26 julho 2006
E Alegre se Fez Triste
Parece-me muito sintomático que a juntar-se a outros casos bem conhecidos (Alberto João Jardim, Santana Lopes, etc.) venha agora à baila o nome de um homem que me havia habituado a ver como um inconformista e um não-alinhado com o situacionismo, diria até, uma consciência cívica do regime. Agora não escondo o meu desalento e a minha tristeza ao constatar que afinal esse homem peca dos mesmos pecados venais dos videirinhos da política, que se estão a marimbar para o país e cuja única preocupação é sua vidinha. O cidadão Manuel Alegre de Melo Duarte devia ter vergonha quando vai à televisão falar em ética e em moral. Será ético e moral (ainda que legal) um deputado passar a auferir de uma reforma de aposentação (ainda que reduzida a um terço, o que corresponde a mais de mil euros) e continuar na Assembleia da República para a acumular com o ordenado de deputado? E será também ético e moral (ainda que legal), um deputado depois de abandonar o Parlamento ficar com duas reformas por inteiro pelo exercício do mesmo cargo? Pois é! O Sr. Manuel Alegre pode ter alguma valia como poeta, mas quanto ao resto é como os demais.
Péssimo tributo está Manuel Alegre a dar à memória do grande Adriano Correia de Oliveira que deu voz a alguns dos seus mais belos versos. "E Alegre se fez triste ... Que fez tão triste a clara madrugada" terá exclamado Adriano na tumba em Avintes por esta traição do seu antigo companheiro de luta, afinal um vulgar "comedor do dinheiro que a uns farta e a outros mata" (acrescentaria Adriano, do poema de Manuel da Fonseca).
E Alegre se Fez Triste
Poema: Manuel Alegre
Música: José Niza
Arranjo e direcção de orquestra: José Calvário
Voz: Adriano Correia de Oliveira
Aquela clara madrugada
Que viu lágrimas correrem no teu rosto
E alegre se fez triste como
Chuva que viesse em pleno Agosto.
Ela só viu meus dedos nos teus dedos
Meu nome no teu nome. E demorados
Viu nossos olhos juntos nos segredos
Que em silêncio dissemos separados.
A clara madrugada em que parti
Só ela viu teu rosto olhando a estrada
Por onde um automóvel se afastava.
E viu que a pátria estava toda em ti
E ouviu dizer adeus, essa palavra
Que fez tão triste a clara madrugada.
(in "Gente de Aqui e de Agora", 1971)
15 julho 2006
Entrevista de Rui Dias José à "Epicur"
Assim inicia Eduardo Miragaia um trabalho de 3 páginas que a edição de Julho da Revista EPICUR dedica aquele profissional da Antena 1. Apresentando-o como "um velho companheiro de estrada jornalística", mas também um velho companheiro na mais pura asserção da palavra", ele acentua a "verticalidade e a autenticidade do ser humano com quem apetece partilhar
experiências e aventuras".
Questionado sobre os "muitos anos de andarilho por esse país fora..." responde Rui Dias José:
Fui coleccionando rostos e sensações, conhecendo pessoas, fazendo amizades.
(...)
Chegar a uma terra sozinho, significava ter de (muito rapidamente) entabular diálogo, estabelecer pontos de contacto e formas de abordagem. Na mais das vezes, é o acaso e os instintos que comandam.
Ficou-me o deslumbramento pelos conhecimentos de ocasião... como o taxista apalavrado à saída do Aeroporto de Santa Cruz da Graciosa e que acabou meu "Anjo da Guarda" enquanto por lá estive ou aquele guia-menino que me mostrou a ilha de Moçambique ou o estudante de medicina (angolano e negro) que foi meu intérprete na Bósnia (e que eu tinha de conseguir dissimular quando viajávamos do lado sérvio para o lado muçulmano e vice versa).
É claro que se não esquecem paisagens e sabores... mas são os rostos que permanecem.
Entrevista a merecer leitura atenta (clique aqui).
12 julho 2006
Presunção de referências publicitárias leva ouvinte a dirigir-se ao Provedor
Ex.mo Sr. Mas deixemos os preliminares e avancemos para o essencial.Segunda feira (10/07) ouvia eu o Noticiário das 20h00 na Antena 1. A propósito do “caso Casa Pia”, um repórter divulgava palavras de uma testemunha do Processo, Felícia Cabrita, tendo o cuidado de a identificar (por duas vezes) apenas como jornalista de um “orgão da Comunicação Social escrita”. Como sei perfeitamente que a Felícia Cabrita é do Jornal Expresso, estranhei que o órgão de informação a que ela pertence não fosse identificado. E lembrei-me até de (na passada semana) ter ouvido abundante propaganda a uma empresa alemã que terá disponibilizado a sala onde a Antena 1 realizou uma série de emissões do Mundial. Não... não sonhei - devem existir registos disso e pode (re)ouvir - lembro-me perfeitamente de escutar diversas referências do Sr. António Macedo a essa empresa, identificando-a sempre através da sua designação comercial. Conseguiu até tratar, uma organização privada que exerce uma actividade (legítima e respeitável) de captação de investimentos dos emigrantes portugueses para projectos imobiliários, como se de um organismo benemerente e não lucrativo se tratasse - tantas (e de tal tipo) foram as referências à empresa alemã. Um português, representante local dessa firma, foi alvo de entrevistas em dois dias subsequentes e, obviamente, aproveitou para fazer a propaganda da sua actividade e da rendibilidade dos negócios que propunham à comunidade portuguesa na Alemanha... E isto, pasme-se, na Rádio Pública que não pode identificar o jornal Expresso.As referência a essa entidade privada violaram claramente (pelo menos) dois dos princípios legais e éticos que o Serviço Público de Rádio deveria respeitar: um tem a ver com o desrespeito por regras de concorrência, com o Operador Público de Radiodifusão a privilegiar uma empresa em detrimento de todas as outras que prestam idênticos serviços no ramo imobiliário; outro radica no facto de as referências feitas serem claramente de carácter promocional - descrevendo em pormenor o objecto de negócio, os serviços prestados, o grau de satisfação dos cliente, etc. etc. etc. Mais grave ainda: tudo isto envolto numa roupagem discursiva que poderia levar a pressupor não estarmos perante uma situação de acessoria(?) de transação comercial mas sim perante algum mecanismo de apoio e aconselhamento da emigração ...!!! Espero que ninguém tenha a lata de argumentar que aqueles minutos de publicidade (numa rádio onde ela é liminarmente vedada) constituíam a contrapartida pela cedência de instalações onde se sediaram aquelas emissões. Isto, a ser verdade, seria ainda mais grave. Porque, se à Antena 1 está vedada a venda (ou simples comercialização) de publicidade, ela está também impedida de praticar qualquer tipo de permuta publicitária. E mesmo, em casos especiais de apoio institucional a uma qualquer sua realização, esse suporte terá de ser claramente identificado e não camuflado através de enviesadas entrevistas. Aliás, face aos montantes que vieram a público relativamente aos gastos Rádio e Televisão de Portugal com o Mundial de Futebol, é quase ridícula, e amesquinhante, a situação de trocar umas entrevistas pela disponibilização de um espaçozito para albergar a emissão dos programas da RDP... Até porque, na Taxa para o Audiovisual que nos cobram no recibo da electricidade, já devem estar dinheiros que cheguem para estas coisas... Ou então, acabe-se com o financiamento público e a Antena 1 que procure sobreviver à custa do mercado, como as privadas... Em síntese, não consigo perceber porque é que não se pode dizer que a Felícia Cabrita é do Expresso mas se pode divulgar os negócios desenvolvidos pela tal empresa alemã onde a RDP se aboletou para as emissões do campeonato do Mundo. Razão que me dá a ousadia de incomodar Vossa Excelência, buscando, através de si, o esclarecimento destas tão estranhas relações de "peso e medida" Respeitosamente, |
Vou ficar atenta a respostas e desenvolvimentos...
11 julho 2006
Antena 2: porquê a suspensão/extinção dos programas de autor?
04 julho 2006
Espaços musicais no Rádio Clube Português
Como é sabido, a situação da música de qualidade, na generalidade das rádios nacionais, é indiscutivelmente má (para não dizer péssima), o que para tal muito tem contribuído a tacanhez e incultura dos indivíduos a quem têm sido confiadas as 'playlists', os quais se limitam a decalcar o que de pior é feito em terras do Tio Sam. E se isto é verdade para a música de proveniência ou de matriz anglo-saxónica, ainda o é com maior acuidade para as músicas de outras matrizes culturais e linguísticas, designadamente as latinas – francesa, italiana, hispânica e lusófona. No caso concreto da música portuguesa, a situação de marginalização a que ela vinha sendo votada pelas rádios de cobertura nacional era de tal ordem que se tornou imperiosa a aprovação de uma nova lei a determinar quotas mínimas obrigatórias. Como já tive oportunidade de dizer num texto publicado em 13 de Janeiro passado, não são as quotas, por si só, que irão resolver o problema da música portuguesa no seu conjunto porque há um problema cultural nas chefias das rádios que ainda está por resolver. No entanto, não me recuso a admitir que o facto da lei existir (ou melhor a ameaça de pesadas penalizações ao seu incumprimento) possa ter como efeito secundário o surgimento de espaços reservados à música portuguesa e não apenas a subida da frequência com que determinados nomes (os fregueses do costume) aparecem nas 'playlists'. Penso que a existência de espaços musicais temáticos organizados por géneros e estilos é a melhor forma de corresponder às diferentes expectativas e sensibilidades dos vários segmentos do auditório. Uma 'playlist' onde, por exemplo, a seguir aos Creedence Clearwater Revival passam os Santos e Pecadores, ou a seguir a Nara Leão passa a Madonna acaba por se tornar uma coisa incaracterística e indigesta e, que sob o pretexto de agradar a todos os públicos, acaba por não satisfazer verdadeiramente ninguém. O eclectismo deve ser defendido, mas penso que a melhor forma de lhe dar expressão numa rádio generalista é através de espaços diferenciados por géneros e estilos musicais e com uma linha editorial coerente, onde cada ouvinte já sabe de antemão com o que pode contar (o que propicia a fidelização de públicos distintos na mesma estação emissora). Neste contexto, constato com agrado que no Rádio Clube Português esta filosofia tem vindo a ser desenvolvida sob a direcção de Luís Osório (na foto), um homem dos media que tenho em boa conta (do televisivo "Portugalmente" ainda guardo gratas recordações). Ao "Clube Disco" (sábados, das 19h:00 às 2h:00 da manhã) dedicado ao 'disco sound' somam-se agora novos espaços temáticos: "Clube do Swing" (aos domingos, das 22h:00 às 24h:00) dedicado ao jazz cantado (um pouco na esteira de "A Menina Dança?", de José Duarte); "Tapete Voador" (aos sábados e domingos, das 17h:00 às 19h:00) onde passam os grandes nomes do rock e da pop dos anos 60, 70 e 80; e "Transatlântico" (aos sábados e domingos, das 12h:00 às 14h:00) reservado à música portuguesa e brasileira. Relativamente a este último, faço questão de saudar a sua criação porque a boa música de língua portuguesa bem precisa de espaços que lhe dêem guarida, atendendo à marginalização a que tem sido votada nas 'playlists' nas rádios de cobertura nacional. Um programa de música portuguesa e brasileira vem mesmo a calhar para colmatar (ou pelo menos, mitigar) o vazio deixado pelo desaparecimento do programa que José Nuno Martins tinha na Antena 1. A propósito, não seria altura deste modelo de programação musical ser também aplicado no primeiro canal da rádio pública? A adopção de espaços musicais temáticos afigura-se ainda mais pertinente e premente na Antena 1, já que a 'playlist' do Rádio Clube é incomparavelmente melhor (boa parte da música anglo-americana que passa no Rádio Clube conta-se entre a melhor de sempre, bem diferente do lixo que pulula nas Antenas 1 e 3). Entristece-me e revolta-me o caminho que vem sendo trilhado pela rádio pública, mas congratulo-me que seja uma rádio privada – no caso o Rádio Clube – que esteja a concretizar medidas consentâneas com o conceito de serviço público. E é justamente neste âmbito que aproveito para deixar algumas propostas à consideração de Luís Osório:
1 – um espaço onde se pudessem ouvir os discos sugeridos por Nuno Rogeiro, de preferência com pequenas notas sobre as músicas e os respectivos autores/intérpretes;
2 – no "Tapete Voador", em vez de um alinhamento com rock e pop misturados penso que seria mais inteligente separá-los em blocos diferentes. Quem se deleita a ouvir The Doors, Jefferson Airplane, Grateful Dead, Led Zeppelin ou Deep Purple é muito provável que sinta pouco (ou nenhum) prazer a ouvir The Carpenters, Carly Simon, Diana Ross ou Sheena Easton, e vice-versa. E isto não significa nenhum juízo de valor a respeito dos nomes citados e dos respectivos estilos: trata-se apenas não misturar alhos com bugalhos e de pôr cada macaco no seu galho. E já agora aproveito para manifestar o meu desejo pelo reforço no "Tapete Voador" do 'blues rock' e do rock progressivo, estilos que emergiram na segunda metade da década de 60 e estariam no auge até meados dos anos 70. Alguns exemplos: The Animals, The Paul Butterfield Blues Band, Cream, The Yardbirds, Bluesbreakers, Eric Clapton, Jeff Beck, Ten Years After, The Who, Mothers of Invention/Frank Zappa, Genesis, Yes, Rick Wakeman, King Crimson, Procol Harum, Van Der Graaf Generator, Jethro Tull, Pink Floyd;
3 – um espaço dedicado ao country e também ao folk de ambos os lados do Atlântico;
4 – um espaço reservado à música latina – francesa, italiana, espanhola e hispano-americana;
5 – um espaço dedicado ao fado, desde o antigo ao mais recente e incluindo também a canção coimbrã;
6 – maior atenção no "Transatlântico" (ou noutro espaço a criar) à música popular portuguesa (tradicional e de autor), uma área importantíssima da nossa criação musical mas muito mal tratada nas rádios nacionais. A título exemplificativo, apresento um rol de cantores, músicos e agrupamentos de qualidade que inclui boa parte dos nomes maiores da música portuguesa de sempre: Fausto Bordalo Dias, Vitorino, Janita Salomé, Pedro Barroso, Manuel Freire, Luiz Goes, Paco Bandeira, José Mário Branco, Luís Cília, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Afonso Dias, João Afonso, Amélia Muge, Filipa Pais, Né Ladeiras, Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral, Júlio Pereira, Rão Kyao, Pedro Jóia, José Peixoto, Joel Xavier, Eduardo Ramos, José Medeiros, Francisco Naia, Isabel Silvestre, Teresa Silva Carvalho, Brigada Victor Jara, Ronda dos Quatro Caminhos, Vai de Roda, Maio Moço, Navegante, Raízes, Pedra d'Hera, Rosa-dos-Ventos, Belaurora, Almanaque, Quadrilha, Contrabando, Real Companhia, Frei Fado d'El Rei, Realejo, Danças Ocultas, At-Tambur, Roldana Folk, Mandrágora, Mu, Dazkarieh, Chuchurumel, Galandum Galundaina, Popularis, Trovas à Toa, Nem Truz Nem Muz, Dar de Vaia, Roda Pé, Modas ao Luar, Segue-me à Capela, Moçoilas, etc..
02 julho 2006
Provedor do Ouvinte:
disponível na net, mas sem formas de contacto
"(...) o ombudsman da rádio pública portuguesa tem finalmente um espaço no site da RDP. Contém informações sobre José Nuno Martins, o estatuto do provedor, o programa a emitir e os propósitos do provedor. |
Fica o Luís Bonixe e... ficamos nós todos!