Exmo. Sr. Provedor do Ouvinte da Rádio Pública,
Como já sucedera no ano passado, neste Verão a Antena 2 voltou a fazer a cobertura completa (ou quase completa) dos Concertos Promenade (vulgo Proms), que decorrem maioritariamente no Royal Albert Hall, em Londres. Por princípio, não tenho nada contra a transmissão de concertos ao vivo, bem pelo contrário. Penso até que em salas onde as condições acústicas não são as melhores para os assistentes, a transmissão radiofónica desses concertos pode ser uma mais valia para os melómanos rádio-ouvintes, desde que a captação de som seja feita nas melhores condições técnicas. O motivo que me leva a recorrer ao Sr. Provedor é o facto dessas transmissões, na Antena 2, estarem a ser monopolizadas por um único evento, no caso os Concertos Promenade. Devo dizer que nada tenho contra os Proms, mas parece-me excessiva e desproporcionada esta opção da direcção da Antena 2. O que não falta são festivais e encontros de música que, durante o Verão, acontecem um pouco por toda a Europa, boa parte dos quais de qualidade igual ou superior à dos Proms, quer em termos de intérpretes quer de repertório. A este propósito, tenho de dizer que os Proms são claramente deficitários no tocante à música barroca e pré-barroca, épocas da História da Música que têm, no nosso país, um público considerável que vê assim defraudadas as suas legítimas expectativas com esta opção da direcção da Antena 2. Em vez de largas semanas de Proms, não seria muito mais razoável dedicar uma semana ou uma quinzena a cada um dos melhores eventos musicais da Europa? Bem sei que o Festival de Salzburgo teve alguma cobertura, o que aplaudo. Mas, e o resto não conta? E quando falo de eventos europeus, falo ainda com maior acuidade dos que se realizam dentro de portas e aos quais a Antena 2 devia dar uma atenção muito especial, no âmbito das suas obrigações de serviço público. Nesta perspectiva, penso que as verbas que a Rádio e Televisão de Portugal paga à BBC em direitos de transmissão radiofónica, deviam ser canalizadas preferencialmente para a gravação/transmissão dos melhores eventos nacionais: Encontros de Música Antiga da Casa de Mateus, Festival de Música da Póvoa de Varzim, Festival de Sintra, Festival da Costa do Estoril, etc.. Mesmo na eventualidade da BBC nada cobrar pelos direitos de transmissão dos Proms continuo a achar errado o peso desmesurado que eles têm na emissão da Antena 2, em prejuízo de outros bons eventos nacionais e estrangeiros, como atrás explicitei. Estou em crer que esta obsessão pelos Proms resulta de algum capricho ou vaidade do Sr. João Almeida, adjunto de Rui Pêgo. Eu, enquanto ouvinte, cumpre-me lembrar que a Antena 2 não existe para satisfazer caprichos de quem quer que seja mas tão-somente para prestar serviço público a todos os ouvintes e não apenas aos adeptos dos Proms. Acresce ainda que estes ouvintes podem sempre recorrer à internet para seguirem de fio a pavio todos os concertos e recitais de cada temporada dos Proms. Como tal, espero que no próximo Verão a Antena 2 não nos venha com outra 'overdose' de Proms e arrogando-se em ignorar olimpicamente outros importantes eventos de música erudita que decorrem na época estival.
Apenas uma pequena nota sobre o 'spot' promocional dos Proms para manifestar o meu descontentamento pelo incontável número de vezes em que foi posto no ar. Uma verdadeira tortura para os ouvidos dos ouvintes mais fiéis da rádio clássica! Será que o auditório da Antena 2 tem a memória assim tão fraca que precise de estar a ser constantemente lembrado dos Proms? Em vez da repetição constante e recorrente desse 'spot', ainda por cima piroso e de mau gosto, não seria muito mais acertado e pertinente porem anúncios com o programa (obras e intérpretes) de cada concerto? Ou será que a direcção da Antena 2 quer que os ouvintes comam tudo de olhos fechados e sem livre arbítrio para escolher?
Por último, também me parecem perfeitamente dispensáveis e nada relevantes as intervenções dos enviados especiais aos Proms e a outros certames musicais no estrangeiro. Vistas bem as coisas, o que é que os ouvintes da Antena 2 ganham com os lugares comuns e as banalidades que caracterizam tais intervenções? É por de mais evidente que há aqui um escusado desperdício de dinheiros que deviam ser orientados para o que realmente representa serviço público. A este propósito, não posso deixar de perguntar: será aceitável que os programas de autor tenham sido suspensos por alegadas limitações orçamentais, e ao mesmo tempo vejamos a RDP ser utilizada como uma espécie de agência de viagens e turismo?
Com os mais respeitosos cumprimentos,
Álvaro José Ferreira
gostava de saber se o sr.Provedor já lhe respondeu, entretanto.
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