Exmo. Sr. Provedor do Ouvinte da Rádio Pública,
Antes de mais, devo confessar que nem tudo o que tenho ouvido da boca do Sr. Rui Pêgo em resposta às questões formuladas pelo Sr. Provedor me têm agradado, mas registo com satisfação o anúncio de uma maior atenção na Antena 2 para o teatro radiofónico e para outros conteúdos no campo das artes e do conhecimento. Estaremos cá para ver! Agora fico bastante apreensivo quando Rui Pêgo vem falar em "radio art", a propósito de teatro e de arte, porque não vejo qualquer relação entre a arte em geral e as colagens caóticas e assaz enfadonhas de excertos de programas em várias línguas, que passaram a pontuar as madrugadas de fim-de-semana da rádio clássica. Não sei de quem partiu a ideia de chamar "radio art" a esses produtos intragáveis, mas quem quer que seja devia ter uma noção bastante bizarra do conceito de arte.
Indo agora ao assunto que me impeliu a escrever, e dado que o Sr. Rui Pêgo não se tem dignado responder às cartas que lhe tenho endereçado, peço ao Sr. Provedor o especial favor de o questionar sobre os pequenos e grandes formatos musicais da Antena 1. Gostava que o director de programas do principal canal generalista da rádio pública portuguesa me desse uma razão plausível e admissível para o facto da música anglo-americana, além de um pequeno formato – "Outras Histórias da Música" (Pop/Rock) –, ter também um grande formato – "Ondas Luisianas" – de duas horas semanais e em dose dupla (depois da meia-noite de sexta-feira e sábado à tarde) e isso não acontecer relativamente às músicas da portugalidade (fado e música de matriz tradicional) e da latinidade, sintomaticamente restringidas a mini-formatos, quais ilhotas perdidas no largo oceano. Sendo a Antena 1 uma rádio portuguesa, e ainda por cima pública, não consigo entender esta estranha situação. Será que na britânica BBC Radio e na americana National Public Radio as músicas matriciais anglo-saxónicas estão também reduzidas a formatos de cinco minutos de duração diária e os grandes formatos são reservados à música portuguesa e lusófona? Quero que fique bem claro que não estou a pôr em causa o programa "Ondas Luisianas" e o seu autor, Luís Filipe Barros. Digo isto perfeitamente à vontade porque até gosto do programa, sobretudo da segunda hora. Só não consigo entender, nem aceitar, que não haja programas similares na Antena 1 dedicados às músicas mais autênticas do mundo lusófono e latino que, como todos sabemos, são deliberadamente excluídas da 'playlist'. Os mini-formatos "Cantos da Casa" (música tradicional), "Alma Lusa" (fado) e "Júlio Isidro" (música latina) têm mostrado que não é por falta de material que não existem grandes formatos nessas áreas musicais. E também não é certamente por questões orçamentais porque nas antenas internacionais da RDP há bons programas que podiam ser aproveitados para a grelha da Antena 1, e para grande proveito dos ouvintes residentes em Portugal continental e insular. Então, qual será a razão?
Com os melhores cumprimentos,
Álvaro José Ferreira
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