* A Rádio de Serviço Público não deve ser refém dos níveis de audiência, mas a sua principal preocupação tem de assentar no efectivo (e cabal) cumprimento das suas obrigações de Serviço Público;
* Mas, como só existe Serviço Público se existirem destinatários e consumidores desse Serviço, a Rádio de Serviço Público tem de assegurar uma eficaz difusão e níveis de adesão que garantam a validade e a utilidade do Serviço prestado.
Dito isto, passemos à questão dos estudos de audiência do meio rádio e do modo como são efectuados.
Tenho sistematicamente vindo a defender (e a escrever) que o estudo que trimestralmente é divulgado sobre as audiências da Rádio não dispõe de qualquer credibilidade científica ou técnica.
Nem me vou preocupar sequer com o modo de formulação das questões que dele constam (pensado já para responder às necessidades das centrais de publicidade e favorecendo as rádios que veiculam mensagens publicitárias), mas vou ater-me, tão-somente, ou modo como é efectuada a recolha dos dados.
Quando (nos finais dos anos 90) a Radiodifusão Portuguesa se desvinculou do estudo da Marktest, agiu de forma acertada e correcta. Seria uma farsa (para não dizer uma burla) pactuar com um arremedo de estudo estatístico que enferma de vícios que deturpam totalmente os resultados. Fiquemos pelos mais importantes:
- A definição da amostra (manifestamente insuficiente) ;
- O modo como é efectuada a recolha dos dados (inquéritos telefónicos para telefones da rede fixa).
Nessa altura, a RDP pagou caro uma atitude que, sendo corajosa, deveria ter sido louvada e acarinhada: Buscava (em cooperação com outras rádios) avançar para a implementação de modos de análise da audiência do meio rádio mais rigorosos e passíveis de validação científica e técnica.
Nesse sentido foram dados passos junto de sectores universitários com trabalho desenvolvido na esfera da investigação dos consumos e do mercado das mensagens. O Resultado imediato saldou-se no seu quase imediato desaparecimento (assassinato???) no que aos números da Marktest dizia respeito.
E a RDP passou a apresentar níveis quase residuais de audiência.
Foi com a chegada da nova administração da RDP (nomeada por Morais Sarmento), e com a necessidade urgente de apresentar (a qualquer preço) números de subidas de audiências, que o operador público negociou o seu regresso à Marktest – pretendendo credibilizar aquilo que já não tinha crédito nenhum. Porque, se as reservas que a RDP formulara em 1998 tinham toda a razão de ser, em 2002 estavam mais do que comprovadas:
- O número de telemóveis aumentara exponencialmente;
- Os escalões etários abaixo dos 35 anos quase só já utilizavam os serviços de redes móveis.
Mas como Morais Sarmento precisava de números favoráveis...
Assim, chegámos à realidade dos dias de hoje... com o meio rádio a não dispor de indicadores fiáveis e seguros para questionar a sua actividade e a eficácia de opções e estratégias.
E ninguém acredita já naqueles números da Marktest.
- NOTA DE RODAPÉ:
Apesar do que já atrás se afirmou acerca da "pulverização" dos resultados da RDP (a partir do momento em que ela teve a ousadia de abandonar o estudo da Marktest) e apesar de o (então) director de Programas da Antena 1 ter saido da RDP e aquela estação ter ficado seis meses sem Direcção, na 3ª Vaga de 2002 (Outubro) a Antena 1 surgia em 5º lugar, à frente da TSF. Nos resultados agora divulgados surge em 6º, atrás da TSF.
Outubro de 2002 | Agosto de 2006 |
1º - R. Renascença | 1º - RFM |
4 comentários:
Ainda há Ouvintes da Radio Publica...
Ainda bem.. Já Gora parabens... não conhecia este blog...
O nosso é recente... sejam bem vindos
http://radiobacalhau.blogspot.com
Para além da redução do número de clientes para os telefones da rede fixa, há outro factor a ter emconsideração: o crescente número de novos assinantes da rede fixa que não estão no universo de clientes da PT, espalhados por diferentes operadores (ONI, Clix...). Cumprimentos, PC
Um Blog sobre rádio? Adorei!
Já vais para os meus favoritos!
Mantenham este espaço aberto!
Um abraço
http://chavedespedro.blogspot.com
RE: cds
Claro que há ouvintes da Rádio Pública...!!!
Não conhecia este blogue? Anda distraído? Já estamos por cá quase há um ano.
Volte sempre.
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RE: Ricardo
Nos seus favoritos? Obrigado.
Vamos manter este espaço aberto.
Abraço.
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RE: PC
Meu caro, a Marktest não tem nenhuma birra contra os telefones móveis. Só não os usa nos inquéritos porque os telemóveis náo permitiriam uma imputação regional dos dados recolhidos, ao contrário dos telefones fixos que permitem saber em que região vivem os indivíduos inquiridos. E isto aplica-se a todas as redes...
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RE: knob
Meu caro,
Não sei quem você é, nem o que o levou a inventar (à pressa) um nick para vir comentar este post. Celebro a sua chegada, agradeço a sua participação e relembro que este blogue vai a caminho de terminar o seu primeiro ano de existência.
Quisemos lançar o debate acerca do modo anómalo como são efectuados os estudos de audiência do medium rádio.
E conseguimos:
Vale a pena passar por um conjunto de textos acerca da mediação de audiências de rádio. Todos eles críticos face ao modelo ainda adoptado em Portugal e que, de facto, levanta algumas questões. - Rádio e Jornalismo
Mas poderão os indicadores apontados por este sistema estar longe da realidade? Muitos respondem “sim” a esta pergunta, porque, na era da mobilidade (telemóvel, Internet sem fios, etc.), a Marktest ainda faz os inquéritos através do telefone fixo. - A Rádio em Portugal
Mais uma vez insisto na ideia de que é precisa uma nova metodologia na análise das audiências de rádio, porque esta (a das entrevistas telefónicas feitas para casa dos hipotéticos ouvintes, com base na memória do dia anterior) já deu o que tinha a dar. - Blogouve-se
Há um ponto fundamental: as empresas de radiodifusão não têm dinheiro para pagar um modo mais moderno de medir audiências, alargando a amostra e fazendo a medição diária. - Indústrias Culturais
Enquanto as audiências de rádio (e de tudo o resto, diga-se de passagem...) não forem feitas por concurso público, aberto, para um período que pode ser até três anos, a vergonha continuará. Os monopólios têm destes problemas... António Granado
A Rádio de Serviço Público não deve ser refém dos níveis de audiência, mas a sua principal preocupação tem de assentar no efectivo (e cabal) cumprimento das suas obrigações de Serviço Público - A Nossa Rádio
Não percebi o que quer dizer quando fala das Rádios Públicas que estão no mercado.
Não me recordo de vez nenhuma que os portugueses tenham exigido da RDP "perfomances" de audiência, mas tenho presente diversas situações em que foi exigido que o operador público de radiodifusão desse cumprimento (de forma rigorosa e cabal) às suas obrigações de Serviço Público.
Não pareceu significativo analisar a situação da Antena 3 porque ela não altera o seu posicionamento nos dois estudos considerados: estava em sétimos lugar e nessa posição permanece.
Já as datas dos Estudos de Audiência que decidimos relacionar têm apenas a ver com o facto de pretendermos comparar a situação existente aquando da chegada da Administração da RDP nomeada por Morais Sarmento e os dias de hoje.
Estes dados não são passíveis de aferição em relação a anos anteriores porque (como se afirma no post) a partir do momento em que a RDP contestou (e deixou de comprar) o Estudo da Marktest, deixou de nele constar e passou a ficar integrada no grupo "outras rádios".
Já andamos nisto há muito tempo... e o Grupo "A Nossa Rádio" tem mais de 300 integrantes. Por isso não percebemos aquela referência a um qualquer hipotético ressaibiamento. Você lá saberá do que fala.
Volte sempre... porque nós acreditamos na utilidade do confronto de ideias e convencimentos.
Ficamos à sua espera!
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RE: à balda
Gostou? Obrigado.
Podia ajudar-nos a passar palavra e a trazer mais gente até ao blog. Nós agradecíamos.
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RE: portugal a rir
Olhe que não é mesmo para rir.
Abraço
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