24 dezembro 2022
Um Natal madeirense com o grupo Xarabanda
Rochinha ou presépio-lapinha, uma das duas variantes do presépio tradicional da Madeira.
Fotografia extraída do site "Somos Madeira".
O tempo da Festa
Para o madeirense, o Natal é o momento alto do ano. Tal é a sua importância que basta uma palavra para o referir: Festa. Neste período, alia-se à importância religiosa da ocasião um conjunto de momentos de convívio, que se estendem de meados de Dezembro a meados de Janeiro.
Este ciclo começa com a matança do porco. Era, noutros tempos, um momento de grande importância. Em muitas famílias, era a fonte de toda a carne consumida ao longo do ano. Tudo do animal se aproveita. Alguma da carne ou o sangue são para consumo imediato, ou nos dias da Festa. Do restante, fazem-se enchidos ou salga-se a carne, que irá durar longos meses.
As Missas do Parto são tradicionalmente celebradas ao final da madrugada de cada um dos nove dias que antecedem o Natal. Em alguns locais, a deslocação dos fiéis para a igreja fazia-se em grupo, ao som de instrumentos musicais. Os dois locais com tradições mais peculiares eram a Tabua [concelho de Ribeira Brava] – onde de cada sítio partia um grupo de homens tocando castanholas, acordando todos e tentando fazer sobrepor o seu toque ao de outros grupos – e a Primeira Lombada, da Ponta Delgada [concelho de São Vicente] – onde o pife, de canavieira, servia para entoar uma melodia simples que chamava todos para a deslocação à igreja da Ponta Delgada e que depois os acompanhava.
Um pouco por toda a Região, começa a família a armar a sua lapinha, ou escadinha. A lapinha é de características muito variadas. Para além da presença inevitável do Menino (a figura central e, por vezes, única), José e Maria, dos Reis, da vaca ou do burro, o limite é apenas a imaginação do autor e o espaço disponível. Nalguns casos, encontramos apenas as figuras centrais, algumas peças de fruta e searinhas. Mas existem também outras com dezenas de figuras, casas, cenas do quotidiano, etc.
Segue-se o momento alto – a Missa na noite de 24 para 25 de Dezembro. Não é uma Missa como as outras. Nalguns locais, trata-se de uma longa cerimónia com momentos como a Anunciação do Anjo, a Pensação do Menino... e concluída com as romarias ou romagens. Estas são grupos organizados a nível de sítio, ou com outro tipo de afinidade, que percorrem a nave da igreja, levando as suas ofertas ao Menino. O grupo entoa uma canção própria, que deve ser original (pelo menos no que diz respeito à letra, podendo a melodia ser adaptada de alguma canção tradicional ou de um tema de música ligeira bem conhecida) e que foi ensaiada no maior segredo, para não estragar a novidade. Os romeiros fazem questão de apresentar algo de novo aos muitos assistentes – críticos – presentes na igreja. Algumas destas romarias tornaram-se autênticas peças tradicionais, tal o grau de apreço que mereceram.
Após o dia 25 – o almoço é o momento de convívio familiar por excelência – há a tradição da visita aos familiares, particularmente apreciada pelos mais novos. Na Primeira Lombada da Ponta Delgada, é ainda o dia do jogo da gangorra, entretenimento de toda a população.
Segue-se um outro ponto alto do período: a passagem do ano. De há muito festejada, é no Funchal que se concentra muita gente de boa parte da Ilha. Até há alguns anos, eram atraídos para as diversões no Campo Almirante Reis. Agora, é o fogo-de-artifício, tornado cartaz turístico, que os faz deslocar.
Para muitos, termina este ciclo natalício com o Dia de Reis. Na noite de 5 para 6 de Janeiro, organizam-se grupos que vão de casa em casa cantando e saboreando o que o anfitrião coloca à sua disposição: bolos, vinho, etc... Em geral, há uma canção alusiva entoada pelo grupo, com ou sem acompanhamento de instrumentos. A canção é, essencialmente, uma tradição local. Embora muitas se assemelhem, conhecem-se numerosas melodias, cada uma própria da sua freguesia ou local. Por vezes, alguns dos participantes vestem-se de forma alusiva ao momento – os três reis, por exemplo. Durante toda a noite se vão percorrendo as casas dos amigos, conhecidos ou figuras destacadas da zona. Apenas o nascer do dia e a saída das pessoas para os seus afazeres vai terminar as visitas.
Em locais como Santa Cruz, de facto, é o dia 15 de Janeiro – Santo Amaro – que encerra o ciclo. Ainda se fazem visitas aos vizinhos ou amigos, limpam-se os armários.
Jorge Torres (texto publicado no caderno que acompanha o CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", do grupo Xarabanda, ed. Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)
Ciente da importância de preservar e de manter vivo na memória das gentes da Madeira o ancestral cancioneiro popular do ciclo natalício, o grupo Xarabanda tomou a mui louvável iniciativa de levar a efeito a produção/gravação, em 2002, de um álbum especificamente consagrado a esse repertório. E assim surgiu o magnífico CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense" que logo se tornou uma referência obrigatória no capítulo das edições fonográficas natalinas portuguesas. E foi tanto o interesse que o trabalho suscitou que seis anos mais tarde, em 2008, depois da entrada de novos elementos, o grupo achou por bem regravar 13 dos 14 espécimes do disco (um deles – o instrumental de pífaro – é uma recolha) e ainda dois inéditos, que constituem o alinhamento da 2.ª edição, a qual, talvez por ser a mais recente, acabou por tornar-se a mais divulgada. Conhecendo ambas as edições, confessamos a nossa preferência pela primeira, cujos arranjos, execução instrumental e desempenho vocal se contam entre o melhor que até hoje se fez em Portugal na área da música tradicional. Razão bastante para, na presente quadra, revisitarmos tão primoroso trabalho e aqui destacarmos oito espécimes, à guisa de prenda no sapatinho dos visitantes do blogue "A Nossa Rádio". Para a maioria, e não apenas para os cultores da boa música tradicional portuguesa, será uma experiência muitíssimo grata. Disso estamos absolutamente convictos. Boa escuta e Feliz Natal!
Nos últimos dias, fizemos algumas 'incursões' à Antena 1 (a audição em modo contínuo seria um suplício ensandecente) com o objectivo de averiguar que repertório natalício estaria eventualmente a ser transmitido nos espaços de continuidade. E apanhámos muitas, muitas mesmo, canções anglo-saxónicas, algumas delas notoriamente medíocres, e só quatro canções portuguesas. Foram elas: "Podia ser Natal", por UHF, "São Nicolau", por Viviane, "Natal Mais Uma Vez", por Luísa Sobral, e "Eu Vou Cantar ao Menino", por José Barros e Navegante. Mesmo admitindo que estas quatro não perfaçam a totalidade das canções portuguesas de Natal que a direcção de programas da Antena 1 escolheu para dar a ouvir aos ouvintes na presente quadra, é irrefutável que a produção exógena tem sido desmesuradamente privilegiada em prejuízo da nacional, sendo que a de raiz tradicional quase não tem representatividade. Ora tal opção afigura-se completamente descabida e falha de razoabilidade porque é precisamente no campo da recriação do cancioneiro tradicional que o nosso património discográfico de temática natalina se apresenta mais rico e diversificado. Sabemos que ano após ano, na quadra natalícia, as rádios privadas nacionais praticamente só passam canções pop anglo-americanas, mas a Antena 1, atendendo ao seu estatuto de serviço público e às particulares obrigações que tem no domínio da divulgação e promoção da música portuguesa de feição mais identitária e culturalmente relevante, jamais deverá reger-se pela atitude preguiçosa e conformista de ir atrás do rebanho. Sendo este um problema de capital importância deixamo-lo à reflexão de quem tem a responsabilidade, estipulada por lei, de escrutinar e avaliar o serviço (ou não serviço) prestado pela estação pública.
Oração ao Menino Jesus
Letra e música: Tradicional (Ribeira Seca, Machico, Madeira)
Informantes: Maria José Ferreira Clemente, Cristina Ferreira Clemente, Serafina Ferreira Clemente, Rosa Marques
Recolha: António Aragão e Artur Andrade (1970)
Arquivo: DRAC (Direcção-Regional dos Assuntos Culturais)
Intérprete: Xarabanda* (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
[instrumental]
Oh! Duas falas deu Maria,
Meu Menino Jesus,
Quando nasceu Menino:
«Oh! Vem-te cá, meu bago d'oiro,
Meu Menino Jesus,
Meu sacramento divino!»
Oh! Cantigas cantavam-me já,
Meu Menino Jesus,
Quando embalava Jesus:
«Calai-Vos, meu filho, não chores,
Meu Menino Jesus,
Que haverás de morrer na cruz!»
[instrumental]
Oh! Menino, vamos ao Céu,
Meu Menino Jesus,
Numa escadinha de prata!
Oh! Visitai Jesus Menino,
Meu Menino Jesus,
Menino Jesus da lapa!
Oh! Menino, vamos ao Céu,
Meu Menino Jesus,
Numa escadinha de oiro!
O Vosso poder é tão grande,
Meu Menino Jesus,
Governai o mundo todo!
[instrumental]
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Oh! Ai ó lari la lai la!
Oh! Ai ó lari ló ló!
Nota: «Esta Oração ao Menino Jesus era cantada um mês antes do Natal "para lembrar a Festa".» (Jorge Torres, antropólogo)
Toque de 'Pife'
Música: Tradicional (Primeira Lombada, Ponta Delgada, São Vicente, Madeira)
Informante (tocador): João Caldeira
Recolha: Xarabanda (2002)
Intérprete: João Caldeira (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", do grupo Xarabanda*, Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
(instrumental)
Nota: «Acompanhando o ciclo da Festa, começamos por encontrar o percurso feito até à igreja para a Missa do Parto [celebrada ao fim da madrugada de cada um dos nove dias que antecedem o Natal]. É aqui ilustrado com uma melodia [executada em 'pife' de canavieira] que os rapazes mais madrugadores da Primeira Lombada, da freguesia de Ponta Delgada, usavam para chamar os restantes e, depois, para acompanhar a caminhada encosta abaixo.» (Jorge Torres, antropólogo)
Meia-Noite Dada
Letra e música: Tradicional (Câmara de Lobos, Madeira) (in livro "Cânticos Religiosos do Natal Madeirense", de João Arnaldo Rufino da Silva, Direcção-Regional dos Assuntos Culturais, 1998)
Intérprete: Xarabanda* (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
[instrumental]
Meia-noite dada,
Meia-noite em pino,
Cantavam os galos,
Nascia o Menino.
Meia-noite dada,
Meia-noite em pino,
Cantavam os galos,
Chorava o Menino.
Chorava o Menino,
Como um enjeitado
Em lapa da serra,
Não num povoado.
A Virgem Lhe disse
Com mui grande dor:
«Calai-vos, meu Filho
Jesus, meu Amor...
[instrumental]
Que não tenho berço!
E quem T'o faria?
Dormi Vós no feno
Desta estrebaria!»
Menino tão rico,
Que tão pobre estais
Deitado no feno
Entre os animais!
Os filhos dos homens,
Em berço doirado...
E Vós, meu Menino,
Em palhas deitado!
Em palhas deitado,
Tão pobre, esquecido...
Filho de uma rosa,
De um cravo nascido.
[instrumental]
Nota: «Meia-Noite Dada é um tema alusivo ao Natal, tradicionalmente cantado pelas bordadeiras de Câmara de Lobos. É alusivo à época e não próprio de um momento determinado deste ciclo. Apareceu transcrito, pela primeira vez, no Romanceiro do Arquipélago da Madeira (1880), de Álvaro Rodrigues de Azevedo.» (Jorge Torres, antropólogo)
Anunciação do Anjo (aos Pastores)
Letra e música: Tradicional (Cabeço da Oliveira, Ponta Delgada, São Vicente, Madeira)
Informante: Eulália de Freitas
Recolha: Xarabanda (1996)
Intérprete: Xarabanda* (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
[instrumental]
Deus do Céu mandou-me aqui
Anunciar aos pastores
Que em Belém nasceu Jesus:
Vinde cantar seus louvores!
Participo a vós, pastores,
A maior das alegrias:
Que ali mesmo, em Belém,
Já é nascido o Messias!
Que será, o que será?
Ora pois, que há-de ser?
É por certo o Deus-Menino
Que acaba de nascer.
[instrumental]
Despontou a vossa esperança,
Despontou a vossa luz,
Acabaram vossas queixas:
Entre nós está Jesus!
P'ra conhecer o Menino
Eu vou dar-vos uns sinais:
Está deitado num presépio
Encostado aos animais.
Que será, o que será?
Ora pois, que há-de ser?
É, por certo, o Deus-Menino
Que acaba de nascer.
[instrumental]
Ele estará deitadinho
Nas palhinhas de um curral,
Embrulhado em paninhos:
Tudo isto é o sinal.
Agora vou p'ra Belém
Adorar o nosso Deus...
Correi todos, ide vê-lo!
Até logo, adeus, adeus!
Que será, o que será?
Ora pois, que há-de ser?
É, por certo, o Deus-Menino
Que acaba de nascer.
[instrumental]
Nota: «Segue-se o ponto culminante das festividades: a Missa do Galo. Em alguns locais, há um momento da celebração em que uma criança do sexo feminino se dirige ao púlpito e, vestida de anjo, entoa a Anunciação do Anjo: traz aos pastores a mensagem do nascimento do Menino, sendo o refrão entoado pelo conjunto dos fiéis.» (Jorge Torres, antropólogo)
Pastorinhos do Deserto
Letra e música: Tradicional (Ribeira Seca, Machico, Madeira)
Informantes: Maria José Ferreira Clemente, Cristina Ferreira Clemente, Serafina Ferreira Clemente e Rosa Marques
Recolha: António Aragão e Artur Andrade (1970)
Arquivo: DRAC (Direcção-Regional dos Assuntos Culturais)
Intérprete: Xarabanda* (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
[instrumental]
Pastorinhos do deserto,
Correi todos a Belém
Adorar o Deus-Menino
Nos braços da Virgem mãe!
Os anjos primeiro pegam
No Menino Deus nascido:
Não deixais cair no chão
Em seus braços entretido!
Depois a Virgem Maria
Nos seus braços o recebe;
Como mãe, lhe beija a face
Mais alva que a pura neve!
[coro / instrumental]
Foste nascer numa gruta,
Ó grande Rei das nações!...
Vinde derreter a frieza
Dos nossos duros corações!
Estas águas cristalinas
Vão direitas parar ao mar...
Vou lavar as minhas mãos
Para no Menino pegar.
[coro / instrumental]
Nota: «Outro momento importante da celebração [da Missa do Galo] é aquele em que o sacerdote dá o Menino a beijar aos presentes, que formam fila ao longo da nave do templo. Na Ribeira Seca, era neste momento que se cantavam os Pastorinhos do Deserto.» (Jorge Torres, antropólogo)
Da Serra Veio um Pastor
Letra e música: Tradicional (Boaventura, São Vicente, Madeira)
Recolha: Xarabanda (1988)
Intérprete: Xarabanda* (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
[instrumental]
Da serra veio um pastor,
À minha porta bateu;
Trouxe uma carta que diz
Que o Deus-Menino nasceu.
Essa notícia tivemos
À meia-noite seria;
Por isso, nós vamos dar
Os parabéns a Maria.
Também diz a tal cartinha
Que a Virgem estava a chorar,
Por não ter uma roupinha
Com que o pudesse abafar.
A carta diz que Ele está
Nas campinas de Belém,
Numa caminha de palhas,
Sozinho sem mais ninguém.
Essa notícia tivemos
Logo que cantou o galo,
E deixámos nossos campos
Para virmos adorá-Lo.
Ó meu Menino Jesus,
Meu lindo amor-perfeito,
Se Vós tendes frio, vinde,
Vinde parar ao meu peito!
Nos braços da Bela Aurora
Vejo o Menino brincando,
Com a mãozinha de fora
Todo o mundo abençoando.
[instrumental]
Nota: «Da Serra Veio um Pastor é uma das mais conhecidas canções de Natal da Região. Tendo as características de uma romagem, tornou-se tão popular que é hoje entoada em situações diversas alusivas ao Natal.» (Jorge Torres, antropólogo)
Ó Viva Jesus!
Letra e música: Tradicional (Serrado, Paul do Mar, Calheta, Madeira)
Informante: Maria Lucília Abreu Gouveia
Recolha: Algozes/Xarabanda (1982)
Intérprete: Xarabanda* (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
[instrumental]
Menino Jesus, | bis
Dizei à mamã |
Que mate o porquinho, | bis
Que a Festa já vem! |
E o que levaremos | bis
Para Lhe of'recer? |
Bolinhos do caco | bis
E mel para comer. |
Ó viva Jesus,
José e Maria!
Ora viva, viva
A nossa romaria!
[bis]
[instrumental]
Menino tão rico, | bis
Tão pobre que estás |
Deitado nas palhas | bis
Entre os animais! |
E olhai para Ele: | bis
A graça que tem! |
Tanto se parece | bis
Com a sua Mãe! |
Ó viva Jesus,
José e Maria!
Ora viva, viva
A nossa romaria!
[bis]
[instrumental]
Maria e José | bis
Com Ele lá estão: |
Aquilo é que é | bis
Uma satisfação! |
Meu rico Menino, | bis
Meu amor profundo, |
Dê-nos bom Natal | bis
E a paz no mundo! |
Ó viva Jesus,
José e Maria!
Ora viva, viva
A nossa romaria!
[bis]
[instrumental]
Nota: «Termina a cerimónia com as romagens ou romarias. O seu número é muito variável, podendo chegar a várias dezenas. Como acima se referiu, é o momento de expressão de criatividade das populações. Ó Viva Jesus!, de Paul do Mar, uma das primeiras recolhas do Xarabanda, é um desses magníficos exemplos.» (Jorge Torres, antropólogo)
Romagem da Missa do Galo
Letra (quadras populares): Tradicional (Ponta Delgada, São Vicente, Madeira)
Recolha: Horácio Bento de Gouveia
Música: Tradicional (Calheta, Madeira)
Recolha: João Arnaldo Rufino da Silva
Adaptação: Xarabanda (2001)
Intérprete: Xarabanda* (in CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002; livro/6CD+DVD "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História": CD 4 – "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
[instrumental]
Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz...
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!
Ó meu Menino Jesus,
Desculpa ser poucochinho:
O carro não leva mais,
O 'chaufer' é pequenino!
Quem nasceu na manjedoura
Foi o Menino Jesus!
Eu p'ra o ano, se for viva,
Trago um prato de cuscuz.
Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz...
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!
[instrumental]
Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz...
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!
Ó meu Menino Jesus,
Que nasceu num curralinho,
Aqui trago esta lembrança
Que comprei ao meu vizinho.
Do bairrinho da Lombada
Só vem este comerzinho...
Mas é de boa vontade
Que ofer'cemos ao Menino.
Cebolas, semilhas,
Também batatinhas,
Pimentas e alhos,
Galinhas e galos,
Ovos e trigo,
Laranjas, cuscuz...
Tudo aqui trazemos.
Desculpa, Jesus!
[bis]
Nota: «Adaptámos esta melodia recolhida na Calheta com umas quadras da Ponta Delgada, recolhidas por Horácio Bento de Gouveia. Este é um processo que também ocorre na tradição. Como é natural, mais facilmente se encontra quem faça a letra para uma romagem que um autor que componha a música. A solução é, muitas vezes, utilizar uma melodia bem conhecida de todos (tradicional ou da chamada música ligeira). Poderia, portanto, ser esta uma romagem apresentada em qualquer Missa do Galo madeirense.» (Xarabanda)
* Xarabanda:
Carlos Cruz – bandolim
Helena Camacho – voz solo em "Romagem da Missa do Galo", e coros
Isabel Gonçalves – voz solo em "Anunciação do Anjo (aos Pastores)", coros e percussões
João Viveiros – viola de 6 cordas, rajão e coros
Maria João Caires – voz, coros e percussões
Paulo Fernandes – voz solo em "Ó Viva Jesus!" e "Oração ao Menino Jesus", braguinha, harmónica Hohmer, coros e percussões
Paulo Rosado – viola de 6 cordas, contrabaixo, viola de arame e viola baixo, coros e percussões
Roberto Moniz – voz solo em "Da Serra Veio um Pastor", viola de 6 cordas, viola de arame, rajão, braguinha e coros
Roberto Moritz – viola de 6 cordas, viola de arame, rajão, braguinha e coros
Rui Camacho – flauta transversal, flauta de bisel e percussões
Virgílio Caldeira – violino, num-num e coros
Participações especiais:
João Caldeira – 'pife' (em "Toque de 'Pife'")
Norberto Cruz – viola de 12 cordas (em "Meia-Noite Dada")
Slobodan Sarcevic – acordeão (em "Da Serra Veio um Pastor")
Produção e arranjos – Xarabanda
Co-produção musical – Manuel Navarro
Produção executiva – Associação Musical e Cultural Xarabanda
Gravado em sistema digital na sede da Associação Musical e Cultural Xarabanda, Funchal, em Setembro de 2002
Captação de som, mistura e masterização – Manuel Navarro (estúdio móvel ECM-Edições Convite à Música)
URL: https://www.xarabanda.pt/
https://www.facebook.com/associacaoxarabanda
https://xarabanda.bandcamp.com/
https://www.youtube.com/channel/UCXTyXmvIjAoZ_GpkW9FKPGQ
https://www.youtube.com/channel/UC1mrDp1FJVRaBe0DIuWbtog
Capa do CD "Cantigas ao Menino Jesus: Natal Tradicional Madeirense", do grupo Xarabanda (Associação Musical e Cultural Xarabanda, 2002)
Concepção – Paulo Rosado
Imagem – Menino Jesus, séc. XVIII, madeira policromada, integrante de um presépio do Museu Etnográfico da Madeira, Ribeira Brava
Fotografia – Rui Camacho
Capa do livro (com 6 CD + DVD) "Discografia Completa do Xarabanda e Sua História" (Associação Musical e Cultural Xarabanda/Tradisom, 2019)
Design e tratamento de imagem – Rodrigo Madeira
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