22 maio 2025

Bugalhos: "Carvalho Grande"


(in https://www.facebook.com/junta.de.freguesia.de.vilela)
Monumental exemplar de carvalho-alvarinho (Quercus robur), sito na freguesia de Calvos, concelho de Póvoa de Lanhoso.
Este carvalho tem 23 metros de altura, 40 m de diâmetro médio da copa, 7,4 m de diâmetro médio do tronco e um perímetro à altura do peito de 10 metros. A idade da árvore está calculada em mais de 500 anos.
É considerada árvore de interesse público desde 22 de Agosto de 1997. [fonte: Wikipédia]
[Para ver a imagem em ecrã inteiro, noutra janela, é favor clicar aqui]


«Por esta altura do ano, o carvalho galego cobre-se de flores que se agrupam em inflorescências unissexuais, em amentilhos masculinos e femininos abraçados na mesma árvore. É como se, entrelaçados nos poderosos troncos do carvalho galego, pitas e sardões festejassem uma eterna Páscoa de bolotas.
Gosto da palavra amentilho que pende, como esplendorosa insígnia, das mais portentosas árvores, dos amieiros ou dos salgueiros que namoram as águas, dos carvalhos que tornam os bosques inexpugnáveis. Gosto da palavra inflorescência iluminando os pedúnculos do carvalho galego que hoje será plantado em Lousada.
O município de Lousada iniciou, há quase dez anos, um projecto de restauro ecológico do território, envolvendo acções continuadas de voluntariado ambiental. Isso quer dizer que, nestes quase dez anos, foram organizadas mais de 300 plantações, envolvendo mais de 14 mil voluntários, o que permitiu restaurar mais de 100 hectares. Esta circunstância faz de Lousada um caso exemplar, merecedor de um amentilho de palavras gratas. Tudo somado, nestes quase dez anos, os de Lousada plantaram mais de 155 mil árvores. Não apenas carvalhos. Também medronheiros, sobreiros, salgueiros-negros, pilriteiros.
Tomai nota, senhores. O carvalho galego que hoje vai ser plantado em Lousada não é apenas mais um. O exemplar que hoje será entregue à terra de Gascos e Sousões é descendente do carvalho de Calvos, a admirável árvore com mais de 500 anos, a mais antiga da Península Ibérica e segunda mais antiga da Europa.
Muitos amantes da natureza procuram o lugar de Calvos, Póvoa de Lanhoso, para render homenagem a essa árvore que resiste desde o século XVI, contemporânea de Da Vinci e de Copérnico, de Gil Vicente e de Erasmo de Roterdão, de Fernão Mendes Pinto e de Garcia de Orta.
O acto de hoje, em Lousada, é mais do que um pretexto para a pedagogia da biodiversidade e do bem-estar de uma comunidade. É um hino à perenidade e à permanência.
Vivam os carvalhos galegos de Lousada.» [Fernando Alves, "O carvalho de Lousada", in "Os Dias que Correm", 22 Mai. 2025]


«Os Bugalhos nasceram no Porto em 2015. Animistas, humanistas, reais. Compõem música alternativa de expressão portuguesa; misturam poesia autoral com ritmos tradicionais; histórias próximas do imaginário popular com melodias originais.» Assim se apresenta, na plataforma Bandcamp, o projecto Bugalhos que, a 20 de Março de 2021, lançou, sob o selo Açor, do Prof. Emiliano Toste, o álbum "Alvorário". A fechar o alinhamento, na posição décima quarta, figura a canção "Carvalho Grande", com letra e música de António-Pedro e Blandino, originalmente concebida para a peça "Que Raio de Mundo" que foi levada à cena em 2013 pelo Teatro Regional da Serra de Montemuro, companhia sediada na aldeia de Campo Benfeito, no concelho de Castro Daire.
Ora, para remate poético-musical à crónica de hoje em que Fernando Alves enalteceu os carvalhos-galegos (também comummente chamados carvalhos-alvarinhos) e, muito particularmente, o multicentenário carvalho de Calvos, tesouro reverencial da flora portuguesa, ibérica e europeia, não havia registo mais apropriado e pertinente do que aquela bela canção "Carvalho Grande", dos Bugalhos, atendendo ao adequadíssimo título e – não menos importante – ao teor da letra em que está expressa a necessidade imperiosa de estimarmos as árvores, mormente as autóctones folhosas (carvalhos, castanheiros, sobreiros, azinheiras, loureiros, amieiros, salgueiros, ulmeiros, teixos...) por serem mais benéficas para a biodiversidade e pela muito maior resistência que oferecem aos incêndios, os quais, em virtude da subida da temperatura média do planeta, tenderão a ser mais frequentes e violentos.
Estamos muito em crer que Fernando Alves teria apreciado de sobremaneira que este "Carvalho Grande", dos Bugalhos, servisse de epílogo arbóreo feito de palavras e de música ao preito de homenagem que rendeu ao monumental carvalho de Calvos. E para a maioria dos ouvintes seria certamente uma agradabilíssima revelação, pois deve ser reduzido o número daqueles que conhecem o grupo, por causa da soez e criminosa marginalização que a música (de raiz) tradicional vem sofrendo há largos anos na Antena 1 e que se acentuou após a saída (forçada) do Sr. Armando Carvalhêda. Esses ouvintes a quem a rádio que pagam falhou uma vez mais na prestação do serviço público que esperam e merecem podem aqui relaxar o corpo e a mente à sombra do "Carvalho Grande", tão afectuosamente tratado pelos Bugalhos. Boa escuta e revigorantes inspirações de ar puro!



Carvalho Grande



Letra e música: António-Pedro e Blandino
Arranjo: Bugalhos
Intérprete: Bugalhos* (in CD "Alvorário", Açor/Emiliano Toste, 2021)




[instrumental]

- Esta história que vamos contar
- Do Carvalho Grande
- Do Carvalho Grande
- Árvore, vila, vida, terra, gente, povo, mundo
- Temos de a partilhar
- Porque ela é nossa
- Vossa
- Temos de a partilhar
- Porque ela é nossa
- Vossa
- Venham!

[instrumental]

Temos um tesouro lindo
Que está entre nós
Escondido, guardado
Porque estamos sós.
[bis]

Vem daí, ó António!
Vem daí, ó Zulmira!
Precisamos de todos
P'ra fazer um novo dia.
[bis]

Neste Raio de Mundo,
Neste Mundo Incrível.
[bis]

[instrumental]

Temos um tesouro lindo
Que está entre nós:
Se olharmos pelos outros
Já não estamos sós.
[bis]

Vem daí, ó António!
Vem daí, ó Zulmira!
Precisamos de todos
P'ra fazer um novo dia.
[bis]

Neste Raio de Mundo,
Neste Mundo Incrível.
[bis]

[instrumental]

Já passámos tanto,
Já amámos tanto,
Já tanto trabalhámos
Nesta Terra que é de todos.
[bis]

E que tem de mudar
P'ra ser mais justa e sã,
E nós mais felizes
Num melhor amanhã!
[bis]

Neste Raio de Mundo,
Neste Mundo Incrível.
[6x]

[instrumental]


* Bugalhos:
André Oliveira – violino e voz
Blandino – concertina, guitarras, harmónicas e voz
Inês Caetano – cavaquinho, percussões e voz
Rita Só – percussões e voz

Produção – João Ramoa e Bugalhos
Gravado em 'live session' no Cabriolet Music Studio, Porto, em Dezembro de 2019 e Fevereiro de 2020
Captação, mistura e masterização – João Ramoa
URL: https://www.facebook.com/bugalhosbanda
https://bugalhos.bandcamp.com/



Capa do CD "Alvorário", do grupo Bugalhos (Açor/Emiliano Toste, 2021)
Ilustração e design – Catarina Santos.

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Mário Dionísio: "Solidariedade", por Carmen Dolores
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Outros artigos relacionados com a crónica de Fernando Alves na Antena 1:
Galandum Galundaina: "Chin Glin Din"
"Sons d'Outrora" em viola da terra, por Miguel Pimentel
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A tristeza lusitana
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Janita Salomé: "Cerejeira das cerejas pretas miúdas" (Carlos Mota de Oliveira)
Mário Moita: "Senhora Cegonha"
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