e José empenha-se no cumprimento da promessa, tornando-se mesmo sacristão, mas Maria do Mar não se resigna à ideia de não ter um marido como as outras mulheres e de não poder ser mãe; Labareda (Sinde Filipe), um jovem e atraente contrabandista acolhido pelo casal, depois de ter sido alvejado, irá pôr à prova a castidade de Maria do Mar e, por arrastamento, a fé de José; ao contrário do que fizera Paulo Rocha no filme "Mudar de Vida" (1966) [>> YouTube], que também se desenrola numa típica povoação piscatória, António de Macedo não tenta fazer, em "A Promessa", o retrato de uma sociedade maioritariamente pobre e sem esperança de um futuro melhor na sua terra, mas explora o confronto de duas forças antagónicas: de um lado, a influência castradora e auto-repressiva que o catolicismo exerce sobre as pessoas mais simples e crédulas; do outro, a força imperativa da vida e do amor; todo o filme tem, por isso, uma espécie de aura esotérica que vai ao encontro dos interesses do próprio autor, que se diz anarco-místico; nesse contexto, se entendem o uso da cor, do nevoeiro, de planos em câmara lenta e de uma certa representação mais teatral ou, como diria o realizador, mais melodramática – porque o povo português é melodramático; também merecedora de destaque é a fotografia de Elso Roque, em consonância com o misticismo de António de Macedo, designadamente na poderosa cena da violação e na pictórica cena final [>> YouTube];
15. Estreia do filme "Sofia e a Educação Sexual", de Eduardo Geada; «Regressada de um colégio na Suíça, após a morte da mãe, Sofia (Luísa Nunes) instala-se numa "villa" que a família tem em Cascais. Descobre que seu pai, Henrique (Artur Semedo), dada a relação que tem com a amante Laura (Io Apolloni), leva uma vida social complexa, egoísta e hipócrita. Percebe então que não pode escapar a um destino que desconhecia.» (José de Matos-Cruz, in "O Cais do Olhar", Cinemateca Portuguesa, 1999); rodado em 1973, o primeiro filme de Eduardo Geada teria a primeira apresentação pública, a 30 de Julho de 1974, no Cinema Império, no âmbito do XI Ciclo da Casa da Imprensa, chegando ao circuito comercial a 1 de Outubro de 1974 (no cinema Estúdio 444, em Lisboa); era um dos filmes proibidos pela Censura marcelista, e não é difícil de adivinhar o motivo: a crítica à sociedade portuguesa, tendo como foco a alta burguesia, acrescida da ousadia de pôr a nu a hipocrisia e os preconceitos sexuais que a ditadura cultivava – desmascarando-os, despindo o corpo feminino e erotizando-o, dando a ver o que as roupagens cinzentas de anos e anos de repressão teimavam em esconder [>> YouTube] [>> YouTube];
16. Estreia do filme "Amarcord", de Federico Fellini; com argumento do próprio Fellini e de Tonino Guerra, o filme é simultaneamente uma comédia e um drama fantasista; "Amarcord" é um termo que em dialecto da região de Emilia-Romagna significa "recordo-me"; foi esse o mote programático que o realizador italiano usou: uma reinvenção das suas lembranças de adolescência tornadas retrato irónico e fantasista da Itália dos anos 30, onde é impossível destrinçar aquilo que Fellini viveu verdadeiramente daquilo que inventou, pois como ele próprio disse: «uma certa tendência para uma interpretação fantasiosa das coisas, uma certa visionação, creio que sempre tive»; passado na cidade adriática de Rimini, terra natal do realizador, alguns anos antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o filme mostra a vida de Titta Biondi (Bruno Zanin), um jovem oprimido entre o ensino católico, a ordem fascista e o ambiente familiar; entre o sonho e a realidade, Titta vai vivendo momentos que se tornarão inesquecíveis: a passagem de um transatlântico, o rali das Mil Milhas, a morte da mãe, Miranda Biondi (Pupella Maggio), o despertar para a sexualidade, etc.; contando os episódios da vida de Titta, Fellini constrói um quadro social bizarro e carnavalesco (tema que se tornou, aliás, imagem de marca da sua obra), repleto de detalhes, centrado nas personagens excessivas e que roçam o caricatural, embora sempre detentoras de enorme densidade humana; organizado como um conjunto de episódios que desafia os cânones narrativos clássicos, cada plano é trabalhado como se fosse um quadro vivo – para o que muito contribui a fotografia de Giuseppe Rotunno [>> YouTube]; digna de registo é também a banda sonora de Nino Rota [>> YouTube], colaborador habitual de Fellini; nomeado para três Óscares, "Amarcord" arrecadou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro;
17. Edição do álbum "Coro dos Tribunais", de José Afonso; «Do seu conteúdo de imediato ressalta "aquela" linguagem "surrealista" de José Afonso, na linha de "Venham Mais Cinco" (1973), constituindo uma nítida demarcação do seu autor em relação ao "folclore" revolucionário reinante. Servindo poemas de Bertolt Brecht, adaptados por José Afonso na versão de Luiz Francisco Rebello, surgem "Coro dos Tribunais" [>> YouTube], "Coro dos Tribunais (Final)" [>> YouTube] e "Eu Marchava de Dia e de Noite (Canta o Comerciante") [>> YouTube]; os restantes temas, com letra e música de José Afonso, são "O Homem Voltou" [>> YouTube], "Ailé! Ailé!" [>> YouTube], "Não Seremos Pais Incógnitos" [>> YouTube], "O Que Faz Falta" [>> YouTube], "Lá no Xepangara" [>> YouTube], "Tenho um Primo Convexo" [>> YouTube], "Só Ouve o Brado da Terra" [>> YouTube] e "A Presença das Formigas" [>> YouTube]. Gravado em Londres, em Novembro de Dezembro de 1974, "Coro dos Tribunais" contou com a colaboração de Fausto (arranjos, direcção musical e guitarra acústica), do francês Michel Delaporte (percussões), de Adriano Correia de Oliveira (vozes e cordas), de Carlos Alberto Moniz (viola, vozes e cordas), de José Niza (vozes e cordas), de Vitorino (teclados, vozes e cordas) e do brasileiro Yório Gonçalves (2.ª viola).» (Mário Correia);
18. Edição do álbum "P'ró Que Der e Vier", de Fausto Bordalo Dias; «Gravado em Madrid, em Abril de 1974, e concluído em Lisboa, em Outubro do mesmo ano, "P'ró Que Der e Vier" foi produzido por Adriano Correia de Oliveira (Madrid) e José Niza (Lisboa), sendo Fausto o autor de todas as letras e músicas (bem como responsável pelos respectivos arranjos e direcção musical) à excepção de "Daqui Desta Lisboa" (poema de Alexandre O'Neill / música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube], "Carta de Paris" (poema de Daniel Filipe), "Não Canto Porque Sonho" (poema de Eugénio de Andrade / música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube], "P'ró Que Der e Vier" (letra e música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube], "Comboio Malandro" (poema de António Jacinto) [>> YouTube], "O Homem e a Burla" (letra e música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube] e "A Flóber" (poema de Mário-Henrique Leiria / música de António Pedro Braga e Fausto). Os restantes temas são "É Tão Difícil" [>> YouTube], "Venha Cá Senhor Burguês" [>> YouTube], "Marcolino" [>> YouTube] e "O Patrão e Nós" [>> YouTube]. Em "P'ró Que Der e Vier", Fausto assume de forma evidente aquelas que serão as coordenadas básicas da sua música: a influência de circunstância anti-demagógica mas directa e contundente; e a simbiose de influências múltiplas. De referir ainda as colaborações de Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Vitorino, António Portanet e Júlio Pereira, entre outros.» (Mário Correia).
Todos (ou quase todos) estes itens podiam ser devidamente ilustrados, ora com registos do arquivo da RDP (entrevistas, adaptações de peças de teatro e de obras romanescas, recitações de poemas, etc.) ora, no caso de repertório musical, com gravações discográficas.
Não cabia tudo em 50 minutos? Problema nada difícil de resolver: em vez de uma única edição (lacunar, espartilhada e cinzenta), façam duas – mais completas, desafogadas e variegadas.
Renova-se o pedido: deseja-se que "A Vida dos Sons" seja menos cinzenta e mais multicolor. Pedido que fica formulado, obviamente, para a eventualidade do programa regressar com uma série posterior a 1974.
Textos relacionados:
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (II)
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (III)
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (IV)
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (V)
"A Vida dos Sons": deseja-se menos cinzenta e mais multicolor (VI)
Tivemos:
1. Transmissão
de alguns fragmentos da versão instrumental/jazzística de "Grândola, Vila
Morena", integrante do álbum "The Ballad of the Fallen" (1982),
de Charlie Haden & Carla Bley [>> YouTube], em fundo ao texto
em que se tratou das operações militares do 25 de Abril de 1974, com
declarações do seu organizador, Otelo Saraiva de Carvalho (dadas à Antena 1, em
2008);
2. Menção
da publicação do livro "Portugal e o Futuro", do general António de
Spínola, e subsequente transmissão de um excerto da entrevista concedida à
Antena 1 pelo general Almeida Bruno, em 2004;3. Transmissão da gravação (aparentemente da emissão em onda média do programa "Limite", da Rádio Renascença) com o jornalista e poeta Leite de Vasconcelos a dizer a primeira quadra de "Grândola, Vila Morena", de José Afonso, seguida de um breve trecho da canção propriamente dita, que funcionou como senha (a segunda) para o arranque das operações militares ["Grândola, Vila Morena" >> YouTube] [>> YouTube] [>> YouTube];
4. Transmissão dos primeiros compassos da marcha militar inglesa "Life on the Ocean Wave", composta por Henry Russell (1838) e interpretada pela H.M. Royal Marines Bands [>> YouTube], que foi adoptada como hino do MFA (Movimento das Forças Armadas) [>> YouTube], em introdução à transmissão do comunicado lido por Joaquim Furtado aos microfones do Rádio Clube Português, na madrugada de 25 de Abril [>> YouTube]; tal como no ponto anterior, não foi identificada a voz do locutor, o que representa, no mínimo, uma aviltante desconsideração pelas pessoas que, corajosamente, deram voz ao movimento, mesmo não sabendo qual viria a ser o seu desfecho;
5. Transmissão do quadro "Zé Povinho", da revista "Até Parece Mentira", levada à cena no Teatro Maria Vitória, em 1974, com Henrique Santana entoando uma canção satírica à PIDE, com música de fados bem conhecidos: "Fado Marialva" (Jaime Mendes), "Biografia do Fado" (Frederico de Brito) e "Canoas do Tejo" (Frederico de Brito);
6. Transmissão de um excerto da canção "É o que me interessa", pelo cantor Lenine [>> YouTube] [ao vivo no programa "Radiola", da TV Cultura >> YouTube], antes de se falar da ditadura militar brasileira e do ataque impiedoso e sangrento do exército a um grupo de cerca de 70 estudantes, ligados ao Partido Comunista brasileiro, radicados junto do rio Araguaia, na Amazónia [>> YouTube]; transmissão de um depoimento de Romualdo Campos, professor da Universidade de Goiás, falando da guerrilha de Araguaia;
7. Transmissão de um excerto do "Himno a la Unidad Sandinista", de Carlos Mejía Godoy [>> YouTube], antes de ser abordado o ataque desencadeado por treze guerrilheiros da Frente Sandinista de Libertação Nacional à residência do ministro nicaraguense da Agricultura, do governo do ditador Anastasio Somoza; este último será apeado do poder em 1979, vindo a ser assassinado, a 17 de Setembro de 1980, na capital do Paraguai, Assunção [>> YouTube];
8. Transmissão de um excerto de um depoimento do astrofísico norte-americano Frank Drake, a respeito de sinais de rádio recebidos do Espaço, supostamente provenientes de criaturas inteligentes que pululam no Universo [conferência da Universidade de Postdam, Alemanha >> YouTube];
9. Referência à descoberta, a 24 de Novembro de 1974, de parte do esqueleto de um Australopithecus afarensis, com aproximadamente 3,2 milhões de anos, pelo antropólogo norte-americano Donald Johanson, em Hadar, no deserto de Afar, na Etiópia, ao qual seria dado o nome de Lucy; transmissão de um excerto de uma entrevista concedida pelo cientista, seguida de um breve trecho do tema dos Beatles "Lucy in the Sky with Diamonds" [>> YouTube], integrante do álbum "Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967) [completo >> YouTube];
10. Transmissão de duas pequenas passagens do tema "Liberdade", de Sérgio Godinho [>> YouTube] [>> YouTube], funcionando como ilustração sonora da alusão ao surgimento, após o 25 de Abril de 1974, de uma catadupa de livros, filmes, peças de teatro e canções que haviam sido proibidos pela Censura;
11. Transmissão, à laia de remate final ao programa, de um fragmento do programa "Sangue Latino", do Canal Brasil, gravado em 2009, com o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano reflectindo sobre as injustiças do século XX e a esperança (não definitivamente perdida) de que o sonho de paz e justiça ainda se possa concretizar no presente século [>> YouTube] ["El Derecho al Delirio" ("O Direito ao Delírio") >> YouTube].
Foram ignorados:
1. Falecimento
do escritor Ferreira de Castro; nascido em 1898, na aldeia de Ossela, concelho
de Oliveira de Azeméis, no seio de uma família humilde, José Maria Ferreira de
Castro ficou órfão de pai aos oito anos de idade; em 1911, emigrou para o
Brasil, tendo trabalhado como empregado de armazém no seringal Paraíso, junto
do rio Madeira, em plena selva amazónica, durante quatro sofridos anos; posteriormente,
residiu em Belém do Pará, onde publicou o romance juvenil "Criminoso por
Ambição" (1916); de regresso a Portugal, em 1919, foi director do
hebdomadário "O Diabo" e redactor do jornal "O Século" e da
revista "ABC"; fundou "A Hora: revista panfleto de arte, actualidades
e questões sociais" (1922), o jornal "O Luso" e o grande
magazine mensal "Civilização" (1928-1937); entre 1923 e 1927,
publicou várias novelas – que viria mais tarde a renegar – até, em 1928, ao
publicar "Emigrantes" (história de um pobre aventureiro fracassado),
se consagrar como romancista numa ficção onde a pesquisa estética é submetida a
ideais humanísticos e sociais; o romance "A Selva", editado em 1930, continua
e aprofunda esse ideário humanista tratando do drama dos seringueiros na
Amazónia, em situações vivamente descritas, com uma objectividade quase
fotográfica; com efeito, a publicação de "Emigrantes", seguida de "A
Selva", alcançando um êxito extraordinário, no Brasil e noutros países,
apontava, segundo Álvaro Salema, «insuspeitadas possibilidades de um realismo
novo» que, cerca de uma década mais tarde, com Alves Redol, Manuel da Fonseca,
Carlos de Oliveira, Fernando Namora e outros, teria tradução no neo-realismo; a
sua produção romanesca prossegue com "Eternidade" (1933), centrado na
revolta da Madeira (o povo em fúria contra a Guarda Nacional Republicana), "Terra
Fria" (1934), uma história de adultério entre um "americano" de
torna-viagem e uma camponesa transmontana casada, e "A Lã e a Neve" (1947),
romance de vincado recorte neo-realista cuja acção decorre nas faldas de Serra
da Estrela, entre a pastorícia e a tecelagem nas fábricas de lanifícios da
Covilhã, "A Curva na Estrada" (1950) cuja acção decorre na Espanha
dos anos 30, com o dirigente socialista Álvaro Soriano, a braços com desencantos e
ambições, e a figura exemplar do jornalista Pepe Martinez que acredita no amor
pelos outros e num mundo de justiça, e "A Missão" (1954), conjunto de
novelas onde nos aparecem a Resistência em França no interior de um convento,
lendas, dramas, um bordel, pequenos e grandes infortúnios; as dificuldades
levantadas pelo regime salazarista à livre expressão do pensamento obrigam o
autor a interromper a escrita ficcional para se dedicar às impressões de
viagem, dedicando-se, entre 1959 e 1963, à publicação de "As Maravilhas
Artísticas do Mundo ou a Prodigiosa Aventura do Homem Através da Arte"; recebendo
homenagens literárias em vários países e vendo os seus livros traduzidos em
várias línguas ("A Selva" tornou-se um dos livros portugueses mais
traduzidos em todo o mundo), Ferreira de Castro assistiria ao culminar do
reconhecimento da sua obra com uma vibrante celebração do seu cinquentenário de
vida literária, em Portugal e no Brasil, e com, após a publicação do romance "O
Instinto Supremo" (1968), a apresentação pela União Brasileira de
Escritores da sua candidatura, conjunta com a de Jorge Amado, ao Prémio Nobel
da Literatura; esta adesão à obra de Ferreira de Castro foi indissociável da
admiração que grande número de leitores devotou à atitude de inflexível
resistência do escritor, à sua determinação de não pactuar de qualquer modo com
o Estado Novo, postura manifestada, por exemplo, na decisão de não colaborar
com a imprensa portuguesa enquanto vigorasse o regime de censura, no facto de
não permitir que nenhuma obra sua fosse adaptada ao cinema (financiado pelo
Estado), ou na adesão a movimentos democráticos; recebeu, entre outras
distinções, o Prémio Internacional Águia de Ouro do Festival do Livro de Nice e
foi eleito, em 1962, presidente da direcção da Sociedade Portuguesa de
Escritores, sucedendo a Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão e Joaquim Paço d'Arcos;
um ano antes de falecer doou o seu espólio particular, literário e artístico à
vila de Sintra, estando actualmente exposto no museu que enverga o seu nome, no
Casal de Santo António [>> YouTube]; mais
recentemente, três das suas obras maiores foram transpostas para cinema:
"Terra Fria", por António Campos (1992), "Eternidade", por
Quirino Simões (1995) e "A Selva", por Leonel Vieira (2002) [>>
YouTube] [>> YouTube] [>> YouTube];
2. Falecimento
do escritor Branquinho da Fonseca; nascido em Mortágua, a 4 de Maio de 1905, era
filho do polemista e escritor Tomás da Fonseca; distinguiu-se como poeta, autor
dramático, ficcionista e tradutor (Georges Duhamel, Stendhal, entre outros);
com Afonso Duarte, Vitorino Nemésio, António de Sousa e João Gaspar Simões,
dirigiu a revista coimbrã "Tríptico" (1924); fundou, em 1927, com
José Régio e João Gaspar Simões, a Folha de Arte e Crítica
"Presença", e, após uma dissidência com o grupo presencista, fundou ainda
com Adolfo Rocha (Miguel Torga) a revista "Sinal" (1930), de apenas
saiu um número; além destas publicações, colaborou em "O Diabo",
"Manifesto" e "Litoral"; foi nas páginas da
"Presença" que publicou os textos dramáticos "A Posição de
Guerra" e "Os Dois" (posteriormente recolhidos com "Curva
do Céu", "A Grande Estrela", "Rãs" e "Quatro
Vidas", no volume único de "Teatro", publicado, em 1939, com o
pseudónimo de António Madeira), numa dramaturgia que, segundo Luiz Francisco
Rebello (in "100 Anos de Teatro Português", 1984), combina «elementos
de progénie simbolista com certas experiências surrealistas», e que, na opinião
do mesmo estudioso, prolongam, «na geração presencista, o vanguardismo de "Orpheu",
de que no sector dramatúrgico Almada Negreiros foi o mais lídimo representante»;
na poesia, Branquinho da Fonseca revelou-se logo, em 1926, com "Poemas",
colectânea que estabelece a continuidade com o modernismo «tanto pela aguda
desconfiança a alternar com a crença desmedida nos poderes da palavra, como
pelo reiterado pendor para a visão alucinatória do concreto e para a expressão
aparentemente cândida do insólito.» (David Mourão-Ferreira); mas foi sobretudo no
conto que o escritor mais se notabilizou, através de uma escrita espessa, que
se presta a interpretações psicológicas, sociais, simbólicas, numa hábil
capacidade de misturar o real e o imaginário, o fantástico e o concreto, e de
que a famosa novela "O Barão" (1942), amplamente traduzida, constitui
um dos exemplos mais significativos [versão cinematográfica de Edgar Pêra, 2011
>> YouTube];
licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1930, António Branquinho
da Fonseca exerceu a profissão de conservador de registo civil em Marvão (1935)
e Nazaré (1936), e dirigiu o Museu-Biblioteca Conde de Castro-Guimarães, em
Cascais, e, desde a sua criação em 1958, o Serviço de Bibliotecas Fixas e
Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian; 3. Falecimento do arquitecto Raul Lino; nascido a 21 de Novembro de 1879, estudou em Windsor, Inglaterra (1890) e no Instituto de Hanôver, na Alemanha (a partir de 1893); trabalhou no atelier do arquitecto alemão Karl Albrecht Haupt, um especialista em arquitectura medieval e renascentista de Itália e da Península Ibérica; foi um prolífico autor, responsável por mais de 700 projectos, tendo também deixado obra escrita em que teoriza sobre a arquitectura portuguesa, por vezes alvo de controvérsia; dessas obras destacam-se "A Casa Portuguesa" (1929) e "Casas Portuguesas" (1933), nas quais procura sistematizar as características específicas da arquitectura portuguesa, propondo modelos de moradias a serem adoptados por outros arquitectos; as obras terão grande influência nas décadas de 30 e 40, sendo mesmo inspiradoras da tentativa de criação de uma arquitectura oficial do Estado Novo e, nessa medida, suscitando forte antagonismo da geração modernista mais virada para modelos euro-americanos; viajou muito por Portugal e pelas colónias tomando apontamentos sobre elementos e aspectos da arquitectura tradicional que viria a integrar nos seus projectos; desempenhou também os cargos de Director-Geral dos Monumentos Nacionais (1949) e de presidente da Academia Nacional de Belas-Artes (a partir de 1967); o seu espólio foi entregue à Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian; entre as suas obras arquitectónicas contam-se a Casa Rey Colaço, no Monte Estoril (1901), a Casa O'Neill, em Cascais (1902), a Casa da Quinta da Comenda, em Setúbal (1903), a Casa José Relvas ou Casa dos Patudos, em Alpiarça (1904), a Casa do Cipreste, em Sintra (1912), e o Cinema Tivoli, em Lisboa (1924);
4. Falecimento do pintor Lino António; nascido em Leria, em 1898, estudou Pintura nas Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto, onde foi discípulo de João Marques de Oliveira; tendo feito a primeira exposição individual na cidade natal, no ano de 1918, e exposto na Sociedade Nacional de Belas-Artes (1924), em Lisboa, o seu nome impôs-se definitivamente com a decoração da Sala do Comércio, no Palácio de Portugal, na Exposição Colonial de Paris (1932); foi professor metodológico de Desenho e Pintura do ensino técnico e director da Escola de Artes Decorativas António Arroio (Lisboa), onde se manteve até à aposentação; desde muito novo empenhou-se na renovação da arte em Portugal, tradicionalmente enfeudada ao academismo; entre as muitas obras que realizou para edifícios públicos, constam: o friso da sala do Presidente da Assembleia da República (1938), os frescos do arco triunfal e da varanda do coro da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa (1938), os vitrais da Casa do Douro, em Peso da Régua (1945), os frescos e vitrais do Salão Nobre da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira (1949), o painel cerâmico do átrio principal do LNEC (1952), os painéis cerâmicos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1957), os frescos e vitrais do Salão Nobre da Câmara Municipal da Covilhã (1957), a tapeçaria Olisipo, do Hotel Ritz, em Lisboa (1959), os vitrais do grande pórtico da Aula Magna, em Lisboa (1961) e os frescos do átrio principal da Biblioteca Nacional (1966) (http://linoantonio.no.sapo.pt/);
5. Falecimento do professor e compositor Jorge Croner de Vasconcelos; fez os estudos de música no Conservatório Nacional, onde foi aluno de Alexandre Rey Colaço, de António Eduardo da Costa Ferreira e de Luís de Freitas Branco; em 1934 rumou a Paris, para frequentar a École Normale de Musique onde recebeu lições de Paul Dukas, Nadia Boulanger, Igor Stravinsky e Alfred Cortot; regressado a Portugal, em 1938, ingressou como professor de História da Música na Academia de Amadores de Música, em Lisboa, e a partir de 1939 passou a exercer as funções de professor de Composição, de Canto e de História da Música no Conservatório Nacional, deixando a sua marca em gerações sucessivas de músicos e compositores portugueses; a sua intensa actividade pedagógica impediu que fosse abundante a sua produção como compositor; nas suas obras – de música dramática, coral, sinfónica, coral-sinfónica, de câmara, de piano e canções – a mistura do modalismo e do cromatismo não oculta as raízes nacionalistas, na linha da música setecentista de Carlos Seixas e de João de Sousa Carvalho ["Três Redondilhas de Camões", por Ana Madalena Moreira (soprano) e Lucjan Luc, (piano) >> YouTube];
6. Falecimento do compositor francês Darius Milhaud; nascido em Marselha, no seio de uma família judaica, frequentou o Conservatório de Paris, onde teve como professores Charles Vidor (composição) e Paul Dukas (orquestração), recebendo também lições particulares de Vincent d'Indy; ainda jovem, trava amizade com o poeta Paul Claudel e será este que, depois de nomeado embaixador no Rio de Janeiro, o virá a convidar para seu secretário, lugar que ocupa de 1917 a 1919; esta sua permanência no Brasil foi muito marcante, vindo a reflectir-se em diversas das suas obras, como os bailados "O Boi no Telhado" (Le Bœuf sur le Toit", 1919) [I Musici de Montréal, dir. Yuli Turovsky, parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube] e "O Homem e o seu Desejo" ("L'Homme et son Désir", 1921) [Orchestre de Radio Luxembourg, dir. Darius Milhaud, parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube] e as suites "Saudades do Brasil" (1921) [por Mark Bartlett (piano) >> YouTube] e "Scaramouche" (1939) [III. Brazileira, por Moritz Reinisch (saxofone alto) e Shusan Huhanyan (piano) >> YouTube]; de regresso a Paris, em 1919, integra o chamado Grupo dos Seis, com Georges Auric, Louis Durey, Arthur Honegger, Francis Poulenc e Germaine Tailleferre; dessa associação, resulta uma obra colectiva, o bailado "Mariés de la Tour Eiffel" (1921) [Philharmonia Orchestra, dir. Geoffrey Simon >> YouTube], com argumento de Jean Cocteau; em 1922, em viagem aos Estados Unidos da América, Milhaud toma contacto, no bairro nova-iorquino de Harlem, com o jazz "autêntico", que vem a influenciá-lo na composição do bailado "A Criação do Mundo" ("La Création du Monde", 1923) [Orquestra Nacional de França, dir. Leonard Bernstein >> YouTube]; em 1940, com a invasão da França pelas hordas nazis, e recaindo sobre si o duplo estigma de ser judeu e um autor de "arte degenerada", refugia-se nos Estados Unidos da América, leccionando no Mills College de Oakland (Califórnia), tendo tido entre os seus alunos o pianista de jazz Dave Brubeck, o compositor de variedades Burt Bacharach e os fundadores do minimalismo norte-americano Steve Reich e Philip Glass; regressa a França em 1947, sendo-lhe oferecida uma das cadeiras de composição no Conservatório de Paris que passa a ocupar, não deixando contudo de continuar a ensinar no Mills College de Oakland, até 1971, assim como noutras instituições de ensino americanas;
7. Falecimento do violinista russo David Oistrakh; filho de uma cantora de ópera, de ascendência judaica, nasceu na cidade de Odessa, em 1908; David Oistrakh manifestou desde muito tenra idade vocação para a música, fascinado pelo violino que considerava o seu brinquedo; estudou com o reputado professor Piotr Solomonovich Stoliarsky, vindo a apresentar-se pela primeira vez em público aos quinze anos de idade (1923), com o Concerto em lá menor, BWV 1041, de Bach [em 1961, com a English Chamber Orchestra, dir. Colin Davis >> YouTube]; esta obra, a sonata "O Trilo do Diabo", de Giuseppe Tartini [com Vladimir Yampolsky, 1950 >> YouTube], e as "Árias Ciganas", de Pablo Sarasate, constituem o seu repertório de afirmação, nessa fase inicial da carreira; no ano de 1926, em Kiev, tocou o concerto de Glazunov, sob a direcção do compositor; em 1937 vence o Concurso Internacional de Bruxelas, que lhe abre as portas de uma gloriosa carreia internacional; durante a Segunda Guerra Mundial, permanece na União Soviética e, a par da actividade lectiva no conservatório de Moscovo, toca na frente de combate para as tropas do Exército Vermelho, serviço que lhe valerá ser condecorado, em 1947, com a Ordem Lenine; David Oistrakh travou amizade com grandes compositores que escreveram obras expressamente para ele estrear: Nikolai Miaskovski (concerto para violino [parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube, parte 3 >> YouTube, parte 4 >> YouTube]), Sergei Prokofiev (sonata para violino e piano n.º 1, op. 80 [com Sviatoslav Richter, em Moscovo, 1972 – I. Andante assai >> YouTube, II. Allegro brusco >> YouTube, III. Andante >> YouTube, IV. Allegrissimo >> YouTube]), Aram Khatchatourian (concerto para violino [>> YouTube]) e Dmitri Chostakovitch (concerto para violino n.º 1, op. 77 / op. 99 [com a New York Philharmonic Orchestra, dir. Dimitri Mitropoulos – I. Nocturne >> YouTube, II Scherzo >> YouTube, III Passacaglia >> YouTube, IV Burlesca >> YouTube], concerto para violino n.º 2, op. 129 [com a Moscow Philharmonic Orchestra, dir. Kirill Kondrashin, 1967 – I. Moderato >> YouTube, II. Adagio >> YouTube, III. Adagio - Allegro >> YouTube] e sonata para violino e piano, op. 134 [com Sviatoslav Richter (piano) – I. Andante >> YouTube, II. Allegretto >> YouTube, III. Largo – parte 1 >> YouTube, III. Largo – parte 2 >> YouTube]); a partir de 1959, dedicou-se também à direcção de orquestra, vindo a falecer em Amesterdão de ataque cardíaco, no decurso de um ciclo de Brahms com a Orquestra do Concertgebouw; a imensa discografia que deixou contém muitas gravações de referência do repertório violinístico, sendo de destacar, além das anteriormente citadas, o concerto para violino e orquestra, de Tchaikovski [com a Staatskapelle Berlin, dir. Gennady Roshdestvensky >> YouTube]; o seu filho, Igor Oistrakh foi também um exímio violinista;
8. Falecimento do pianista e compositor norte-americano Duke Ellington; de nome verdadeiro Edward Kennedy Ellington, nasceu a 29 de Abril de 1899 e deu uma enorme contribuição ao jazz e à música americana em geral, combinando o blues, o jazz e o som das grandes "big bands" de swing; a sua orquestra manteve-se no topo da popularidade de 1926 a 1974 e a edição de discos continuou para além da sua morte, pois deixou um numeroso rol de canções por gravar ou novas versões de temas antigos; com mais de 200 discos gravados, é impressionante como conseguiu manter tão abundante produção num elevado nível de qualidade; filho de um mordomo da Casa Branca, começou a ter lições de piano aos sete anos de idade, compondo os primeiros temas na adolescência; abandonou o liceu em 1917 para se dedicar inteiramente à música, fundando uma banda, os Washingtonians, que se mudaram para Nova Iorque em 1923; nos anos imediatamente seguintes, o grupo gravou diverso material, sob vários pseudónimos, para editoras diferentes pelo que, ainda hoje, a sua obra surge com diversas chancelas; o grupo foi aumentando gradualmente de dimensão, sob a liderança de Duke Ellington; tocavam no chamado estilo "jungle", com arranjos minimalistas e uma presença forte da trompete: um bom exemplo disto é a primeira canção assinada por Duke, "East St. Louis Toodle-oo" [>> YouTube], gravada inicialmente para a Vocalion Records em Novembro de 1926; no ano seguinte, a canção seria reeditada pela Columbia, tornando-se no primeiro single do grupo a figurar nas tabelas de vendas; a banda de Ellington mudou-se então para o Cotton Club, em Harlem, no ano de 1927: a sua permanência nesse clube de renome, durante três anos, granjeou-lhe ampla notoriedade e popularidade, graças à transmissão radiofónica das actuações da banda; no ano de 1928, sob a designação de Harlem Footwarmers, são editados dois singles de grande êxito: "Black and Tan Fantasy" [>> YouTube] / "Creole Love Call" [>> YouTube] e "Doin' the New Low Down" [>> YouTube] / "Diga Diga Doo" [>> YouTube]; no ano seguinte, a banda toca no musical da Broadway "Show Girl", com música de George Gershwin; em Fevereiro de 1931, o grupo deixou o Cotton Club, para iniciar uma digressão que, em boa verdade, só terminaria com a morte do líder, 43 anos depois; durante as décadas de 30 e 40, a Duke Elligton Orchestra tocou em teatros, clubes de jazz, na rádio e fez diversas digressões pelo estrangeiro, sendo conhecida pelo grande número de solistas talentosos que a compunham: em 1943, Ellington conduziu a sua banda no primeiro de nove concertos anuais no Carnegie Hall, em Nova Iorque e, em Julho de 1956, teve uma performance histórica no Festival de Jazz de Newport, com "Diminuendo and Crescendo in Blue", muito graças à soberba prestação do saxofonista tenor Paul Gonsalves [>> YouTube] [no Concertgebouw, Amsterdão, 1958 >> YouTube]; entre os temas mais famosos do seu vastíssimo repertório contam-se "Black Beauty" [>> YouTube], "The Mooche" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Rockin' in Rhythm" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Mood Indigo" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "It Don't Mean a Thing (If It Ain't Got that Swing)" [>> YouTube] [com Louis Armstrong >> YouTube], "Sophisticated Lady" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Solitude" [>> YouTube], "In a Sentimental Mood" [com John Coltrane (saxofone) >> YouTube], "Echoes of Harlem" [>> YouTube], "Caravan" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube], "Drop Me off at Harlem" [>> YouTube] [com Louis Armstrong >> YouTube], "I Let a Song Go Out of My Heart" [>> YouTube], "Prelude to a Kiss" [>> YouTube], "Boy Meets Horn" [>> YouTube], "Satin Doll" [>> YouTube] [ao vivo >> YouTube] e "Take the a Train" [>> YouTube] [>> YouTube]; Duke Ellington compôs também obras conceptuais, algumas de grande envergadura: de grande envergadura: "Black, Brown and Beige" (1943) [parte 1 >> YouTube] [parte 3 >> YouTube], ["Blues in Orbit" >> YouTube], ["Come Sunday", com Mahalia Jackson >> YouTube], "Liberian Suite" (1948) [I. Like the Sunrise >> YouTube, Dance No. 1 >> YouTube, Dance No. 2 >> YouTube, Dance No. 3 >> YouTube, Dance No. 4 >> YouTube, Dance No. 5 >> YouTube], "Such Sweet Thunder" (1957) [1. "Such Sweet Thunder" >> YouTube] [10. "Madness in Great Ones" >> YouTube] [16. "A-Flat Minor" >> YouTube] [19. "Suburban Beauty" >> YouTube], "A Concert of Sacred Music" (1965) [>> YouTube], "Concert in the Virgin Islands" (1965) [1. "Island Virgin" >> YouTube], "Far East Suite" (1967) [1. "Tourist Point of View" >> YouTube] [2. "Bluebird of Delhi (Mynah)" >> YouTube] [3. "Isfahan" >> YouTube] [5. "Mount Harissa" >> YouTube] [6. "Blue Pepper (Far East of the Blues)" >> YouTube] [7. "Agra" >> YouTube] [8. "Amad" >> YouTube] e "New Orleans Suite" (1971) [1. "Blues for New Orleans" >> YouTube] [2. "Bourbon Street Jingling Jollies" >> YouTube] [3. "Portrait of Louis Armstrong" >> YouTube] [4. "Thanks for the Beautiful Land on the Delta" >> YouTube] [5. "Portrait of Wellman Braud" >> >> YouTube] [6. "Second Line" >> YouTube]; a Duke Ellington se devem igualmente as bandas sonoras dos filmes "Anatomia de um Crime" ("Anatomy of a Murder", 1959, de Otto Preminger) [>> YouTube] [>> YouTube] e "Paris Blues" (1961, de Martin Ritt) [>> YouTube]; a grandiosidade das comemorações do centenário do seu nascimento, em 1999, mostrou que Duke Ellington continua a ser visto como o maior compositor de jazz: apesar de se tratar de um género conhecido por privilegiar a improvisação em detrimento da composição, Duke Ellington foi talentoso o suficiente para impor a sua lógica criativa, sempre sem deixar de dar espaço aos membros da sua banda para desempenhos solistas, dotando assim o jazz de um sentido académico e institucional;
9. Falecimento do psiquiatra e psicossociólogo norte-americano Jacob Moreno; filho de judeus romenos, Jacob Levy Moreno nasceu em circunstâncias curiosas: a bordo de um barco, durante uma viagem entre Bucareste e Espanha, em 1889; não tendo sido registado pelos pais, só em 1925, ano em que emigrou para os Estados Unidos da América, obteve uma data oficial de nascimento (18 de Maio de 1889) e um estado civil; passou a infância e adolescência em Viena, vindo a formar-se em Medicina na universidade local; em 1910, propõe a grupos de crianças situações de improvisação teatral, o que já indicia o seu interesse pelos problemas de grupo e sua dinâmica, uma espécie de premonição do futuro psicodrama; a sua primeira intervenção verdadeiramente estruturada data de 1913, quando ajuda prostitutas a organizarem-se enquanto grupo: juntou oito mulheres e três homens falando-lhes de coisas banais mas acabando por ir dar aos problemas da profissão; nestas "reuniões" o objectivo principal para Moreno era «encorajar as mulheres a serem aquilo que na realidade eram: prostitutas»; Moreno considerava muito importante que no grupo ocorresse «uma psicoterapia de grupo em que não só o médico assistente, como também cada "paciente", poderia agir diante de outro "paciente" como agente terapêutico»; a esta entreajuda mútua deu Moreno o nome de encontro, uma espécie de empatia total entre os membros do grupo: «[...] aproximar-me-ei de ti e tomarei os teus olhos para os pôr no lugar dos meus, e tu tomarás os meus olhos para os pôr no lugar dos teus, e eu ver-te-ei pelos teus olhos e tu ver-me-ás pelos meus»; para Moreno, o psicodrama é «um método que confere, através da acção, autenticidade à alma possibilitando a sua catarse»; a Jacob Moreno se deve também a criação da sociometria e do teste sociométrico, que consiste em pedir a todos os membros de um grupo que designem, entre os companheiros, aqueles com quem desejariam encontrar-se, ou que prefeririam evitar, numa determinada situação; criou ainda um instrumento de análise – o sociograma – método simples mas eficaz de obter esclarecimentos bastante precisos sobre a estrutura dos grupos; Jacob Levy Moreno faleceu em Beacon, no estado de Nova Iorque, a 14 de Maio de 1974, deixando um importante contributo no campo da psicoterapia de grupo e da psicologia social; entre as suas obras mais importantes contam-se "Who Shall Survive?: A New Approach to the Problem of Human Interrelations" (1934), que teve uma edição revista, em 1953, sob o título de "Foundations of Sociometry, Group Psychotherapy and Sociodram", e "Psychodram", em 3 volumes (1946, 1959 e 1969);
10. Falecimento do escritor guatemalteco Miguel Ángel Asturias; nascido a 19 de Outubro de 1899, na cidade da Guatemala; concluídos os seus estudos secundários, ingressou no curso de Medicina, que trocou em 1917 pelo de Direito, na Universidade de San Carlos da Guatemala; ainda estudante tomou parte activa numa insurreição contra o ditador Manuel Estrada Cabrera, que havia complicado a vida a seus pais; em 1922, funda com outros estudantes a Universidade Popular, destinada a formar estudantes mais desfavorecidos, sendo ele próprio um dos docentes; forma-se em 1923 com a tese "El problema social del indio", após o que ruma à Europa com o intuito de prosseguir os estudos, matriculando-se na Sorbonne, onde concluirá o curso de Antropologia, em 1928; descobrindo as traduções francesas de manuscritos maias, desenvolve particular interesse por aquela cultura pré-colombiana, que o induz à tradução para o castelhano do livro sagrado "Popol Vuh", projecto iniciado em 1925 e a que se dedicará ao longo de quarenta anos; por essa altura, Miguel Ángel Asturias começa a colaborar como correspondente com vários órgãos da imprensa sul-americana, e nessa qualidade tem a oportunidade de viajar por toda a Europa, o Egipto e o Próximo Oriente; publica "Lendas da Guatemala" ("Leyendas de Guatemala", 1930), obra sobre os mitos e as lendas nativas, que lhe granjeia uma certa reputação literária, sobretudo depois da tradução francesa ter sido galardoada com o prémio Sylla Monségur; em 1933 regressa à Guatemala, onde trabalha como jornalista, mas não deixando de se dedicar à escrita: publica então o livro "Sonetos" (1936); a partir de 1945, ocupa o cargo de adido cultural, primeiro no México e depois na Argentina, Paris e San Salvador; na década de 50, um novo ocupante da cadeira da presidência da Guatemala retira-lhe a nacionalidade, circunstância que o força ao exílio, primeiro na Argentina e no Chile e depois na Europa; encontra-se em Génova quando publica o romance "Mulata de Tal" (1963), com o qual obtém uma acrescida reputação literária; em 1966, o novo presidente eleito da Guatemala, Julio César Méndez Montenegro, reabilita-o e nomeia-o embaixador em França; galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1967 [>> YouTube], Miguel Ángel Asturias viria a falecer em Madrid, a 9 de Junho de 1974, sendo sepultado no cemitério de Père Lachaise, em Paris; a sua bibliografia inclui, entre outras e além das já citadas, as seguintes obras: "O Senhor Presidente" ("El Señor Presidente", 1946), romance que recria as perseguições do ditador Estrada Cabrera à sua família; "Homens de Milho" ("Hombres de Maíz", 1949), romance tido como a sua melhor obra, e que descreve a rebelião de um grupo de índios que, tentando defender a sacralidade de uma montanha, é dizimado pelo exército; e a chamada "Trilogia da Banana", composta pelos volumes "Viento Fuerte" (1950), "El Papa Verde" (1954) e "Los Ojos de los Enterrados" (1960), que relata os dissabores dos trabalhadores de uma plantação bananeira; influenciada pelo surrealismo de André Breton e incindindo sobre a realidade profunda da cultura guatemalteca, a produção romanesca de Miguel Ángel Asturias será precursora do chamado realismo mágico hispano-americano, que tem no colombiano Gabriel García Márquez um dos seus maiores expoentes;
11. Falecimento do dramaturgo e realizador francês Marcel Pagnol; nascido em 1895, em Aubagne, na Provença, Marcel Pagnol começa a sua vida profissional como professor de inglês em diversos estabelecimentos de ensino, tais como o Liceu Condorcet, em Paris; enquanto autor, notabiliza-se inicialmente como dramaturgo, assinando diversas peças cómico-satíricas que obtêm grande êxito no palco, posteriormente transpostas para cinema, primeiro por outros realizadores – Alexander Korda ("Marius", 1931) [>> YouTube], Marc Allégret ("Fanny", 1932) [>> YouTube] e Louis Gasnier ("Topaze", 1933) –, e depois por ele próprio; na sua filmografia constam, entre outros, os seguintes títulos: "Jofroi" (1933), "Angèle" (1934), "Merlusse" (1935) [>> YouTube], "Cigalon" [>> YouTube], "Topaze" (1936, com Arnaudy), "César" (1936) [>> YouTube], "Regain" (1937) [>> YouTube], "La Femme du Boulanger" (1938) [>> YouTube], "La Fille du Puisatier" (1940) [>> YouTube], "Naïs" (1945) [>> YouTube], "La Belle Meunière" (1948) [>> YouTube], "Topaze" (1951, com Fernandel) [>> YouTube], "Manon das Nascentes" ("Manon des Sources", 1953) [>> YouTube] e "Cartas do Meu Moinho" ("Les Lettres de Mon Moulin", 1954) [>> YouTube] [>> YouTube] [>> YouTube], este último a partir de três contos do livro de Alphonse Daudet;
12. Falecimento do actor e realizador italiano Vittorio de Sica; nascido a 7 de Julho de 1902, em Sora (Lázio), cresceu em Nápoles, começando a trabalhar desde cedo, como empregado de escritório, para ajudar ao sustento da família; tinha apenas 15 anos quando se estreou como actor de cinema em "Il Processo Clémenceau" (1917), um filme de aventuras de Alfredo de Antoni; em 1923, juntou-se a uma companhia de teatro onde fez imenso sucesso, após o que voltou ao cinema para participar no filme "La Bellezza del Mondo" (1926); nos anos seguintes, continuou a participar em muitos filmes, maioritariamente comédias ligeiras; em 1940, actuou e experimentou o outro lado da câmara ao co-realizar com Giuseppe Amato, o filme "Rosas de Sangue" ("Rose Scarlatte"), baseado na peça de Aldo de Benedetti; seguiram as comédias "Maddalena, Zero in Condotta" (1940) [>> YouTube] e "Uma Rapariga às Direitas" ("Teresa Venerdi", 1941) [>> YouTube], onde desempenhou o principal papel masculino, contracenando com Anna Magnani; em 1943, mudou para um registo mais sério ao realizar o drama "I Bambini ci Guardano" [>> YouTube], no qual revelou uma grande sensibilidade e profundidade no contacto com os actores, especialmente com as crianças; nos anos seguintes, realizou "A Porta do Céu" ("La Porta del Cielo", 1945) e o aclamado "Sciuscià" [>> YouTube], um drama que lhe valeu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro; em 1948, dirigiu um dos seus filmes mais conhecidos e um dos marcos do neo-realismo italiano: "Ladrões de Bicicletas" ("Ladri di Biciclette") [>> YouTube], a partir do romance de Luigi Bartolini, um drama passado no pós-guerra sobre um homem e o seu filho que procuram a bicicleta roubada, imprescindível para o seu trabalho; o filme seria amplamente distinguido, recebendo o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, o Globo de Ouro da mesma categoria, entre outros prémios; posteriormente realizou "Milagre de Milão" ("Miracolo a Milano", 1951) [>> YouTube], distinguido com o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes; "Umberto D" (1952) [>> YouTube], sobre a solidão e a velhice, aclamado internacionalmente, o drama "Estação Términus" ("Stazione Termini", 1953) [>> YouTube], sobre uma mulher americana casada (Jennifer Jones) que se envolve sentimentalmente com um homem (Montgomery Cliff) que conhece em Roma, e "O Ouro de Nápoles" (L'Oro di Napoli", 1954) [>> YouTube]; em 1957, Vittorio de Sica encarna o Major Alessandro Rinaldi, no filme "O Adeus às Armas" ("A Farewell to Arms", de Charles Vidor) [>> YouTube], adaptado do romance homónimo de Ernest Hemingway, que lhe vale a nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário; das suas realizações posteriores são de destacar: "O Tecto" ("Il Tetto", 1956), que recebeu o Prémio da Crítica do Festival de Cannes; "Duas Mulheres" ("La Ciociara", 1960) [>> YouTube], baseado no romance de Alberto Moravia, passado durante a Segunda Guerra Mundial, e protagonizado por Jean-Paul Belmondo e por Sophia Loren, que vem a vencer o Óscar de Melhor Actriz [>> YouTube]; a comédia, em que também entrou como actor, "O Último Julgamento" ("Il Giudizio Universale", 1961) [>> YouTube]; o episódio "La Riffa" [>> YouTube], do filme colectivo "Boccacio'70" (1962); "Ontem, Hoje e Amanhã" ("Ieri, Oggi, Domani", 1963) [>> YouTube], uma comédia sobre três mulheres de distintas personalidades e as suas conquistas amorosas, com Sophia Loren e Marcello Mastroianni no topo do elenco, que venceria o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro; "Casamento à Italiana" ("Matrimonio all'italiana", 1964) [>> YouTube]; "O Jardim Onde Vivemos" ("Il Giardino dei Finzi-Contini", 1970) [>> YouTube], uma adaptação do romance de Giorgio Bassani acerca do anti-semitismo numa Itália sob o regime fascista, com a qual Vittorio de Sica arrecadou o seu quarto Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e o Urso de Ouro do Festival de Berlim; e o drama "Pausa Breve" ("Una Breve Vacanza", 1973) [parte 1 >> YouTube, parte 2 >> YouTube], sobre a vida infeliz de uma mulher que conhece o amor por breves instantes; o último filme que dirigiu foi o drama "A Viagem" ("Il Viaggio", 1974) [>> YouTube], com Richard Burton e Sophia Loren nos principais papéis;
13. Estreia do filme "Falamos de Rio de Onor", de António Campos; rodado entre Outubro de 1972 e Agosto de 1973, é um dos documentários mais importantes de António Campos, depois de "Almadraba Atuneira" (1961) e de "Vilarinho das Furnas" (1971); sinopse: a aldeia raiana de Rio de Onor, no extremo norte do concelho de Bragança, manteve até há pouco tempo, graças ao seu isolamento, velhos costumes comunitários nas práticas agrícolas e pastoris, que faziam dela um núcleo populacional inconfundível e de grande interesse etnológico/antropológico; alguns habitantes defendem que ainda subsiste algo desse modus vivendi, mas o pároco afirma que tudo isso pertence ao passado;
14. Estreia do filme "A Promessa", de António de Macedo; ante-estreado no Festival de Cinema de Santarém, em Novembro de 1972, o filme fez parte da selecção oficial do Festival de Cinema de Cannes, em Maio de 1973, mas devido a várias vicissitudes só teria estreia comercial no dia 21 de Janeiro de 1974, no cinema Condes; realizado por António de Macedo, a partir da peça homónima de Bernardo Santareno (pela primeira vez levada à cena em 1957), "A Promessa" é uma das obras mais significativas do cinema novo português; sinopse: numa aldeia de pescadores, Maria do Mar (Guida Maria) e José (João Mota), jovens prometidos, fazem, num momento de aflição, o voto de permanecerem castos (como a Virgem Maria e São José) se o pai do noivo, Salvador, cujo barco fora apanhado por uma tempestade, se salvar (o que vem acontecer, ainda que aleijado das pernas); entretanto, é oficializado o casamento e José empenha-se no cumprimento da promessa, tornando-se mesmo sacristão, mas Maria do Mar não se resigna à ideia de não ter um marido como as outras mulheres e de não poder ser mãe; Labareda (Sinde Filipe), um jovem e atraente contrabandista acolhido pelo casal, depois de ter sido alvejado, irá pôr à prova a castidade de Maria do Mar e, por arrastamento, a fé de José; ao contrário do que fizera Paulo Rocha no filme "Mudar de Vida" (1966) [>> YouTube], que também se desenrola numa típica povoação piscatória, António de Macedo não tenta fazer, em "A Promessa", o retrato de uma sociedade maioritariamente pobre e sem esperança de um futuro melhor na sua terra, mas explora o confronto de duas forças antagónicas: de um lado, a influência castradora e auto-repressiva que o catolicismo exerce sobre as pessoas mais simples e crédulas; do outro, a força imperativa da vida e do amor; todo o filme tem, por isso, uma espécie de aura esotérica que vai ao encontro dos interesses do próprio autor, que se diz anarco-místico; nesse contexto, se entendem o uso da cor, do nevoeiro, de planos em câmara lenta e de uma certa representação mais teatral ou, como diria o realizador, mais melodramática – porque o povo português é melodramático; também merecedora de destaque é a fotografia de Elso Roque, em consonância com o misticismo de António de Macedo, designadamente na poderosa cena da violação e na pictórica cena final [>> YouTube];
15. Estreia do filme "Sofia e a Educação Sexual", de Eduardo Geada; «Regressada de um colégio na Suíça, após a morte da mãe, Sofia (Luísa Nunes) instala-se numa "villa" que a família tem em Cascais. Descobre que seu pai, Henrique (Artur Semedo), dada a relação que tem com a amante Laura (Io Apolloni), leva uma vida social complexa, egoísta e hipócrita. Percebe então que não pode escapar a um destino que desconhecia.» (José de Matos-Cruz, in "O Cais do Olhar", Cinemateca Portuguesa, 1999); rodado em 1973, o primeiro filme de Eduardo Geada teria a primeira apresentação pública, a 30 de Julho de 1974, no Cinema Império, no âmbito do XI Ciclo da Casa da Imprensa, chegando ao circuito comercial a 1 de Outubro de 1974 (no cinema Estúdio 444, em Lisboa); era um dos filmes proibidos pela Censura marcelista, e não é difícil de adivinhar o motivo: a crítica à sociedade portuguesa, tendo como foco a alta burguesia, acrescida da ousadia de pôr a nu a hipocrisia e os preconceitos sexuais que a ditadura cultivava – desmascarando-os, despindo o corpo feminino e erotizando-o, dando a ver o que as roupagens cinzentas de anos e anos de repressão teimavam em esconder [>> YouTube] [>> YouTube];
16. Estreia do filme "Amarcord", de Federico Fellini; com argumento do próprio Fellini e de Tonino Guerra, o filme é simultaneamente uma comédia e um drama fantasista; "Amarcord" é um termo que em dialecto da região de Emilia-Romagna significa "recordo-me"; foi esse o mote programático que o realizador italiano usou: uma reinvenção das suas lembranças de adolescência tornadas retrato irónico e fantasista da Itália dos anos 30, onde é impossível destrinçar aquilo que Fellini viveu verdadeiramente daquilo que inventou, pois como ele próprio disse: «uma certa tendência para uma interpretação fantasiosa das coisas, uma certa visionação, creio que sempre tive»; passado na cidade adriática de Rimini, terra natal do realizador, alguns anos antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o filme mostra a vida de Titta Biondi (Bruno Zanin), um jovem oprimido entre o ensino católico, a ordem fascista e o ambiente familiar; entre o sonho e a realidade, Titta vai vivendo momentos que se tornarão inesquecíveis: a passagem de um transatlântico, o rali das Mil Milhas, a morte da mãe, Miranda Biondi (Pupella Maggio), o despertar para a sexualidade, etc.; contando os episódios da vida de Titta, Fellini constrói um quadro social bizarro e carnavalesco (tema que se tornou, aliás, imagem de marca da sua obra), repleto de detalhes, centrado nas personagens excessivas e que roçam o caricatural, embora sempre detentoras de enorme densidade humana; organizado como um conjunto de episódios que desafia os cânones narrativos clássicos, cada plano é trabalhado como se fosse um quadro vivo – para o que muito contribui a fotografia de Giuseppe Rotunno [>> YouTube]; digna de registo é também a banda sonora de Nino Rota [>> YouTube], colaborador habitual de Fellini; nomeado para três Óscares, "Amarcord" arrecadou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro;
17. Edição do álbum "Coro dos Tribunais", de José Afonso; «Do seu conteúdo de imediato ressalta "aquela" linguagem "surrealista" de José Afonso, na linha de "Venham Mais Cinco" (1973), constituindo uma nítida demarcação do seu autor em relação ao "folclore" revolucionário reinante. Servindo poemas de Bertolt Brecht, adaptados por José Afonso na versão de Luiz Francisco Rebello, surgem "Coro dos Tribunais" [>> YouTube], "Coro dos Tribunais (Final)" [>> YouTube] e "Eu Marchava de Dia e de Noite (Canta o Comerciante") [>> YouTube]; os restantes temas, com letra e música de José Afonso, são "O Homem Voltou" [>> YouTube], "Ailé! Ailé!" [>> YouTube], "Não Seremos Pais Incógnitos" [>> YouTube], "O Que Faz Falta" [>> YouTube], "Lá no Xepangara" [>> YouTube], "Tenho um Primo Convexo" [>> YouTube], "Só Ouve o Brado da Terra" [>> YouTube] e "A Presença das Formigas" [>> YouTube]. Gravado em Londres, em Novembro de Dezembro de 1974, "Coro dos Tribunais" contou com a colaboração de Fausto (arranjos, direcção musical e guitarra acústica), do francês Michel Delaporte (percussões), de Adriano Correia de Oliveira (vozes e cordas), de Carlos Alberto Moniz (viola, vozes e cordas), de José Niza (vozes e cordas), de Vitorino (teclados, vozes e cordas) e do brasileiro Yório Gonçalves (2.ª viola).» (Mário Correia);
18. Edição do álbum "P'ró Que Der e Vier", de Fausto Bordalo Dias; «Gravado em Madrid, em Abril de 1974, e concluído em Lisboa, em Outubro do mesmo ano, "P'ró Que Der e Vier" foi produzido por Adriano Correia de Oliveira (Madrid) e José Niza (Lisboa), sendo Fausto o autor de todas as letras e músicas (bem como responsável pelos respectivos arranjos e direcção musical) à excepção de "Daqui Desta Lisboa" (poema de Alexandre O'Neill / música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube], "Carta de Paris" (poema de Daniel Filipe), "Não Canto Porque Sonho" (poema de Eugénio de Andrade / música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube], "P'ró Que Der e Vier" (letra e música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube], "Comboio Malandro" (poema de António Jacinto) [>> YouTube], "O Homem e a Burla" (letra e música de António Pedro Braga e Fausto) [>> YouTube] e "A Flóber" (poema de Mário-Henrique Leiria / música de António Pedro Braga e Fausto). Os restantes temas são "É Tão Difícil" [>> YouTube], "Venha Cá Senhor Burguês" [>> YouTube], "Marcolino" [>> YouTube] e "O Patrão e Nós" [>> YouTube]. Em "P'ró Que Der e Vier", Fausto assume de forma evidente aquelas que serão as coordenadas básicas da sua música: a influência de circunstância anti-demagógica mas directa e contundente; e a simbiose de influências múltiplas. De referir ainda as colaborações de Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Vitorino, António Portanet e Júlio Pereira, entre outros.» (Mário Correia).
Todos (ou quase todos) estes itens podiam ser devidamente ilustrados, ora com registos do arquivo da RDP (entrevistas, adaptações de peças de teatro e de obras romanescas, recitações de poemas, etc.) ora, no caso de repertório musical, com gravações discográficas.
Não cabia tudo em 50 minutos? Problema nada difícil de resolver: em vez de uma única edição (lacunar, espartilhada e cinzenta), façam duas – mais completas, desafogadas e variegadas.
Renova-se o pedido: deseja-se que "A Vida dos Sons" seja menos cinzenta e mais multicolor. Pedido que fica formulado, obviamente, para a eventualidade do programa regressar com uma série posterior a 1974.
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